História 3 Years (Jikook, Kookmin) - Capítulo 48

Anteriormente..

Muitas vezes até o garoto que ama abraçar ganha repulsa de toques.

Agora..

Assim como dito, saí caminhando para dentro da faculdade. Não queria que meu professor, vulgo ele Jaemin, tivesse de me expulsar da sala apenas por não ter ido mais uma vez em sua aula.

Eu e Jaemin, sim, meu professor, somo bons amigos. Lá na academia — onde eu dou aula de dança —, nos conhecemos por fora da faculdade. Ele é um amor, é apenas um ano mais velho que eu e digamos que é um ótimo amigo quando preciso. Temos uma intimidade enorme, digamos-se que não é uma amizade de aluno e professor.. mas não convém.

Ele me ajuda em questão aos toques, ele anunciou para a turma que, para me ajudar, ninguém é para tocar em mim sem concedimento. E quando é em dupla ele sempre faz comigo, porque assim como já praticamos, dançamos à distância.

Eu estava andando pelo corredor quando avistei Jennie e suas amigas conversando logo a frente. Infelizmente ou sei lá o que, eu precisava subir até o segundo andar, era lá onde minhas aulas ocorriam. Lá é o lugar vazio da faculdade, porque só as aulas de dança ocorrem, afinal a sala é expandida ao extremo e contando assim, dá umas dez salas das comuns daqui da faculdade.

São vários alunos, se consta.. por isso o tamanho.

Taehyung: Jimin.. - Taehyung me acompanhou ofegante, parecia ter corrido alguns quilômetros apenas pela falta de ar presente. - Puta merda, nunca corri tão rápido. - Colocou a mão no peito, enquanto me acompanhava até as escadas.

- Calma, respira. - Falei brincalhão. - Oi..

Taehyung: Você está bem, anjo? - Soltei um risinho pela rapidez de sua fala. - Tipo.. você se machucou? Não está se sentindo mal pelo toque?

- Estou bem, Taehyung. - Sorri pequeno.

Taehyung: Me dê detalhes, garoto. O que você fez lá foi incrível. Mas.. você o tocou.. como.. - Taehyung estava confuso, tão confuso quanto eu.

- Sabe.. - Não queria me abrir, na verdade, a proximidade que teríamos antes havia se esvaído. Ao menos eu pensei isso.. - Com o toque de Soobin, eu pensei que desmaiaria, minha cabeça parecia que iria explodir tanto de pensamentos quanto por dor. Hoje o toque de Soobin doeu, doeu muito e foi o toque mais doloroso que eu já recebi. - Taehyung me olhava, parecia preocupado. Mas eu olhava para frente, concentrado nos primeiros degraus. Graças a Deus, Jennie não se aproximou.. - Mas.. eu senti raiva, repulsa, mágoas e tudo isso me ajudou para conseguir me mover. Quando eu me movi, eu queria ter recebido o soco que Jungkook possivelmente daria no Soobin. E eu não sei o porquê, mas eu precisava defendê-lo. Eu precisava defender o Soobin.

Taehyung: Ele fez tanta merda, Ji. - Taehyung falou um pouco baixo, já ao topo da escada juntamente à mim.

- Eu sei, mas eu não quero que ele sinta tudo o que eu senti, sendo culpa dele ou não. - Simplifiquei. - E então eu o dei um soco, não senti nada, apenas alegria. Eu estou confuso, porque eu não quero que Soobin sofra, ele é uma boa pessoa afinal, mas ainda assim eu gostei de o dar um soco. Isso é um saco, Taehyung, eu não consigo saber o que sentir, mesmo agora que ninguém está me tocando.

Taehyung: Calma, anjo, isso é normal.

- Não, não é normal, porque o que eu sinto e o que meu psicológico formou para me deixar de ser trouxa, ninguém mais sente. - Parei de caminhar, estava eufórico apenas por ter caminhado por pouco tempo. Taehyung acabou se parando também, porém de frente para mim. - Eu não quero mais sentir isso, Taehyung.. - Meus olhos lacrimejaram, mas não me deixei chorar.

Taehyung: Hey, Jimin, não chore.. - Taehyung não sabia o que fazer, nem mesmo eu sabia. - Eu sei que isso é horrível, eu não sinto, mas eu sei como é porque eu confio em você, e eu acredito no que você disse desde o começo. Eu espero que tudo isso passe logo, hum? Mas enquanto isso, você precisa ser forte, você tem que ir aos poucos, tocando as pessoas e as deixando te tocar aos poucos. Não pense muito nisso, bebê, só te fará mal.. - Taehyung estava hesitante em me tocar ou não. E na verdade, eu não queria toques. - Eu estou com você, e você está longe de estar sozinho.

