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História 1968 - Cilada


Escrita por: 0Pantsu0

Capítulo 1 - Cilada


 

Cilada

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O sonho

 

A primeira vez que Bonnibel sonhou com ela, foi mais um pesadelo do que um sonho. Estava em uma floresta, numa noite chuvosa, não sabendo se tinha medo dos relâmpagos ou se torcia para eles acontecerem, para ter uma maior claridade. E Bonnibel fugia, fugia como podia, para onde, ela não sabia, só continuava correndo, enquanto uma figura corria atrás dela. E esse pesadelo ficou cada vez mais recorrente, e ele não era aleatório, parecia que cada vez que acontecia a história avançava. Aquela figura ficava mais próxima dela. E ela ficava cada vez mais cansada. Não só durante o sonho, mas fisicamente, ao acordar. E era estranho, pois quando tinha esses pesadelos, sempre acordava cinco minutos para seis da manhã. Pontualmente.

 

Bonnibel

 

Mas Bonnibel não tinha tempo para pensar nesses pesadelos. Quer dizer, ela queria investigar, todo o seu lado científico querendo encontrar métodos para compreender aquilo. Porém, as seis horas, o despertador tocava e ela tinha um banho e um café para tomar, e uma escola para ir. Estudar em um colégio interno tinha suas peculiaridades.

A garota decidiu por conta própria fazer isso. Afastar-se dos seus pais, entrar numa escola privada, de reconhecimento internacional. Ela sempre teve um lado muito racional de pensar. Quanto mais cedo perdesse o contato com os pais, menos sofrido seria no futuro, na vida adulta, quando ela teria que encarar tudo sozinha. Como sua família tinha dinheiro, era melhor fazer bom uso dele e dos seus privilégios, e então se esforçou para entrar na Theta Academy, um dos colégios preparatórios de elite. E escolheu esse, em específico, não por causa dos uniformes, da mensalidade caríssima, nem mesmo pelo networking que outros alunos de famílias igualmente endinheiradas e poderosas teriam. Escolheu esse devido a um de seus programas, voltado para cunho científico. Semestralmente, professores de renomadas universidades iam visitar a academia, não só para palestras e apresentações, mas também para caçar talentos. Uma carta de recomendação de qualquer um desses professores e o diploma da Theta eram caminho garantido para a aprovação em qualquer instituição. E um currículo de peso.

Por esse motivo que Bonnibel nunca se importou em fazer amigos ou socializar. Ela tentou, melhor, ela tenta. Os alunos pareciam interessados demais em agradá-la, em levá-la às sociais, como diziam. A garota sabia que aquilo não passava de um jogo, muitos dos estudantes tratavam a academia mais como uma porta para futuros negócios e casamentos. Talvez não todos, e talvez nem todos tinham essas intenções, mas a atmosfera do colégio ajudava a permear isso. Tipo, no primeiro dia eles tiveram uma palestra de quantos casais, de quantas famílias se uniram entre aquelas paredes. E do quão bem foram sucedidos.

O sobrenome de Bonnibel tinha status. Mais do que qualquer outro ali. Então se aproximar da garota se tornou um jogo, praticado por alunos e alunas. Apenas para conseguirem ter para si um pouco desse status.

As tentativas de socialização não funcionaram, pois, a garota queria que não funcionassem. Mas era impossível afastar os estudantes, então ela entrou num nível de amizade com alguns deles. Criou um grupinho, privilegiado, com quem se atreveria a conversar. Isso não significava que uma disputa para sentar em sua mesa na hora do almoço não aconteceria. Bonnibel só queria encontrar uma forma de acalmar aquilo, de ter uma rotina com certa quantidade de pessoas.

Antes do segundo ano começar, Bonnibel decidiu fazer uma mudança radical e pintou seu cabelo. Sozinha. Rosa. Pensou que mudando sua aparência, deixando ir embora o castanho dos seus cabelos, ela conseguiria espantar os novatos e os veteranos. Quis passar um recado. Que foi entendido errado? Bonnibel nunca foi a melhor na área de humanas. E aquela mudança só fez atiçar ainda mais os alunos. Olha a garota certinha agora, cheia de atitude.

Mas essa história não é sobre Bonnibel e os estudantes da Theta Academy. É sobre Bonnibel e seu sonho, aka, pesadelo.

