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História 2 - A Casa Vermelha - Segredos


Escrita por: Samuel_Super_

Capítulo 2 - Segredos


Fanfic / Fanfiction 2 - A Casa Vermelha - Segredos

Eram 03h00 da manhã quando acordei com uma dor na coluna.

Geralmente eu tinha isso e bastava eu tomar um remédio que passava. Devido ao estresse do dia ou ao modo que durmo, algumas partes de meu corpo doe. Assim me levantei da cama e ajeitei o cabelo com a mão. Peguei as capsulas na penteadeira e as coloquei no bolso do moletom.

Abri a porta do quarto com um estremo rangido que fez doer meus ouvidos. Precisávamos trocar a porta. Fui andando pelo corredor do primeiro andar da casa com um pé direito altíssimo fazendo ruídos desagradáveis durante todo o percurso até a cozinha. Quando olhei lá para baixo pela escada, senti estranhamente um olhar sob minhas costas... Como se alguém estivesse me observando.

Olhei para trás rapidamente e não vi nada, mas definitivamente tinha alguém me vendo dentro da casa... Afastei aqueles pensamentos com um gesto de mão e continuei a descer os degraus em direção à cozinha. Entrei na sala e atravessei direto a porta da frente sem analisar a luz tênue da lua completamente cheia que entrava pela janela.

Atravessei a ilha no centro da cozinha e enchi o meu copo de água da geladeira. A luz ligada emanava uma aura de mistério, como se a fiação antiga da casa fosse tão velha que estivesse emanando energias diferentes da elétrica. Coloquei a pílula na língua e engoli a água. Fiquei parada um pouco encostando minha bunda na bancada da cozinha que dava de frente para a sala espaçosa. Nada passava lá do lado de fora: nem uma mísera ventania, até um animal.

Após me esgueirar para ver através da janela da cozinha, avistei de longe um feixe de luz perpétuo de uma casa vizinha, provavelmente a de Chad. Lavei meu copo e o coloquei nos guarda-louças ao lado da pia, assim andei em direção à escada atravessando o grande arco da cozinha.

Senti de novo a presença de alguém me observando. Virei-me lentamente na direção de que eu sentia o olhar e não avistei nada.

            - Chega Sally! – falei em voz alta para mim mesma. – A casa não tem  nada demais...

            - É aí que você se engana!

Uma voz inundou a sala e a cozinha. Era uma voz grossa, como em filmes de terror. Então as luzes começaram a piscar freneticamente pelos cômodos. Apoiei-me na mesinha de centro ao lado do sofá e quase caí em cima dela. Andei alguns passos para trás enquanto ouvia a gargalhada sinistra na casa.

            - Não queira descobrir os segredos desta casa, Sally – a voz rouca disse atrás de mim.

Soltei um grito e caí para frente. Senti uma mão me empurrando com força para o chão e depois da queda, uma pressão parecida com um corpo em cima do meu me deixou paralisada e incapacitada de sair do chão. Eu gritava e gritava.

Ouvi os passos rápidos no primeiro andar e depois as luzes acenderam normalmente, a voz desapareceu e tudo ficou tranquilo.

            - Sally, querida! O que aconteceu? – gritou minha mãe lá no alto da escada.

Meus pais desceram junto com minha irmã rapidamente. Minha cabeça doía muito. Depois de um tempo os fatos ficaram passando na minha mente sempre.

            - So...socorro! – exclamei baixo.

Minha mãe se jogou no chão e me abraçou. Levantei-me ainda sentindo o peso do corpo em cima de mim me pressionando contra o chão.

            - O que houve, Sally? Você caiu? – perguntou papai se aproximando.

Olhei perturbada para eles. Algo dentro de mim mudara depois de tudo aquilo, um sentimento estranho de... Medo?

            - Precisamos sair daqui! Urgente!

Minha irmã soltou um risinho.

            - O que aconteceu minha filha? – perguntou Lacy com um tom super desagradável de ironia.

Olhei com raiva pra ela.

            - Eu não quero ficar nessa casa!

Meus pais se olharam apreensivos.

            - Você está muito cansada, filha. – deduziu meu pai me ajudando à ir ao quarto. – Vamos dormir, amanhã conversamos sobre isso.

Não falei mais nada. Minha família me levou até a escada e me acompanhou até o segundo andar. Quando eu passei pelo corredor que dava visão à porta principal, avistei o garoto loiro: ele me olhava sério, mas depois sorriu de um modo agradável. E eu, besta, sorri de volta.

