Depois de Adora
ou
O after no shopping
O after depois de Adora
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Na quinta Catra acordou normalmente. Tomou seu banho. Viu sua mãe terminar de fazer o café. Normal. Conferiu sua mochila, checou a bateria do celular. Sua bicicleta precisava ser lavada. Normal. Se despediu e zarpou para Bright Moon. Não divagou durante o caminho. Normal.
Nada havia acontecido no dia anterior. Adora tinha ido a sua casa, a garota fez a apresentação e separou as falas, enquanto Catra estudou. Mais nada. Elas lancharam e tiveram um belíssimo papo sobre o significados das cores. Ou qualquer papo viajado nesse sentido. Adora foi embora. Só isso. Nada de estranho ocorreu.
Nada que fizesse Catra acordar de um sonho tão… intenso, se permite a palavra. Tipo, a Adora estava entre as suas-
Nada de errado aconteceu ontem. Nem nunca. O mundo era perfeito.
A primeira etapa era a negação.
Antes da aula continuou conversando mundanidades com Scorpia e Entrapta. Esse era o mundo dela, na fileira mais próxima da parede. O mundo de Adora era na frente, no centro. Mas quando o grupo de melhores amigos entrou na sala, ela não estava lá. Apareceu depois. E Adora parecia carregar o mesmo pensamento de Catra. De que tudo estava normal.
Só que não.
Adora caminhou em direção à Catra. Se intrometeu na conversa. Invadiu o mundo de Catra. E disse no seu ouvido, baixinho.
- Eu quero falar com você. No intervalo. Mesmo lugar.
Tudo normal. Sem um dose de esquisitice. A expressão de Scorpia era a mesma dos outros alunos. Menos dos amigos de Adora, que pareciam estar até gostando da situação. Felizmente, o professor Lance apareceu para começar a aula. Era dia de entrega de provas, e todos estavam ansiosos. Menos Catra. Catra ainda teria sua dose de ansiedade.
Entrapta mais uma vez havia gabaritado. Adora esbanjava o nove com orgulho. Scorpia se contentava com um sete e meio. Catra tinha as mãos vazias, por enquanto.
No intervalo, tratou de se despistar das amigas e de outros estudantes. A rotina tinha retornado, os alunos estavam esquecendo dos acontecimentos de algumas semanas atrás. Catra fez de tudo para ser uma anônima, apenas mais uma em Bright Moon.
Na cobertura do quinto andar, não demorou muito para que Adora chegasse. Já estava na segunda etapa, a raiva, porque infernos o dia de ontem ocorreu. Adora andava com passos firmes. Expressão sisuda.
- Você vai ao baile. Comigo. Ponto final. - A loira teve a audácia de falar isso.
Adora só podia ter batido a cabeça ao acordar. A garota não estava bem. Não era a Adora.
- O que deu em você? - Catra perguntou.
- Ou você faz isso ou… - Finalmente algo havia se quebrado naquela expressão quase militar. Havia dúvidas em sua voz. - Ou eu vou me jogar daqui. Agora.
Isso fez Catra arregalar os olhos e se colocar na frente de Adora, abrindo os braços.
- Sério, o que deu em você? Você tá falando bobagem. Enlouqueceu?
Isso fez com que Adora se sentasse e colocasse as mãos na cabeça, num sinal de desespero. Mas não ouviu barulhos de choro. Catra se aproximou aos poucos, se abaixando, e sentando-se em frente a Adora. Devagar, retirou as mãos do rosto da garota, para conseguir enxergar.
Naquele momento Catra entendeu. Adora saiu da negação direto para a depressão. Uma depressão estranha, mas ainda assim uma depressão. Adora era tão fora do comum que sua depressão lhe dava um boost de confiança. Quando percebeu que a garota estava mais calma, Catra resolveu falar.
- Está tudo bem. Agora… porque você quer tanto eu vá com você ao baile? Quem lhe pediu isso? Não é algo que você pediria.
Catra havia enferrujado em compreender as expressões de Adora, mas ainda havia algumas que não tinham mudado. Como a de quando a garota estava encrencada.
- Double Trouble. Eu fiz um acordo com ela.
Catra já devia esperar uma resposta do tipo. Mas Adora fazendo acordos com DT? Era algo que Catra não conseguia imaginar.
- O que… te levou a fazer isso? Como era esse acordo?
