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História 1860 - Capítulo 14 Monstros


Escrita por: Doidorotto

Notas do Autor


A Fic "1860" busca esclarecer pontos que ficaram obscuros durante o episódio especial de Halloween de 2011 do jogo Amor Doce. Por isso, os personagens do jogo terão nomes e papéis levemente alterados, para encaixar-se nesse novo contexto.

Neste especial, sua docete é enviada ao passado, no ano de 1860, e conhece um morcego falante chamado Noir. Ele fala sobre o lorde vampiro do castelo, Dimitry, e a história de Mary Magdaleine.

Dimitry e Noir apresentam fragmentos do que aconteceu naquele lugar. Mary, e todos da cidade, foram infectados por uma misteriosa doença e a única esperança de salvá-la era levar a moça para o castelo, o único lugar seguro e livre da doença.
Dimitry se transforma em um vampiro e deseja transformá-la, mas, por algum motivo, ele não chegou a tempo e a garota morreu.

Qual foi a origem da doença? Quem era o vampiro que transformou Dimitry? Por que ele não chegou a tempo? Por que o castelo era o único lugar seguro? Estas são algumas respostas que a fic "1860" busca esclarecer.

Espero que gostem.

Esta fic é um spin-off da Fic, "Você é Meu Amor Doce", mas funciona em um universo único e separado, não sendo necessário a leitura de uma para a compreensão da outra. Mas, eu recomendo você ler. É uma fic muito boa! ;)
http://www.amordoce.com/forum/t31179,1-gl-iris-voc%C3%AA-%C3%A9-meu-amor-doce-parte-2-por-realdoido.htm

Capítulo 14 - Capítulo 14 Monstros



– SENHORA SHERMANSKY! SENHORA SHERMANSKY!! – Dimitry carregava Mary Magdalene nos braços, subindo as escadas, apressado, enquanto a garota tossia sangue e gemia de dor. – Shermansky!!

A governanta surgiu no corredor desesperada com os gritos. Ela só teve tempo de ver Dimitry chutando a porta de seu quarto com algo nos braços. Ela correu até ele e ficou horrorizada ao ver o estado de Mary.

– Oh meu bom Deus… O que aconteceu? – Shermansky ficou parada na porta, com a mão na boca. – O que houve com ela?

– Depois eu explico… Rápido, me traga água quente e alguns panos limpos!! – Dimitry ordenou. – Me traga também remédios! Ela precisa vomitar… Me traga alguma bebida forte!

– Dimitry… por favor… tire esse casaco sujo imediatamente!

– Senhora… Não dá tempo de me preocupar com a minha higiene! – Dimitry ficou furioso. – Traga o que eu pedi imediatamente!

– Eu vou trazer, mas por favor… Tire o casaco e não toque no sangue dela!! – Shermansky estava quase chorando. – Me deixe cuidar dela! Por favor…

Sem entender muito bem, mas sem tempo para argumentar, Dimitry desabotoou o casaco e jogou em qualquer canto da sala. Shermansky pediu que ele retirasse as luvas imediatamente e lavasse as mãos na tina da água do banho da manhã que estava pronta, mas que ele não usou, e correu para buscar as coisas que foram pedidas.

– Não toque nela, por favor!! – Foi o último aviso da mulher.

A velha senhora acionou todos os criados que encontrou pelo caminho, dando ordens parta que buscassem tudo que Dimitry pediu. A porta da frente do salão principal abriu-se com violência, dando passagem para dois soldados que traziam Deedra pelos ombros.

– Governanta!! – Um dos soldados chamou a velha senhora. – Ajude-nos!!

– Oh meu Deus! Outra!! – Shermansky correu até os soldados e pegou o rosto de Deedra. Ela estava viva. – O que aconteceu com ela??

– Ela chegou pelo portão dos fundos e perguntou pelo Duque! – O soldado respondeu. – Ela precisa de tratamentos…

Os soldados sentiram as mãos da garota apertando seus ombros, enquanto ela se esforçava para ficar de pé por si mesma. Os dois rapazes apoiaram ela e a ajudaram. Ela sussurrou um “obrigada” e apoiou a mão esquerda no joelho, deixando o braço direito, que estava coberto de manchas roxas e vermelhas, pendurado na lateral do corpo.

