Paradoxialmente, foi naquele dia de memória à morte que sentiu a vida lhe ser devolvida a si como um sopro suave do mesmo débil vento que abraçava seu corpo estático naquela cadeira insignificante dentre as centenas outras espalhadas pelo local arejado – este que se situava no centro de um vasto ambiente decorado em paisagens naturais, tendo o verde em seus mais diversos tons colorindo majoritariamente a vista.
Nas primeiras horas em que chegara ali, o sol brilhava ameno, aquecendo agradavelmente a manhã preguiçosa que acordava de forma lenta e arrastada naquela quinta-feira fúnebre. Porém, conforme se foi passando o tempo, os raios luminosos do caloroso astro esconderam-se por detrás das cinzentas nuvens que, agora, cobriam todo o azul céu. E, antes mesmo que pudesse entender o que acontecia, viu – pelas laterais abertas – a chuva precipitar-se sobre o solo, orvalhando a grama alta crescida ali.
Os pêlos do corpo puseram-se a arrepiar. Quiçá tivesse sido pela brisa deveras fria que bailou rodopiante em torno de si, ou simplesmente fora pelo melodioso som enternecedor que ecoou do enorme, também clássico, instrumento de cordas, e adentrou seus ouvidos calma, mansa e tranquilamente, levando-lhe a uma realidade onde a paz habitava no tocar do arco nas cordas e na harmonia que encontrava nas muitas lágrimas celestes que caíam.
Fosse como fosse, estava bem daquela forma e dali não queria sair nunca mais.
O sentimento pleno de serenidade exalava das muitas notas tecladas no piano elétrico, que construía – ao mesmo que desconstruía – as escalas, compondo assim sua canção atemporal. Também estava no contra-tempo marcado pelo baixo, na doçura da flauta, e até mesmo no estridente som que provinha da bateria.
Não havia nada além de paisagens sonoras dos mais variados tipos lhe agraciando os ouvidos. E mesmo que seja estranho dizer, até o rádio de carro ligado às alturas do outro lado do muro contribuía para que tudo estivesse harmônico e 'numa perfeita sintonia.
Fosse por onde fosse, estava bem daquela forma e assim queria permanecer eternamente.
E tudo ocorreu naquele dia. Aquele dia de morte em que própria vida lhe falou ao coração, com sua voz de terno silêncio que acalenta a alma e pacifica o espírito.
Então pôde sentir paz. A verdadeira paz.
Porque naquele dia de morte, enterrou a si e viveu em Cristo.
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