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  3. Etapas

História 03 ( beyond the love - choni ) - Etapas


Escrita por: chxnidale

Capítulo 49 - Etapas


Fanfic / Fanfiction 03 ( beyond the love - choni ) - Etapas

 

Cheryl B. Topaz – Point Of View

O silêncio no quarto de hospital nunca foi tão torturante para mim quanto agora. Totalmente sozinha com minha esposa, eu andava de um lado para o outro, colocando uma mecha para trás da orelha e esfregando as mãos nervosamente.

Era como se ela estivesse acordada e fosse ouvir, saber que sou uma fraca, que não consegui segurar e acabei me rendendo ao vício.

Olhei para a maca, suspirando com força e me aproximando do lado esquerdo. Ainda havia uma leve dor de cabeça por conta da ressaca, Nathan me ajudou a ficar recuperada, nem consegui ir pra casa ainda, precisava conversar com Toni, por mais que não fosse me ouvir.

— Eu...

Iniciei a falar, travando no segundo seguinte.

Levantei o olhar, colocando a mão sobre o peito, havia uma dor insuportável se apossando de meu coração, não queria de forma alguma decepciona-la dessa maneira.

— Me desculpa, TeeTee.

Abracei o próprio corpo ao falar, encarando a mesma ainda desacordada.

— Eu bebi, me entreguei ao maldito vício porque não aguentava mais e... – respirei, contendo o choro. — É tudo tão difícil sem você.

Meus lábios tremeram e senti as lágrimas caírem.

— Só tenho cada vez mais certeza que não posso viver sozinha, não sem a minha âncora. – segurei em sua mão entrelaçando nossos dedos. — É doloroso vir aqui e te ver nessa maca, eu...

Suspirei, pressionando as pálpebras.

— Talvez precise ficar um dia somente em casa, pensando sobre meus erros e dando mais atenção aos nossos bebês. – encarei seu rosto tão sereno ao estar completamente apagada. — Sinto muito, amor, por tudo, mas... Necessito de um tempo longe desse hospital.

Guiei sua mão até os lábios, depositando um beijo longo nos nós que nossos dedos formavam. As lágrimas caíram com mais força, fazendo-me respirar fundo.

— Eu amo você com todo meu coração, TeeTee.

Declarei-me, me aproximando da maca e deixando um beijo em sua testa.

Ainda permaneci perto dela por alguns segundos, aquele resquício de esperança onde pudesse acordar, quem sabe fazer aquele aparelho dar um sinal de que teve alguma reação.

Mas como sempre, não houve nada.

Balancei a cabeça em negação, limpando as lágrimas e saindo do quarto. Nathan estava a minha espera e Betty pronta pra iniciar um dia inteiro ao lado da minha mulher como companhia.

— Cuida dela.

Pedi a loira.

— Claro, Cheryl. – tocou em meu braço. — Vá descansar, qualquer coisa te ligo.

Assenti.

— Vamos, Madrinha.

Nathan passou o braço por cima dos meus ombros, acolhendo-me em um abraço de lado e iniciando a caminhada em direção ao elevador. O mais novo estava sendo como um anjo, me resgatando de uma noite horrível e cuidando de mim como um dia fiz com ele.

— Obrigada por hoje.

Falei quando estávamos juntos no cubículo de metal.

— Não se preocupe, é meu dever cuidar de você. Sabe... Está ficando velha.

Zombou, franzindo o nariz.

— Idiota.

Revirei os olhos.

— Vou te levar pra casa pra que descanse e amanhã trago de volta aqui antes de irmos em uma reunião do AA.

Ditou seu plano para nosso dia, eu sabia que precisava ir em uma reunião e buscar por minha medalha de um dia sóbria, iniciar minha contagem desde o início.

— Tudo bem, mas não quero vir ao hospital amanhã.

As minhas palavras fizeram Nathan parar quando estávamos saindo do elevador.

— O que? Madrinha...

— Não é nada, sério. – desviei o olhar para o hall de entrada do hospital. — Só preciso ficar um dia longe desse lugar, desse cheiro.

Confessei, suspirando.

— Entendo, então amanhã passarei o dia com você.

— Não é necessário, eu...

— É sim, a Toni vai me matar se acordar e saber que te deixei sozinha em momentos difíceis. – passou o braço por meus ombros novamente. — Aliás o soco dela é muito doloroso, não quero arriscar.

Nathan conseguiu arrancar-me um riso fraco.

Neguei com a cabeça enquanto era conduzida por ele para fora do hospital, prometendo voltar somente no dia em que faltará apenas horas para duas semanas, espero que Toni acorde antes disso.

×××

 

— Meu nome é Cheryl Topaz. – iniciei, esfregando as mãos nervosamente. — E estou sóbria a um dia e algumas horas.

Minha perna tremia como se fosse a primeira vez que estivesse enfrentando a sobriedade. Infelizmente o vício nunca vai embora, pelo contrário, volta com ainda mais força e depois de beber aquelas garrafas, é como se o gosto do whisky fosse o melhor novamente.

Uma mão repousou em meu joelho, era Nathan com olhar reconfortante e tentando me passar a força que preciso.

Tive que contar sobre minha recaída, tudo que estou passando. Meus colegas de sobriedade encaravam-me atentos e Margaret foi tão atenciosa que me senti bem. Estava batendo um recorde quando o dia já estava na metade e ainda não havia soltado nenhuma lágrima.

Talvez fosse o meu afastamento do hospital ou por finalmente colocar pra fora o que estou sentindo, passando e enfrentando nesse momento. Como se o que tinha de ruim estivesse indo emborra, mas bem.. Toni ainda está no hospital e em coma, a realidade sempre me batia com força.