J-Hope: Ah, não está sozinho mesmo. - J-Hope apareceu lá do nada, surgindo atrás de mim e passando para o lado de Taehyung. Continha um enorme sorriso no rosto, era contagiante mas não me fez sorrir. - Estamos com você, Minnie, não importa o que houve ou o que irá acontecer.. nós te apoiamos e nós estamos aqui. - Taehyung suspirou fraquinho, sorrindo pequeno em seguida.

- Eu gosto de vocês, mas eu não preciso de apoio. - Foi a única coisa que eu disse antes de dar as costas e seguir em direção a sala.

Taehyung e Hoseok ficaram parados lá, não sei se conversaram sobre algo, mas sei que não me seguiram ou tentaram impedir. Estavam sendo totalmente compreensivos.

O meu mal é sempre achar que, quando ocorre algo bom, tudo ficará bem. Na verdade está longe de ser isso.. está longe de tudo se resolver.

Isso tudo está me cansando, e por mais que seja difícil, eu estou ficando sem forças para continuar.

Eu quero desistir.

Adentrei a sala quase que em silêncio absoluto, estava apenas o professor lá dentro, talvez planejando a próxima aula. Ele levantou o olhar para mim mas logo o abaixou, voltando a seu celular.

Ele já estava acostumado com minha chegada a essas horas, por mais que cedo, ele não se importava com minha presença na sala. Larguei a mochila contra a parede da enorme sala, caminhando até uma cadeira que estava ao lado de professor e a puxando.

Coloquei-a de frente para Jaemin, e assim como imaginei, ele desligou o celular e o colocou no bolso. Estava curioso, pois eu não costumava conversar consigo na faculdade, eu sempre mantive se profissionalismo em primeiro lugar, e nossa amizade apenas fora daqui.

Jaemin: Park? - Perguntou calmo após longos segundos de silêncio. - O que aconteceu? Por que parece que você está prestes a chorar? - Perguntou preocupado, fazendo minha cabeça se abaixar aos poucos.

- Jae.. - Fechei meus olhos, engolindo em seco logo após. - Eu faltei ontem, me desculpe.

Jaemin: Você já sabe toda a coreografia, Jimin, você sabe disso e você sabe que é bom, porque dá aulas assim como eu. Se você faltar dez dias, ainda assim isso não te prejudicará, porque desde o início você está preparado para a final.. e você continua sabendo disso. Então, o que foi? Por que você está assim? - Agora sim Jaemin estava preocupado.

- Eu acho que não vou participar da sua aula hoje. - Meus pensamentos não paravam por sequer um segundo. - Eu não estou me sentindo muito bem. - Ergui minha cabeça para o olhar, e assim como imaginei, o mesmo me encarava.

Jaemin: Por que sua mão está machucada? - Apontou para meu punho, realmente estava avermelhado e um pouquinho roxo. Talvez o soco tenha machucado mais a mim do que de fato, Soobin. - Alguém fez algo com você, Jimin?

- Sim.. - Murmurei. - Eu não quero mais sentir nada.

Jaemin: Jimin.. - Tentou falar, mas rapidamente o interrompi.

- Todos sempre dizem a mesma coisa, dizem que eu preciso ser forte, que não estou sozinho, que vai ficar tudo bem e que isso logo vai passar. Então, por favor, não seja igual todo mundo.. - Minha voz falhou ao fim da frase, uma lágrima escorreu por minha bochecha ao eu piscar. - Eu não sei o que fazer, porque isso não passa, não importa o que aconteça, isso nunca passa. As pessoas não podem encostar em mim, eu não posso encostar nas pessoas e agora eu estou me sentindo mal sem nenhum toque. Ninguém está encostando em mim e mesmo assim eu me sinto sozinho, no escuro, está tudo desmoronando e eu não sei o que fazer, porque eu não fiz nada.. eu só existo. - Mais algumas lágrimas escorreram e Jaemin, sinceramente, não sabia o que fazer ou dizer. Passou a mão nos próprios cabelos, e eu sei que sua vontade era me abraçar, mas não dava.

Jaemin: Eu estou com você. - Falou em um tom de voz calmo. - Eu estou aqui, Jimin, eu estou aqui por você. Não era para falar isso, mas é a verdade.. você não está sozinho.

