História 134340 - 5. True Colors

— Certo, você está pronto — disse, ajeitando a franja do rapaz uma última vez antes de se afastar e descer da cama. — Venha até o espelho comigo, quero que veja como ficou bonito.

Mesmo não sabendo do que se tratava um espelho, Plutão sorriu pequeno e também desceu da cama, seguindo Namjoon numa curta caminhada até a entrada de seu quarto, onde, ao lado esquerdo da porta, se encontrava um grande objeto retangular, o qual aparentava ser feito de vidro e estava envolto por uma belíssima moldura de madeira vermelha.

— Ah! — exclamou espantado, após estar na frente do dito espelho e encontrar outro terráqueo presente naquele local. — Namjoon, quem é? — questionou com a voz trêmula, enquanto se afastava rapidamente dali, procurando ficar o mais longe possível daquele desconhecido.

— Hey, está tudo bem, não há porquê ter medo. — Tranquilizou-o, enquanto estendia a destra em sua direção. — Esse é apenas você, anjo.

Ao escutar essa frase, Plutão franziu o cenho em confusão, segurando a mão de Namjoon com delicadeza e permitindo que este voltasse a colocá-lo de frente para o espelho.

— Esse é... Plutão? — perguntou incrédulo, observando atentamente as expressões faciais do ser à sua frente, o qual lhe parecia completamente estranho.

— Sim, esse é Plutão. — Riu brevemente, se aproximando mais de Plutão para também ficar na frente do espelho. — O espelho foi criado para refletir nossa imagem com o máximo possível de perfeição. Observe, ele apenas reflete suas próprias ações. — Levantou suas mãos unidas para ilustrar a explicação, ganhando uma expressão surpresa do rapaz.

Plutão tinha consciência de que sua aparência havia mudado após descer à Terra, afinal, já havia reparado em seu tom de pele e em sua estrutura corpórea, mas não fazia ideia de que estava tão semelhante a um terráqueo.

— Então Plutão ainda tem cinza nele! — Com a mão livre, tocou levemente em seu cabelo, expressando tamanha felicidade, que acabou arrancando outra risada de Namjoon.

— Esse é um dos seus pontos mais bonitos — disse, enquanto acariciava a mão de Plutão com carinho.

— Todos os pontos de Namjoon são bonitos. — Sorriu tímido, sem desviar seu olhar do espelho, percebendo através deste que tanto suas bochechas quanto as de Namjoon haviam ficado como Marte.

— Obrigado — sussurrou em resposta, desviando seu olhar do objeto, numa tentativa de limpar sua mente e acalmar seu coração acelerado.

Namjoon era consideravelmente popular entre as mulheres da cidade e estas já haviam o elogiado inúmeras vezes, mas nenhuma delas havia feito ele sentir borboletas em seu estômago da forma como Plutão havia feito naquele momento.

E isso o assustou; isso o assustou muito.

— Veja, Namjoon! Ainda está em Plutão! — exclamou animado, arrancando o rapaz de seus pensamentos e fazendo-o voltar seu olhar para o espelho.

— Do que está falando, anjo? — perguntou confuso, sentindo suas bochechas esquentarem ainda mais, ao perceber que Plutão havia soltado sua mão para levantar a blusa e abaixar minimamente a cueca.

— Plutão está falando da marca — respondeu, enquanto apontava para a pele que deixava exposta.

Namjoon permitiu-se levar o olhar até o ponto em questão, notando, pela primeira vez, a pequena mancha amarronzada e em formato de coração que existia ali, contrastando perfeitamente com a pele leitosa.

— Vê como é bonita? — questionou, abrindo um enorme sorriso enquanto tocava a mancha com as pontas de seus dedos.

— Sim — murmurou, enquanto levantava seu olhar para o rosto do rapaz e passava a observar sua expressão. — É mais que bonita, é adoravelmente linda.

— Plutão gosta muito. Namjoon gosta também? — perguntou, fixando seu olhar curioso no olhar admirado do outro.

— Bem mais do que Namjoon esperava — murmurou novamente, desviando seu olhar após alguns segundos de silêncio. — Bom, eu também preciso tomar um banho, mas prometo não demorar — disse, enquanto caminhava até seu guarda-roupas e pegava o necessário para seu banho, em mais uma tentativa de limpar sua mente e acalmar seu coração. — Fique à vontade e sinta-se em casa — continuou, já deixando o quarto e seguindo para o banheiro. 

Após se ver sozinho, Plutão suspirou e girou em seus calcanhares, olhando atentamente cada mínima coisa que estava ao seu redor, com a intenção de conhecer melhor o local em que se encontrava.

O quarto de Namjoon era um cômodo grande e espaçoso. As paredes eram de um belíssimo tom de azul escuro, o que lembrou-o vagamente de Netuno, e eram repletas de fotografias, o que deixou-o fascinado.

Mas o que realmente prendeu sua atenção foi uma enorme caixa retangular aparentemente feita de madeira, que se encontrava a alguns metros de si, logo abaixo da janela.

Sendo tomado pela curiosidade, Plutão se afastou do espelho e caminhou em passos lentos na direção daquele objeto desconhecido, sentindo-se completamente atraído por ele. Em seguida, o rapaz passeou seus dedos por toda sua extensão, esbarrando acidentalmente em um de seus botões e fazendo um som estridente sair dali, som este que o fez sobressaltar assustado de imediato. 

'39 - QUEEN

Mesmo que existisse há milênios, Plutão nunca havia escutado algo semelhante. 

Após se recuperar minimamente do susto, o rapaz se sentou ao chão e cruzou suas pernas, voltando a observar aquela caixa, completamente encantado por ela e pelos sons que deixavam seu interior. 

