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  3. Penelope Blossom

História 03 ( beyond the love - choni ) - Penelope Blossom


Escrita por: chxnidale

Capítulo 44 - Penelope Blossom


Fanfic / Fanfiction 03 ( beyond the love - choni ) - Penelope Blossom

 

Toni Topaz – Point Of View

Ainda tentava organizar minhas ideias, quero dizer, havia acabado de conhecer a mãe da minha esposa e não tinha nenhuma noção de que era a mesma. Cheryl nunca me mostrou fotos de Penelope, nem ai menos sei se há alguma consigo, também nunca a encontrei em Riverdale e é óbvio que não a reconheceria. 

Minha esposa ficou brava por me ver perto dela, mas... Porra. O que essa mulher está fazendo aqui? O que quer? Ela me reconheceu, sabe quem sou, então tem acompanhado nossa vida? Ah, odeio o jeito que somos expostas na mídia, não nos da privacidade alguma. 

— Cherry. 

Chamei a ruiva baixinho. 

Permanecíamos no carro a caminho para casa, Cheryl tinha a cabeça encostada contra o vidro enquanto tentava manter a calma. Entendia que precisava de um tempo, a mesma acabou de reencontrar a mãe que não vê a mais de dez anos, mas precisava verificar como está se sentindo.

— Você está bem? 

— Não consigo parar de pensar porque está aqui.

Seu tom saiu quase como um sussurro.

Concentrada na rua, percebi que talvez quisesse conversar, em casa geralmente não temos muita privacidade por causa da minha mãe e Samantha, fiz questão de estacionar no acostamento mais próximo. 

— Acha que veio atrás de você? 

— Isso é tão óbvio. – um sorriso irônico apareceu em seus lábios. — É claro que viria algum momento tentar estragar minha felicidade, mas agora? Quando vou ser mãe. 

Suspirei, retirando o cinto para poder me aproximar.

— Cherry. – segurei seu queixo, trazendo o rosto para frente do meu. — Não vou deixar que chegue perto de vocês ou tente fazer algum mal, eu juro.

— Eu sei, TeeTee.

Pressionou os lábios.

— Só... – relaxou os ombros. — Nem sei como me senti ao vê-la, foi tão estranho e meu primeiro instinto só consistiu em te tirar de perto dela. 

— Isso é louco, se você não aparecesse, será que me falaria que é sua mãe? 

Franzi a testa.

— Não tenho ideia, amor. Talvez ela esteja falida e queira nosso dinheiro, era o que costumava me pedir.

— Juro que se a encontrar novamente... 

— Ei, leoa. – Cheryl sorriu ao me interromper. — Por que não transforma essa raiva em muita disposição pra nos dar carinho? Melhor irmos para casa, estou cansada. 

Resmungou, encostando o corpo contra o banco.

— Claro, Cherry. – girei a chave. — Estamos indo. 

Sabia que a ruiva precisava pensar mais um pouco e de tempo com ela mesma, afinal é Penelope Blossom, a pessoa que mais a ouvi ter remorso na vida. Minha esposa não merecia vê-la, não estando grávida de nossos bebês e emotiva o suficiente para se abater com esse reencontro.

E foi exatamente o que aconteceu, percebi quando chegamos em casa e disse que subiria direto ao quarto. Minha mãe estranhou e lhe expliquei em poucas palavras, você tinha que ver os olhos de Katy quando pronunciei o nome da minha sogra. Todos nós sabemos do inferno que Cheryl passou com essa mulher, temos motivos de sobra para odiá-la.

Quando subi para o encontro da ruiva, avistei a mesma deitada na cama, acariciando a frontal de sua barriga enquanto parecia ter o pensamento bem longe. Suspirei, caminhando para o banheiro e ligando a torneira da banheira, assim que ficou cheia, despejei os óleos que Cheryl tanto gosta e retornei para o quarto.

— Preparei um banho pra você.

A ruiva ergueu o olhar com minha fala.

— Ah, TeeTee. – sentou na cama. — Já disse o quanto te amo? 

— Já, amor. – sorri, lhe beijando os lábios. — Agora vai relaxar um pouquinho.

— Vem comigo? 

Fez beicinho.

— Tudo que quiser, Cherry. 

Minha esposa sorriu, estendi a mão para ela e lhe guiei até o banheiro, a ajudei a retirar as roupas, não me contendo em dar um beijo naquela barriga linda. Cheryl adentrou a água gemendo de satisfação, fui logo após me despir, sentando em suas costas e a tendo entre minhas pernas. 

De início ficamos em silêncio apenas aproveitando a água, a ruiva tinha todo seu corpo contra o meu enquanto minhas mãos descansavam em sua barriga. Vez ou outra distribuía beijos por pescoço, ombro e cabeça em um carinho.

— Como está agora? 

— Melhor, amor. Obrigada. 

— E o reencontro? 

Insisti, Cheryl suspirou. 

— Pode ser idiota, mas... – pausou por alguns segundos. — Estou me perguntando porque não me procurou.

Confessou, rindo sem vontade.

— Não é estúpido? Essa mulher nunca fez nada de bom pra mim.

— Você não é idiota ou estúpida, ok? – a pressionei mais em meus braços. — Talvez esteja confusa, a reencontrou depois de muito tempo.

— É, deve ser. 

Seus dedos deslizaram pela água, tendo atenção total nos mesmos. Odiava ver minha mulher assim, calada demais e desfocada de nós, porque isso significa que sua mente está trabalhando em muitas coisas que não tenho conhecimento.

— Aliás... – retornei a falar. — Sei que ela não fez nada de bom a você, mas pra mim fez algo que nunca terei como agradecer. 

— Uhn, e o que é? 

Segurei em seu pescoço, inclinando sua cabeça para que pudesse me encarar. Queria tanto que seus castanhos voltassem a brilhar, desde que encontramos aquela mulher parece que Cheryl decaiu, como se Penelope sugasse toda sua energia e felicidade.

— Ela trouxe o amor da minha vida para o mundo, a mãe dos meus filhos. 

Declarei-me, a ruiva sorriu, selando nossos lábios.

 — Anroniette, você é uma galanteadora.

— Não gosta? 

Ergui as sobrancelhas.

— Oh, eu amo, TeeTee. – sua mão escorregou por meu braço. — Só espero que use desse dom apenas comigo.

— Só você consegue desperta-lo em mim.

Sorri ao falar, colocando os lábios sobre os seus e sentindo seu sorriso. Cheryl suspirou, voltando a aconchegar o corpo no meu. Deslizei minhas mãos para as laterais da sua barriga, iniciando uma massagem e recebendo um gemido de satisfação.

