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História 2012 - Caminhos diferentes


Escrita por: Mallagueta

Capítulo 48 - Caminhos diferentes



No capítulo anterior, Magali precisou abrir mão dos seus gatos para que Licurgo os levasse embora e também sofreu a dor de perder sua tia Nena.

11 DE JULHO DE 2012

Tonico folheava o jornal olhando as notícias enquanto esperava Cotinha terminar o jantar. Na primeira página, estava estampada a notícia do terremoto que tinha matado 15 pessoas.

- Ara, pruquê tá dando essas coisa agora? - O homem perguntou para si mesmo fumando seu cigarro de palha.

De vez em quando ele sentia o chão tremer levemente e os animais sempre ficavam muito agitados. Fora isso, tudo ali parecia bem tranqüilo. Os tremores eram muito leves e não causavam grandes prejuízos.

- Tudo na cidade é mais compricado.
- Tá cismando aí, pai? – Chico perguntou entrando na varanda.
- Eu tava lendo as notícia, fio. O chão tá tremendo lá na cidade.  
- O primo Zeca falô otro dia. Tá tudo bagunçado. Inda bem qui nóis num tá cum esses pobrema.  
- É memo. I a Rosinha, como ela tá? Istudando muito?
- Um monte! Ela num larga os livro e tá inté falando inguar gente da cidade!

O homem falou com a fisionomia séria.

- Ocê divia tá fazendo a mema coisa! Num deixa pra úrtima hora qui é pió!
- Eu sei, pai. Tamém tô istudando e ela mi ajuda.
- Já iscoieu o qui qué fazê?
- Agronomia. Ansim eu vou podê trabaiá cum a terra e um dia vô virá fazendeiro qui nem o seu Genésio.
- Eita, isso vai sê bom dimais da conta! Mais ocê precisa istudá.
- É... – ele fez uma pequena careta. Estudar nunca foi o seu forte e na escola ele sempre passava de raspão. Dali para a frente, Chico sabia que teria que mudar de atitude.

Rosinha estava evoluindo bastante nos estudos, se tornando mais culta e podia chegar um dia em que ela não ia mais querer nada com um caipirão que falava errado. Esse era um dos motivos para ele ter resolvido estudar também. Assim os dois podiam avançar juntos, sem que ninguém ficasse para trás. E um dia eles iam se casar e formar uma bela família. Felizmente, ela queria viver ali na roça e não pretendia ir morar na cidade, coisa que ele também não queria. Ali no interior seus filhos seriam bem criados, vivendo em contato com os animais, com a natureza, vivendo tranquilamente sem aquele stress da cidade grande.

- Tá sonhando di novo, fio? – seu pai perguntou dando risadas. – Sua mãe já chamou pra janta! Vamos qui comida quente é muito mais mió!

Chico seguiu o pai ainda sonhando com o seu futuro com a Rosinha. Tudo estava bem encaminhado em sua vida.

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D. Cebola ia arrumando as malas, procurando colocar somente o necessário embora quisesse levar muito mais coisas.

- Como tá indo aí, mãe?
- Estou acabando. Você já arrumou suas coisas?
- Já. Vou dar uma olhada na Mariazinha.

Ele entrou no quarto da irmã, que tentava acomodar um ursinho de pelúcia em sua pequena mochila.

- Ele não entra...
- Claro que não, Maria. Você não vai poder levar todos os brinquedos. Escolha somente alguns.
- Aí eu vou ter que deixar o resto pra trás!
- Não tem jeito.
- E depois a gente vai poder voltar pra casa?
- Se der, a gente volta. Eu não sei como isso aqui vai ficar.
- Eu não quero deixar minhas bonecas sozinhas!
- Sinto muito, baixinha, mas você não poderá levar todas. Depois você poderá ter outras bonecas.
- E vocês poderão ter outra Aninha como amiga?
- ...
- Minhas bonecas são minhas amigas também...

Cebola teria ficado em uma situação muito ruim se seu pai não o tivesse chamado da sala.