Chegar em casa foi estranho, parecia que faltava algo para meu dia estar sendo normal e eu sabia o que era, não ir ao hospital e não ver a Toni é um sentimento tão ruim. Porém, achava que poderia ser menos doloroso do que ir até lá e ficar a olhando não ter nenhuma reação.

— Nós vamos ficar bem, Debora, não se preocupe.

Falei com a mais velha.

— Certeza? Não precisa de mais nada hoje?

Insistiu, analisando-me.

— Não preciso, Nathan vai ficar aqui.

Pressionei os lábios em um sorriso.

Debora assentiu.

Nós trocamos um abraço antes dela ir, a nossa empregada tem sido uma peça fundamental já que é quem passa a maior parte do tempo cuidando das crianças. Katy hoje estaria no hospital, Samantha na escola e acabaria ficando sozinha com as crianças.

Não totalmente já que tenho Nathan nos fazendo companhia.

Após fechar a porta da casa, soltei um grande suspiro. Os gêmeos estavam no quarto junto de Nathan, caminhei até a sala e encontrei um dos mais afetados com o coma de Toni.

Lion estava deitado no sofá, patas abaixo do rosto e a expressão tão desanimada que me dava um aperto no coração. Ele nem tem mais brincado tanto com os gêmeos, perdi a conta de quantas vezes adentrei a casa e o labrador veio correndo, mas quando me reconheceu, murchou porque esperava que fosse outra pessoa.

— Sente muita falta dela, não é?

Sentei ao lado do cachorro, deslizando a mão por seu pelo.

— Eu também.

Abri um sorriso triste, inclinando-me contra Lion e abraçando seu corpo. Fechei meus olhos, acariciando o labrador e tentando lhe dar algum tipo de conforto.

Os minutos passaram, só me afastei dele quando ouvi barulho de passos apressados e risadas. Levantei o corpo, Lion rapidamente saiu do sofá e consegui ver Nathan descer as escadas correndo junto dos gêmeos. Um em cada braço, gargalhando de felicidade.

— Nathan.

O repreendi.

— Sempre soube que seria a mãe chata.

Ofegou ao falar, cansado da pequena agitação.

— Mamãe.

Henry foi o primeiro a vir em minha direção.

— Oi, meu amor. – o sentei em minha perna. — O tio Nathan está incomodando?

— Mamãe Tee.

Scarlett choramingou, aparecendo em meu campo de visão. Os seus olhinhos procuraram por minha esposa, deixando os ombros caírem ao perceber que mais uma vez não havia a presença da lutadora.

— Ei, a Mamãe Cher está aqui. – tentei consola-la, a chamando com a mão. — Vem cá.

— Mamãe Tee.

Repetiu, os olhos ficando mais claros.

— Filha.

Troquei um olhar com Nathan, erguendo Henry para que pudesse pega-lo e inclinando-me para pegar Scarlett que já deixava lágrimas escaparem. Ver minha garotinha sofrendo era ainda pior, não sabia se poderia lidar com isso por mais tempo, é doloroso demais.

— Ei, bebê. – toquei em seu rosto assim que Scarlett estava sobre meu colo. — A Mamãe está descansando, lembra? Ela vai voltar.

Enxuguei suas lágrimas, tentando convencer a minha filha e a mim mesma de que Toni ainda pode acordar, que vai retornar para nós em algum momento.

— Que tal sairmos? Vamos ao parque!

Coloquei entusiasmo em meu tom, mas Scarlett não pareceu se animar, aninhando o corpo no meu e descansando a cabeça sobre meu peito. Suspirei, afagando seus cabelos após deixar um beijo nos mesmos.

Seus bracinhos me apertavam como um pedido mudo para que não fosse a lugar nenhum e agora, percebo que toda vez que saio por aquela porta, fugida deles por não quererem me ver longe, devem pensar que não voltarei assim como a Toni.

— Tudo bem, a mamãe está aqui. – a acolhi ainda mais em meus braços. — E não vou a lugar nenhum, prometo.

Lhe beijei mais uma vez.

Quando subi o olhar para Nathan – que observava toda a cena, vi um Henry tão melancólico quanto a irmã. Abri um sorriso pequeno em sua direção e o chamei com a mão para ocupar minha outra perna.

Tive os dois em meus braços, agarrados ao meu corpo e tão quietos como jamais vi. Lion não demorou a estar deitado ao nosso lado, aquele silêncio em minha casa dizia tanta coisa que assustava. Que se Toni não acordar, as coisas com certeza serão mais difíceis. Serei eu e dois bebês. Sem ela. Sem seu apoio. Sem seu amor. E é isso que assusta porque não acho que consigo ser forte o suficiente.

×××

 

No início da tarde, fiquei um longo tempo deitada na cama junto dos gêmeos, assistindo um desenho até que os dois pegassem no sono. Cada um com sua chupeta e posição diferente de dormir. Scarlett de barriga para baixo e Henry de lado, com as mãos abaixo do rosto. É sempre assim, chega ser engraçado vê-los caírem no sono sempre da mesma maneira.

Custei a sair do aconchego daquele colchão, do clima tão leve que meus filhos aparentavam ao estarem em seu momento de paz. Sabe o quanto isso é horrível? Ver que seus bens mais preciosos só estão realmente bem ao dormir, que quando estão acordados a qualquer momento podem lembrar da Toni e começarem a chorar, já aconteceu tantas vezes, mas ainda reajo como se fosse a primeira: Sentindo dor junto com eles.

— Finalmente dormiram um pouco.

Comentei com Nathan ao adentrar a sala.

O mesmo estava sentado e com seu celular em mãos digitando freneticamente. Na televisão passava algum programa de culinária que não estava nem um pouco afim de assistir.

— Odeio isso. – sentei no sofá ao seu lado, buscando pelo controle. — Os gêmeos estão sentindo muito a falta dela, eles sabem que algo aconteceu só que são crianças e nunca perdem a esperança de...

