História -Amargos Pecados- - Luna

Eu te amo filha...

Você já se perguntou o que está fazendo aqui? Será que minha presença faria falta?
Não é por quê sou uma adolescente de 15 anos que fazer esse tipo de pergunta levaria á argumentos do tipo "Nossa,tão nova e acha que já sofre?" "não conhece nem a metade da vida,vai estudar" "Você nem sabe o que é sofrer". Sou um ser humano como qualquer um,tenho sentimentos e raciocínio. Mas como é fácil julgar e apontar o dedo como se soubesse cada pedra pisada em seu caminho...
Apresento a minha história,já que antes de me julgar precisa saber que eu sou,quero dizer...Quem eu era! E conto sobre o amor enlouquecido dos meus pais e.....pais? (Suspiro) como queria abraça-los agora e dizer que o mundo desconhecido não é tão ruim assim,que aqui dores são desconhecidas,saudades sentidas,porém gosto de ser o anjo da guarda de vocês. 
Mas temos que voltar há 3 anos atrás,quando eu tinha 15 anos e aos poucos ia descobrindo sobre o pesadelo que estava por vir...

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(Batendo na porta)

-Quem é?
-Luna,seu pai está lhe chamando para ceiar.
-Diga que estou dormindo! Minha presença não fará falta.
-Mas...
-Por favor Marta!
-Tudo bem,irei avisa-lo!

Era mais um 24 de dezembro,época encantadora do natal. Amo ver a cidade decorada,família unida e presentes debaixo da árvore. Amo ver isso porém era apenas a realidade de alguns filmes repetitivos dos canais de tv aberta,meu natal nunca era agradável....
Depois de quase 10 anos quando meu pai ganhou minha guarda na justiça,comecei a comemorar datas comemorativas com sua família,que pelo contrário da família da minha mãe, sempre são fechados e com uma cara estranha,como se o mundo estive devendo à eles.
Como sou obrigada a conviver com essa mesmice de sempre,até aprendi os passos e falas de meus familiares em festas de fim de ano. Minha tia Amanda é a primeira a sair,todo mundo sabe que vai para os fundos da casa fumar e alimentar mais o seu vício. Meu tio Tony,marido da minha tia,sempre diz que vai atrás dela mas pelo contrário,pega o carro rumo a casa de mais uma de suas amantes. Meu avô Christovão fica na mesa com dois de seus assessores pra falar dos mesmos assuntos sobre política,dinheiro ou outra coisa desagradável. Minha avó Carmen fica pra fazer a linha "Mulher fina e importante da sociedade". E por fim os últimos a sair são o meu pai Christopher e minha madrasta insuportável Laura. Provavelmente voltam pra cama,não,é só pra dormir mesmo! Ouvi boatos pela casa que eles não se relacionam há meses.... 
Quem fica na mesa por obrigação sou eu e minha prima Camila,que apesar de ter o mesmo sangue correndo pelas aveias,é um dos piores humanos já existidos! Desde pequena sempre se aproveitou por ser 5 anos mais velha que eu,pra humilhar das piores formas possíveis. Inventando até boatos na minha antiga escola que eu fui achada no lixão,isso quando eu tinha 3 anos. E acha que foi fácil superar isso? Eu era uma criança!
Acabei falando mais do que devia do demônio da Camila que até esqueci de falar do lado bom do natal..... Minha mãe, Dulce Maria sempre tornava essa data a melhor! Como sua família é grande rodeada por primos e irmãs,sua casa sempre é lotada de pessoas e muito amor. Lembranças como essas só faz a saudade que eu sinto por ela aumentar. Infelizmente moro na capital de São Paulo e ela no interior com sua família,só a vejo nos fins de semana. Ela é uma mulher tão cheia de vida e livre,não entendo como casou com o meu pai,um homem tão fechado e bruto. Eles não se encaixam em basicamente nada! Uma pintora e um advogado juntos? Impossível!   

(Abrindo a porta com força)

-Falando sozinha novamente?
-Camila?! O que faz no meu quarto?
-Eu fiz a pergunta primeiro...
-Não,não estava falando sozinha e nem fazendo algo de seu interesse,sai daqui!
(Empurrado Camila)
-Espera,o que estava escrevendo aqui? (Pegando a carta na cama)
-Me-dê isso!
-Corações e poesias....(sorriso malicioso) finalmente está se abrindo pra algum macho?
-Que? Não é nada disso sua perturbada!
-Ahh,você é lésbica então? 
-Não! Isso é pra minha mãe e você não tinha nem que está aqui no meu quarto invadindo minha privacidade. Sai!!!
-Tá,já estou saindo! Só vim por recado do meu tio Christopher exigindo que você sente na mesa conosco ou não vai ver aquela brega do interior no fim de semana.
-BREGA DO INTERIOR? Como ousa falar assim da minha mãe? (puxando os cabelos de Camila)
-Aii porra! Quem falou dessa forma foi seu pai,eu apenas falei o que era pra ser dito.
-(Suspiro) Diga que estou indo! Vou botar uma roupa menos desvalorizada que essa.

Estava fervendo de raiva naquela noite fria,Camila me deixava de cabelos pra cima e a exigência do meu pai pra tudo era insuportável! Odiava me sentir obrigada a ser escrava de mascaras em todos os eventos,mas apesar de tudo, eu o amo! Sei que devo obedecer pelo fato de ser meu pai.

-Pensei que não ceiaria conosco essa noite,Luna.
-Perdão vovô,estava ocupada por conta de terríveis dores de cabeça.
-Pelo o que havia em cima de sua cama,estava ocupada escrevendo cartas para sua mamãe. (Risos)
-Cala a boca!!
-Como? O que eu já te disse sobre querer manter contatos com sua mãe? (Apertando os braços de Luna)
-Me solta pai! Eu tenho o direito de manter o contato com minha mãe,ela não é nenhuma assassina,é minha mãe! Você se mantem tão privado dela como se tivesse medo,medo de ver,saber ou ouvir o nome Dulce Maria nessa casa.