História 16 segundos - 16 segundos

Descobri que a mesma música pode causar diferentes sentimentos se tocada repetidamente quando eu finalmente aprendi como deixar o player no repeat. Já nem sei quantas vezes ouvi a bela voz cantar uma música que eu sei que é triste. As lágrimas secas no meu rosto não me deixam esquecer que chorei ouvindo, mas não posso me iludir e colocar a culpa na música.

Tem uma lâmpada na minha rua que pisca.

Descobri isso hoje também, quando levantei para olhar para esse céu nublado, encontrar conforto na rua vazia e nas poucas luzes acesas dos prédios.

A marca das luzes dos postes na minha mão é uma lembrança de uma pessoa que ainda habita em mim. Uma projeção de uma luz acesa agora e a três anos atrás.

Na verdade são dois anos e 11 meses.

A voz que canta aos meus ouvidos, o gatilho da minhas lágrimas, me abraçou com delicadeza depois de mais alguns replays.

A lâmpada do poste acende e apaga, as luzes projetadas na minha parede se movem vez ou outra. Diferente de três anos atrás, mas de certa forma ainda do mesmo jeito.

Eu não saí desse lugar, talvez possa dizer que as luzes sejam as mesmas.

Eu sou a mesma pessoa.

Tem uma luz na minha rua que pisca.

Será que um dia eu vou olhar para as marcas na minha mão e sentir que mudei?

A luz da minha rua pisca.

De alguma forma eu voltei para três anos atrás, olhando a marca da luz na minha mão.

Tem uma luz na minha rua que pisca.

Passa 16 segundos acesa.

E 16 segundos apagada.

Depois da terceira vez que eu contei, voltei a deitar.

A música repetiu outra vez.

Não sei por que achei que seria diferente.