— Madrinha.

Nathan me interrompeu.

O encarei, parando de mudar os tantos canais a procura de algo.

— Falou sério sobre não ir no hospital hoje?

— Sim, principalmente depois de ver como meus filhos estão, não há mais o que fazer e...

— Eu acho que deveria ir.

Me interrompeu novamente.

Franzi a testa.

— Sabe... E se ela estiver ouvindo tudo que você fala? Se sente sua presença e só precisa de uma força pra voltar?

— Você tem assistido muitos filmes, certo?

Zombei, negando.

— Madrinha, aposto que ela sente saudade sua.

— Nathan... Não faz isso.

— Esperança. Se não for, terei que ir, mas... Toni com certeza deve preferir ouvir você.

Encarei seus olhos claros, percebendo o otimismo e quase vendo minha esposa ali em suas atitudes e palavras. Ele estava me convencendo e sabe disso, porque por mais que queira negar, sempre quero vê-la mesmo que esteja imóvel. É a minha mulher e... Porra, como sinto sua falta.

— Eu fico com os gêmeos, vá rapidinho e eles nem terão acordado quando voltar.

Insistiu.

Fechei os olhos por alguns segundos, soltando o ar com força.

— Tudo bem, eu vou.

— Ela vai ficar tão feliz!

Comemorou.

— Não fale como se estivesse acordada. – levantei. — Viu meu celular? Preciso ir logo antes que os gêmeos acordem.

— Ah! – ele se remexeu no sofá. — Está aqui.

Pegou o aparelho que estava ao seu lado, alcançando-me.

— Obrigada, não irei demorar.

— Sem pressa, Madrinha. Posso muito bem cuidar dos meus irmãos mais novos.

Piscou ao falar.

Abri um pequeno sorriso, balançando a cabeça.

Fazer o caminho do hospital nunca é uma sensação boa, ir até aquele local e ter certeza que Toni não acordou é sempre como a primeira vez que fiquei sabendo do coma. Mas Nathan tinha razão, em tantos aspectos que me assusta a sua maturidade. Mal posso imaginar a reação da minha esposa se soubesse que não fui vê-la, que desisti dela.

Deus, se fosse Toni no meu lugar tenho certeza que nunca soltaria minha mão, que confiaria até o último segundo que iria acordar e agora me sinto até mesmo uma idiota por cogitar a possibilidade de não ir vê-la, demonstrar que estou ali a esperando... Pelo tempo que for.

O corredor do quarto da minha esposa é sempre muito calmo, por isso estranhei ao ver alguns profissionais apressados e uma movimentação na sua porta. O meu coração disparou, por alguns segundos fiquei estática no mesmo lugar apenas para instantes depois estar correndo em direção ao seu quarto.

 

Toni Topaz – Point Of View

Estreitei o olhar, confusa com a visão do quintal de casa completamente vazio. Minhas sobrancelhas se juntaram enquanto analisava o próprio corpo e percebia que estava com as roupas do acidente. Quer dizer, o acidente que acho ter sofrido. Olhei em volta, percebendo que realmente estava em minha casa, mas como vim parar ali? Será que acabei esquecendo o que viria fazer?

O meu corpo se encolheu ao ouvir um estrondo alto, meu olhar foi até o céu e percebi que uma chuva se aproximava. Quando o primeiro pingo caiu em meu ombro, acordei do transe e adentrei a casa em busca da minha família. Eu ainda estava confusa, estranhando toda a calmaria do local.

— Cheryl?

A chamei, buscando por minha esposa.

Continuei a caminhar mesmo sem receber respostas, indo em direção a sala e foi onde os vi. Os meus três bens mais preciosos estavam somente a alguns passos de mim. Cheryl tinha os gêmeos sobre o colo, olhando para os dois enquanto segurava as lágrimas.

— Vocês não podem tocar, ok? Ela está dormindo e precisa ir pra outro lugar, a mamãe vai viajar pra muito longe.

Explicou, acariciando os cabelos de nossos bebês.

O que? Mas...

— Estamos aqui para comunicar que hoje ocorrerá o enterro da lutadora de UFC Toni Topaz....

O meu olhar rapidamente focou na televisão, observando um jornalista falar seriamente sobre meu funeral. Minha boca abriu enquanto lia o nome da matéria “Morreu ontem a noite, a jovem lutadora Toni Topaz, depois de sofrer um acidente e ficar em coma, acabou não resistindo.”

— Droga.

Cheryl murmurou baixinho em repreensão, buscando pelo controle da televisão após deixar os gêmeos no sofá e desligando o aparelho. Ainda tentava entender o que estava acontecendo, mas meu instinto falou muito mais alto.

— Cherry, eu estou aqui!

Parei a sua frente, a mesma estava em pé segurando o choro antes de retornar a atenção aos gêmeos. Ela parecia não me ver ou notar. Estiquei os braços para segura-la, abraçando seu corpo junto ao meu. A senti, mas tudo que Cheryl fez foi virar-se quando a campainha tocou.

Fechei os olhos com força, apertando os punhos e tentando fazer algo para que pudesse me ver, me sentir.

Eu não morri. Estou aqui! Nunca os deixaria.

— Madrinha.

Nathan a abraçou.

— Vocês estão prontos? Podemos ir?

— Sim, podemos.

Cheryl concordou, colocando toda sua armadura de mulher forte enquanto via que estava destruída por dentro. Ainda não entendia o porque permaneci ali ou o que fiz pra parar nesse limbo, mas precisava ver mais.

×××

 

Só poderia estar ficando louca porque agora mesmo, estou do lado do meu próprio caixão e vendo o meu corpo desacordado. Havia tanta gente no meu funeral, fãs do UFC, minha família, amigos... Todos querendo se despedir de alguma maneira.