– Seu braço está quebrado menina! – Shermansky segurou Deedra pelo ombro. – Você tem mais daquele tônico que usou na Airis e no Capitão Nathan?

– T-tenho… – Deedra respondeu com dificuldades. – Cadê… o Duque?

– Não sei e não importa agora… – Shermansky olhou para os soldados. – Levem-na para o quarto do Duque Dimitry, coloquem-na em uma das poltronas e não se aproximem da moça na cama. Depois corram até o quarto delas… A última porta do corredor a esquerda… Deve haver lá uma mochila ou mala de viagem delas. Peguem e entreguem para a senhora Deedra (a lembrança do casamento das duas foi um pequeno sorriso em meio a uma tempestade). Ela saberá o que fazer.

Deedra acenou positivamente com a cabeça, concordando com Shermansky e deixando que os soldados a levassem. Ela voltou a correr em direção a cozinha onde pegaria o que Dimitry pediu.

Dimitry estava ao lado de Mary, que respirava com dificuldade e tossia. As linhas negras que dominavam seu pescoço, agora subiam pelo rosto, chegando quase a altura das maçãs. Os lábios estavam roxos e a pele esbranquiçada. Ela abria os olhos e balbuciava qualquer coisa desconexa, depois voltava ao estado anterior.

– Milorde! – Os soldados chegaram com Deedra nos braços. – Milorde! Perdoe-nos. A governanta nos ordenou trazer a caçadora para cá…

– Deedra?? – Dimitry deixou um pouco Mary e foi ver a caçadora. – O que aconteceu?

Deedra rangeu os dentes e só mostrou o braço quebrado. Dimitry entendeu o recado. Em poucos minutos, os soldados chegaram trazendo as malas e mochilas que encontraram no quarto das caçadoras.

– Mochila… marrom… – Deedra apontou com o olhar. – Caixa de madeira…

Um dos rapazes abriu a mochila indicada e pegou a caixa, mostrou para a caçadora que confirmou que era aquilo mesmo. Ela apoiou o braço quebrado no braço da poltrona e pediu um pano limpo e alguma fonte de calor. A senhora Shermansky chegou com as coisas pedidas por Dimitry e os itens foram divididos.

Deedra contou rapidamente para Dimitry o que havia acontecido. Ele não acreditou na história do monstro de pedra e nem acreditava que seu pai havia mentido tanto. Ele sabia da criatura e não alertou as caçadoras? Ele cobraria explicações pessoalmente do pai, mas depois. No momento, haviam coisas mais urgentes para resolver.

Algumas criadas cuidaram de Mary e os soldados trouxeram alguns panos, tinha de água quente e algumas velas acessas. Deedra pediu que o duque se preparasse, por que ele teria que ajudá-la, da mesma forma que aconteceu na noite do jantar e do ataque dos lobos. Dimitry acenou positivamente com a cabeça e colou um rolo de tecido na boca da garota, para ela morder.

Deedra esquentou uma faca de prata que estava guardada na caixa e encravou no braço quebrado. Ela gemeu e lacrimejou enquanto o sangue escorria e sujava o quarto do duque. Um dos soldados não aguentou a visão e correu para fora para despejar o conteúdo do estômago em algum lugar.

A caçadora abriu a carne até expor o osso partido. Ela largou a faca e lado e, com os próprios dedos ajustou o osso na posição correta. Ela estava quase perdendo a consciência quando pegou a poção Flaneu da caixa de madeira. A mão trêmula quase deixou cair o frasco, então Dimitry pegou o objeto da mão dela.

– Eu faço! Pode deixar.

Lágrimas nos olhos, expressão cansada e a respiração difícil. Dimitry nunca tinha visto Deedra tão frágil. Era até desesperador ver que aquela garota, tão forte e decidida, estava daquele jeito. Isso tirava um pouco das esperanças dele de que aquela situação terminaria bem.

– No três! – Dimitry disse. – Um… dois…

No dois ele virou a poção no ferimento, fazendo a carne de Deedra chiar como se estivesse sendo queimada. Deedra mordeu o pano tão forte que os dentes sangraram e a mão ficou dormente de tanto que ela apertou o braço de madeira da cadeira. O soldado que estava próximo apressou-se para segurar a caçadora contra a poltrona. O braço da caçadora fervia e tremia com a dor da regeneração forçada. Quando Deedra se acalmou, Dimitry soltou o pano e revelou o braço restaurado com apenas uma leve cicatriz.