— Já disse que você sabe exatamente o que fazer? Sem nem precisar pedir. 

Os olhos da minha esposa se fecharam, apoiando-se totalmente em mim enquanto aproveitava da massagem. Lhe beijei a bochecha, agradecendo mentalmente a minha mãe que me aconselhou a pesquisar algumas dizendo que Cheryl logo teria muitas dores. Pelo jeito, estava completamente certa.

Nosso banho foi longo, aquele dia tentei dar o máximo de atenção para minha mulher e lhe fazer esquecer do reencontro. Nós combinamos de pintar o quarto dos bebês daqui a dois dias, infelizmente amanhã Mackenzie me tiraria o couro no treino e o cansaço não iria permitir que lhe ajudasse. Cheryl concordou, ela também passaria o dia na escola e aula de pilates pra ocupar a cabeça. 

Eu só esperava que Penelope não nos atormentasse mais.

×××

 

Claro que meu pedido não foi atendido.

Quando levantei no outro dia, deixando Cheryl na cama logo pela manhã e sai para correr com minha treinadora, não sabia o que o dia reservava. Em meio a ocupações com meu negócio e treinos com Mackenzie, o tempo estava passando rápido. 

Não via a hora de estar perto da minha esposa e meus bebês novamente, abraça-los por horas até me cansar – o que acho impossível.

No final da tarde me vi em minha sala, organizando alguns papéis enquanto dava uma pausa do treino. Mackenzie estava em uma ligação e acabamos decidindo por fazer um intervalo curto. Sentada atrás da minha mesa e com a atenção total nas palavras a minha frente, fui interrompida por uma batida na porta. 

— Entra. 

Falei sem ao menos olhar para a porta.

— Chefe. – era o Nathan. — Essa senhora quer falar com você. 

Ainda esperei alguns segundos para levar minha atenção até ele, derrubando a caneta da minha mão ao ver aquela ruiva já dentro da minha sala, encarando-me sem nenhuma vergonha. 

— O que está fazendo aqui? 

Apoiei as mãos na mesa, erguendo o corpo.

Nathan arregalou os olhos.

— Toni, tudo bem? 

— Quero falar com você, podemos?

Penelope perguntou antes mesmo que pudesse responder o adolescente, o olhar da mais velha estava fixo no meu, pedindo por uma oportunidade que com certeza não iria lhe dar. 

— Nós não iremos conversar. – dei a volta em minha mesa para poder encara-la de frente. — Tudo que você irá fazer é se afastar de mim e da minha família. 

— Eu só quero ver minha fil...

— Não tem o direito de chama-la assim. – a interrompi rosnando. — Cheryl é minha mulher, irei protegê-la de qualquer ameaça inclusive de você. 

A mais velha suspirou.

— Olha, Toni, só quero uma oportunidade. – seu tom calmo me estressava. — Poderia ter ido até a casa de vocês porque tenho o endereço, mas achei que seria mais aberta do que a Cheryl.

— Como? Você nem me conhece. E sabe por que? Porque nunca realmente tratou sua filha como merecia. Não estou nem ai que tenha nosso endereço, se aparecer em nossa casa, juro que te expulso a chutes! – firmei meu tom. — É melhor ficar longe da minha mulher ou irei tomar providências drásticas. 

— Toni, eu...

— Nathan, leva ela. 

Apontei em direção a saída.

O adolescente prontamente assentiu. 

— Vamos, senhora. 

Dei as costas para a ruiva, ouvindo a porta bater em poucos segundos e soltando o ar que prendi. Não acredito que essa mulher veio nos perturbar logo agora, nunca a deixaria se aproximar da minha esposa e muito menos dos meus bebês, não depois de saber o quão péssima é. 

— Chefe. – Nathan adentrou a sala novamente. — O que foi isso? Entendi direito? Essa é a... 

— Penelope. Mãe da Cheryl. 

Suspirei ao encara-lo.

— Porra... 

Murmurou.

Mais um pra lista de quem odeia a Penelope.

— A Madrinha sabe que essa mulher está aqui?

— Encontramos ela ontem, falou comigo sem me dizer quem era. 

— Nossa, vou visita-la hoje. – divagou. — Já ouvi minhas histórias sobre essa ruiva. 

Todos nós já ouvimos.

— O que acha de ir lá amanhã? Nós vamos pintar o quarto do bebê. – sugeri. — É sábado e você não trabalha, a Cheryl vai adorar. 

— Isso quer dizer que serei padrinho? 

Arqueou as sobrancelhas, sorrindo em expectativa.

— Não, Nathan, não quer dizer nada. 

— Ah! 

Relaxou os ombros, suspirando.

Abri um sorriso, esquecendo por alguns segundos da visita indesejada que tivemos e que terei que contar isso a Cheryl. Já consigo ver o quão brava minha esposa ficará por saber que Penelope tentou nos importunar novamente. 

Ainda tive mais uma hora de treino, quando sai da academia já iniciava a noite e me sentia exausta. Do treino, da Penelope... Ah, só precisava da minha cama e dos meus ruivinhos. Sim, estou com esperança de que os gêmeos tenham a cor do cabelo da minha esposa. Já conseguiu imaginar como serão? Pois eu sim, e digo que serão perfeitos.

Chegar em casa e encontrar Cheryl no sofá rindo junto de minha mãe e Samantha, me fez adiar um pouco o assunto ruim que trazia. Não queria chateá-la, a mesma tinha um sorriso enorme ao conversar com minha mãe. Tudo que pude fazer foi acolhe-la em meus braços enquanto entrava no assunto sobre bebês recém nascidos. 

O clima estava tão bom, jantamos todas juntas, a ruiva nem parecia mais lembrar daquela mulher, mas infelizmente quando estávamos nos preparando para dormir, tive que trazer o assunto a tona.

— Cherry. – chamei a atenção da minha esposa que massageava as próprias pernas, espalhando o creme. — Preciso contar uma coisa. 

— Não gostei do seu tom.

Resmungou sem me encarar. 

— A Penelope esteve na academia hoje. 

Confessei de uma vez só, os castanhos rapidamente vieram até os meus. Cheryl estava em um lado da cama e eu do outro, a observei colocar o frasco de creme acima do bidê tendo total foco em mim.

— O que ela queria? 

— Ver você, conversar... Não sei. – juntei as sobrancelhas. — Mal deixei que falasse e já a expulsei. 

— Você a expulsou? 

Seu tom alterou em surpresa.

— Claro! E decretei pra que ficasse longe de nós. 

Cheryl riu.

Franzi a testa.

— O que? 

— Penelope nunca vai embora facilmente. – negou com a cabeça. — Ela só pode querer alguma coisa e não vai desistir.