- Filho, você já comprou as passagens?
- Já, só que eu não consegui no mesmo dia pra todo mundo. Parece que o povo já percebeu e tá indo pra lá também.
- O importante é nossa família ir no mesmo vôo. Não quero que a gente fique separado.
- Isso não. A família da Mônica, da Magali e do Cascão também vai com a gente.
- Que dia vai ser?

- Consegui vôos pro dia 14, 15 e 16. É que pro Mato grosso só tem vôo uma vez por dia.

– Que droga. Bom, só espero que dê tempo.

- É... tomara.  

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Ela arrumava seus pertences ainda chorando enquanto relembrava os últimos minutos que tinha passado com sua filha. Por que ela foi deixá-la ir para o shopping naquele dia? Pensando bem, por que eles não confiaram na filha e foram embora dali enquanto ainda podiam? Ela não conseguia se conformar.

- Ei... não fique assim. Vem cá, precisamos ser fortes!
- Não dá, não dá! Por que a gente não acreditou nela? Se tivéssemos acreditado, poderíamos estar longe daqui e ela estaria viva!

Ele apertou os lábios tentando não chorar. Sua esposa tinha razão. Se eles tivessem acreditado na aninha, aquela tragédia não teria acontecido. Nenhum dos dois conseguia esquecer a visão do corpo da filha debaixo dos escombros. Era algo que eles iam carregar pelo resto da vida.

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Carmen observava com o coração apertado enquanto seus pais arrumavam as malas. Era uma bagagem monumental. Sua mãe não estava levando somente suas roupas, sapatos e acessórios. Ela estava levando tudo o que tinha grande valor naquela casa.

- Tomem cuidado com esse quadro, ele custou trinta mil dólares! Por favor, esse vaso chinês é muito raro! Ai, guardem muito bem esses talheres de prata, não quero que nenhum se perca!
- Mãe, a gente não precisa levar a casa inteira!
- Carminha, você já arrumou suas roupas?
- Já sim.
- Todas elas? Saiba que custaram muito caro, são das melhores grifes e não podem ser deixadas para trás! Confira tudo para ver se não está faltando alguma coisa.
- Mas mãe...
- Vá, por favor! Eu já estou tendo uma enxaqueca!

Quando sua mãe reclamava de enxaqueca, Carmen sabia que não adiantava falar nada com ela porque tudo era ignorado. Sem outra escolha, ela voltou para seu quarto onde as malas estavam prontas. Roupas, sapatos, acessórios, jóias, maquiagens, produtos de beleza para alguns meses...

- Carminha, eu posso brincar lá fora?
- Melhor não, xodozinho. Pode ser perigoso. – com aqueles emissários da morte voando por todos os lados, Carmen não queria que seu primo andasse sozinho por aí. Ela não confiava nem um pouco neles.

O menino bateu o pé no chão, irritado por ter que ficar preso naquela casa e no meio de toda aquela bagunça.

- Quando a gente vai viajar? Papai falou que a gente vai pra casa de campo.
- Pois a gente não devia ir pra lá.
- Por quê?
- Porque... er... na Chapada dos Guimarães é mais legal.
- Ah. Então porque você não pede pro titio?
- Eu pedi, mas ele não me escuta! Ai, droga! O que eu faço?
- Ué, fala pra ele que seus amigos vão! Com a mamãe sempre funciona.

Ela teve uma idéia.

- É isso! Xodozinho, eu tive uma idéia. Vou falar com a turma! Eles podem me ajudar! Fique bem bonzinho aqui. Eu vou chamar o Lipe e a Lu.

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Os quatro estavam no quintal da casa da Mônica e Cebola distribuía as passagens de avião.

- Aqui. Confiram pra ver se tá tudo certo. Vai todo mundo no mesmo vôo, então não tem erro.
(Mônica) – Ai, que bom! E as passagens da família do Toni?

O rosto do rapaz entristeceu.

- Acontece que eles preferiram ficar com o dinheiro e não deixaram eu comprar as passagens.
- Ai, essa não! Eles não vão deixar o bairro? – Magali perguntou preocupada.
- Eles disseram que sim, mas preferiram comprar as passagens eles mesmos.
(Mônica) - Tomara que eles não façam besteira de ir pra outro lugar!