– Eu odeio isso… – Deedra falou. Ela usou o pano que estava mordendo para limpar a boca e os dentes. – Cadê seu pai, Dimitry?

– Não há tempo para isso… – Dimitry respondeu. – Você tem mais dessa poção… A Mary está mal…

Deedra levantou-se, cambaleante e foi ajudada pelo soldado. Shermansky e as criadas cuidavam de Mary, colocando panos frios na testa da moça e limpando o sangue escuro que ela tossia.

– Rápido… Ela pode… beber isso? – Dimitry abriu espaço entre as criadas. – Por favor… tem algo que a ajude?

Deedra chegou mais perto de Mary, evitando tocar o sangue preto. Ela usou o polegar e o indicador para abrir o olho de Mary e viu que a parte que deveria ser branca estava com um aspecto amarelado e estranho. As linhas negras que dominavam o pescoço também eram um péssimo indicador. Deedra foi até a caixa de madeira e retirou um frasco com uma poção vermelho brilhante, quase como se fosse um rubi em forma líquida.

– O que é isso?

 Amor Doce.

Dimitry pegou o frasco e levou até Mary.

– O que isso faz?

– Acaba com isso.

Dimitry parou com o frasco no meio do caminho, olhando para o líquido vermelho. Ele demorou um pouco para entender o que era a poção, mas, quando compreendeu, olhou para Deedra horrorizado.

– Você daria isso para Airis?

– Sim. – Deedra respondeu. – E eu espero que ela tenha tomado.

– Não posso fazer isso! – Dimitry tapou o frasco e colocou sobre uma cômoda. – Tem que ter outro jeito!

– Isso é “Pestilência”! – Deedra apontou para Mary. – Um dom de mortos-vivos. Espalha uma peste e mata todo mundo! Mary está em um estágio sem retorno. Eu já vi muita gente morrer disso. Eu nunca vi ninguém se salvar!

Eu já...

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A cidade ardia em chamas. Algumas poucas pessoas ainda lutavam, gritavam e morriam em uma fúria sem sentido. De longe, do alto da torre da Fortaleza da Colina, Airis despertava. Confusa, em um lugar escuro e com cheiro de mofo. A luz do sol entrava por frestas das paredes de pedra.

Ela estava presa por grossas correntes de aço. Não só os braços, mas as pernas e o resto. Tudo estava muito apertado e firme. Era como se ela tivesse sido presa por um animal selvagem muito forte. Já havia escapado de correntes mais novas e ajustadas por profissionais. Mas, dessa vez, mal conseguia se mover.

Ela ouviu passos, pesados e desengonçados. Provavelmente a gárgula. Mas, estranhamente, o som das pisadas ficava cada vez mais baixo e macio. Era como se fossem passos de uma pessoa idosa e doente. Airis buscou na manga de sua camisa a faca que sempre mantinha escondida ali.

– Não adianta… – Uma voz rouca e arranhada soou de algum lugar da escuridão. – …já cuidei de suas armas… Não se preocupe, nada acontecerá com você… por enquanto…

Airis observou o par de olhos que surgiu na escuridão. Não eram vermelhos e agressivos. Eram pálidos e caídos. Como todo naquele homem. Velho, decrépito, magro e fraco. Usando um pedaço de trapo em volta da cabeça, como se estivesse segurando o próprio maxilar. Com roupas, que um dia pareceram nobres e bonitas, esfarrapadas e sujas de poeira e terra, como se tivesse cavado o caminho para sua própria cova com as unhas grossas e irregulares.

Ele andava curvado e apoiando-se nas paredes, até chegar a uma velha cadeira de estofado vermelho, coberta de poeira. Ele ergueu os pés magros e pálidos e os colocou dentro de uma tina com um líquido vermelho, provavelmente sangue, e suspirou fundo. Quando recostou, exibiu o peito velho com uma cicatriz mal curada sobre o coração e uma marca profunda no pescoço. Airis não precisou de muito para saber o que havia acontecido.