Cheryl puxou as cobertas de nossa cama, enfiando o corpo debaixo da mesma e virando de costas para mim. Quem me visse provavelmente notaria o enorme ponto de interrogação na testa. 

— Está brava? O que fiz?

— O que não fez. – a ruiva corrigiu-me, sentando na cama. — Poderia ter me ligado antes de expulsa-la. 

— Cheryl, eu só...

— Não importa, Toni. – me cortou. — Isso não era uma decisão sua. 

Soltei um grande suspiro ao vê-la deitar novamente, costas viradas para mim e nenhum contato visual. Cheryl geralmente me expulsa do quarto quando está chateada ou quer espaço, pensei que fosse a ocasião.

— Quer que eu vá dormir em outro quarto?

— Você quer dizer no sofá? Porque sua mãe está na suíte, Samantha no quarto de hospedes e o quarto dos bebês está vazio. 

Ela não me encarava em nenhum momento pra falar. Esqueci totalmente que minha única opção é o sofá, relaxei os ombros. Achei que iria agradar minha mulher ao expulsar a Penelope, mas no fim acabei ganhando um esporro.

— Tudo bem, sofá... – divaguei. — Só preciso de um travesseiro.

Foi a vez de Cheryl suspirar, girando o corpo na cama.

— Você só precisa deitar, Antoniette. – puxou as cobertas do meu lado da cama. — Fique aqui.

O tom de minha esposa era muito mais autoritário do que um pedido, balancei a cabeça, desliguei a luz do quarto e deitei o corpo. Cheryl virou de costas novamente, sabia que não duraria muito nessa posição por causa da barriga, só queria demonstrar que está chateada. 

É incrível, mas sei ler direitinho todas as ações da minha mulher.

Aos poucos arrastei-me para perto dela, a envolvendo com meu braço enquanto o outro apoiava sobre a cama e colocava a cabeça na mão para conseguir ver que ainda está acordada. 

— Cherry, me desculpa.

Sussurrei. 

— Só queria proteger minha mulher e meus bebês.

Seus lábios curvaram em um sorriso quase imperceptível, depositei um beijo em seu pescoço, não houve respostas suas, mas uma aproximação de meu corpo, aconchegando-se em meus braços como faz todas as noites.

No final, sabia que estávamos bem.

 

Cheryl B. Topaz – Point Of View

Poderiam me dizer muitos absurdos que acreditaria com facilidade, qualquer um, como: O mundo vai acabar. Jesus está voltando. Um cometa destruirá a terra. Mas nunca, em hipótese alguma, pensei que veria Penelope novamente. Se qualquer um me dissesse que a mais velha está a minha procura, riria até a barriga doer e talvez depois choraria sozinha ao ver que nunca seria verdade.

Estranho pensar que agora é. 

Penelope Blossom está em Seattle, eu a vi, perto da minha esposa e a reconhecendo como se acompanhasse minha vida a anos. Porém haviam muitas perguntas, tantas que talvez nem ela consiga responder. 

Por que está aqui? 

O que quer de mim? 

Por que diabos procurou minha mulher? 

A última é uma incógnita, não entendo porque foi até a academia, porque resolveu ir atrás da Toni se queria falar comigo. Ainda não sei como me sentir, existe raiva, decepção, tristeza, sofrimento, tantos sentimentos que assemelho a ela e nenhum é bom. 

Desejava que isso acabasse logo.

No outro dia fui acordada com tantos carinhos vindo da minha esposa que se tornava impossível continuar brava. Ela sabe do meu ponto fraco com sorrisos seus, beijos e grudes logo pela manhã. 

— Bom dia, meu amor. – beijou meu queixo. — Como se sente hoje? 

— Bom dia, TeeTee.

Sentei na cama, esforçando meu corpo cada vez mais pesado.

— Estou bem.

— Fiz café. 

Sorriu ao trazer a bandeja para minhas pernas, havia muita coisa oferecida, mas o meu olhar só focou no pote de nutella. 

Os gêmeos adoram doce, já disse. 

— Esse é mais um de meus pedidos de desculpa. – Toni falou ao perceber minha atenção no doce. — Preciso confessar que estou com ele guardado a alguns dias, esperando a hora certa de usar. 

— Então essa é sua maneira de me ganhar? 

Arqueei uma sobrancelha.

— Está funcionando?

— Sabe que sim. 

Estreitei o olhar, Toni sorriu. 

— Então se delicie, meu amor. – a morena sentou ao meu lado. — Hoje é dia de pintarmos o quarto dos gêmeos e convidei Nathan para nos ajudar.

— Que bom, sinto que pintarei cinco minutos e irei cansar. 

Soltei uma leve risada, abrindo o pote de nutella e pegando a colher. Fiquei em êxtase ao sentir o doce em minha boca, fechando os olhos e gemendo com o gosto tão satisfatório. 

— Amor, acho que nem eu consigo mais te fazer sentir tão bem quanto esse pote de nutella. 

Toni fez um beiço, dramatizando. 

— Talvez você tenha razão, TeeTee. 

Dei de ombros. 

— Não era pra concordar! 

Resmungou, ego ferido.

Gargalhei, negando com a cabeça. 

Toni passou o tempo inteiro tentando roubar uma colherada ou enfiar o dedo em meu doce, ela sabe que me tornei uma completa egoísta na gravidez fazendo apenas para me provocar. Foi uma manhã gostosa, acordar e tê-la junto de mim, dando-me total atenção e carinho que preciso.

Estou feliz de ter voltado atrás quanto a sua luta, até porque não está atrapalhando em nada nossa família ou relacionamento. Mérito dela tenho que admitir, a morena é com certeza a melhor pessoa que poderia ter me casado.

×××

 

— Pronto. 

Cheguei ao quarto que será dos bebês. Vestindo uma camisa surrada e uma calça moletom da minha esposa, recebi o seu olhar analisador balançando a cabeça em negação.

— Minhas roupas? Sério? 

— Com certeza, não irei manchar as minhas. 

Dei de ombros. 

Toni suspirou, desviando a atenção para o celular onde tinha a foto do quarto que nos inspiraríamos. As cores são cinza, gelo e detalhes em amarelo. 

— Nathan está atrasado. 

— Ele puxou a você. 

Acusei, a morena revirou os olhos. 

Nós iniciamos sem o adolescente, minha tarefa era pintar as partes cinzas, enquanto Toni usava o amarelo em uma parede inteira e quando Nathan chegasse usaria o gelo. Estávamos confiantes que daria certo, minha esposa colocou uma de suas músicas preferidas para tocar, concentrei-me na parede, pincelando enquanto tinha a mão livre apoiada em minha barriga. Uma mania de sempre estar tocando nos gêmeos.