- Durante dois meses eu consegui lidar com isso, eu consegui não ter crises, eu consegui me acalmar e relaxar quando alguém me tocava. Agora eu só quero que me toquem, porque eu sinto que vou sumir, e eu quero isso. Eu quero sumir. - Jaemin se levantou e foi em direção à porta, a trancando em seguida. Talvez as aulas estivessem prestes a acontecer.

Jaemin não se sentou mais uma vez, apenas foi até o rádio e ligou uma música lenta, fazendo eu o observar ir até ao fundo da sala, se parando em frente ao enorme espelho.

Jaemin: Está com roupas que o deixa flexível? - Perguntou alto por conta da música, já mudando completamente de assunto. Me levantei lentamente, ficando parado ali, ao lado da cadeira, à muitos metros de distância de Jaemin.

- Sim.. - Olhei para baixo, eu utilizava uma calça de moletom cinza e uma camiseta de mangas longas solta, totalmente branca, porém não grande. Não era a roupa ideal, mas ainda assim, era possível ser flexível com ambas.

Jaemin se encontrava com uma típica calça de moletom preta e uma camiseta de mangas longas cinza.. estávamos o inverso.

Jaemin: Ótimo, vamos dançar. - Passei a mão pelo rosto, limpando as lágrimas enquanto observava Jaemin rodopiar três vezes. Ele era muito bom no ballet. Foi totalmente sincronizado com o final da música, cujo parou e assim, a sala ficou em repleto silêncio.

O mesmo me chamou com a mão, fazendo assim eu caminhar até o fim da sala e me parar a sua frente.

Jaemin: Lembra daquela coreografia que ensaiamos e conseguimos decorar em três dias? - Me olhou com esperança, assenti e tentei entender no que isso daria. - Pois é, eu estava mal quando dançamos, lembra disso? Você me ajudou com a dança, ensaiamos cada passo juntos durante três dias, e aquilo me ajudou. Agora eu vou te ajudar com a dança. - Se aproximou das janelas e abriu as cortinas, ficou claro, totalmente claro. Havia algo ali que até hoje eu não entendi, mas o som saia para fora mexendo em alguns ajustes da caixa de som.

Suponho que Jaemin tenha feito isso antes.. ou seja, tudo sairá para fora desta sala. Não será como nas outras aulas que, a música fica aqui dentro e apenas aqui dentro.

Porém, quem passa-se pelo lado de fora, conseguiria observar tudo, e digamos que já tinham algumas pessoas.

Jaemin: Você não pode se sentir sozinho. - Falou mais baixo, apenas para mim. - Porque você não está, e não é porque essas pessoas do lado de fora não conversam com você, que elas não se preocupam. Seus amigos, sua família, seus namoradinhos, todos, até mesmo seu professor se preocupa com você. - Sorriu pequeno.

Os enormes vidros, que iam do teto até o chão estavam ali, visíveis para quem quisesse ver a dança.

Já continham algumas pessoas, todos meus colegas dessa sala cujo fazem aula comigo, estavam confusos. Não entendiam o que estava acontecendo, afinal porque o professor havia trancado a sala, e agora estava com um aluno lá dentro? Era uma confusão, aposto.

Taehyung e J-Hope estavam por lá também, jurei ouvir a voz deles, mas não me virei para olhar.

Jaemin: Eu sei que você gosta que os outros te vejam, então se solte. - Se parou em minha frente de novo, pegando o celular do bolso. - Eu vou colocar 'Lovely' para tocar, e eu sei que você vai deixar eu tocar em você.

- E se eu não conseguir? - Jaemin sequer havia me tocado uma vez, não sei como meu corpo reagiria.

Jaemin: Eu confio em você. - O professor me olhou e sorriu. - Você confia em mim? - Perguntou, clicando em algo no seu celular antes mesmo que eu falasse algo.

Me virei de costas para Jaemin assim que os toques sutis da música começaram, assim como suponho que Jaemin tenha feito. Afinal, ficamos em certa distância um do outro.

[link da dança nas notas finais, olhem]

Assim como os toques da música, nos viramos um para o outro, nos encarando e, ambos tocando seu próprio queixo. E então, veio o primeiro toque.

Tocamos nossas mãos e não demorou para que tivéssemos de tocar ambos pescoços, e por mero medo, acabei suspirando e fechando os olhos enquanto seguia cada ritmo, cada passo correto da coreografia.

Não doeu.

Não senti um vazio.

Não foi solitário.

Não foi obscuro.