– O que você quer? – Airis disse.

– Só preciso de… arhh… forças… – Respondeu a criatura. – Só… forças…

– Força para que?

– Você… arrhhh… Não compreenderia… Eu não tenho que explicar… nada…

Airis ainda tinha algumas coisas em mente. Talvez, ela poderia sair. Talvez, alguma coisa. No cabelo. Ela tinha que ter alguma saída. Talvez um brinco. Talvez um grampo.

– O que você quer com essa cidade? – Airis olhava em volta. Procurando algum detalhe, alguma coisa. – Com o Duque?

– Ele me deve… Uma vida por outra… minha força… Eu quero só o que me pertence…

– O que? O que você acha que te pertence?

– Estou cansado… Transformar… o sol… consumiu muito… Preciso descansar… – A criatura se afundou mais na cadeira e deixou que a tina de sangue lhe banhasse as canelas. – Fique quieta… Logo… arrhh… tudo acaba…

– Não vou dizer que vou te matar, por que seria bobagem. – Aisris disse. – Mas, eu vou sair daqui e arrancar o seu coração!

– Já arrancaram… – O monstro apontou para o peito com a cicatriz. – Já cortaram minha garganta também… Seja mais original na sua ameaça… Diga que vai cortar… minhas unhas… é… ninguém nunca me disse “eu vou cortar as suas unhas, vampiro maldito!”

– Aproveite para brincar… Enquanto tem dentes!

– Sua… amante… Ela tem a força que eu preciso…

– Não tenho nenhuma amante… – Airis rangeu os dentes. – Não tenho ninguém que se importe comigo.

– Ela é sua amante… O cheiro dela está em você… Em todo seu corpo. – A criatura bateu com um dedo no nariz. – Por isso, eu preciso de você aqui… Ela vira te buscar…

– Não ficaria esperando se fosse você. – Airis riu. – A essa hora, ela acha que eu estou morta!

– Mas, você está… – Ele disse antes de dormir. – Só não percebeu…

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– O que você quer dizer com isso, senhora Shermansky? – Dimitry foi até a velha senhora.

– Eu já vi alguém que teve essa pestilência e sobreviveu. – Shermansky disse.

– Quem? – Deedra olhou incrédula para a governanta. – É impossível! Quem sobreviveu?

– Ele! – Ela apontou para Dimitry.

Todos no quarto olharam para o rapaz.

– Eu prometi que nunca diria nada… – Shermansky falou. – Prometi que nunca contaria. Eu sinto muito, Dimitry. Mas, seu caso foi muito especial. Não acho que Mary possa ser salva da mesma maneira. O preço é muito alto.

– Senhora Shermansky. O que aconteceu? – Dimitry pegou a mulher pelos ombros. – O que aconteceu comigo?

– Eu não posso falar… – Shermansky se afastou. – Sinto muito…, mas… Se você quer saber a resposta. Ela está na adega do seu pai. Mas… Se você for lá…

– Existe uma cura? Na adega? – Dimitry largou a governanta e correu para fora do quarto.

– Não!! Dimitry!! – Shermansky tentou segurar o rapaz, mas não consegui, então ele se virou para Deedra. – Por favor… Vá atrás dele! Por favor!

Deedra suspirou e foi atrás do Duque, mas alguém segurou seu braço.

– E leve isso com você… – Shermansky entregou a Deedra a sua besta pesada de repetição.

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Dimitry nunca teve a permissão para entrar na adega do pai. Mesmo quando se tornou um homem. Mesmo nas raras vezes em que o pai levava os capitães Nathan e Castiellos para beber vinho com ele. Dimitry sempre teve a saúde frágil então o vinho estava proibido para ele, mas, ele nunca havia estado na adega, nem mesmo para apreciar as garrafas ou o cheiro das rolhas recém-abertas. E, por isso, nunca soube da chave.

Ele correu até a torre leste da propriedade, onde uma pesada porta de madeira trancava aquela sala. Sem saber aonde estava seu pai, Dimitry ficou parado na porta da adega, imaginando uma forma de entrar. Ele olhou em volta, a procura de alguém que poderia abrir o lugar para ele. Foi afobado, deveria ter pedido a chave para Shermansky, agora teria de fazer todo o caminho de volta.