Os meus olhos estavam sempre em Cheryl e nos meus filhos, Nathan, Veronica e Sabrina não saíram do seu lado um segundo sequer. Lágrimas e choro por todo o local, era sufocante. Quando vi minha mãe junto de Samantha, tive que me afastar da minha esposa por um momento.

Dona Katy parecia não ter mais lagrimas assim como Sam, as duas com expressões exaustas. O meu coração apertou no peito, porque agora elas só tinham uma a outra, não consegui protege-las como prometi ao meu pai. Os meus sentimentos se tornaram em pura decepção, comigo mesma e com toda aquela situação.

Eu queria estar com todos eles! Queria poder evitar aquele acidente.

Quando toquei no ombro de minha mãe, fechei os olhos, desejando passar alguma calmaria, mas já estava claro para mim que era impossível, principalmente quando abri os olhos e me vi em casa novamente, as luzes apagadas e aquele silêncio que odiava com todas as forças.

— Tem certeza que está bem?

Ouvi a voz da minha mãe, caminhei a procura dela e a encontrei junto de Cheryl na cozinha. Uma em cada lado do balcão, parecendo compartilharem da dor do dia de hoje.

— Provavelmente terei que tomar um remédio pra dormir, mas estou bem, eu juro.

Minha esposa tentou lhe dar um sorriso.

Não acredite nela! A Cheryl não está nada bem, consigo ver.

— Ok, também tentarei ao menos descansar.

— Claro, obrigada por ficar aqui essa noite.

As duas trocaram um aperto de mão antes da minha mãe deixar Cheryl sozinha. Suspirei, percebendo no instante seguinte o quanto a ruiva está desgastada, não havia expressão ou algum tipo de emoção em seu rosto.

Fiquei a observando por tempo indeterminado até que a mesma se movimentou, saindo da cozinha e fiquei agradecida ao pensar que iria tentar dormir. Mas é a Cheryl, deveria saber que não seria tão simples pra ela. A acompanhei quando passou no quarto das crianças e os dois estavam dormindo profundamente.

Quando saímos de lá, torci para que fizesse o caminho de nosso quarto, mas a ruiva desviou para a sala de música. Adentrando o local e encostando a porta, tentando fazer o mínimo de barulho possível. Foi doloroso demais ver aquilo, Cheryl tinha uma garrafa de whisky escondida na sala e a vi lutar contra o seu próprio vício.

— Desculpa, eu tentei... Eu juro que tentei...

Murmurou, abrindo aquela garrafa.

— Cherry...

Lamentei ao vê-la beber direto do bico, tomando como se fosse água e posteriormente liberando o choro. Levei as mãos aos cabelos agoniada com a visão. Só ergui o olhar novamente quando ouvi um barulho na porta o que assustou até mesmo a Cheryl, mas para seu alívio era apenas um Lion com andar lento até deitar para ficar observando-a.

— Por que ela se foi?

Cheryl sentou no chão ao lado do labrador.

— Toni não poderia ter feito isso, não poderia me deixar.

— Eu não quis te deixar, eu juro!

Falei com ela.

Como se pudesse me ouvir.

Balancei a cabeça em negação, eu vi minha esposa esvaziar aquela garrafa enquanto lamentava minha morte, chorava, brigava comigo em palavras desconexas.

— Eu a amo tanto, não sei como... Como vou sobreviver.

Ver suas lágrimas, o tom em meio a um desespero e tristeza, era torturante. Sentei a sua frente, sentindo minhas lágrimas virem ao nota-la tão infeliz e a culpa é toda minha.

— Não chora, por favor.

Pedi, tentando tocar em seu rosto e limpar as lágrimas, mas não consegui enxuga-las. Foi o que desencadeou o meu choro, porque queria estar ali e dizer que a amo, que não fui embora. Mas não havia o que fazer.

— Isso é tão fodido. – voltou a se lamentar, a fala embolada por causa da bebida. — Só queria que essa dor passasse, nem que fosse...

Cheryl se auto interrompeu, descendo o olhar para o Lion.

— Não continue!

— Se não tivesse as crianças e você... – continuou, acariciando o pelo do labrador. — Eu realmente não teria mais porque viver.

Sua cabeça encostou na parede mais próxima, fechando os olhos por alguns segundos enquanto suspirava. Meu olhar foi ao Lion que tinha atenção toda na Cheryl, como se tentasse ajuda-la de alguma maneira.

— Preciso dormir, é isso. – arrastou-se pela parede até ficar em pé. — Um dia de cada vez... Mas não pra bebida.

Respirou fundo, iniciando passos lentos para sair da sala.

Levantei para segui-la, mas algo me chamou atenção no fundo da sala, havia uma luz forte, era como se me chamasse para segui-la. Fiquei alguns segundos a encarando e pensei na possibilidade de nunca mais ver meus filhos ou Cheryl, olhei para a ruiva novamente.

Precisava de mais um pouquinho deles.

Então acompanhei minha esposa até o quarto.

×××

 

— Como você está se sentindo hoje?

Acordei com aquela voz desconhecida, franzi a testa e tentei reconhecer o local, era uma sala como um consultório. Ao olhar pra frente vi os cabelos ruivos presos em um coque, Cheryl estava sentada em um sofá com as pernas cruzadas enquanto tinha uma xícara entre as mãos.

— Acho que ainda não sei como me sinto.

Confessou com um suspiro.

— Tem algo pra me contar sobre essa semana?

Girei os calcanhares ao ouvir a voz novamente e dei de cara com uma mulher desconhecida por mim, sentada em uma poltrona e com um caderno nas mãos, anotando algo. Estreitei o olhar, vasculhando aquela sala e encontrando o nome “Michelle Smith” e na parede um quadro com o certificado de formação em psicologia.

Isso era bom.

Quer dizer, Cheryl está procurando ajuda.