O tempo foi passando, trocava alguns olhares e sorrisos com minha esposa, estávamos sendo uma boa dupla, produtivas e conseguindo embelezar o quarto de nossos filhos. Até começar a tocar I Wanna Be Yours, do Arctic Monkeys, música que Toni depois de muitos anos confidenciou-me que ao escutar na nossa adolescência pensava em mim. Principalmente depois da maldita aposta ser exposta e tentou me reconquistar.

Todos sabem que ela nunca precisou de muito.

Não podia negar que amava a música, principalmente ao saber que sempre foi como uma declaração de minha esposa, é com certeza um top três de nossa trilha sonora. E Toni sempre, em qualquer hipótese que toque, a canta e até faz dançar com o som da mesma.

O vocalista da banda já estava perto do refrão, mantive meu trabalho na pintura fingindo não ouvir ou perceber que é uma de “nossas” músicas, sabia que nos desconcentraria. O olhar de Toni estava em mim, eu a sentia sem ao menos precisar lhe encarar. 

Segredos que tenho mantido em meu coração...

Sorri ao ouvi-la, em poucos segundos os braços morenos me envolviam por trás em um abraço. 

— TeeTee...

Relutei de início.

São mais difíceis de esconder do que pensei. 

Cantarolava junto com a música ignorando meu resmungo, Toni retirou o pincel de minha mão, colocando no suporte que estava em cima da lata de tinta e girou meu corpo para ficar de frente para o seu.

Talvez eu só queira ser seu. – cantou ao olhar em meus olhos. — Eu quero ser seu, eu quero ser seu.

— A gente não devia pintar? 

Toni balançou a cabeça em negação, havia algumas marcas amarelas em seu rosto e até no pescoço, mas nem tive tempo de pensar porque minha esposa grudava nossos corpos para iniciar uma dança lenta.


 Me deixe ser o seu medidor de energia
E nunca irei parar de funcionar
Me deixe ser o seu aquecedor portátil
Que você não sentirá frio

 

Deitei a cabeça no ombro de Toni, aproveitando do momento e agradecendo imensamente por ter essa mulher na minha vida. Por proteger a mim e nossos bebês como fez ontem, talvez não devesse ficar tão chateada por decidir algo sem mim. 


 Eu quero ser sua loção hidratante
Segurar seu cabelo em profunda devoção
Pelo menos tão profunda quanto o Oceano Pacífico

 

Soltei um suspiro, levantando o rosto para encarar seus castanhos brilhosos e aquele sorriso que sempre me recebe. Eu a odeio por ser tão linda. Quem não iria querer Toni para si? É simplesmente o sonho de qualquer uma, mas esse sonho só eu tenho o prazer de realmente realizar porque ela é minha.

— Você já se cansou de me ouvir cantar essa música? 

Toni perguntou, tocando em meu rosto.

— Impossível, TeeTee. – deixei um selinho em seus lábios. — Amo ouvir cantar que quer ser minha.

— Quero ser pra sempre, Cherry. 

Sorriu, mais uma vez fazendo meu coração pular.

Não contive minha vontade de grudar nossos lábios, puxando o corpo o máximo para perto do meu, a barriga já atrapalha o nosso contato e essa é a única reclamação que tenho para fazer sobre meus filhos. Eu queria poder sentir a mãe deles mais perto. Escorreguei a língua para dentro da boca de Toni, descendo as mãos que estavam em sua cintura e descansando em sua bunda. 

Tenho certeza que minha esposa tem malhado mais a bunda, porque não é possível estar ainda mais volumosa e definida, já me peguei em um momento público mordendo o lábio ao olha-la. Ou talvez seja o aumento da minha libido que faça qualquer parte do corpo dela ficar ainda mais gostosa. 

Toni acariciava minha nuca, aprofundando nosso beijo de maneira que já sabia onde iria parar e agora não me importava mais, só queria poder sentir minha mulher. 

— Oh, merda! 

A voz de Nathan nos fez separar.

— Vocês viram que a porta está aberta? E tem uma criança morando aqui.

Nos repreendeu, largando a mochila no chão. 

— Odeio esse garoto. 

Resmunguei com Toni, apoiando minha testa em seu ombro e apalpando sua bunda. Ela suspirou, massageando minha nuca em resposta. 

Maldito Nathan! 

— Podemos dar uma pausa? 

Perguntei, beijando seu pescoço.

— Se está cansada pode ir, Cherry. 

— Estava pensando em uma pausa nós duas... 

Levantei o rosto para lhe encarar, Toni ergueu as sobrancelhas entendendo. 

— Sem pausa pra sexo! – Nathan parou ao nosso lado. — Vamos terminar esse quarto.

— Não tem direito de exigir nada, chegou atrasado.

O acusei.

— Meu celular não despertou, foi mal.

Coçou a nuca.

— Tudo bem. – suspirei. — Preciso comer alguma coisa.

— Amor, nós almoçamos antes de começar.

Toni franziu a testa.

— Não tente medir nossa fome. 

Toquei em minha barriga. 

Toni riu, beijando meus lábios. 

Deixei os dois sozinhos, descendo para o segundo andar atrás do meu pote de nutella, minha esposa não precisava saber que minha fome é de doce. Corri para a geladeira antes que Toni decidisse me seguir, abri o eletro e encontrei minha salvação, me apressando até a gaveta para pegar uma colher.

— Cheryl? 

Oh, merda. 

Fechei os olhos com força, girando os calcanhares devagar e encontrando minha sogra com braços cruzados e olhar analisador. Esse é o único momento que Katy não fica do meu lado, em minha guerra com Toni sobre comer doces.

— Só uma colher, por favor.

Implorei salivando pela nutella.

Katy achou graça, negando.

— Só uma e coloque na geladeira de volta.

— Obrigada, Katy. – me aproximei da mais velha estalando um beijo em sua bochecha. — É por isso que nos damos tão bem! 

Nós sorrimos uma pra outra e tive minha colher – bem cheia, de nutella na boca. Tentei aproveitar ao máximo, saboreando e realmente sentindo o gosto que tanto desejo durante o dia. 

Por que é tão bom? E por que os gêmeos gostam tanto? 

Tudo bem, talvez quem goste sou eu.

Após colocar com muita resistência o pote de volta na geladeira e deixar a colher limpa, sentei no sofá junto de minha sogra para conversarmos um pouco. Meus pés estavam doendo, precisava de descanso enquanto aqueles dois trabalham.