Com Jaemin, nada foi como sempre.. foi diferente, seu toque era sútil, delicado, como se eu fosse um viro que, com qualquer toquezinho eu fosse quebrar. E os passos pareciam que iam ficando no fundo de minha alma, cada movimento, cada gesto e toque do meu professor, pareciam que me libertavam de algo.

As pessoas — que agora já eram muitas — observavam em silêncio, talvez não quisessem atrapalhar, ou seja lá o que fosse.

E quando eu toquei Jaemin, eu jurei que teria de parar de dançar. Veio um calafrio por meu corpo, um pensamento de que eu estava errando ou como se eu estivesse o machucando. Mas eu continuei, e foi com o sorriso dele ao meio da dança que eu percebi: eu não errei.

Em nenhum passo e nenhum gesto erramos, foi tudo perfeito, e ao final, Jaemin me puxou e me abraçou. Estávamos ofegantes, mas os aplausos e assobios vieram de todos que observavam, fazendo um riso sair tanto de minha boca, quanto da boca de Jae. Ele me ajudou..

Aos poucos fomos nos separando, e então o choque de realidade veio e eu, lentamente, me sentei e deitei no chão. Estava quase que morto, tanto de cansado quanto de.. não sei. É estranho, é algo estranho.

Jaemin: Você está bem? - Se parou em cima de mim, com ambos os pés, cada um ao lado de minha barriga. Ele estava de pé e eu deitado, ou seja, a visão.. hum.

- Estou.. - Estiquei a mão para si, queria me levantar e ele não hesitou em segurá-la com força e me puxar para cima. Me deu um beijinho casto na testa e se afastou, indo até às cortinas e as fechando. Não me dei ao luxo de olhar para o lado e ver quem estava alí, não queria saber, não agora.

Jaemin: Privacidade sempre, não é? - Soltou um risinho e foi até uma garrafinha de água que estava posicionada em cima de uma mesa dali, nem tentou abrir a garrafa, apenas a jogou em minha direção.

A segurei com força e beberiquei um pouco, não estava morrendo de sede, mas ainda assim, estava cansado.

- Mandamos bem? - Perguntei, realmente dançar me deixava mais relaxado. Me deixava bem, mesmo que eu não quisesse estar. - Essa coreografia é incrível, eu tinha me esquecido de como era boa para dançar.

Jaemin: Jimin.. - Falou e se virou para mim, até então antes ele estava de costas. - Você sabe o que fazer e não fazer quando se sente mal, não é?

- Jae, não ligue para... - Fui prontamente interrompido.

Jaemin: Você sabe, ou não sabe? - Perguntou mais firme, estava sério.

- Sim.

Jaemin: Então porque você estava daquela forma, anjo? - Perguntou, agora com uma feição de preocupação. - Você estava pensando em desistir, Park, e em dois meses tanto aqui na faculdade quanto lá fora, eu não te vi desta forma. Você sempre batalhou e tentou de toda maneira se manter forte e bem, você tentou demonstrar alegria e conseguia fazer isso perfeitamente. Não era farsa, nada foi farsa mas.. hoje, Jimin, você estava completamente destruído. Eu nunca te vi desta forma, e eu sei que seus pensamentos eram piores do que seu jeito de agir. Então me diz, se você sabe o que não fazer e o que fazer, porque estava tão triste? Tão abalado? - Falou tudo de uma vez, suspirei pesado e fiquei olhando volte e meia para os olhos de Jaemin, outrora para o chão.

- Porque em dois meses eu fui forte pensando que isso passaria, que eu poderia abraçar, encostar, dar tapas e até mesmo receber tudo isso, eu pensei que tudo ficaria bem. Mas chega um momento que você cansa, e eu cansei de tentar, porque eu aguentei muito tempo para nada, e cada vez piora, não tem um dia que eu consiga ser normal porque isso me persegue. E.. eu desisti. - Fui sincero, fazendo Jaemin passar a mão pelo seu próprio rosto e respirar fundo.

Jaemin: Você não deveria pensar assim. - Ditou e começou a caminhar pela sala, indo até o enorme espelho e se parando de frente para o mesmo. - Isso está te afetando de uma forma ridícula, e você está deixando. Nunca pensei que você iria se mostrar ser fraco, não é esse o Jimin que eu conheço. - Me olhou através do espelho.

- O problema é que você não me conhece.