- Ele… ele pediu pra eu te levar pro baile. Em troca, ele iria encontrar a pessoa que me enviou o print. Da curtida. Mas não me peça para explicar o porque que ele quer nós duas no baile.
OK, agora Catra estava interessada. Então a pessoa que a expôs não havia sido Mermista, muito menos DT, seu principal suspeito. Catra acreditava que DT não iria mentir, não por ser a Adora, mas porque dentro das negociações, DT era bastante honesto. E se tinha alguém que poderia descobrir algo era ela.
- Certo. - Catra colocou as duas mãos nos joelhos e usou para se erguer. Em pé, esticou seu braço em direção de Adora, num sinal para que a garota o usasse como apoio para se levantar. - Anda, levanta.
Adora assim o fez. Quando tentou de desgarrar da mão de Catra, a morena colocou força, impedindo.
- Eu vou para o baile com você. É próximo sábado, não é? Eu acho que isso… - Catra levantou sua mãe que estava junta com a de Adora. - ...É um gesto para negócio fechado. Não tente me explicar os porquês de DT, pois provavelmente deve ser algo mirabolante. - Só então Catra se desvencilhou.
Adora sorriu. Mais uma vez Catra havia feito ela sorrir. Catra não entendia bem o que estava se passando na cabeça dela, mas agora ela não queria se desgastar com isso. Era fácil se render a Adora. Principalmente agora, em que as duas não verbalmente criaram um pacto de não agressão. E Adora estava cheia de atitudes. Chegava a ser rídiculo como Catra conseguia se entregar a essa nova dinâmica. Como se todos os sentimentos ruins dela fossem jogados no lixão.
- Adora… eu- - O sinal indicando o fim do intervalo soou. E Adora tratou de zarpar dali o mais rápido possível.
Salva pelo gongo. Catra também havia pulado etapas. Da raiva foi direto a aceitação.
Aceitava essa nova dinâmica, aceitava a ida ao baile. Aceitava Adora de volta, a uma distância segura e tomando todas as medidas de segurança, em sua vida.
Ela só não conseguia aceitar essa sensação esguia no peito, de que mais uma vez poderia estar sendo feito de tola.
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Uma semana se passou. E Catra percebeu que não havia aceitado a nova dinâmica. Porque agora não havia nenhuma? Durante toda essa semana, Catra se sentiu num jogo de gato e rato. Adora fugia dela, tratava de se apressar, buscava caminhos alternativos e conversas com outros alunos. Tudo para não falar com Catra. Catra não chegava a deliberadamente caçar Adora pelos corredores, mas quando encontrava a garota - e não foram poucas vezes - Adora desviava o olhar e inventava alguma desculpa para não conversar. Na apresentação do trabalho, na segunda, pareceu algo extremamente profissional e formal. Parecia que toda aquela atitude confiante, de agir sem pensar, havia voltados umas dez casas. Adora não estava fugindo de Catra por raiva, ou por medo. Adora fugia por vergonha. Aparentemente, a garota começava a sentir o peso das atitudes e palavras que ela mesmo disse nos últimos dias.
- Algo aconteceu entre vocês duas? É estranho ver ela assim toda evasiva. - Entrapta perguntou, sentada no corredor.
Algo aconteceu. Algo muito bom aconteceu, Catra custou a aceitar. E algo muito ruim também, para seus sentimentos. Que estavam a dias em um julgamento, debatendo quem deveria guiar Catra nesse novo capítulo com Adora. Mas Catra não tinha contado nada para as duas. Não tinha arranjado coragem. Catra respondeu que nada tinha ocorrido de diferente.
- Talvez ela esteja, sei lá, só te evitando. Pra evitar mais confusão. - Scorpia disse, ao lado de Catra.
Sim, Adora estava a evitando. Mas era porque ela não queria lidar com o que Catra tinha a dizer ou fazer com relação a suas atitudes.
- Catra. - Professor Lance interrompeu a conversa, ao abrir a porta da sala. Fez um gesto pedindo para que a garota entrasse.
Catra acabara de fazer a prova. Ela havia sido a única que tinha ido a recuperação no meio do semestre nessa disciplina. Professor Lance então pediu para que a morena esperasse, que ele lhe daria o resultado naquele momento. Catra precisava de um seis. Queria um oito.
