14 de Julho
Passei o resto das férias escondido no quarto, triste e revoltado demais pra aceitar a realidade novamente. Na despedida eu não consegui dizer adeus, então um até logo pareceu bem conveniente, mas você só de um sorriso triste e negou com a cabeça, soltando minha mão e entrando no carro ao lado de seu pai no banco do passageiro.
Fiquei sem entender aquele gesto durante toda a viagem, me sentia inquieto, sabia que algo estava errado, que assim que seus dedos soltaram os meus eu não te veria novamente. Cheguei em casa e comecei a correr em direção a sala, precisava ligar pra sua irmã e ter certeza de que você estava bem, antes de tocar no telefone minha mãe me chamou e balançou a cabeça em negação.
Durante aquela semana achei melhor não perguntar mais sobre sua mãe, já que no primeiro dia eu soube que ela tinha morrido lutando contra uma doença sem cura, por isso seu sorriso é o mais bonito que existiu pra mim, mesmo tendo perdido a mãe a poucos dias você engolia sua tristeza e alegrava todos envolta sem se preocupar com as próprias feridas internas.
Comecei a soluçar como uma criança assim que minha mãe disse que você também tinha a doença da mãe, senti as lágrimas queimarem meus olhos e minha mente pesar cada vez mais, como uma súplica para que eu adormece-se e deixa-se o sono levar minha dor, mas fui teimoso demais pra aceitar.
No desespero pedi pra que meu pai me levasse até você, resolvi que passaria todo o tempo possível do seu lado, que deixaria você desabar no meu ombro e que dessa vez eu traria felicidade pra você, mas novamente você tinha bagunçado as coisas.
Tinha resolvido ir embora antes da dor, provavelmente não suportaria ver as pessoas que ama sofrendo enquanto te viam minguar em uma cama de hospital, queria partir com um sorriso no rosto e as lembranças de uma semana na casa de madeira velha onde tinha crescido ao lado da sua mãe.
Eu admito. Gritei, xinguei e chorei como um recém nascido, sabia que aquela dor não passaria, que eu teria que acordar todo dia até meu fim sabendo que não iria mais ver seu sorriso quadrado, não ouviria sua voz cantando uma música calma e reconfortante, e nem sentiria seus dedos se cruzando com os meus. Não teria a chance de rever meu pequeno amor das férias, não teria a chance de me declarar, segurar seus rosto com as mãos e sentir sua boca na minha.
Agora, mais velho e sozinho, entendi que todos esses "nãos" foram minha culpa e não sua, você não tinha me negado as chances de ter sido feliz juntos, pelo contrário, você me concedeu 7 dos seus últimos dias mas eu tive medo de mais pra aproveitar.
Aprendi muito naquela semana, mas ter aprendido a aproveitar a vida, a entender que meus medos eram a única barreira entre um mundo em que eu poderia ter ficado com você, e talvez feito você ter se sentindo amada de forma diferente antes de partir, foi o melhor, e o pior, de tudo.
"Você já não pode mais ler essas cartas, assim como eu já não posso mais te esquecer."
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.