Jaemin: Não conheço? - Perguntou calmo, sabia que eu estava apenas blefando. - Tudo bem, eu posso não saber sobre sua família, sobre seus amigos, seus antigos relacionamentos ou sobre sua vida na infância. Mas eu sei muita coisa sobre você, Park, e eu sei o suficiente para saber que você é forte e você consegue lidar com isso, estando sozinho ou com meio mundo. Porque o Jimin que eu conheço, é a pessoa mais incrível que tem nessa faculdade, estando triste ou feliz, demonstra alegria e afeto. Você não precisa de toques para ser feliz, assim como não precisa tocar para demonstrar. - Sorri pequeno enquanto esperava o mesmo finalizar aquela conversa e destrancar aquela porta, afinal já faziam alguns minutos que a aula deveria ter começado.

- Você deveria começar a sua aula. - Caminhei até minha mochila, tinham apenas algumas roupas dentro. A ergui e coloquei sobre um ombro, vendo Jaemin não fazer muita coisa, apenas se alongar em frente ao enorme vidro enquanto me encarava através deste.

Jaemin: Não adianta você fugir de mim, por mais que essa seja a primeira vez que você tenha falado sobre isso comigo, eu já notei que você não está bem outras vezes. - Fugir? Uau.. - Eu estou aqui com você, Jimin, se quiser conversar, sair, desabafar, chorar ou rir, eu estou aqui, você pode contar comigo para tudo. MENOS para pegação, não, isso é impossível, somos aluno e professor. - Soltou um risinho enquanto falava, sorri sem mostrar os dentes e assenti. - Mas é sério, eu sou seu amigo aqui dentro e fora daqui, e quero que saiba disso. Eu estou disponível vinte e quatro horas, não hesite em me ligar ou vir até mim. Eu gosto da sua companhia.

- Vamos dançar qualquer dia desses. - Falei e dei passos pequenos em direção à porta, tocando o trinco.

Jaemin: Não vai participar hoje?

- Não. - Ditei e destranquei a porta, não queria a abrir e me arrepender depois. - Obrigado por isso. - Ditei quase que baixo, mas aúdivel. Abri a porta e dei de cara com vários e várias alunos e alunas, logo estes entraram na sala enquanto eu saía.

Taehyung e J-Hope estavam logo ao fim da fila, me encarando enquanto eu queria fugir dalí, mas não, ao invés disso eu caminhei até os mesmos.

- Eu não gosto de muitos, mas de vocês eu gosto. - Sorri pequeno com a típica frase clichê, percebendo o sorriso no rosto de ambos.

J-Hope: Mandou bem lá dentro, você e o professor combinam tanto na dança, como em pessoas.

Taehyung: O que o J-Hope quis dizer é que você é perfeito dançando com o professor Jaemin, tanto quanto seria perfeito se casasse com ele. - Taehyung resumiu e me fez ficar quieto enquanto segurava a alça de minha mochila. - Eu também não gosto de muitos, mas de você eu gosto.

J-Hope: Hey, e de mim? - Fez um biquinho fofo nos lábios, mostrando indignação.

Taehyung: Nah', eu só gosto do Minnie nessa faculdade. - Brincou e sorriu largo, me fazendo sorrir junto e sair da frente de ambos. Só faltavam os mesmos entrarem na sala.

- Espera só eu falar para os outros garotos, principalmente para o Yoongi. - Pisquei com apenas um olho para Taehyung, esse mesmo abriu sua boca para falar algo mas Jaemin interrompeu.

Jaemin: Vão ficar aí ou vão entrar, garotos? - Jae estava na porta, tocando o trinco e querendo fechá-la. Virei meu rosto para olhar na mesma direção que os garotos, claro, para a porta.

J-Hope: Nosso professor não chegou ainda, a primeira aula é sua, sem querer ser rude mas é você quem dará aula agora, nós não faremos nada. - J-Hope falou e Jaemin fez cara de pouco caso.

Jaemin: Eu não perguntei nada disso, só queria saber se vocês entrariam ou não, assim como você disse, eu preciso dar minha aula e esperar com a porta aberta é a última coisa que farei. - Respondeu simplista. E porra, desde quando Jaemin é bravo assim?

Taehyung: Minha nossa senhora, acordou com o pé direito foi? - Taehyung murmurou com um bico nos lábios. - Nós iremos entrar sim, só estávamos nos despedindo do seu melhor e mais perfeito aluno. - Fez cara de deboche para Jaemin, esse mesmo que suspirou fraquinho e o encarou.