O tempo foi passando, Katy decidiu fazer um lanche para a dupla de pintores, então subi para chama-los quando ficou pronto. Assim que parei na porta, percebi manchas no piso, mas não qualquer mancha, eram as patas de Lion que andava livremente pelo quarto com as mesmas encharcadas de tinta amarela.

Procurei pela fonte, era a bandeja ao lado de Toni que a mesma molhava o rolo para passar na parede. Levei a mão a testa, me perguntando como não perceberam. 

— Antoniette. 

Rosnei seu nome, ela me olhou na hora. 

— O que eu fiz? 

— Olha o que o seu cachorro fez. 

Apontei para as marcas, minha esposa seguiu o olhar para o chão, Nathan fez o mesmo. Os dois se surpreenderam com as manchas amarelas, Toni rapidamente largou o rolo para pegar o cachorro.

— Ei, garotão. – segurou no rosto dele. — Queria deixar sua marca, uhn? Seus irmãos vão adorar.

Ela sorriu. 

— Já a mamãe... 

Me encarou, balançando as sobrancelhas. 

— Precisa dar um jeito de limpa-lo ou vai sujar a casa toda! – resmunguei. – E desçam para lanchar. 

— Por que você é tão mandona? 

Nathan perguntou, concentrado em pintar o que iniciei. Já estava quase tudo pronto e parando para observar agora que a raiva passou, está ficando lindo. Só falta os móveis e futuramente nossos bebês. 

— Ele é tão bonito. 

Pulei de susto com a voz ao meu lado, colocando a mão no peito. Desviei o olhar para a garota, Samantha apareceu do nada, babando em Nathan ao admira-lo.

— Mocinha, você só tem treze anos! 

A repreendi baixinho. 

— Deixe sua irmã saber disso.

— Alguém disse lanche? Estou morrendo de fome.

Deu a primeira desculpa para fugir, acabei rindo enquanto a garota descia com rapidez pelas escadas.

Não é a primeira vez que vejo Samantha elogiar meninos, quando me mostra foto de alguns de seus amigos os olhos brilham e vejo no seu sorriso que está atraída. Ela provavelmente está se descobrindo, mas sempre que Toni chega perto evita de falar sobre qualquer tipo de menino. 

É, a irmã mais velha é uma grande ciumenta. 

Gosto de ter essa intimidade com minha cunhada, Samantha ainda é jovem, vai sofrer e ser feliz constantemente, principalmente na adolescência. Espero que continue me informando das situações, vou adorar ser sua conselheira, principalmente se quiser experimentar garotas... Ah, se a Toni sonha com isso. 

×××

 

Domingo. 

O meu dia da semana preferido, todos sabem. Acordo radiante quando é domingo, porque tenho minha esposa inteiramente para mim, é o nosso dia sagrado em família e a únicas pessoas que não me importo em dividi-la são Katy e Samantha. Futuramente teremos mais dois nesse lista, mas por enquanto, são somente elas.

Incrivelmente, a sorte estava do meu lado, minha sogra e cunhada resolveram sair a tarde para passearem, até levaram o Lion junto. Fiquei boa parte do tempo com Toni no sofá, aconchegada em meio a suas pernas enquanto assistia um filme e quase cochilava. Estava pegando no sono quando a campainha tocou, assustando-me e fazendo piscar algumas vezes.

— Será que já voltaram? 

Minha esposa beijou minha cabeça antes de levantar para ir até a porta, estiquei o pescoço para enxergar se realmente era Katy e Samantha, ou alguém para atrapalhar nosso domingo. Eu deveria saber que só poderia ser a segunda opção.

— Puta merda.

Ouvi Toni xingar, da onde estava conseguia ver as mechas ruivas paradas na porta de nossa casa. Rapidamente levantei, ficando a alguns passos das duas. 

— O que você quer? 

— Falar com a Cheryl. 

Penelope respondeu, o seu olhar desviando para mim, mas Toni colocou o corpo a frente para dificultar sua visão. 

— Me diga o que quer com minha esposa.

Toni exigiu. 

— Conversar, só isso... – pausou por alguns segundos. — Eu juro. 

— Quer saber? Você não é bem vinda...

— Deixe ela entrar. 

Interrompi a morena.

Seus castanhos vieram até os meus.

— Pode deixa-la passar. 

Repeti. 

— Cheryl, tem certeza? 

Encarou-me, desviei o olhar para Penelope. 

Assenti, virando as costas e indo para o sofá novamente. Não tinha ideia do que estava fazendo, talvez agindo por impulso, sendo uma idiota ao deixa-la entrar na minha casa, mas se Penelope quer algo vai até o fim, então melhor enfrenta-la agora.

— Senta aqui. 

Toni indicou o sofá para a ruiva. 

A mesma corria o olhar pela casa a analisando, minha esposa não demorou a estar no meu lado, um braço firme envolvendo meu corpo de lado, mantendo os castanhos fixos em Penelope.

— A casa de vocês é linda. 

Comentou, parando o olhar em mim.

— Diga logo. 

Pedi, cansada dessa tortura. 

Penelope engoliu a seco.

— Diga logo o que quer de mim e vá embora. 

Usei de meu tom autoritário, segurando qualquer emoção que queria escapar. A mais velha esfregou as mãos nas pernas aparentando estar nervosa, procurei pela mão de Toni entrelaçando nossos dedos, a lutadora beijou minha bochecha demonstrando apoio.

— Pode não acreditar, mas não quero nada, Cheryl. – balançou a cabeça. — Eu só... Fiquei sabendo da gravidez, dos gêmeos e precisava te ver. 

— Então era isso? Pode ir, saía por onde entrou! 

Encolheu o corpo, receosa.

— Não é só isso, não... – a ruiva parecia atordoada. — Queria conversar com você e saber como está, nós não nos vemos a tantos anos. 

— Treze pra ser mais específica.

Respondi prontamente. 

— Treze... – divagou. — O que... O que...

Ela estava nervosa por algum motivo. 

— Vá direto ao ponto, Penelope.

O meu tom saiu completamente ácido ao pronunciar seu nome, não havia porque lhe tratar bem e não faria, ela não merece nem mesmo o jeito que estou lhe recebendo, merece muito pior.

— Só queria ver a minha filha. – sua fala saiu entrecortada, os olhos encheram-se de lágrimas. — Precisava guardar em minha memória pelo menos uma lembrança sua assim... Uma mulher linda, feliz, grávida...

— Não entendo onde quer chegar.

— Descobri uma doença. – abriu um sorriso triste. — Um glaucoma que afeta minha visão, é incurável, mas tem um tratamento que me ajuda a atrasa-la inclusive estou fazendo. 

Os meus dedos apertaram os da minha esposa, senti uma angústia ruim em meu peito enquanto encarava aquela mulher a minha frente, tentando entender do que se tratava sua doença. 