Foi quando uma voz grave se fez presente no local, fazendo com que Plutão se assustasse novamente. 

Havia um homem preso dentro daquela caixa? Mas como isso era possível? 

— Por que homem está preso? — questionou, num sussurro, enquanto voltava a ficar de pé. — Plutão quer ajudar! 

Mesmo não sendo totalmente fluente na língua inglesa, Plutão foi capaz de compreender o que aquele homem estava dizendo. Então, movido por seu desejo de ajudá-lo, começou a conversar com ele. 

— O que? Almas navegando na Via Láctea? — questionou confuso. — Mas não existe mar na Via Láctea! Plutão saberia se existisse, porque Plutão vivia lá — explicou, sem desprender sua atenção do que o homem dizia. — Escrever na areia? —  Arregalou seus olhos, sentindo-se ainda mais confuso. — Mas Plutão não sabe escrever.

E então, o homem se calou e soltou um grito agudo e sofrido, o qual fez Plutão se arrepiar por completo. 

— Homem, ainda está aí? — perguntou amedrontado, enquanto aproximava-se da caixa, buscando escutar e entender melhor aquele homem tão misterioso. Entretanto, ele apenas levou outro susto, pois inesperadamente a voz grave voltou a se fazer presente. — Pare de assustar Plutão, homem! — murmurou, enquanto um biquinho se formava em seus lábios. 

— Plutão, você não me ouviu te chamar? — questionou, tocando levemente no ombro do rapaz e fazendo-o sobressaltar assustado pela enésima vez.

Seu coração já havia acelerado tantas vezes naquela manhã, que Plutão tinha medo deste  se cansar e parar de bater para sempre.

— Homem está preso na caixa! — exclamou apavorado, colocando as mãos em seu peito enquanto voltava-se para o outro. — Namjoon precisa ajudar Plutão a tirar homem de lá!

Namjoon ficou em silêncio por alguns instantes, assimilando as palavras que havia acabado de escutar e tentando entender o que Plutão queria lhe dizer. Então, ele notou a canção que preenchia o ambiente e, enfim, a situação pareceu mais clara aos seus olhos.

— Oh... Está falando da vitrola? — questionou, soltando uma risada baixa ao perceber o olhar confuso do rapaz. — A caixa da qual está falando se chama vitrola, Plutão. Usamos ela para escutar música. 

— O que é música? — Pendeu a cabeça para o lado, ainda mais confuso. 

— Bom, a música é uma arte, na qual pessoas utilizam suas vozes, junto de instrumentos ou sons melodiosos, para expressar sentimentos ou contar histórias. — Explicou, sob o olhar atento de Plutão. — Essa música em questão, conta a história de um viajante espacial, que acabou se perdendo na Via Láctea e voltando para Terra anos depois, quando o amor de sua vida já havia envelhecido.

— Os terráqueos viajam para o espaço? — perguntou surpreso.

— Apenas terráqueos selecionados e em períodos específicos — respondeu, enquanto se aproximava da vitrola e pausava a música, para então, abrir um compartimento na parte superior do objeto. — Veja, não existe nenhum homem aqui dentro, apenas um pequeno disco.

Plutão se aproximou com passos lentos, ficando na ponta dos pés para olhar dentro da vitrola, constatando que, realmente, não havia homem algum e acabando por se sentir envergonhado por conversar com um objeto inanimado. 

— Hey... Não precisa se sentir assim, você não sabia — disse, notando as bochechas avermelhadas do rapaz.

— Plutão não sabe nada da Terra — murmurou entristecido, desviando seu olhar para seus próprios pés. — Netuno estava certo, Plutão é idiota.

— Está louco? — Indignou-se. — Nunca mais diga isso! — Tocou as bochechas do rapaz com leveza, deixando nelas um carinho terno antes de levantar o rosto delicado. — Olhe em meus olhos, anjo. — Plutão obedeceu sem contestar. — Você não é idiota, apenas não conhece algumas coisas. E isso é completamente normal, afinal, ninguém nasce sabendo tudo.

— Namjoon... 

— Não diga nada, não antes de eu dizer tudo que preciso. — Interrompeu-o, afastando-se lentamente e caminhando até a vitrola. — Eu nunca fui muito bom com palavras, mas, como disse antes, a música nos ajuda a expressar nossos sentimentos de uma forma incrível — disse, voltando sua atenção para o rapaz após trocar os discos. — E essa música vai lhe dizer tudo que eu gostaria, mas não consigo.

TRUE COLORS - CYNDI LAUPER

Uma doce e suave melodia invadiu os ouvidos de Plutão, seguida por uma belíssima voz feminina, que proferia palavras igualmente belas.

— Namjoon, é muito bonita — murmurou após o primeiro verso da música se findar, sentindo seus olhos começaram a lacrimejar.

— Não mais do que você, anjo — respondeu, voltando a tocar nas bochechas de Plutão.  — Nunca mais se permita acreditar em palavras tão cruéis, pois elas não passam de mentiras — disse, com seus olhos fixos nos do rapaz. — Eu vejo suas cores reais e elas são lindas. Você é lindo por completo. E eu precisei de menos de vinte e quatro horas para perceber isso.

Ao escutar essa frase, Plutão fechou seus olhos e abaixou sua cabeça, finalmente se entregando ao choro. Enquanto Namjoon, ignorando todos os pensamentos assustadores que tomavam sua mente, lhe puxou para um abraço apertado, o qual foi retribuído de forma desajeitada.

E mesmo que Plutão não soubesse o nome daquele ato, ele veio a se tornar o seu favorito.