Um carro parou em frente ao portão, chamando a atenção dos quatro e dele desceram Carmen, Luisa e Felipe.

(Mônica) – Carmen? O que houve?
- São meus pais. Eles não querem ir pra Chapada dos Guimarães, acham que podem ir para a nossa casa de campo!
(Cebola) - O quê? Não, eles não podem! Vai ser pior ainda!
- Eu não consigo convencê-los, gente! Me ajuda!
(Felipe) – Nossos pais também não entendem e querem ir para a casa de campo dos pais da Carminha. A gente não sabe o que fazer!

Cebola coçou a cabeça, preocupado com a situação dos amigos. O plano era todos ficarem juntos. Quem ficasse separado, poderia correr perigo.

- Vou pedir pro meu pai pra conversar com os seus. Eles precisam entender que não podem ficar nesse estado.  
- Valeu gente...

Ela olhou para o céu mais uma vez e viu que o número de emissários tinha aumentado.

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Souza argumentou, sr. Cebola falou, ambos usaram toda a lábia, provas, evidências e argumentos possíveis. Tudo em vão. Sr. Frufru era de uma teimosia monumental e se recusava a viver numa casa onde todos ficariam amontoados como refugiados.

- Pois eu agradeço por ter ao menos isso! – Souza falou indignado com a arrogância do homem.
- Humpt! É claro que agradece, você não tem nada melhor mesmo. Mas nós temos e pretendemos ficar muito bem acomodados em nossa casa de campo.

Criados iam e vinham com grandes malas e caixas, levando as obras de arte e tudo de valor que tinha naquela casa. Eles mal podiam acreditar em tanto materialismo.

- Senhor Frufru, a situação é grave. Se o senhor se importa com a sua família...
- É claro que eu importo com a minha família! – o homem exclamou perdendo a paciência. – Por isso mesmo quero que todos fiquem bem acomodados!
- Acomodados em uma casa que fica num local perigoso?
- Bobagem! Aposto que em poucos dias isso terá passado e poderemos voltar sem nenhum problema.

Sra. Frufru também falou, olhando para os lados.

- E pensando bem, essa casa precisa mesmo de algumas reformas e uma decoração nova. Eu viajarei para a Europa e comprarei tudo novo e da melhor qualidade!

Carmen ouvia tudo sentindo-se cada vez mais apavorada.

- Tio, por favor, vá com eles e leve o Fabinho! Vocês não podem ficar aqui.
- Carminha, não precisa ter medo de nada! Nosso bambino ficará muito bem!

Os pais de Felipe e Luisa também estavam irredutíveis, deixando os jovens com muito medo.

- Agora se os senhores nos derem licença, temos que continuar os preparativos. E parem com toda essa conversa maluca que estão assustando as crianças.

Souza e Sr. Cebola saíram dali muito frustrados e morrendo de pena daqueles jovens. Cebola e Mônica esperavam do lado de fora junto com Magali e Cascão.

- E aí, conseguiram alguma coisa? – ele perguntou para o pai.
- Sinto muito, filho. Não. Aquele homem é a própria teimosia em pessoa e eles estão mais preocupados com os pertences do que em salvar as próprias vidas.
- Pobre Carmen... – Magali falou levando as mãos ao rosto. – E Felipe e Luisa também, coitados! Eles não vão ter nenhuma chance!
- Grrrrrr! Eu devia entrar lá e dar umas coelhadas na cabeça daquele riquinho esnobe!
- Não, isso não. – Souza falou tentando conter os instintos assassinos da filha. – Violência não vai fazer eles mudarem de idéia.
- Mas eles vão morar num lugar perigoso, pai!
(Sr. Cebola) – Talvez não. Eu não acredito que as ondas serão grandes o bastante para chegar até o interior e pode ser que os terremotos não sejam tão fortes assim. Eles vão ficar bem.

Embora todos estivessem desolados e tristes pelos amigos, ninguém ali podia fazer nada. Só restava torcer para que eles ficassem bem.



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