— Os meus filhos completaram dois anos.

Rapidamente virei de frente para a ruiva, vendo a mesma balançar a cabeça enquanto falava, desviando o olhar para a xícara em suas mãos.

— Que incrível.

Michelle tinha um tom animado, mas Cheryl não parecia estar na mesma sintonia, havia algo errado. Caminhei até o sofá, sentando ao seu lado e a observando respirar fundo antes de olhar para a psicóloga.

— Não consegui comemorar. – confessou, lágrimas brilhando em seus olhos. — Fazem meses que ela se foi, mas ainda é como se tivesse me deixado ontem.

Foi minha vez de respirar fundo, segurando as lágrimas.

— Me sinto uma péssima mãe, nem consegui sorrir ao abraça-los porque só pensava que ela deveria estar junto comigo.

— Ainda sente falta dela?

Cheryl soltou um riso sem vontade.

— Todo o santo dia.

As lágrimas caíram ao falar.

— E os gêmeos? Ainda chamam por ela?

— Com muito menos frequência, essa semana a Scarlett a chamou e infelizmente sempre que ouço vindo deles, não consigo segurar o choro, volta a doer e...

Cheryl não conseguiu dizer mais, se entregando a um choro a frente de sua psicóloga. Pude ouvir um suspiro vindo de Michelle como se soubesse que terá um longo trabalho e meu coração ficou pequeno no peito.

Toquei no rosto da minha mulher mesmo sabendo que não poderia me sentir, desejava com todas as forças estar ali com ela de alguma forma e suprir um pouco da sua dor, mas já havia aceitado que tudo que posso fazer é observa-la. A ver no fundo do poço, mas também se reerguendo.

×××

 

Estar de volta a minha casa sem realmente estar presente me fazia querer seguir aquela luz que me perseguia, ver os gêmeos crescerem tão rápido e aos poucos não sentirem mais minha falta era torturante. Por mais que Cheryl se esforçasse ao máximo para relembra-los de quem é a “Mamãe Tee” parecia não ser a mesma coisa porque eu não estava ali.

Ver minha esposa se entregar ao vício também não é algo que me fizesse ficar para observa-los, nunca sabia o que esperar ao ver Cheryl se trancar na sala de musica e beber, muito menos quando ouvi sua voz dizendo:

— Essa semana fez um ano, você acredita?

Ela olhava para o whisky enquanto falava.

Pisquei alguns vezes, tentando entender o que estava acontecendo e me vi na sala de música, Cheryl cambaleando enquanto deslizava o corpo contra a parede, sentando no chão.

— Um ano que ela me deixou.

Bebeu um grande gole do whisky.

Gemi de insatisfação.

— E um dia achei que seria feliz pra sempre.

Um riso irônico escapou por entre seus lábios, deitando a cabeça contra a parede. Foi tão doloroso vê-la esvaziar aquela garrafa e apagar sem ao menos conseguir ir para o quarto, a bebida iria mata-la.

Fiquei a olhando desmaiada sobre o chão por um tempo indeterminado, velando seu sono como se pudesse fazer alguma coisa se estivesse em perigo. Um barulho vindo da porta me fez girar o pescoço, levantando rapidamente e indo até o corredor.

Vi o Henry com sua chupeta na boca, batendo na porta da sala.

— Mamãe.

Ele mal terminou de dizer e já iniciava um choro.

— Mamãe... Mamãe...

Aquela sim era a cena mais dolorosa de todas, ver meu garotinho chamar por Cheryl enquanto a mesma se encontrava desmaiada do outro lado, sem nenhuma chance de acordar. E o pior, eu não poderia fazer nada pra ajudar.

Mais um barulho me chamou atenção, Lion apareceu correndo em direção a Henry se colocando a frente do menininho e lambendo o rosto molhado por lágrimas. Ele estava assustado, abraçando o labrador como se sua vida dependesse daquilo.

Tentei pega-lo, toca-lo, mas nenhum dos dois me via ou sentia.

Nós três acabamos sentados no corredor, um ao lado do outro. Lion tinha seu corpo todo sobre as pernas de Henry como se impedisse o garotinho de sair dali de alguma maneira.

— O que está acontecendo aqui?

Uma voz chamou minha atenção, respirei aliviada ao ver Sabrina junto de Nicholas. A loira se apressou em pegar meu filho no colo, analisando o menino de cima a baixo.

— Procura pela Scarlett.

Pediu ao namorado que prontamente assentiu, caminhando pelo corredor até chegar no quarto das crianças. Fiquei com Sabrina, vendo o desespero crescer em seus olhos ao notar que Henry havia chorado.

— Ela está dormindo no quarto, mas não vi a Cheryl em lugar nenhum.

Nicholas suspirou.

— Nós sabemos onde ela está.

Sabrina acenou com a cabeça pra porta em que estávamos próximos. Nicholas segurou firme a maçaneta, tentando abri-la, mas não teve nenhum sucesso.

— Achei que ela tivesse melhorado... Cheryl! Abre a porta.

Bateu o punho fechado contra a porta.

— Não deveríamos ter deixado ela sozinha, não essa semana... – Sabrina lamentou enquanto embalava Henry em seu colo tentando o fazer pegar no sono novamente. — Estava sentindo que havia algo errado.

— Porra, Red. Abre a porta.

Nicholas bateu com mais força.

Nenhuma resposta.

O meu coração acelerou, Cheryl não estava apenas dormindo porque se estivesse... Deus, já deveria ter acordado.

Adentrei aquela sala, indo até ela e verificando se seu peito subia e descia. Ela estava respirando, mas havia alguma coisa errada. Minha esposa não estava bem e felizmente, não era só eu que achava isso.