Jaemin: Sabe, Taehyung, o seu professor já não gosta de mim, e vai gostar menos ainda se um aluno dele aparecer machucado. - Acabei por segurar o riso, Jaemin com certeza estava brincando, jamais falaria aquilo sério. - Então anda logo com isso, antes que eu dê mais de um motivo para o Jeno me odiar. - Apontou para dentro da sala, Hoseok logo o obedeceu e adentrou com um sorriso risonho nos lábios, já Taehyung, apenas encarou Jae com um olhar mortal.

Taehyung: Eu como soulmate do Jimin, não te darei minha benção. - Soulmate? Benção? Alguém mata ele, por favor?

Jaemin: Que benção o que, garoto, entra logo pra' dentro, tsc! - Taehyung sorriu para mim e adentrou a sala, me deixando ali parado, esperando seja lá o que fosse para mim caminhar.

Jaemin fez um gesto de tchau e fechou a porta, já eu, esperava um motivo para caminhar. Claro, o motivo não tardou a aparecer, me fazendo caminhar com certa pressa em direção às escadas.

Jungkook caminhava em uma distância enorme atrás de mim, enquanto eu subi degrau por degrau. Eu sabia muito bem que ficaria encurralado se não parasse de subir, afinal no terceiro andar só contém o terraço, e não tem outra saída a não ser pular.

Agora não tinha mais o que fazer, não agora que já estou com os pés muito bem pressionados no chão a cada passo. Já estou no terraço, caminhando até o meio deste, só esperando a voz de Jungkook se fazer presente.

Eu não queria conversar, ouvir desculpinhas ou qualquer outra coisa, mas.. eu queria ouvir sua voz.

Jungkook: Você dançou muito bem. - Foi a primeira coisa que o mesmo disse, estava com uma voz suave, dava para perceber que estava distante. Eu estava de costas para si, olhando para frente como se tivesse algo super importante logo a minha frente. - Você nunca me disse que sabia dançar, assim como nunca disse que já havia praticado luta. - Sabendo que eu não falaria nada, falou outra vez.

Continuei parado, sentindo o vento gélido bater contra meu rosto e fazer alguns fios de cabelo cobrirem minha visão. Mas, de qualquer forma, não mexi um músculo para tirar meu cabelo de meu rosto, não era necessário.

Jungkook: Eu não sei se você quer que eu fale algo, ou se quer que eu me explique, talvez coisas assim.. você pode ter mudado, mas quando eu ainda morava aqui, você não gostava de desculpas, prefiria não ter de ouvi-lás. - Ditou calmo, e sim, eu queria ouvi-lo, mas não pedindo desculpas. Eu queria apenas ouvir sua voz, era relaxante. - Eu só quero pedir desculpas por ter tocado em você ontem, eu não sabia e não queria ter te machucado, e por mais que você possa não aceitá-las, ainda sim minhas desculpas são sinceras, porque você é a última pessoa que eu quero ver mal. - Desculpas não mudam muita coisa, mas dependendo das palavras a serem usadas, elas são válidas e nos fazem bem.

Jungkook: Será que o J-Hope e o Namjoon vão me odiar muito? - Perguntou mais para si mesmo, me fazendo ficar em dúvida do que ele falava. - Eu ainda não conversei com nenhum dos dois sobre minha volta, por mais que J-Hope tenha me visto mais cedo, eu não fiquei muito com ele e não pude me desculpar.

- Eles vão entender. - Falei meio baixo enquanto colocava minhas mãos nos bolsos da calça, não me importava de falar com ele, só não queria me aprofundar no assunto.

Jungkook: E você entendeu? - Aprofundar no assunto.. isso não é possível em minha mente, só me deixa confuso. - Porque.. o que eu te disse ontem não é mentira. Eu não me importo se todos os outros estiverem contra mim, eu só não quero que você me odeie. Você é a única pessoa que eu quero que fique bem, não precisa entender ou me perdoar, mas eu não quero seu ódio. - Ouvi um suspirar baixo vindo do outro, acabei por suspirar também.

- Por que não está na aula? - Troquei de assunto, não queria mentir e falar que eu não estava mal.

Jungkook: Eu.. longa história. Já estou formado em administração e agora.. - Hesitou em continuar, e em partes eu já havia entendido, entendido tudinho. Ele estar no segundo andar já era mais do que uma dica.

- Você vai se dar bem em dança. - A cada palavra parecia que eu estava mentindo para mim mesmo. Durante meses eu coloquei em minha cabeça que Jungkook estava morto, que eu o odiava e que eu não o queria por perto.. mas agora eu estou puxando assunto apenas para ouvir sua voz.