— Você... 

— Não é tão grave. – ela continuou ao perceber que não conseguiria terminar minha fala. — Apenas ficarei cega, é inevitável. 

Fechei os olhos por alguns segundos, o coração batendo com mais força no peito. Penelope fez muita coisa ruim para mim, ela traumatizou minha adolescência, mas nunca desejaria nada de mal de volta. Em hipótese alguma queria que a ruiva sofresse metade do que sofri porque querendo ou não, é a minha mãe. A mulher que me deu a vida.

— Juro que não queria trazer isso pra você logo agora que está grávida. – voltou a falar. — Só que... Tenho que confessar, acompanho sua vida com Toni a anos, desde que se casaram e saiu tantas fotos lindas. Você parecia tão feliz, Cheryl. – sorriu para mim, uma lágrima escorreu por meu rosto. — Nunca tive coragem de te procurar, sabia que me rejeitaria e mandaria embora, sinceramente entendo que não me queira por perto. Eu só precisava de uma última visão sua, não sei quando essa doença irá me deixar cega ou até quando os tratamentos serão eficazes.

Estava chorando, completamente abalada emocionalmente com aquelas palavras e ao relembrar tudo que passei. As lágrimas silenciosas escorriam por meu rosto e agora pelo de Penelope também.

— Se você deixasse, queria tentar conquistar seu perdão, filha. – ela levantou, aproximando-se, o braço de Toni ficou mais apertado em mim. — Me arrependo de tudo que perdi, todos os anos que fui uma horrível mãe pra você e como te prejudiquei. Sei que não mereço nem mesmo uma chance, mas não posso deixar de tentar porque realmente amaria estar presente em sua vida, na dos meus netos...

— Não os chame de netos.

Rosnei, negando com a cabeça enquanto as lágrimas ainda caíam.

— Me desculpa, Cheryl... Eu só queria tentar recompensar de alguma maneira, essa doença me deu coragem pra te ver uma última vez e prometo que não preciso de nada, nem dinheiro, nem moradia ou qualquer coisa. – respirou fundo. — Somente quero estar perto de você novamente, se deixar.

Ergui o olhar, encarando os seus castanhos suplicantes.

Levantei o corpo, parando bem a sua frente e reparando em todas as semelhanças que temos fisicamente. Os olhos, o cabelo tão popular em meio aos Blossom, talvez o formato da sobrancelha... Eu só não queria ser uma mãe igual a ela, nunca. 

— Escute. – enxuguei minhas lágrimas. — Não quero que me chame de filha e muito menos que diga a qualquer um que os gêmeos são seus netos. Eles são meus bebês e não tem nada haver com você. 

Assim que falei, senti a presença da minha esposa ao lado.

— Nós estamos longe de ter uma relação amigável, somos conhecidas ou até menos. – dei de ombros. — Mas como não sou igual a você e nunca serei, darei uma chance de termos uma outra conversa. 

— Você está falando sério? Oh, minha fi... – se auto interrompeu. — Cheryl. – corrigiu. — Posso pegar seu número? Mandar mensagens para um café ou o que quiser. 

— Não apareça mais em minha casa sem ser convidada.

Decretei, pegando o aparelho celular que a mesma me alcançou. A vi assentir, concordando com todas minhas regras. Anotei meu número, usando do sobrenome da minha esposa ao salvar o contato. 

— Agora você precisa ir. 

Lhe devolvi o celular.

Penelope ainda me olhou por mais alguns segundos, lágrimas nos olhos e uma última analisada em minha barriga. Fechei os braços a frente do corpo e a mesma suspirou.

— Tudo bem, estou indo. Espero que realmente aceite me ver, Cheryl. Irei amar que conheçamos uma a outra novamente. 

Ela tentou tocar em meu braço, mas desviei. 

— Senhora Blossom, por favor. 

Toni se pôs a minha frente indicando o caminho da saída para a mais velha que aceitou de bom grado, saindo de nossa casa da mesma maneira que entrou: Rápido e de repente. 

Cai sentada no sofá, afundando as mãos nos cabelos ao lembrar de cada palavra dela. Glaucoma? Perca de visão? Isso é tão... Horrível. Não posso acreditar que está acontecendo logo com a Penelope. 

— Cherry.

Toni me chamou ao sentar do meu lado.

— Toni, ela... – as lágrimas voltaram. — Ela não quer nada, só quer estar de volta em minha vida. 

— E você acreditou nisso? 

Encarei minha esposa, franzindo a testa. 

— O que quer dizer? 

— Que não temos nada que comprove essa doença e mal posso acreditar que aceito vê-la de novo, Cheryl. É a Penelope, o diabo em gente. 

Estreitei o olhar, não acreditando que Toni estava me julgando.

— Isso é sério?

— Amor, tudo que me falou sobre ela a anos, o quanto sofreu por não te amar como uma filha...

— É a minha mãe, Toni! 

Alterei-me, levantando o corpo do sofá. 

— Mãe? Ela nunca foi sua mãe, Cheryl! – retrucou, ficando de frente para a mim. — Você está sendo uma idiota de deixar ela se aproximar de você e nossos bebês. Acha mesmo que vou permitir que essa mulher fique sozinha com vocês?

— Uma idiota? – gritei com ela, empurrando seu peito. — Você que é uma idiota, Antoniette. 

Senti as lagrimas escorrerem.

— Não tem ideia pelo que passei todos esses anos, sempre odiei a Penelope por me fazer o que nenhuma mãe faria, mas no fundo só desejava que me amasse, que me quisesse como filha... – solucei, não tendo forças para continuar. — Procurei o amor materno na Mary, na sua mãe e até em minhas amigas! Sempre quis conhecer esse amor incondicional e agora que finalmente terei a oportunidade quer tirar de mim.

— Devia pensar nos seus filhos! 

Retrucou-me.

— E você devia confiar em mim e me apoiar. Não ser a primeira a me julgar! 

Minha respiração ofegou assim que terminei de falar, a minha cabeça doía e as lágrimas pareciam queimar minha pele ao descerem pelas bochechas. Ouvi um barulho vindo da porta, Lion correu para a sala indo até Toni que nem ao menos o olhou. 

Levei as mãos ao rosto enxugando minhas lágrimas. 

— Ih, climão.

Samantha foi a primeira a perceber. 

— Aconteceu alguma coisa aqui?

Senti uma mão em meu ombro, era Katy analisando nós duas. 

— Eu preciso subir, me desculpa.