A porta foi arrombada por um Nicholas ofegante, correndo até Cheryl e tentando acorda-la, mas nada funcionava. Vi o homem pega-la no colo e correr pra fora do quarto, dizendo que teriam que leva-la pro hospital.

×××

 

— Odeio vomitar.

Cheryl resmungou após levantar a cabeça, ficando em pé para limpar a boca e voltar ao quarto de hospital. Não houve surpresa ao ver que Sabrina e Veronica estavam de braços cruzados a esperando.

— Que horas vão me dar alta? As crianças devem estar sentindo minha falta.

Sentou sobre a maca.

Sabrina e Veronica permaneciam sérias, eu sabia o que aquilo significava.

— Os gêmeos estão com a Katy, não precisa se preocupar.

Veronica tinha um tom ríspido, enfiando as mãos no bolso de seu jaleco, ela deveria estar de plantão nessa noite. Me admirava Cheryl ainda não ter percebido que viria algo.

— Nós precisamos conversar.

Sabrina iniciou.

— Ah, é claro que precisamos.

Cheryl revirou os olhos em deboche.

— O assunto é sério, nós sabíamos que iria levar um tempo até você conseguir superar, mas não imaginei que seria tanto, Cheryl.

— A minha esposa morreu, Spellman.

— Sim, mas você está viva e os seus filhos também. – fixou o olhar na ruiva que suspirou. — Como acha que a Toni se sentiria se desistisse da vida assim?

Odiaria. Estou odiando.

— Os gêmeos precisam de uma mãe saudável, não que você beba vinte e quatro horas por dia.

— Tenho controle, ok?

— Controle? Você se trancou na sala de música, bebeu até quase entrar em coma alcoólico enquanto um dos seus filhos acordou, procurou pela mãe e não achou, isso é ter controle?

Talvez nunca tenha visto Sabrina tão alterada.

— É a minha maneira de viver, só aconteceu dessa vez, prometo que...

— A Katy quer tirar os gêmeos de você.

Veronica interrompeu minha mulher, falando depois de um longo tempo. Tive a mesma reação que Cheryl, a olhando de boca aberta, surpresa com a informação repentina e tão improvável.

— Veronica! Combinamos de contar só se...

Sabrina repreendeu a médica.

— Só se o que? Ela não quer se tratar, você não está vendo? – apontou para a ruiva na maca. — E concordo com a Katy, pra segurança dos gêmeos é melhor eles...

— Lodge, se você disser isso.

Cheryl levantou, brava de maneira que jamais vi.

— São meus filhos.

— Então aja como uma mãe!

Veronica gritou com ela, a encarando de frente.

— Todos os dias alguém tem que ir na sua casa verificar se ainda estão todos vivos porque ninguém consegue confiar em você, Cheryl. – apontou o dedo contra o peito da minha esposa. — Se não se tratar e a Katy ir a justiça para ficar com os gêmeos, irei testemunhar a favor dela.

Essa é a pior briga que já vi entre Veronica e Cheryl, as duas tinham lágrimas e raiva nos olhos, desafiando uma a outra pra desistir de lutar, mas nós sabíamos que a Lodge nunca recuaria.

— Não precisa ser assim, podemos conversar e...

Sabrina tentou acalmar os ânimos.

— Tudo bem. – Cheryl a interrompeu, limpando as lágrimas que caíam. — Não quero perder meus filhos, eu... Eu vou me tratar.

— Isso é ótimo, quer dizer...

— Preciso que alguém fique com as crianças, não quero que me vejam surtando por estar com abstinência. – ela interrompeu a loira mais uma vez, caminhando de volta para a maca e sentando na mesma. — Ligue para o Nathan, vamos a uma reunião amanhã.

Fechou os olhos ao deitar, encostando o corpo contra os lençóis do hospital e soltando o ar com força. Sabrina sorriu, mas ela foi a única já que Veronica saiu sem ao menos olhar pra Cheryl.

— Vai ficar tudo bem, nós já passamos por isso.

A loira confortou a amiga, segurando sua mão.

×××

 

Ver Cheryl superar o vício e ser a mulher incrível que é novamente me fez sorrir. Ela estava mais leve, um ar tão aconchegante que morria de saudade. Mas a minha felicidade não durou muito, algumas coisas ainda não estava preparada pra ver.

— Por que não vai pra pista? Você é linda e deve ter tantas mulheres nessa noite te querendo.

Veronica falou com a ruiva, a música alta naquele local me fazia ter uma leve dor de cabeça. Elas estavam em uma boate, nossos outros amigos também se faziam presente, mas em um local mais distante. Cheryl e Veronica estavam tendo uma conversa particular, paradas perto do bar.

Por alguns segundos olhei para aquela luz que sempre me perseguia, chamando-me como se devesse algo a ela. A resposta de Cheryl me fez ficar:

— Não, é sério, não quero me relacionar com ninguém.

— Cheryl, já fazem três anos.

A médica lamentou, suspirando.

— E ainda quero só ela, queria que estivesse aqui agora. – a ruiva retrucou. — Estou bem, aceitei que Toni se foi, mas não significa que queira dar um passo tão grande como esse.

— São três anos sem transar.

— Veronica!

Repreendeu a amiga.

— Oi.

Uma estranha passou por mim sorrindo para Cheryl.

Arregalei os olhos.

— Alguma de vocês aceita um drink?

— Ela aceita.

Veronica empurrou a ruiva levemente, recebendo um resmungo de resposta.

— O que você gosta?

O olhar sedutor daquela mulher não me agradava.

— Na verdade, não gosto de nada. Eu sou alcoólatra, estou a quase dois anos sóbria, então...

— É... Com licença. – Veronica segurou os ombros de Cheryl. — Minha amiga não está se sentindo bem.

— Estou ótima!

Cheryl respondeu, franzindo a testa.

— Só vamos.