 

A história continua

 

Seus pesadelos continuaram, e tinha um padrão ainda não identificado. Bonnibel começou a registrá-los. Eram esporádicos, demoravam dois, três, cinco, sete dias para ocorrerem. Bonnibel não estava mais amedrontada por eles, já que nada demais acontecia. Até que um dia aconteceu.

A história prosseguiu. Aleatoriamente, da mesma forma que começou. E a história era tal malfeita que tinha um pulo. Do nada, Bonnibel não estava mais correndo, e sim estava presa. Sendo agarrada por alguém. A figura que a perseguia, só podia ser. Hora de saber quem é o grande bicho-papão.

Um vampiro. Ou melhor, uma vampira. Sedenta por seu sangue. E cada novo pesadelo ela se aproximava ainda mais de seu pescoço, ao ponto de chegar a sentir as presas dela.

A vampira era, vamos dizer assim, exótica. Bonnibel tinha dificuldades de expressar alguns pensamentos, principalmente tratando de sentimentos com pessoas estranhas. E que queriam lhe matar em um pesadelo. Achar atraente os longos cabelos negros e a pele pálida de sua agressora não seriam uma síndrome de Estocolmo? Ela estava prestes a ser mordida ali.

Até que, no momento em que aquele pesadelo chegaria em seu clímax, no momento em que os cabelos em sua nuca se arrepiaram, esperando o contato daquelas presas ali próximo… ela simplesmente não sonhou mais.

 

"Que infernos!"

 

Aquele pesadelo vinha sendo sua distração e adquirido certo destaque na sua rotina monótona e sem muitas aventuras. Quando esse pesadelo não tornou a aparecer era como se tivesse perdido uma alegria, um experimento não houvesse funcionado. E mesmo após diversas tentativas de sonhar com aquela vampira, que tinha um perfume levemente amadeirado, prestes a lhe atacar novamente, ela não conseguiu. Engoliu livros e filmes de terror, a grande maioria de vampiros. Mas nada. Só conseguiu sonhar com ela entrevistando um Paul Newman vampiresco

 

Um quarto simples de descrever, uma história nem tão simples de narrar

 

Após duas semanas sem conseguir retornar aquele sonho, Bonnibel desistiu. Foi focar em algo, partiu pra outra. Não iria mais a desgastar com aquilo.

E como alguém que só dá valor quando perde, ela voltou a ter um novo sonho estranho. Mais um pra coleção.

E nesse estranho sonho ela se encontrava em seu quarto. Seu quarto em casa, não da academia. Suas prateleiras, recheadas de livros de ciência lhe traziam boas lembranças. Os papéis espalhados pela escrivaninha, cheio de fórmulas e anotações bagunçadas também.

Bonnibel, entretanto, viu que aquilo não era totalmente seu quarto. Apenas metade daquele recinto era. A outra metade era um lugar desconhecido. Um quarto também. Tinha uma cama. Tinha um caixão. Era escuro, a exceção de velas. E alguns morcegos a observavam.

Aquilo não lhe cheirava bem.

 

"Olá princesa."

 

A garota se assustou, chegou até a pular. Olhou para os lados, buscando saber de onde vinha aquela voz.

 

"Aqui em cima."

 

Olhou para o teto, e do lado estranho do quarto, lá no alto, estava uma figura.

A mesma vampira do seu pesadelo. Deitada de lado. Flutuando. Olhando para ela.

Bonnibel arregalou seus olhos e deu alguns passos para trás, batendo seu quadril na escrivaninha.

 

"O que você tá fazendo aqui?! O que tá acontecendo, e você tá me escutando?"

 

"Não sei, não sei, e sim, estou te escutando. Eu já ia lhe perguntar isso."

 

A vampira tinha sua cabeça apoiada em sua mão, o cotovelo apoiado… no ar. E carregava um sorriso cínico.

Já a mente de Bonnibel estava indo a mil e um lugares, tentando achar referências em mil e um livros, ou documentários, ou filmes. Qualquer coisa que lhe desse uma vaga ideia do que estava acontecendo ali.

 

"Isso… é um sonho?". A rosa perguntou.

 

"Touché. Eu acho."