Abaixei a cabeça, caminhando com rapidez para o segundo andar e adentrando nosso quarto. Precisava ficar um pouco sozinha e com meus próprios pensamentos. Respirar, rever toda a situação. E principalmente manter-me longe de brigas com a Toni. 

Antes que deitasse no colchão, o celular apitou avisando uma mensagem, peguei o aparelho em mãos e o número era desconhecido. Tinha certeza quem se tratava.

“Só pra confirmar que é você. Amei te ver hoje, Cheryl, de verdade. Espero poder te contar o que me trouxe até Seattle e que sinta que realmente estou arrependida de tudo. Beijos, Penelope.”

Deixei que o aparelho caísse contra a cama, sentei no colchão massageando minhas têmporas e suspirando com força. Eu realmente odeio brigar com a minha mulher, é o que mais suga minha energia e acaba com meu dia. Repousei a mão em minha barriga, as lágrimas ainda caíam e me vi implorando para que fosse uma discussão passageira, mas temia que pudesse não ser. 

Toni nunca se altera comigo, ela sempre tem a paciência de tentar ouvir e saber o momento certo de falar. Minha esposa sempre foi o lado sensato de nossa relação, não há como negar, enquanto não seguro minhas emoções, a lutadora tem a decência de respirar e falar o que geralmente só contribuiu para ficarmos bem. 

Infelizmente hoje não houve sensatez de nenhum lado. 

Talvez a morena até estivesse certa, afinal Penelope apareceu de uma hora para a outra, querendo o meu perdão e doente. Sabendo que estou grávida e usando do período frágil para se aproximar, quem sabe futuramente apunhalar-me pelas costas novamente. Posso estar cega por desejar tanto uma vez na vida ter uma mãe.

Balancei a cabeça em negação, decidindo tomar um banho para aliviar toda essa tensão e o meu tão amado domingo que foi arruinado por Penelope. Por mais que demorasse embaixo da água, ainda sentia como se não relaxasse. Retornei para o quarto usando conjunto moletom, enxugando meus fios ruivos molhados com a toalha. Em poucos minutos, a porta foi aberta. 

— Com licença...

Levantei o olhar, Katy adentrava o quarto em passos lentos.

— Hey. 

Forcei um sorriso. 

— Podemos conversar? 

— Claro. 

Dei de ombros, livrando-me da toalha molhada e sentando na cama, uma perna cruzada e mão na barriga. Katy sentou a minha frente, havia um receio que nunca a vi ter. 

— Esse assunto é tão delicado, sua mãe de volta... 

— Quem diria, não é? 

Ergui as sobrancelhas. 

— Vim saber como está se sentindo. 

— Confusa?! – confessei, as lágrimas estavam voltando. — A Penelope não merece nada de mim, eu sei disso, mas... Ela é minha mãe, entende? Sempre haverá algum sentimento.

— A mãe estará ligada aos seus filhos pra sempre, não importa o que aconteça e saberá disso futuramente. 

Apontou para minha barriga, meu olhar caiu para a mesma enquanto assentia e as lágrimas caiam. Fechei os olhos por alguns segundos ao lembrar dos meus bebês. 

— Seja sincera. – encarei Katy. — Estou sendo uma idiota? Deveria simplesmente expulsa-la e não dar chance nenhuma? 

— Querida... – segurou minha mão. — Claro que não, Cheryl. É a sua mãe e acho que é muito mais fácil se arrepender de algo que fez do que algo que não fez. Confesso não ter simpatia nenhuma por Penelope, mas me colocando no lugar dela faria de tudo pra ter uma filha incrível como você de volta.

— A senhora com certeza nunca será como ela, a Penelope... – revirei os olhos. — Ela me fez sofrer muito.

— Nós sabemos.

Katy pressionou os lábios em um sorriso.

— Porém, dar uma nova chance ou não a Penelope é uma decisão inteiramente sua, não deixe minha filha que fala coisas sem pensar te influenciar, ok? A Toni não tem ideia como se sente porque sempre teve a mãe presente, acredito que por isso lhe disse tantas bobagens. 

— Ela pode estar certa.

— Não a certa ou errada, Cheryl. – negou com a cabeça. — Somente a sua decisão, o que quiser fazer será o certo porque são seus sentimentos, suas vontades.

Assenti, fungando ao tentar inutilmente limpar as lágrimas que ainda deslizavam por minhas bochechas. Katy suspirou, ficamos alguns segundos em silêncio até seu olhar vir ao meu novamente. 

 — Olha, tem uma mulher totalmente arrependida de te magoar lá embaixo, você sabe... Esfriou a cabeça e percebeu que errou, na verdade dei uma ajudinha. 

Piscou, acabei sorrindo. 

— Seus conselhos são os melhores, devia morar com nós pra sempre, Katy. 

— Vocês são uma família agora, Cheryl. Tenho certeza que se estivesse aqui ou não, achariam uma maneira de se acertarem. 

— É, nós damos nosso jeito. 

Encolhi os ombros, Katy riu levemente.

Uma hora ou outra, nós resolveríamos essa divergência, o conflito de opiniões. Ainda bem que Katy adiantou nossa reconciliação, porque agora mesmo já descia junto da mais velha para encontrar Toni. Não demorei a avistar minha esposa sentada no sofá, braços cruzados e olhar distante, Samantha estava ao seu lado concentrada no celular.

— Sam, vem me ajudar com o jantar. 

Katy falou chamando a atenção das duas. Os castanhos de Toni chegaram até os meus, a mesma ergueu o corpo enquanto Samantha ia com sua mãe para a cozinha. 

— Vamos conversar? 

Perguntei assim que ficamos sozinhas. 

— Por favor. 

A morena estendeu a mão, peguei na mesma e guiou-me até o sofá, sentamos lado a lado, encarando uma a outra. Toni lambeu os lábios, não deixei de acompanhar o movimento.

— Cherry, me desculpa. – iniciou, nunca largando da minha mão. — Não quis dizer que você é uma idiota, estava brava por perdoar tão facilmente a sua mãe. 

— Deveria ser uma decisão minha, Toni.

Retruquei, claramente chateada.

— Tem razão, não deveria me meter, mas na hora... Tenta me entender, amor. – pediu encarando-me com os castanhos suplicantes. —  Você sempre me citou inúmeros defeitos da Penelope, mas deixou entrar na nossa casa pra conversar, sempre disse querer distância, mas discutiu comigo quando expulsei ela da academia e fala que não a vê como mãe, mas no primeiro pedido de desculpas já está abaixando a guarda. – suspirou após o desabafo. — Nunca te vi tão frágil perto de alguém, Cheryl, era como se não tivesse defesas perto dessa mulher, conseguindo derrubar seus muros com poucas palavras.