Mas ainda podia sentir a presença lá embaixo, e em cima, dentro dos cômodos... Não importava o lugar, ela estava me observando...

 

Acordei no dia seguinte ainda com muito sono. Depois de um tempo olhando pro nada e pensando nos acontecimentos da noite anterior, me levantei calmamente e espreguicei-me. Apertei o Pool, meu ursinho de pelúcia, e desejei um bom dia pro mundo todo. Eu sei. Sou ridícula.

Escovei os dentes e tomei um banho para despertar. Descias escadas e me deparei com meus pais cozinhando panquecas na cozinha. Desde quando eles cozinhavam? As coisas realmente eram muito estranhas ali. Olhei por através do vidro da janela a casa distante de Chad e pensei que, depois de eu caminhar na floresta, eu poderia escolher logo a roupa que usarei naquela noite.

            - Eai tudo melhor? – perguntou Lacy com o mínimo de interesse.

            - E isso te interessa em que? – falei com a mágoa da noite anterior pela forma desagradável que ela se referiu.

Ela riu e me olhou.

            - Em nada mesmo. Só perguntei por educação! – ela apontou a faca cheia de manteiga na ponta para mim. – É que quando eu crescer não quero ser igual à você!

Ouvi o som da pressão que papai fez para não rir.

            - Meninas, parem! – pediu minha mãe, mas não havia nenhum tom de segurança em sua voz. Juro que a vi sorri depois.

Pronto. Todo mundo achava graça pelo que ocorreu ontem. Mesmo que eu ainda sentisse alguém nos observando. Eu amava minha irmã, meu pai, minha mãe, e tudo que eu tinha. Mas desde que pisei os pés naquela casa, senti que estávamos correndo perigo.

            - Vou subir para o meu quarto enquanto vocês fazem almoço...

            - Nada disso, garota. – negou meu pai. – Todos vão arrumar a casa hoje. E você começará pelo sótão: precisamos colocar alguns móveis velhos ali.

Bati o pé, porém não adiantava me recusar a fazer alguma coisa que meus pais mandariam fazer. Sempre existiam rãs no mundo e era a coisa que eu mais morria de nojo naquele mundo todo. Fui a despenca e peguei um abanador, uma vassoura e um balde de água com várias flanelas dentro. Subi a escada como uma condenada. No fim só sei que minhas costas ficaram tão envergadas que parecia que eu tinha praticado sadomasoquismo com Christian Grey de 50 Tons de Cinza. Como eu queria...

Coloquei os materiais no piso de madeira e me estiquei para puxar a escada de mão no teto. Ela desceu furiosamente e eu tive que me afastar rapidamente para não sofrer uma lesão na cabeça. Subi aos poucos levando as coisas de limpeza pelo buraco curto que dava para o sótão.

O lugar cheirava à naftalina. Um depósito de naftalina na verdade. Tinha muitos móveis velhos cobertos por lençóis brancos e amarelos em diversos estágios de decomposição. Alguns aparelhos sem necessidade com cordas estavam jogados em um canto e vários materiais de campo e plantação. Um feixe de luz entrava por uma pequena janela na parede frontal atrás de mim.

Comecei afastando os móveis para as paredes que descascavam. Tentei colocar em visão a área do piso. Assim fui tirando os panos e limpando tudo com o espanador. Depois de um tempão, fui começando a limpar o piso velho que rangia sob meus pés.

Quando estava terminando de limpar o chão, olhei para a os lados do lugar e enxerguei várias coisas estranhas. Uma enorme guilhotina havia sido posta deitada, um padrão de cordas vermelhas presas na parede e já velhas, avistei alguns revolveres antigos em alguns caixotes. Agachei-me ao lado de um caixote velho e perguntei o motivo de muitas coisas ali. Quem guardava uma guilhotina em uma fazenda?

            - Você é muito curiosa. – exclamou uma voz atrás de mim.

Dei um pulo e andei alguns passos para trás e me esbarrei com um corpo. Dois braços amorteceram em cima.

            - Cuidado garota!

Olhei para trás e me afastei.  O garoto loiro que costumava a ver dentro de casa surgiu.

            - Quem é você? Como entra na minha casa? – perguntei me tranquilizando.

Ele sorriu.

            - Desculpa dizer, mas a casa não é sua. – ele respondeu. – Não sentimentalmente.

Engoli em seco.                                 

            - Não sei do que você quer dizer. Como você entra aqui? – voltei a perguntar.