 

"Você… também tá sonhando? Tipo, isso não é um sonho só meu. Você também tá consciente? Estamos… estamos compartilhando o mesmo sonho?"

 

A vampira acenou positivamente.

 

"Como?"

 

A garota de cabelos negros sentou-se no ar e deu de ombros.

 

"Eu sou uma vampira, se eu existo, eu acredito em qualquer coisa. Magia, talvez."

 

"Magia é coisa de livros de fantasia, não da vida real."

 

A vampira não respondeu. Continuou observando aquela humana, um pouco mais entediada, mas ainda curiosa. Porque eu só me interesso pelas mais difíceis? foi o que passou por sua cabeça.

O silêncio perdurou. Até a vampira achar aquilo chato.

 

"Ficar presa em um sonho com uma garota bonita não é lá uma má ideia."

 

"Eu não quero ouvir o que um monstro estúpido e imaginário tem a dizer."

 

"Eu não sou imaginária. Eu existo, sabia. E isso tá uma chatice. Não é como se eu pudesse sair desse meu lado. Tem, tipo, uma parede invisível." Bonnibel não deu ouvidos a vampira. "Eu não estou brincando, é sério, pode ver." Buscou se aproximar da rosa, mas suas mãos pareciam tatear o ar, como se realmente houvesse um obstáculo ali.

 

"E você acha que eu vou cair nessa? Eu não sou burra. Eu não vou me aproximar de você pra ter uma chance de me atacar." Sentou-se na cadeira e começou a remexer nos seus papéis.

 

"Você é deveras difícil. Eu não vou atacar."

 

"Não era isso que aquele pesadelo mostrava."

 

A vampira riu. "Mas eu não ia te morder ali. Eu ia te beijar. Até simplesmente aquele sonho acabar." Disse de uma forma bem direta.

 

Mesmo de costas podia sentir que a garota estava vermelha. Era complicado resistir a seus charmes.

 

"Você só ta falando isso pra… pra… pra me seduzir! Eu já vi inúmeras histórias de vampiros, eu sei como vocês agem. Vocês só querem sangue."

 

"Sim, eu estou tentando te seduzir e não, eu não quero seu sangue. Eu não preciso de sangue pra sobreviver, sabia? Pra mim, basta eu sugar a cor vermelha."

 

Bonnibel se virou, finalmente dando atenção aquela criatura sobrenatural. "Como é?"

 

"Sim, eu não preciso de sangue. Me dê aquele livro de capa vermelha ali." Bonnibel não fez de imediato, imaginando ser mais algum truque para que ela a aproximasse. "Vamos, não precisa entregar nas minhas mãos. Joga ele pra cá. ”

 

Bonnibel titubeou antes de jogar o livro. Afinal, era seu primeiro livro de matemática avançada. A vampira quase o deixou cair, o que causou um mini infarto na garota. Até que a viu literalmente sugar todo o vermelho da capa, deixando-a branca. A vampira jogou o livro de volta, Bonnibel também quase deixando-o cair, ainda surpresa.

 

“Viu? Os vampiros são tratados como uma aberração e eu sou tipo, a aberração da aberração. Isso me faz ser uma pessoa normal, não? “

 

“Eu ainda não confio em você, monstro. ”

 

A vampira arquejou. Ela definitivamente tinha um tipo. Garotas difíceis e irritantes. Totalmente contrárias a ela.  “Meu nome é Marceline, aliás. ”

 

Não esperava uma resposta da esquisita e adorável humana. Mas ela veio do mesmo jeito. “Bonnibel. E não fale mais comigo. ”

 

“Bonnibel…” Deixou rolar o nome da garota, se acostumando com aquele som. “Você é de que parte da Alemanha? Seu alemão é esquisito. ”

 

Bonnibel não chegou a olhar novamente para, ahem, Marceline. “Eu não sou alemã. Eu vivo nos EUA. Eu sei algo sobre a língua, mas não estou falando ela agora. ” Vasculhava na gaveta algum papel ou caderno que não tivesse rabiscado, em vão. “Porque infernos eu falaria alemão com você? ”

 

“Mas você tá falando alemão comigo. Agora. ”

 

“Não, não estou. Você tá falando inglês. ”

 

Nesse momento, um estalo veio na mente de Marceline. “Oh, isso deve ser coisa do sonho também. Eu escuto você na minha língua nativa e você me escuta na sua. Radical. ”

 

Tornou a deitar-se, flutuando, as mãos sobre a cabeça. Observou a garota por alguns instantes.