Jungkook: Você sabia.. - Ditou baixo. - Eu não tinha nenhum curso para fazer e não queria largar a faculdade, afinal é uma experiência louca, eu não podia largar tudo assim do nada.

- Você não precisa se explicar. - Falei e quis, por breves momentos, caminhar e dar o fora dalí. Eu não gosto de me contrariar e mentir para mim mesmo, é uma sensação ruim, infelizmente me contrariei e não me movi.

Jungkook: Você está bem? - Perguntou cuidadoso. - Eu vi a dança, foi incrível mas.. vocês se tocaram.

- É diferente.

Jungkook: O que é diferente? - Fiquei em silêncio, pois eu não sabia e também não queria saber. - Eu queria te abraçar, mas não queria te machucar com isso. Queria encostar em você e também não queria te ver mal por algo que eu causei. - Eu também queria, mas jamais admitiria isso.

- As pessoas costumam falar isso. - Fui sincero, é a mais pura verdade.

Jungkook: Eu estive fora por dois meses, não ouvia sua voz e nem via seu jeitinho bobo de ser em sessenta dias. Acredite, o que os outros dizem é completamente diferente do que eu quero e sinto. Eu sinto saudades, muitas saudades. - Falou com carinho, me fazendo umidecer os lábios.

- Você que quis isso. - Falei mais baixo.

Jungkook: Por que está falando tão pouco? - Perguntou mudando de assunto. Assim como eu fugia do assunto, Jungkook fazia o mesmo.

- Porque eu estou me forçando a falar com você. - E de fato, eu só falava o necessário.

Jungkook: Não faça isso consigo mesmo, se quiser que eu vá embora, eu posso ir. Eu só queria matar um pouquinho a saudade de você, mas se você não quer isso, tudo bem, eu entendo e só quero que você fique bem. - Ouvi alguns passos, só não sabia se ele estava indo embora ou se aproximando.

- Fique. - Os passos pararam. - Fale.

Jungkook: Falar o que? - Não obteve respostas, então ouvi um murmúrio como se Jeon estivesse pensando. - Ouvi dizer que você está dando aulas de dança, fico feliz por você, mesmo que eu nunca tenha te visto dançar além de hoje, percebi que você ama o que faz e faz muito bem. - Acabei tirando as mãos dos bolsos, os deixando soltos ao lado de meu corpo.

- Sabe.. - Comecei baixinho. - Dançar me faz sentir bem. Esqueço que tem pessoas ao meu redor, e isso é bom.

Jungkook: Por que é bom? - Pareceu se animar com minha fala, afinal eu estava me abrindo.

- Sem pessoas, sem sentimentos. Sem sentimentos, sem dor. Sem dor, sem transe.

Jungkook: Eu posso te fazer uma pergunta? - Como de costume, acabei por ficar quieto. - Você quer que sejamos desconhecidos?

- Posso te fazer uma pergunta? - Não o respondi, apenas o imitei. - O que seríamos se você não tivesse ido embora?

Jungkook: Amigos, Jimin, e é com isso que eu não saberia lidar.. - Não o deixei continuar.

- Eu estava apaixonado por você. - Jungkook calou a boca no mesmo instante. - Você acha que alguém em sã consciência consegue se esquecer de outro alguém, sendo esse uma das pessoas mais importantes para si, em apenas duas semanas? - Perguntei. - São apenas catorze dias.

Jungkook: Por que não me disse? - Não sei como, nem de onde eu tirei coragem e me virei.

Me virei de frente para Jungkook, esse mesmo estava a certos metros de distância de mim, escorado sobre um tipo de concreto.

Jungkook continuou me encarando, não parecia querer parar nem mesmo iria.