Ele caminhou um pouco e sentou em um caixote. Depois puxou outro e fez um gesto para eu me sentar.

            - Entro pela janela dos fundos. – ele respondeu super confortável.

Acomodei-me no caixote. Senti-me estranhamente confortável falando com ele. Como se fossemos amigos à longa data.

            - Essa casa tem muitos segredos. Às vezes temos que respeitar esses segredos. – ele disse me explicando.

            - Você viu o que aconteceu ontem à noite, não foi? – perguntei trêmula.

Ele assentiu.

            - Foi como eu falei. Você deve parar de se meter nas coisas dessa casa. – ele apontou pra guilhotina e para os outros materiais de agressão que estavam presos naquele lugar. – Isso é do passado. Quando nós tentamos enxergar algo além do que podemos ver, nem sempre é bom. E você viu as consequências ontem.

Estremeci. Eu me lembrava muito bem de ontem. Seus olhos eram intensamente azuis. E eles me fitavam.

            - O que aconteceu aqui? – perguntei. – Pra ter tanto passado assim?

Ele esfregou o nariz.

            - Muitas coisas. – ele analisou toda a estrutura do sótão.

 

Winsconsin, 1656

No ano de 1656, Green Bay era, nada mais nada menos, puro matagal. A única coisa que existia era essa fazendo com alguns colonos que festejavam a travessia da colônia francesa, atual Canadá, para a colônia inglesa, atual Estados Unidos.

A casa era basicamente o que é agora, porém existiam muitos mais vidrais falando sobre a colonização europeia nas terras do chamado Novo Mundo. Porém o pequeno núcleo de colonizadores sofriam ataques constantes de nativos americanos na época. E dessa forma eles decapitavam e faziam atrocidades com as pessoas que não os obedeciam em deveres escravos.

Por um longo tempo tudo era paz. Não para os nativos, mas sim para os colonizadores. Então em 1673, quando as terras férteis desse lugar começaram a produzir frutos podres, a casa começou a ranger. Ouviam-se gritos nas florestas e outros efeitos sobrenaturais chocaram essas áreas.

No ano seguinte começou a piorar. Corpos caíam no chão e morriam sem nenhum sinal de doenças. Móveis voavam e pessoas eram empurradas por forças estranhas para lugares perigosos. Houve também alguns sequestros perigosos. Isso preocupou tanto os colonizadores que a única solução foi eles se trancarem na propriedade com recursos limitados evitando a morte.

Entretanto foi uma atitude errônea. Pessoas começaram a morrer dentro da casa de formas estranhas, como escritos de sangue em paredes, membros separados formando palavras e outros casos horrendos que levaram à todos, um por um, se suicidarem.

Souberam disso quando vieram outros colonizadores 5 anos depois. Surpreendentemente ocorreu a mesma coisa na Colônia de Roanoke na época: os corpos desapareceram sem nenhum sinal. A única coisa que foi encontrada era a palavra CROATOAN escrita aqui, nesse sótão.  

                                                                                                   

            - Como você sabe de tudo isso? – perguntei após ele terminar.

O garoto desviou os olhos. Ele às vezes tinha uma expressão antiga, como se lembrasse de coisas que deveria afastar de seus pensamentos. Eu sempre via essa expressão quando me olhava no espelho de manhã.

            - Existiam diários aqui que falavam sobre antes e depois. Eu os tinha, mas eles desapareceram. – ele explicou.

Franzi o cenho.

            - Como assim “o depois”? – perguntei.

            - Nos diários das pessoas dessa casa, elas escreviam o que acontecia e as supostas resoluções. Eles acreditavam em uma lenda que falava sobre um espírito que habitava as florestas e que era ele que fazia tudo aquilo. – ele respondeu. – Eles disseram que muitas pessoas foram atormentadas nesse local e, por cerca de 10 anos, os nativos, antes de serem mortos, ouviam sussurros de almas que ficaram pressas nessa casa.

Esse espírito se alimentava delas. E ele só iria sossegar quando não houvesse mais ninguém pra morrer. Por anos ele ficou calado, mas agora ele ressurgiu.

Estranhamente me senti culpada. Não sei o motivo disso, mas...

            - Tenho que ir...

            - Donovan.

Isso.

            - Tenho que ir, Donovan. – falei e desci as escadas do sótão com ele. Quando olhei para trás ele desapareceu.

Mas tinha alguma coisa batendo na porta do cômodo no fim do corredor. 



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