Ao sair da sala viu os olhares ansiosos de suas duas amigas. Scorpia estava de dedos cruzados. Até porque, aquela prova valia a permanência dela em Bright Moon. Era o único argumento que faltava ser rebatido, para que Angella conseguisse sossegar os pais e estudantes. Catra fez uma pausa dramática, encarando a prova em suas mãos.
- Vai ser um prazer estar em Bright Moon por mais um semestre. - Disse, mostrando a prova para as amigas.
Catra precisava de um seis. Queria um oito. Recebeu um nove.
Ela tinha estudado bastante para essa prova, era sua vida ali em jogo. Scorpia e Entrapta trataram de comemorar e abraçaram Catra, meio desajeitadas.
- Isso merece uma comemoração apropriada. Vamos, você disse que sua mãe estava afrouxando as regras. - Scorpia falava vendo a prova, enquanto Entrapta concordava.
- Eu estou feliz e eu estou caridosa. Então eu vou realizar o sonho de vocês. Eu vou ao baile no sábado e eu acho que não tenho roupa pra esse evento. Vamos ao shopping. Me deem um banho de lojas. - Disse tomando a prova e guardando em sua mochila.
Aquela informação do baile era novidade para as duas, mas logo foi aceita ao saberem que finalmente Catra estava disposta a sair para comprar roupas. Scorpia acreditava que Catra não tinha muito haver com bailinhos de escola, motivo pelo qual nem ousou em perguntar se a garota queria ir.
- OK, isso é um evento raro. No nível de um pokémon lendário. Você vai ao baile com a gente? - Entrapta falou apanhando sua bolsa que estava no chão. Professor Lance havia acabado de sair, se despedindo das garotas.
- Então… - Catra começou. E Entrapta sabia que depois desse então costumava vim alguma revelação bombástica. - Eu tenho um par. Para o baile. Por isso que eu quero estar bem apresentada.
Aquela informação não era novidade, era uma notícia suficiente para ter um plantão nos jornais e na TV. Urgente. Catra vai ao baile com garota misteriosa.
- Espera, você vai com alguém? Quem? Quem é a sortuda? - Scorpia não parecia processar totalmente aquela notícia.
- Ou a louca… - Entrapta completou.
Catra deu um olhar para Entrapta que poderia assassinar alguém.
- Isso é surpresa. Só no dia. Anda, vocês vão me levar ao shopping ou não? E nada de loja cara, eu não tenho o absurdo de dinheiro de vocês duas. Ou vocês vão praticar o socialismo? - Catra falava lembrando de um dos assuntos da prova.
- Preocupa não, a Entrapta paga. Você não vê que ela tá com a mesma cara quando compra aqueles bonequinhos por uma ruma de dinheiro?
Entrapta queria argumentar que eram action figures, e não meros bonequinhos, mas desistiu pelo caminho. As duas carregaram Catra, cada uma segurando um braço, e com um sorriso no rosto, a levando para o shopping mais perto.
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Catra começava a se arrepender daquilo. Ela já estava na quinta loja, seus pés doíam e ela nem tinha parado pra tomar um sorvete. Porém, a busca pela roupa perfeita não havia acabado, enquanto Entrapta vasculhava pelas prateleiras.
- Eu pensei que a gente entraria na primeira loja, pegaria a primeira roupa que gostasse e iria para o caixa. Mas estamos na quinta, e essa primeira roupa ainda não apareceu. - Catra estava de braços cruzados enquanto Entrapta olhava um vestido.
- Mas tem que ser perfeito. Não é todo dia que acontecem bailes de escola. E que você está disposta a adicionar algo em seu guarda roupa. - Havia se interessado por um item no fim do corredor.
Catra a acompanhou. Chega. Ela iria descansar suas pernas. E iria em uma loja mais acessível, porque os preços dessa não estavam cabendo nem um pouco no seu bolso.
- Ótimo. A gente vai parar de bater perna por um instante, vai entrar na última loja, eu vou escolher algo pra mim, e a gente vai embora. - Catra parou um momento para escanear a loja e percebeu algo. E também notou o item que Entrapta carregava em suas mãos, como uma mina de ouro. - Isso é uma loja de cosplays! E eu não vou vestir isso nem nos seus sonhos!
- Mas… - Entrapta estava abraçada a roupa de empregada, que tinha até orelhinhas de gato.
- Coloque isso de volta ou eu não compro mais nada. E nem sonhe com isso.