- Eu entendo que você já é um adulto e toma suas próprias decisões, sei que você sabe muito bem de suas atitudes e soube fazer suas próprias escolhas. Você pensou em si, afinal, e nisso eu não posso te julgar. - Acabei por falar o que estava intalado em minha garganta, porque eu precisava sair dali, e se eu não falasse nada me arrependeria depois. - Eu não estou bravo com você por você ter ido embora, eu estou magoado, e isso é bem pior. - Sorri sem mostrar os dentes, era forçado mas continuava sendo um sorriso. - Estou magoado por saber que sua decisão foi uma causa estúpida, seguida de uma mentira que você não precisava ter dito. Seguida de promessas quebradas e seguida de falsidade. Eu não pensei que você fosse assim, infelizmente eu não estava preparado para isso, não estava preparado para você ir embora e sumir. A minha decisão foi colocar meu bem-estar em primeiro lugar, então eu me afastei de meus amigos de infância e de seus amigos, mudei completamente, acabei criando uma barreira a partir do momento em que eu convenci à mim mesmo que você estava morto. Essa barreira é um saco, ela me impede de receber ou de tocar em alguém, e isso acabou acontecendo porque a pessoa que eu mais amava receber os toques, acabou "morrendo". O meu subconsciente não aceitou isso e nesse momento eu não podia receber outro toque, e por incrível que pareça, o seu não é diferente, eu não consigo lidar com isso e eu não sei como faz para quebrar essa barreira. A cada dia a qual eu não entendia do que se tratava toda essa escuridão em minha mente quando alguém me abraçava, eu me torturava mentalmente, pensava em muita coisa ruim e isso ajudou a essa "doença" piorar. Porque a cada semana, um novo sintoma era adicionado na lista. Hoje, hoje mesmo, eu não posso ser tocado, não posso tocar, e se isso acontece, eu entro em um transe muito louco o qual você já sabe os sintomas, acredito que sim. E agora, há poucos minutos, mais um sintoma foi adicionado. Agora eu não consigo saber o que sentir, porque ao mesmo tempo que eu quero algo, eu sinto que esse algo é errado e que esse algo faz mal às pessoas. Eu não consigo organizar o que sinto, e eu não consigo ser sincero comigo mesmo em nada do que estou dizendo. Eu não consigo estar certo de algo, e eu me culpo por isso, eu me culpo por fazer as coisas erradas e me culpo por não aguentar mais essa barreira. - Jungkook ficou estático, e eu sei bem os seus pensamentos. - Eu não te culpo por ter ido embora, porque agora quem quer ir sou eu, porém para um lugar diferente que não é possível se encontrar nessa vida. - Acabei soltando minha mochila no chão, estava cansado, parecia que ela pesava mais do que à mim mesmo, sendo que não pesava nem um quilo.

Jungkook: Eu sinto muito. - Todos falam isso, afinal.

- Eu falei tudo isso, e não foi para você se sentir mal ou pensar que é sua culpa. Eu falei tudo isso para você saber que, se eu não te contei que estava apaixonado por você, é porque tinha um motivo. E esse motivo se transformou em um problema imenso. - Jungkook se desescorou do concreto, se aproximando em passos lentos. - Não fale que sente muito e que eu não mereço isso, é ridículo.

Jungkook: Eu sinto muito e você não merece isso, nem um por cento do que está acontecendo. Desculpa, mas eu sou ridículo. - Acabou sorrindo quando se parou em minha frente, um pouco distante. - Eu não.. sei o que falar.

- Ótimo, eu tenho que ir agora. - Alcancei a alça de minha mochila e a puxei, pegando-a e a erguendo até meu ombro.

Jungkook: Jimin, espere. - Falou manso, meio que sugestivo. - Eu posso te dar motivos. - Acabou por falar, nem mesmo consegui entender o que ele acabara de falar.

- Eu não.. consigo estar com você. - Acabei sendo sincero, Jungkook ficou quieto, óbvio. - E eu não quero estar. - Ajeitei a alça de minha mochila e dei alguns passos pequenos, mas logo parando ao lado de Jungkook.

Jungkook: Você me odeia? - Repetiu a pergunta.

- Eu não te contei tudo aquilo porque eu quero que você me entenda, na verdade eu só te contei porque não quero que você pense que consegue me ajudar de alguma forma. Não é porque você foi embora, ou talvez seja, não sei, mas parece que eu estou me obrigando a estar aqui e me obrigando a te dizer cada palavra, isso não é legal nem com você, nem comigo. - Não respondi sua pergunta. - Se passaram dois meses, eu prefiro estar sozinho do que com você.

Jungkook: Tudo bem. - Concordou baixo, sem se mover.

- Tchau..

Jungkook: Adeus, Jimin. - Falou e acabou saindo dali antes mesmo que eu, tomou a frente com rapidez e sumiu de minha vista em menos de cinco segundos.

Talvez eu tenha sido cruel, mas é difícil quando eu apenas fui sincero.

Eu queria isso e meu subconsciente queria isso. Mas meu corpo.. não, de fato, não é exatamente essa distância que meu corpo quer. Não é essa falta de som que meus ouvidos querem.

Pela primeira vez, não é a solidão que eu preciso.

Eu preciso de Jungkook.

[...]