Respirei fundo, absorvendo todas suas palavras, no fundo minha esposa tem total razão. Penelope tem um poder sobre mim, sempre teve, poderia ter acabado com nossa relação na primeira ameaça que me fez após a morte de meu pai, mas nunca consegui. Sempre mantive a esperança de que um dia poderíamos ser mãe e filha. 

— Primeiro, ainda não a perdoei, nem de longe... – balancei a cabeça em negação. — E segundo, não está totalmente errada, a minha mente quer afastar a Penelope de toda forma possível, mas o meu coração... Odeio o quanto ele é esperançoso, TeeTee. Criando essas ilusões de que ela pode se tornar uma pessoa boa e...

Não consegui terminar, sentindo as lágrimas mais uma vez voltarem. Toni me acolheu em seus braços, murmurando que estava tudo bem ao depositar um beijo em minha cabeça.

— Escuta, amor. – segurou o rosto entre minhas mãos. — Te apoio a conversar com ela mais uma vez. 

— Mas...

O seu indicador tocou em meus lábios me calando. 

— Não importa, estarei com você e se a Penelope não estiver sendo sincera... Quem sairá perdendo é ela, porque com certeza se arrependerá de não lutar pra ter a filha de volta. – beijou minhas lágrimas, os meus olhos se fecharam com seu carinho. — Sempre serei seu suporte, amor. 

— Obrigada, TeeTee. 

Sussurrei, o meu coração ficando mais calmo no peito após nossa reconciliação. Toni não fez mais nada além de me dar carinho, assegurando que tudo ficaria bem. Também desejava isso, com todas as forças, porque aguentar mais uma das maldades de Penelope seria o maior sofrimento de todos, principalmente que estou esperando meus bebês. 

— As pazes foram feitas? 

Katy retornou a sala, limpando as mãos em um guardanapo.

— Claro que sim, mãe. – Toni esticou o corpo no sofá deitando a cabeça em meu colo. — Não consigo ficar longe dos meus bebês. 

Repousou sua mão em minha barriga. 

— Só deles? 

— Você está inclusa no meus bebês, Cherry. 

Sorriu ao me encarar. 

— É um bom momento para dizer que estou próxima de me mudar? 

Minha sogra sentou ao falar, rapidamente a encaramos.

— Já? Vocês podem ficar aqui o quanto quiserem.

— Sabemos, Cheryl, mas é bom termos nossa privacidade e não tirarmos a de vocês. 

— Sentirei saudades. – Toni lamentou. — Principalmente no momento das brigas. 

Nós rimos com a confissão da minha esposa, minha sogra e cunhada fariam uma falta enorme. E como a morena disse, principalmente na hora das brigas onde Katy é sempre a bandeira branca estendida em meio ao caos. 

×××

 

Sentada na cama, de pernas esticadas, óculos de grau e atenção total no livro sobre maternidade a minha frente, descansava o corpo exausto dos eventos de hoje. Domingo é pra ser um dia relaxante, mas acabou sendo pior do que os dias semanais corridos e cheio de estresse. Agora estou aqui no quarto, vestindo um pijama de gestante que consiste em camisa de botão e calça de tecido macio, cor neutra, nada sexy enquanto aprendo mais sobre os bebês em minha barriga. 

A porta do banheiro foi aberta, Toni saiu junto com o vapor do seu banho quente. Demorei apenas alguns segundos a olhando até voltar o foco no livro, minha esposa demorou a deitar, mas quando o fez posicionou a cabeça sobre minhas pernas ficando de frente para minha barriga. Ergui o livro só pra espiar a mesma levantar minha camisa para ter contato direto com minha pele e depositar um beijo. 

— Oi, meus ruivinhos. 

Abri um sorriso, negando ao ouvi-la conversar com os gêmeos. 

Foquei o olhar no livro novamente. 

— Não vejo a hora de conhecer vocês, poder pegar no colo e admirar... – suspirou. — Será que vão demorar muito? Estou ansiosa. 

Sinceramente? Já não tenho a menor ideia do que estou lendo

— Hoje não foi um bom dia, sei que fiz a mamãe chorar, mas prometo que não irá acontecer mais. – sua mão deslizou por minha barriga em um carinho. — Espero que não me odeiem por isso.

Fechei o livro, pronta para assegurar a minha mulher que não há nenhum bebê bravo com ela, mas uma sensação estranha interrompeu meus passos. Levei a mão a barriga rapidamente, Toni me encarou.

— Sentiu isso? 

Perguntei, franzindo a testa. 

— O que? Cherry, está bem?

E aconteceu de novo, um tremor quase imperceptível, era como se estivessem se mexendo com tamanha delicadeza que se não me concentrasse com certeza não sentiria.

— Acho que eles mexeram. 

— Mas não senti nada... – deslizou sua mão por minha barriga novamente. — Ei, quero sentir vocês. 

— TeeTee, ainda não são fortes o suficiente. 

Argumentei, deixando o livro de lado.

— Poxa...

Lamentou, sua expressão decaiu.

Minha esposa suspirou, sentando ao meu lado com a maior cara de cachorrinho abandonado do mundo. Me aproximei, deitando a cabeça em seu ombro.

— Aposto que mexeram porque ouviram você. 

Escorreguei as mãos para minha barriga.

— Os nossos bebês te amam. – encarei os castanhos. — Eles são completamente apaixonados por você. 

— Não pode ter tanta certeza, Cherry. 

— Toni. – inclinei-me, deixando o rosto a frente do seu. — Tem tanto amor por você em mim que é impossível esses garotos não serem no mínimo seus fãs, devem ficar tão felizes quando conversa com eles e conta todo seu dia. 

Minha esposa abriu um leve sorriso.

— Você acha? 

— Tenho certeza, TeeTee. 

Beijei seus lábios. 

— Agora trate de nos abraçar e dar muito carinho. 

— Vocês são muito exigentes. 

Resmungou, abrindo os braços pra me receber.

— A gente só... – suspirei, sorrindo. — Ama muito você. 

— Eu também amo meus bebês. – retribuiu o sorriso. — Tanto que nenhum dos três tem a mínima noção. 

Depositou um beijo em minha bochecha.

Me aconcheguei contra seu corpo, aliviada por meu domingo não ter sido tão arruinado assim. Nós conseguimos superar uma visita indesejada, discussão e ganhamos a primeira mexida de nossos bebês, mesmo não sendo uma ação compartilhada não vejo a hora de Toni também poder senti-los, eles claramente ficaram felizes ao ouvir sua voz, porque assim como eu estão embriagados de amor por ela.


Notas Finais


Olá.

Me desculpem se houver muitos erros, não tive tempo de editar com calma.


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