 

“Sua voz em alemão é bonita. Igual a você. ” Bonnibel não havia sido afetada por aquilo. Hora de tentar outra abordagem. “Então você é dos EUA. Todas as garotas daí são bonitas que nem você? E têm cabelo rosa? ”

 

“Argh!” Bonnibel levou as mãos para o alto e descansou-as na escrivaninha, irritada. “Nada faz sentido! ”

 

“Bom, é um sonho para começar, não é pra fazer sentido”. Marceline interviu.

 

“Esse negócio é tão mal feito! Eu tô presa em um quarto com uma vampira irritante que quer me matar. E um quarto tão preguiçoso, até convenientemente preguiçoso, seria muito fácil de descrever para um escritor ou fácil de desenhar para uma HQ. ”

 

“Hey, o que é isso de HQ? ”

 

“Essas coisas ainda não chegaram aí? Você tá se escondendo em qual lado? Oriental ou Ocidental? ”

 

Marceline não entendeu aquela pergunta e simplesmente ficou em silêncio, querendo decifrar o que a garota havia dito. A demora na resposta fez Bonnibel se virar, achando que a vampira não estava lhe escutando ou podia ter sumido.

 

“Olha, talvez esse ainda seja um tópico sensível no país de vocês, mas estamos em 1968 sabe, já fazem anos desde a guerra, a França tá em revolução agorinha mesmo, e você é teoricamente uma vampira, não devia se atrelar tanto a isso…”

 

O olhar confuso de Marceline era um sinal de que a vampira não fazia ideia do que a garota estava dizendo.

 

“Você tá tipo, presa em alguma masmorra e faz décadas que não sai pra ver o mundo? É isso? ”

 

Marceline deixou de flutuar e ficou em pé, bem na divisa entre os quartos. “Você disse o quê? 1968? ”

 

“Sim, sabe, Johnson é o presidente, França está em revolução, Kubrick acabou de lançar 2001, Alemanha está dividida, tivemos duas guerras mundiais, The Graduate perdeu o Oscar, os hippies estão por toda parte, tem um negócio chamado União Soviética que os mais velhos morrem de medo… acho bom você dá uma olhada nos jornais, seja lá quando você parou de colocar o pé pra fora. ”

 

Contemplou o que a rosinha tinha lhe dito. Não entendeu bulhufas. Depois olhou para cima, e começou a gargalhar. Aquilo assustou Bonnibel e a deixou confusa. A vampira realmente tinha expressão fofa quando ria.

 

“Eu entendi tipo, trinta por cento do que você me disse. O que raios é um Oscar afinal? E seja lá quem governa os sonhos, realmente anda louco das ideias. ”

 

“Eu acho que você pirou de vez…”

 

“Não, Bonnie. Ou você fez uma piada de mau gosto ou quem controla isso aqui fez. Droga, e olha que eu já estava pensando em como ir até os EUA pra te visitar…”

 

Bonnibel não gostou nem um pouco do tom de voz de Marceline, nem mesmo do apelido Bonnie. Quem era ela para lhe dar apelidos?

 

“Eu não entendi a piada pra você tá rindo desse jeito. E não me chame de Bonnie. Você é assim com todo mundo? ”

 

“Apenas com garotas que eu estou afim. ” Marceline viu o vermelho voltar para o rosto da garota.

 

“Eu ainda não entendi a piada. ” Cruzou os braços e virou o rosto, o vermelho custando em ficar.

 

“A grande piada do universo, em querer juntar a gente em um sonho, é que… eu vivo em 1875. Aparentemente 93 anos antes de você. ”

 

Marceline estava presente no momento em que Bonnibel começou a acreditar em magia.


Notas Finais


"não era amor era cilada cilada cilada..."

finalmente postei essa ideia. e postei algo delas duas, eu tô revendo todo o cartoon. eu tava sem noção de como escrever isso por causa que era muito doido. mas taí. deve ter uns quatro capitulos no máximo (cinco com epílogo).

e eu vou usar como titulos musicas de pagode i regret nothing, embarquei total na doidice.

curta. comente. subscreva.

~spacibo


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