Poucos minutos depois, Deedra chegou até Dimitry.

– Seu machado!! – Dimitry olhou para a arma da caçadora. – Pode abrir a porta com ele?

– Quer que eu destrua a casa do seu pai? – Deedra respondeu. – Que tipo de convidada eu seria se saísse quebrando tudo.

– É minha casa também!! – Dimitry estava um pouco impaciente. – Eu estou autorizando você! Pode abrir!

– O que você espera encontrar lá em baixo? – Deedra tirou o machado da cintura e mirou a fechadura. – Eu não duvidaria se encontrássemos um monte de garrafas vazias!

– Quem esvaziaria uma adega?

– Airis! Fácil! – Deedra respondeu com um sorriso melancólico. Ela voltaria para aquela fortaleza e traria Airis de volta. Do jeito que fosse. – Essa portinha não pararia ela.

Com dois golpes na madeira, Deedra arrancou a fechadura e arrombou a porta. A madeira rolou por uma escada de pedra com alguns degraus, revelando uma sala de pedra, com uma mesa, cadeiras e candelabros, onde, provavelmente, o pai se sentava para beber com os amigos. Haviam algumas estantes com garrafas de vinhos. Apenas os mais baratos e mais comuns. Havia uma segunda porta, com uma escada que levava para outra adega. Onde, provavelmente, estavam guardados os vinhos mais nobres.

– Nada! – Dimitry falou em voz alta. – Nada aqui… Lá em baixo. Só pode estar lá!

– Dimitry… Você vai se frustrar! – Deedra falou. – E eu tenho que voltar e trazer a Airis de volta! Não posso perder tempo aqui!

– Se não tiver nada, então eu mesmo dou a sua poção para Mary. – Dimitry respondeu. – Mas, eu preciso tentar. Me diga que não tem nem um fio de esperança de encontrar Airis viva?

Deedra suspirou fundo e entrou na adega, com Dimitry logo atrás. A porta interna estava aberta e dava para outra escada que levava mais para o fundo. Apesar de escuro, havia luz no final da escadaria. Luz do sol.

Eles acenderam as tochas ao longo da descida e chegaram a um salão redondo maior do que o de cima. Com havias estantes de vinhos nas paredes, prateleiras de copos e taças, além de grandes barris com marcas e brasões de famosas vinícolas, indicando que aqueles eram vinhos de safras muito especiais. Deedra achou que aquilo seria o paraíso para Airis.

No teto, havia uma abertura com grade de ferro, por onde a luz do sol entrava abundante e iluminava praticamente todo o salão, exceto por um ponto escuro e mobiliado.

Havia uma cama, uma poltrona luxuosa e confortável, mesinhas com pratos, talheres e um serviço de chá. Haviam correntes com uma das pontas presa a parede e na outra, havia uma pessoa. Deedra e Dimitry aproximaram-se cautelosamente. A pessoa presa a corrente começou a farejar o ar, como se tivesse sentido a presença dos intrusos. Deedra preparou a besta e apontou em direção a pessoa estranha.

– Quem está aí? – Era uma voz de mulher. – Faraize? Nathan?

– Quem é você? – Dimitry perguntou. – O que faz aí?

– Dimitry? – A mulher saiu de seu canto, onde estava encolhida. – Não venha aqui! Por favor, vá embora!

– Quem? Quem é você?

Ele correu em direção a mulher misteriosa, mas, sem avisar, a mulher avançou furiosa em direção ao Duque. Deedra pegou o ombro de Dimitry e o puxou para trás com toda a violência, impedindo que a mulher o agarrasse em um abraço mortal. A corrente chegou a seu limite, travando os movimentos da criatura furiosa. Ela gritou ao ser banhada pela luz do sol e voltou para trás, encolhendo-se novamente em seu canto.

– Dimitry… – A mulher chorava. – Me perdoa!! Vai embora!!

Deedra largou sua arma sobre uma mesa rústica de madeira e pegou uma das tochas, e iluminou o canto da mulher.

Era uma jovem, com pouco mais de 25 anos. A pele branca pálida contrastava com os longuíssimos cabelos rosados. Os olhos eram claros, como se ela fosse cega. As roupas eram nobres e luxuosas, em tons rosa e roxo. E mulher era tão bonita que poderia ser considerada uma fada. Mas, as queimaduras de luz do sol deixavam claro o que ela era.

