Escrita por: LuckyNFuyo
_Bem, o que eu fiz, então? – perguntei com a voz trêmula
_Vamos fingir que estamos brigando – cochichou Sophia – a Giovana provavelmente está no pé da escadaria ouvindo nossa conversa
_Eu... Vou saindo então, né? – disse Lucas – quer que eu tire a Sophia de lá?
_Sim por favor – disse Sophia
Ela gritou alguma coisa aleatória como “SAIBA ENTÃO O QUE VOCÊ FEZ, SEU...” e então esperou Lucas aparecer na curva que a escada fazia para dizer que estava o.k. conversar em voz normal. Dois segundos depois isso aconteceu e Sophia se sentou no mesmo degrau que eu.
_João – disse ela – você podia ter mentido, dizer que não tinha nada por mim. Eu acho que já tinha reparado da quedinha dela, não?
_É, eu já sabia – respondi – só achei que era melhor falar a verdade logo de cara.
_Nem sempre a verdade é algo necessariamente bom, cara.
_Percebi.
Ficamos alguns segundos em silêncio. A ruiva ameaçou levar a mão ao celular mas parou na metade do movimento com um suspiro
_Eu acho que você já sabe sobre a minha sexualidade, não? – disse ela rompendo o silêncio
_Sei, eu acho.
_E o que você acha que eu sinto pela Giovana?
_Você... Não parece sentir algo a mais por ela. Eu estou certo?
_Está.Me desculpa João, mas meu coração pertence à outra pessoa. Não me entenda mal: em dois meses, você já se tornou uma das pessoas das quais eu mais pude conversar.
_Obrigado, eu acho.
Nos encaramos por um segundo e voltamos a rir.
_Mais uma coisa – disse por fim – tem outro garoto que gosta de você.
_O Gabriel? – disse ela inocentemente – Eu sei, ele sempre me compra bala.
_O que? Não, nem sei quem é esse. O Matheus.
_Eu deixei ele na friendzone mês passado, mas ele insiste em se mostrar.
_ARRASA CORAÇÕES MIGA
_EU SEI MIGO
Depois de outra risada, ela se despediu com um “bate aqui” básico e foi correndo ver se encontrava alguém na fila da cantina.
É, eu estou oficialmente na friendzone. Mas sinceramente, eu achei que doeria mais. Claro, o que eu quero fazer é me esconder da sociedade vivendo apenas das lágrimas que eu produzir durante algumas décadas numa caverna escura e isolada do mapa. Mas no começo da conversa, eu achei que seria pior.
Depois de acabar de comer meu biscoito, me levantei e desci o resto da escada, para encontrar Matheus, Júlia e Thiago, que teve a audácia de comentar:
_Você caiu no conto da friendzone da Sophia. Primeira vez?
_É sim – respondi
_Prepara seu bumbunzinho que tu ainda vai sofrer muito com isso garoto. Falo por experiência própria.
_Você se acostuma – comentou Matheus
_Tadinho – comentou Júlia, com um sorriso no rosto – Você é o quarto desde que ela entrou na escola.
Rimos um pouco e Júlia me deu uma bala para me acalmar, já que eu estava claramente rosado.
_Ela disse que gosta de alguém – comentei tirando a bala do papel e mastigando-a.
_É isso que reza a lenda – disse Júlia – Desde que ela entrou na escola, ela dispensa os garotos com essa desculpa, mas ninguém nunca descobriu quem é essa pessoa.
_Eu mesmo já tentei – disse Thiago
_E ela dispensou você? – indagou Matheus indignado – Quer dizer, você é tipo o Fodão da sala.
_Por que todo mundo fala isso? – respondeu o Fodão – O que eu fiz para ser o Fodão?
_Bem – comentou Júlia – você joga basquete, futebol, baseball, futebol-americano, tênis, natação, karatê, vôlei, skate, ginástica artística, surf e ainda tira notas boas.
_Eu tenho quinze, um esporte por ano a partir dos quatro. Isso não é normal nessa cidade?
_Isso não é normal em humanos. – comentou Matheus.
_Asiáticos.
_EU DISSE HUMANOS, CRIATURA.
_Ginástica artística? – perguntei
_Tempos sombrios. – ele respondeu, apenas.
Todos riram, menos Thiago que parecia envergonhado.
_Ei – disse tomando fôlego – Você disse “nessa cidade”, tu não é daqui?
_Eu vim de outra cidade – respondeu Thiago ansioso para mudar de assunto – Minha mãe veio trabalhar numa fazenda daqui como veterinária durante dois anos, então eu vim com ela. Tô aqui desde o ano passado.
_Você é da capital, certo?
_É isso aí.
*****
Fevereiro passou voando, como sempre – provas fáceis, matéria de revisão e “suruba” todos os dias. Uma sexta-feira saíamos e na outra não, até quando acharam um fio de cabelo masculino no hambúrguer da Júlia, e nunca mais fomos naquele restaurante.
Na primeira semana de março Giovana começou a faltar vários dias seguidos da escola, e só fomos reparar isso na quarta-feira quando temos aula de música e o torturador disse “MAS ELA FALTOU DE NOVO?”, e foi aí que nos demos conta. Na quinta, Sophia recebeu um telefonema da Gi que disse que quebrou o braço e estava no hospital – pelo visto, a garota tentara andar de skate no morro mais alto da cidade e esse foi o resultado. Sophia contou também que o médico deve dar alta só daqui a algumas semanas.
Ah! Uma coisa que eu esqueci de falar: lembram do mapa de carteiras, lá do capítulo um? Então, eu consegui sair da fileira da frente! Aparentemente, os professores perderam o receio que sempre possuem com os alunos novos e me trocaram de lugar com o Henrique, que estava conversando bastante, eu acho. Agora estou numa área branca, que não é tão melhor assim, mas pelo menos posso conversar com Lucas que senta atrás de mim. E sabe onde ele senta? ISSO MESMO!
NA CELESTIAL
NA UNIVERSAL
NA “QUALQUER-COISA-”AL
NA MAIS LINDA
CHEIROSA
GLAMUROSA
E EXPLÊNDIDA
CARTEIRA VERDE!!!
ISSO MESMO,
VOCÊ NÃO LEU ERRADO!
NA. CARTEIRA. VERDE.
Será que os professores também chegaram à conclusão de que aquela era a melhor cadeira? Quero dizer, o Lucas é o queridinho de tudo quanto é professor – Ciências, Geografia, História... Se bem que faz até sentido: ele é um asiático, e apenas asiáticos são fodas o suficiente para conseguir ser queridinho da torturadora mais severa da escola, cujo não vou citar o nome para não deixar a energia negativa que ele traz invadir a tela do seu computador. É sério.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.