Lodge a carregou para longe daquela mulher, caminhando para encontrar nossos amigos. Eu sempre as seguia, Cheryl sentou em um dos sofás no canto e sentei ao seu lado, como antigamente.

— Sério, alguém precisa tirar as teias de aranha da Cheryl.

— Lodge!

Cheryl a repreendeu mais uma vez.

Sabrina, Nicholas e Betty as encararam.

— Você precisa transar, lembra quando era uma ninfomaníaca?

— Não sou mais, eu mudei.

— Olha, a Toni ia querer que você vivesse mais.

Quem está dizendo é você, Lodge!

— É só que... – Cheryl suspirou, balançando a cabeça. — Perdi o tesão, depois que ela morreu foi como se levasse minha libido junto.

— Ou você que está se negando a ter atração por outras pessoas.

Betty falou, a ruiva respirou fundo.

— Pode ser, não sei... Não quero fazer nada agora, ok?

— Certeza? Porque tem uma morena olhando pra você. – Nicholas falou apontando com a cabeça para o outro lado do local, olhei assim como os outros. — E acho que está vindo pra cá.

Ele tinha razão, outra estranha estava tentando se aproximar da minha mulher e não sabia como me sentir sobre isso, quer dizer... Eu estava morrendo de ciúmes, mas não deveria. Queria desejar que fosse feliz e arrumasse uma companhia, mas... Ela está botando a mão na coxa da Cheryl? Que porra!

— Você está sozinha, certo?

Sorriu.

Fiquei em pé, as olhando de frente.

A desconhecida tinha o corpo do lado da ruiva, sentada enquanto ousadamente deslizava a mão para ir de encontro a coxa da minha mulher.

— Eu sou casada!

Cheryl falou de repente.

Não deveria, mas comemorei como se estivesse ganhando o cinturão. Os nossos amigos lamentavam, gemendo de frustração com a resposta da ruiva. A mulher recolheu a mão.

— Quer dizer, eu não...

— Bom, estou vendo sua aliança e realmente não quero problemas.

Ela tinha razão, Cheryl ainda usava a nossa aliança de casamento.

A ruiva nem tentou impedi-la de ir embora e fiquei feliz, mas me sentindo uma egoísta. Ela tem que viver, não é? Precisa continuar com sua vida, porém... Precisa mesmo de outra mulher?

— Pelo amor de Deus, tira essa aliança e você não é casada, é viúva!

Veronica a alertou.

Cheryl revirou os olhos.

— Tudo bem, chega, eu desisto!

Veronica levantou as mãos em rendição.

×××

 

Lodge era uma mentirosa porque não desistiu.

Pela primeira vez me vi na escola das crianças, Cheryl foi busca-las junto de Veronica que também iria pegar o Arthur. As acompanhei até a sala do filho da Lodge e posteriormente a dos meus bebês, que já não aparentavam mais ser tão pequenos assim.

— Cheryl!

Mais uma desconhecida, parada na porta de uma sala enquanto sorria para a ruiva. Veronica estava ao seu lado e com a mão segurando a de Arthur.

— Oi, Heather.

Cheryl sorriu de volta.

Ela sorriu de volta.

Foi... Doloroso.

— Scarlett, Henry, está na hora.

Heather só poderia ser a professora deles, falando com tanta intimidade que me fez meu coração apertar. Enquanto meus filhos arrumavam as mochilas para irem embora, houve uma troca de olhares longa entre Cheryl e a professora, que só foi quebrado quando Scarlett apareceu para abraçar a morena.

— Tchau, professora.

Beijou a bochecha dela.

Henry fez o mesmo.

— Eles adoram você.

Cheryl sorriu ao falar.

— Só eles?

Heather arqueou uma sobrancelha.

Arregalei os olhos assim como a ruiva que foi pega de surpresa.

— Eu... Quer dizer...

Cheryl engasgou nas próprias palavras.

— Mamãe, o Arthur vai na nossa casa?

Scarlett interrompeu o momento constrangedor. Essa é a minha garota! Minha esposa desceu o olhar pra ela, ainda um pouco desconcertada e assentindo.

— Claro... Ele e a tia Veronica.

— Eba!

As três crianças comemoraram.

Heather sorria, ela havia gostado do que causou em Cheryl.

— Preciso ir, então... Até amanhã.

Se despediu da professora com a mesma rapidez em que saiu de seu campo de visão, só precisou de alguns metros para Veronica começar a rir da reação da amiga.

— Você com certeza precisa aprender a flertar.

Zombou, a ruiva lhe deu um tapa.

— Não quero nada com ela, fiquei com medo de nega-la e ficar um clima estranho...

— Ah, Cheryl, nem vem. – Veronica balançou a cabeça. — Ficou nervosa porque Heather é uma mulher linda, faz seu tipo e queria sim dizer que também adora ela.

— Será que pode parar? Não, não e não.

— Deveria chamá-la pra sair.

A medica lhe aconselhou.

Cheryl negou freneticamente.

— Definitivamente não.

— Você sabe que...

— Veronica, chega! Não quero e pronto.

Interrompeu a amiga que suspirou.

Foi uma viagem silenciosa até chegar em casa o que era muito estranho já que haviam três crianças no veículo, mas eles pareciam cansados ou muito bem educados já que mal conversavam entre si.

Quando chegamos em casa, logo reconheci minha mãe sentada na sala esperando os netos. Eles correram para abraça-la e dona Katy abriu um sorriso tão grande que preencheu meu coração.

— Katy, pode me ajudar com essa cabeça dura aqui?

Veronica apontou para Cheryl que revirou os olhos.

— Qual o problema?

— A professora dos gêmeos está literalmente se jogando para ela, mas essa idiota finge não ver.

— Eu vejo, mas não quero.

A ruiva negou mais uma vez.

— Você ficou nervosa, com certeza queria.

— Me erra, Lodge!