– Uma vampira? – Deedra falou. – Presa aqui? Por que?

– Não é uma vampira! – Dimitry tremia. – É a minha mãe…

Lady Agatha de Olav. A mãe de Dimitry. Aquela que o jovem acreditava estar morta, desde que ele era pequeno.

– Eu achei que você estava morta… – Deedra falou. – Uma doença estranha. Você…

– Mãe… – Dimitry levantou e caminhou em direção a mulher. – Você está viva. Mãe!

– Não se aproxime, Dimitry! – Agatha disse. – Estou a dias sem me alimentar. Estou fraca e posso te matar. Além de que algo está me matando aos poucos há dias. Alguma coisa que não existia. Algo que me machuca. Me queima.

– Minhas runas! – Deedra falou. – Cerquei as muralhas com uma proteção. Não sabia que tinha uma vampira aqui dentro.

– Sim… – Agatha respondeu. – Essa magia está me matando…, mas, tudo bem! Só lamento que não me matou antes! Você pode me libertar disso, não é? Pode acabar comigo!

– Mãe… como? Por que?

– Para te salvar! – Agatha começou a chorar. – Você era tão pequeno… Tão fraquinho. E eu te amava tanto.

– Uma doença que fazia ele tossir sangue… – Agatha acenou que sim. – Veias negras pelo pescoço? – Outra confirmação. – Ele foi mordido por alguma coisa que tinha no castelo?

– Ratos… Se soubéssemos antes… – Agatha lamentava. – Faraize se tornou obcecado por limpeza depois. Nunca mais deixamos uma praga entrar. Nem aqui nessa adega…

“Mas, antes… Dimitry ficou doente. Eu procurei todas as minhas curas em ervas, chás e mesmo em antigos rituais pagãos. Nada. Nada ajudava. Nem mesmo a medicina moderna. Faraize trouxe médicos de toda a Europa. Mas, nada ajudava.

Um dia… Um homem velho, com uma enorme cicatriz no pescoço surgiu dizendo que poderia salvar o meu filho. Mas, eu teria que ser dele em troca. Faraize ficou furioso, mas, eu estava disposta a fazer o que fosse preciso. Durante a noite, eu fugi e procurei por ele, no Forte do alto da Colina. Lá… Ele me transformou. Eu poderia voltar e salvar meu filho, mas, depois disso, eu deveria voltar para ele.

Mas, Faraize não deixou. Ele me prendeu aqui. Ele nunca me permitiu sair. Só algumas noites. Com essas correntes, presa e escoltada por Nathan e Castiellos, apenas para….”

– Para…? – Dimitry disse.

– Para poder te ver… – Agatha começou a chorar. – Por alguns minutos… Enquanto você dormia… Apenas para poder ouvir você respirando. Apenas para saber que o que eu fiz valeu a pena.

– Por que… – Dimitry também chorava. Cada músculo de seu corpo lutava para não ir até sua mãe e abraçá-la. – Por que nunca tentou me avisar? Por que nunca tentou me enviar um recado?

– Por que eu sabia que era melhor para você não saber… – Agatha falou. – Além disso… Eu sempre estive perto de você…

Chiados começaram a ecoar pela adega quando uma sombra passou em frente à luz do sol que entrava pela larga abertura do teto. Noir, foi voando até Agatha e pousou em seu ombro. Ela pegou uma fruta da badeja e deu para o morcego morder.

– Ele me conta tudo. Me fala sobre tudo… – Agatha acariciou o pequeno mascote. – Ele me falou até sobre você, Deedra…

– Di… mi… ti… – Noir chiou. – Di…mi..ti…

– O morcego fala? – Deedra ficou chocada com aquilo.

– Temos um pequeno elo mental… – Agatha respondeu. – E, Dimitry… Eu sinto muito! Não posso ajudar você. Sinto muito por Mary.

– Mãe… por favor… me transforme!! – Dimitry deu um passo a frente. Agatha ficou tensa, como se lutasse contra a vontade de atacar o filho. – Eu preciso salvá-la!!