- Você não pode controlar meus sonhos. A Catra dos meus sonhos não é tão chata. - Entrapta disse colocando o cosplay de volta e saindo da loja.
Se sentaram em um dos bancos perto da loja enquanto esperavam Scorpia, que também estava comprando algo para o sábado. Não demorou muito tempo até a garota mais alta voltar com uma sacola.
- A próxima loja é a última. - Catra disse indo em direção a entrada do shopping.
Lá havia uma loja bem mais acessível com relação a preços. E bem mais próximo dos gostos de Catra. Ouviu alguns resmungos de Entrapta.
- Se a gente soubesse quem é o seu par seria mais fácil. Pois aí poderíamos saber quais os gostos dessa menina.
- Eu não vou contar a vocês. Vão por ali que eu vou por aqui. - Catra falou indo para um lado e esperando que suas amigas fossem para o outro.
Catra também não fazia ideia dos gostos de Adora. Não havia nada que tivesse lhe agradado, no lado em que ela foi. Começou a ir para uma sessão mais unissex tentando encontrar alguma coisa que chamasse sua atenção.
E encontrou. Mas não foi uma roupa.
- Double Trouble.
- Olá Catra. - DT desviou sua atenção para a garota para retornar ao terno que estava observando. - Que incomum te ver numa loja de roupas. O que te fez parar aqui?
- Você vai ao baile amanhã? - Catra decidiu ignorar a pergunta.
- Sim, é por isso que estou aqui. É uma das poucas lojas acessíveis para não binários, mas eu acho que vou ficar com o clássico. Terno, gravata borboleta e calça social. Que nem os rapazes se vestiam antigamente para eventos como esses. - E você? Não respondeu a minha pergunta.
- Eu soube do seu acordo com Adora. Porque você quer tanto que vá ao baile com ela?
DT finalmente deixou de focar no terno e se virou na direção de Catra.
- Então Adora lhe contou. Não estou surpresa. Até esperava que ela faria isso. E pelo visto eu acho que ela cumpriu sua parte. - DT desviou novamente a atenção, olhando para um conjunto que estava exposto em um manequim.
- Você teve sucesso em descobrir de quem era o número?
DT andou até o manequim, avaliando o look. Fez algumas caras e bocas, até ver o olhar impaciente de Catra.
- O acordo concerne a Adora e eu. Se ela resolver falar pra você depois aí é por conta dela. Mas não me peça informações. Você sabe que não é assim que funciona. - Começou a retirar o look do manequim, colocando cuidadosamente em seus braços. - Toma. Isso aqui vai ficar perfeito. Combina com o que a Adora vai usar. E ainda tá em promoção.
DT entregou as roupas nas mãos de Catra, que também decidiu avaliar. Ela não tinha nenhum problema em usar aquilo, apesar de achar a cor um pouco fora do comum, mas estava mais intrigado com o que DT havia dito por último.
- Como você sabe o que a Adora vai vestir?
- Vamos dizer que Mermista e eu temos um acordo. Ela que vai escolher o que a Adora vai usar. E… talvez eu saber essa informação seja algo muito pequeno, diante do que ela me pediu em troca. Pois eu não faço ideia de como vou cumprir. Mas...qualquer coisa relacionado a vocês duas tem que estar perfeito amanhã.
DT tomou para si o terno que estava vendo anteriormente antes de se despedir de Catra.
- Não faça essa cara. Eu já te decepcionei alguma vez, gatinha? Peça para sua amiga roxinha comprar. Elas vão adorar. - Disse se despedindo e desaparecendo para o caixa.
Catra olhou novamente para o outfit que DT havia escolhido, antes de retornar para Scorpia e Entrapta, que estavam de mãos vazias. Só amanhã saberia a pessoa por trás do número, provavelmente. Se Adora quisesse lhe contar.
- Eu encontrei algo. Mas alguém vai ter que pagar. No meu orçamento só cabe a calça e mal ainda. - Catra disse mostrando as peças para as duas.
Corta para sexta a noite. Adora estava hiperventilando. Ela havia se esquivado de Catra a semana inteira e agora precisava confirmar com a morena se ela iria mesmo ao baile com ela amanhã. Elas não discutiram nada sobre isso desde quinta passada. Ela recebia apoio de Perfuma e Mermista que estavam em seu quarto. Bow e Glimmer tinham ido comprar qualquer coisa para eles comerem e beber.