Cheryl alterou o tom, saindo da sala e indo na cozinha em busca de água, a acompanhei, os gêmeos pareciam entretidos ao brincar com o Arthur. Vi a ruiva beber um grande gole de água, tempo suficiente para minha mãe adentrar o cômodo.

— Precisa conversar?

— Veronica está ficando louca.

— Por que? Porque ela viu que gosta da professora?

Cheryl estacionou, abrindo a boca e a fechando novamente.

— Sabe que pode se relacionar com outras pessoas, não é? Você é jovem e tem muita vida pela frente.

— Esse é o problema, sinto que não posso.

Suspirou profundamente, largando o copo sobre o balcão.

— O que quer dizer?

— Quero dizer que ainda sinto ela aqui, como se tivesse vendo tudo que faço e parece que estou a traindo!

Cheryl ofegou ao final.

Meus olhos se arregalaram.

Ela me sente? A Cheryl...

— Não queria me sentir assim, isso me da um bloqueio de permitir conhecer outras pessoas, entende?

Oh, essa doeu.

— Claro que entendo, também perdi o amor da minha vida, lembra?

Minha mãe abriu um sorriso sem mostrar os dentes.

— Sinto o Antônio até hoje, é como uma ligação, mas tenho certeza que meu marido e minha filha iriam querer nos ver felizes acima de tudo.

Confortou a ruiva, aproximando mais o corpo do dela.

— Quer uma dica? Comece com pequenos passos. – segurou a mão de Cheryl, tocando na aliança dourada que ainda usa. — Tira-la não significa que deixou de amar, que quer substitui-la. Significa que está se permitindo viver.

— Ela vai me odiar.

— Não vou.

Respondi mesmo que não pudesse ser ouvida.

— Toni nunca te odiaria, acredite em mim.

Minha mãe colocou a outra mão sobre a de Cheryl, firmando o toque e fazendo a ruiva suspirar. Abri um sorriso triste, me sentindo uma idiota por ficar aqui todo esse tempo, a incomodando com minha presença e sendo uma egoísta por não deixa-la viver.

Ela merece ser feliz.

×××

 

Velei o sono de meus filhos por um tempo enorme, a ruiva os colocou na cama exaustos de tanto correrem com Arthur e Lion pela casa. Os analisei, vendo cada traço e memorizando para nunca esquece-los, não tinha ideia do que aconteceria quando fosse em direção a luz, mas esperava não esquece-los.

Deixei um beijo demorado neles, permitindo que as lágrimas caíssem.

— Eu amo vocês.

Sussurrei sentindo uma dor em meu peito por ter que deixa-los definitivamente.

Caminhei para fora do quarto, indo até o quarto que um dia também foi meu, mas agora não é mais, outra pessoa pode ocupar meu lugar naquela cama, do lado da mulher que amo.

Cheryl estava sentada, nenhuma maquiagem presente em seu rosto, óculos de grau e costas contra a cabeceira. A camisola que cobria seu corpo era tão linda que me fazia suspirar. Eu queria poder fazê-la se sentir bem novamente.

— Comece com pequenos passos.

Repetiu pra si mesma, o olhar caiu para a aliança em seu dedo, a girando sem tira-la. Me sentei a sua frente, vendo a confusão dominar os castanhos, focando a atenção em qualquer lugar vago enquanto tentava criar coragem.

— Você sempre vai ser o grande amor da minha vida. – ela estava conversando com um quadro que tinha uma foto nossa, em cima do bidê ao lado da cama. — Juro que nunca vou deixar alguém tomar seu lugar, TeeTee. É impossível.

— Eu sei, amor.

Pressionei os lábios em um sorriso.

Cheryl deitou na cama, ficando de lado e encarando a parte vazia onde era meu cantinho, a maioria das vezes foi o dela também já que dormia praticamente em cima de mim.

— Sinto falta da sua companhia, de poder te abraçar.

O seu tom de voz embargou e sabia que iria chorar.

Deitei meu corpo ao lado do seu, Cheryl estava me olhando, mas enxergando um vazio. As lágrimas deslizaram por suas bochechas enquanto retirava a aliança do dedo e colocando em cima do travesseiro, bem a frente do meu rosto.

— Eu amo você, Toni, com todo meu coração. – ela fungou. — Espero que não me odeie.

Suspirou, fecha

— Nunca conseguiria te odiar, Cheryl.

Falei sem perceber que estava chorando assim como ela, a observei até que pegasse no sono, continuando na mesma posição, virada para mim. Não contive a vontade de tocar em seu rosto, desenha-lo com a ponta dos meus dedos antes de beijar sua boca.

— Você foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida e sou tão grata por tudo que vivemos que nem ao menos consigo ficar brava por morrer tão cedo. É a mãe perfeita para os gêmeos e sei que vai escolher a pessoa certa pra te acompanhar nesse resto de vida, mas não posso ficar aqui pra vê-la dizer que ama outra, seria doloroso demais.

Balancei a cabeça, limpando as lágrimas.

— E não quero que pense que estou aqui porque sou uma egoísta, minha mãe tem razão, precisa viver e torço muito pra que faça isso. Eu te amo, Cheryl Marjorie Blossom Topaz. Nunca se esqueça disso.

Beijei novamente sua boca, sentindo a maciez e permanecendo ali por alguns segundos. Ainda a olhei por longos minutos, tão linda e serena, definitivamente não precisava mais de mim, isso enchia meu peito de orgulho.

Quando vi aquela luz novamente, bem atrás do seu corpo e ainda mais forte, não relutei em atender o chamado. Cheryl precisava de libertação e eu também, então caminhei para aquele reflexo branco.


Notas Finais


Eu precisava de um ultimo pov Toni...

O próximo é o ultimo capitulo, mas não desanimem, tenho algumas surpresas no final.


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