– Eu nunca faria isso, filho! – Agatha se encolheu ainda mais. – Não me peça uma coisa destas! Além disso, eu não posso. Eu não tenho esse poder… E nem forças. Estou fraca.

– Então, beba de mim! – Dimitry ergueu a blusa e exigiu o braço pálido. – Recupere suas forças e me ajude.

– NÃO SE MEXAM!!

Deedra e Dimitry olharam para trás. O duque Faraize de Olav ameaçava eles com a besta da caçadora.

– Pai… – Dimitry se colocou em frente a Deedra, como se quisesse protegê-la. – O que você está fazendo…

– Saia daqui, filho! – Faraize disse. –  Saia e me espere. Eu estou farto dessas caçadoras! Eu nunca deveria ter chamado essas mulheres aqui… Por sorte, parece que uma já morreu, não?

Deedra rosnou para Faraize e segurou o machado, mas o duque ameaçou atirar. Dimitry deu mais um passo para o lado da caçadora.

– Eu não ia deixar aquele monstro levar a Agatha de mim! – Faraize disse. – Eu não ia voltar para a miséria. Casar-me com ela foi a melhor coisa que me aconteceu. Virar um Duque foi a melhor coisa que me aconteceu.

“Deixar que ela se fosse com um vagabundo decrépito acabaria com a minha reputação. Da mesma forma que ter um monstro em minhas terras o faria. Eu já tinha me livrado daquele lixo uma vez… Graças ao livro do Senhor Stocker. Por anos estivemos livres dele. E agora… Eu poderia ter feito outra vez, mas preferi não sujar as mãos. Ledo engano.”

– Já ouviu aquela “se quer algo bem-feito, faça você mesmo”? – Deedra falou. Ela deu um passo para o lado, tentando deixar a guarda de Dimitry.

– Tem razão! – Faraize repetiu rindo. Ele percebia os movimentos dos dois jovens. Achavam que conseguiriam dar uma volta nele e fugir. Estavam redondamente enganados. – Mas, não vai se repetir. Dimitry, saia da frente.

– Pai… abaixe isso… – Dimitry tentava conversar. – O monstro no forte da Colina… Ele é real… E está infectando todo mundo da cidade…

– É claro que eu sei que ele é real! – Faraize disse. – Ele na verdade está me fazendo um favor, me livrando desse monte de plebeu fedido. Eu espero que os próximos que venham para cá tragam o status que eu mereço. Mas, para isso… – Ele mirou novamente em Deedra. – Preciso me livrar do passado. Bárbaros e selvagens… O futuro deve vir e o passado deve morrer.

– Estranho falar de passado com uma besta na mão… – Deedra tentava sair da cobertura de Dimitry. Era ela quem devia proteger ele. Mas, o rapaz era insistente. – Vamos resolver isso só nós dois… Deixe Dimitry ir.

– Mas é o que eu estou tentando fazer! – Faraize, Deedra e Dimitry já haviam dado uma volta completa no salão naquele ponto. – Ouviu ela, filho! Saia!

– Pai… Ouça o que você está dizendo! – Dimitry respondeu. – Vai matar toda a cidade por causa de status!

– E se você não sair da frente, vou matar você também! – Faraize berrou. O sol estava a pino quando ele parou em meio ao salão. – Eu vou me livrar de todos que ficarem no meu caminho. E nesse momento, é você! Tenho bastante flechas aqui. Então, o que vai ser?

– Não vou sair. – Dimitry ficou em frente a Deedra. – Se vai atirar nela, então, vai ter que atirar em mim.

Faraize encarou os olhos castanhos do rapaz. Pensou um pouco. E então ergueu a arma.

– Que seja! Adeus, filho!

A besta estalou. Um clique indicando o disparo. O som da corda solta lançando o virote pontiagudo contra Dimitry era alto como uma orquestra.

Então uma escuridão sobrenatural invadiu a sala, bloqueando a luz das tochas e do sol que iluminava a adega. Deedra puxou Dimitry para o chão com toda a sua força e o protegeu. O som dos gritos desesperados do Duque de Faraize ecoou pelas pedras da adega, deixando-o muito mais alto e desesperador. Cortes, rasgos e ossos quebrados eram altos como tambores.