- Uma ligação não vai fazer mal. Você disse que a mãe dela é meio assustadora, mas são ossos do ofício. - Mermista começou.
- E além do mais vocês precisam se acertar. Sobre o que aconteceu na quarta. Não pode fugir dela para sempre Adora, não agora que você deu o primeiro passo. E o segundo. - Perfuma completou.
Adora havia contado para Perfuma, talvez a pior pessoa para se contar algo, pois a garota costumava deixar escapar tudo que sabia em um comentário ou outro. E Perfuma deixou escapar para Mermista. Pelo menos foi para Mermista, pensou Adora. Pois Mermista era a única que conseguia controlar Perfuma. E as duas agora eram as suas confidentes. Sobre os acontecimentos de quarta. Do qual Adora agora mergulhava em vergonha.
- Você realmente não deve ficar envergonhada com isso. Você gosta… você ainda gosta dela? - Mermista perguntou.
Adora não sabia responder. Adora não sabia mais de nada. Ela estava tão confiante e cheia de si no momento que beijou Catra. Agora estava criando dúvidas. Se Adora gostava de Catra? Sim. Do jeito que Mermista estava implicando? Não sabia. Mas um beijo daqueles não deveria dar espaço para dúvidas. Ela mesmo havia dito isso. Que inferno, Adora, se decida logo.
Perfuma buscou acalentá-la. Adora estava sofrendo da síndrome do gay panic. Com ela mesma. E com Catra. Com toda a situação que ela havia criado, que era demais para os neurônios acostumados em memorizar fórmulas, escrever respostas e interpretar textos. Usar todo o cérebro pra isso deixou a cabecinha de Adora completamente incapaz de compreender e escutar as razões do seu coração. Perfuma não entendia bem o passado entre Adora e Catra, mas Adora ainda nutria sentimentos pela garota.
- Vamos, ligue pra ela. Não vai ser ruim, nós estamos aqui.
Adora parecia escutar aquelas palavras de incentivo e decidiu ligar. Para o telefone fixo de Catra. O único número que ela tinha relacionado a garota. Sua mãe novamente a atendeu. Adora tinha esquecido um pouco da primeira impressão que teve de Catrina, mas agora, sofrendo um gay panic, ela não podia deixar de estar assustada. Logo, Catra estava na linha.
- Minha mãe está esperando uma ligação da minha vó, então você tem que ser rápida. E… hey Adora, que surpresa você me ligar. - Catra queria adicionar um depois de fugir a semana inteira.
Não. A questão do tempo de novo não. Adora já tinha sofrido da última vez que esteve com Catra ao telefone, por causa da questão do tempo. Calma. Sem desespero. Ela está te escutando.
- Eu queria saber… se você realmente vai ao baile? Desculpe eu-
- Que baile? - Adora conseguia ver o sorriso sarcástico no rosto de Catra, mesmo sem estar presente. Percebendo que a loira devia estar tendo uma crise interna, Catra tratou de completar. - É claro que eu vou ao baile. Eu não me esqueci.
- Então… eu queria saber… se você vem aqui ou… - Adora estava se sentindo uma completa inútil, a sua cabeça estava uma total bagunça, as células estavam pedindo socorro decretando calamidade.
- Me busque. É pra começar às sete, não é? Me busque às sete e meia. E de carro. Você deve ter carteira. E… a gente vai participar do tal casal da noite. Alguma pergunta?
Adora ainda se encontrava presa em sua imaginação, no cenário extremamente clichê de buscar a garota de carro para o bailinho. E não era qualquer garota, era a Catra.
Espera, ela lhe fez uma pergunta, você tem uma pergunta!
- Eu tenho! Eu poderia ter seu número? De telefone? Eu não quero ter que ligar pro fixo. Se eu precisar falar com você.
A linha ficou alguns segundos em silêncio, como se Catra ponderasse o pedido de Adora.
- Eu vou pensar no seu caso. Oh, vejam as horas. Já vai dá sete. Hora que a abuela liga. E ela sempre é bastante pontual. Até mais, Adora. Não se atrase.
Catra desligou antes que pudesse ouvir uma resposta. Adora voltou-se para suas confidentes, quietas durante toda a conversa.
- Então… não foi tão ruim, não é? - Perfuma disse com uma voz doce.
Não foi ruim. Foi horrível.
Do jeito que Adora esperava.
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