Depois de alguns segundos, tudo parou.

A luz das tochas que subiam a escada era a única coisa que iluminava o lugar. A tocha que estava com Deedra também acendeu. O resto da adega estava mergulhada em uma escuridão profunda. A besta de repetição deslizou pelo chão e parou nas mãos de Dimitry.

– Deedra, por favor… – A voz de Agatha parecia um rosnado. – Pegue Dimitry e tire ele daqui. Não façam movimentos bruscos. Não respirem muito forte. Não falem… Apenas saiam… Por favor…

– Mamãe…

– DIMITRY!! – Agatha agora era um animal feroz. – Eu disse, calados! Estou usando todas as minhas forças para não matar vocês! Vão embora, não olhem para trás. Dimitry… Eu sempre vou te amar! Eu nunca me arrependi de dar a minha vida pela sua, mas não faça o que está pensando em fazer… Deedra por favor, cuide dele! Não permita. Eu te amo, Dimitry!

Deedra pegou o braço do jovem duque. Ela sentiu uma leve resistência, mas com um beliscão, conseguiu fazer o rapaz acompanhá-la. Eles subiram a escada cautelosamente, enquanto a respiração de Agatha ficava cada vez mais forte, como a de um predador que sentia a reação de suas presas. Deedra e Dimitry apressaram o passo, subindo a escadaria e fugindo daquela sensação crescente de morte que parecia cada vez mais próxima.

Quando chegaram na porta, Dimitry saiu e deixou Deedra cuidando para que Agatha não fugisse. Eles trancaram a pesada porta de madeira e tiveram certeza de que ninguém passaria por ali. Então, eles ouviram o grito desesperado de Agatha e viram que a Adega inferior se iluminou com a luz do sol.

Agatha de Olav, e seu marido, o duque Faraize de Olav estavam mortos.

Dimitry encostou a cabeça na porta e fez uma rápida prece para os pais. Mas, ele não tinha tempo. Se virou e foi em direção a porta arrombada da adega superior. Mas, a mão de Deedra o segurou.

– Aonde você vai?

– Para o forte da Colina! – Dimitry puxou o braço. – É o único jeito de salvar Mary! Eu sobrevivi! Então ela pode se salvar também!

– Se você fizer isso, eu vou matar você! – Deedra respondeu. – E se você transformar ela naquela coisa que estava lá embaixo, eu vou matar ela também!

– Eu não me transformei. Minha mãe me salvou! – Dimitry respondeu áspero. – E depois que ela se salvar, eu ficarei feliz em deixar você encravar uma estaca no meu coração.

– O que você acha que vai encontrar lá naquele forte? – Deedra pegou o rapaz pelos ombros. – O Papai Noel? Aquela criatura vai te matar antes mesmo de você chegar na porta!

– Eu preciso tentar! – Dimitry gritou. – Não vou deixar ela morrer!

– E eu não vou deixar você se matar!!

Dimitry encarou Deedra.

– Eu sei que não vai.

TCHÚ

- AAAAHHHHHHH….. DESGRAÇADOOOO!! – Deedra caiu no chão e rolou de dor ao sentir o virote atravessando seu pé. – AAAAHHHHH…. FILHO DA… – Ela gritou todos os palavrões que conhecia em todas as línguas que falava enquanto rolava de dor no chão.

– Eu sinto muito… – Dimitry correu para fora da Adega. – …prometo que mandarei alguém vir te ajudar. Me perdoe! Me perdoe… Me perdoe, por favor…

– EU VOU TE MATAR!! – Deedra rolava e chorava. – EU VOU ENFIAR ESSE VIROTE NA SUA… AAAAAHHHHHH…. EU VOU TE MATARR!!!

Dimitry correu para os estábulos. Pegou o cavalo mais veloz que tinha disponível e cavalgou para fora do Castelo.

Da janela do quarto dele, a senhora Shermansky observava o rapaz em disparada. Ela sabia para onde ele ia e o que faria. Estava tudo nas mãos de Deus agora. Ela fez uma pequena prece para o rapaz, pedindo proteção e bençãos. Para ele e para Mary.

– Aguente mais um pouco, minha querida… – Shermansky olhou para Mary. – …por favor, aguente só mais um pouco.

Continua…



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