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História 8 ball, interativa. - 8ball; Cair na toca do coelho.


Escrita por: MariMaid e armysticio

Notas do Autor


Olá, como vocês estão? Espero que bem e aproveitando esses quatro dias de feriado, trouxe mais um capítulo repleto de loucurinhas!
Como já devem ter percebido, o fim do caso Cinzas está próximo, mas esse não é o fim da fanfic, obviamente, tenho muitos planos e casos para trabalhar que influenciarão no crescimento pessoal dos personagens, se você tiver algum pedido de cena ou qualquer outra coisa, pode falar comigo por MP, Whatsapp, timeline, enfim onde se sentirem melhor!
No mais é isso, não se esqueçam de um comentário fofinho e de dar muito amor a 8ball!
Obrigada!

Capítulo 14 - 8ball; Cair na toca do coelho.


Fanfic / Fanfiction 8 ball, interativa. - 8ball; Cair na toca do coelho.

“Resiliência é juntar os pedaços quebrados, amassar e moldar uma nova versão sua, ainda mais forte e resistente que a anterior!”

Élida Pereira Jerônimo

 

Garotos ricos não têm coração. E se essa afirmação for verdadeira, Lee Jihoon é a exceção à regra, pois com seu coração puro e passado turbulento o rapaz poderia estar em uma turnê musical, se drogando em um ônibus enquanto escuta rock e escreve letras para novos álbuns, mas dentre todas as possibilidades de futuro que as pessoas imaginavam para um órfão herdeiro de uma fortuna, se tornar um policial respeitado não era uma delas, a não ser que estivéssemos falando de Gotham City e do órfão morcego arqui-inimigo do Coringa. Qualquer realidade paralela que fosse, Lee Jihoon queria amar e ser amado. 

Ali dentro daquela casa o amor transbordava em gargalhadas gostosas de Lee Hayun. A mulher dividia sua atenção entre o pote de Jjajangmyun, os gatos que passavam ronronando pelos seus pés e Woozi que fazia uma encenação dramática sobre o seu dia. 

— Então eu disse: Chega de brincadeira, o Porsche vale no mínimo uns 300 mil, todo mundo vai deitar no chão com a mão na cabeça enquanto esses cavalheiros irão revistá-los! — Lee engrossou a voz enquanto apontava a latinha de Coca-cola de forma ameaçadora para sua irmã. 

A mulher levou as mãos à boca para rir e balançou a cabeça negativamente, observava-o como se ele tivesse voltado a ser aquele menininho de cabelos escuros que escondiam seus olhos, aquele que ainda sabia sorrir de forma genuína. 

— Parece ter sido incrível, ao mesmo tempo que fico nervosa de saber que estava exposto a tanto perigo… imagina se tivesse levado um tiro? — Hayun comentou de forma preocupada e balançou a cabeça para afastar o pensamento. Se tivessem ligado dizendo que Jihoon fora baleado e estava no hospital entre a vida e a morte, com certeza ela mesma iria definir o destino final do homem. 

— Meu colega foi baleado! — Lee contou e voltou a sentar-se na cadeira. 

A irmã levantou a cabeça assustada, quase cuspindo macarrão por todo lado. O rapaz sorriu envergonhado e deu de ombros. Espreguiçou-se dentro de seu pijama cinza e comeu mais um pouco de feijão gemendo de satisfação.

O ambiente estava bem iluminado, tanto pelas lâmpadas brancas quando pela cidade que se erguia monstruosa do lado de fora da janela, prédio altos que exalavam luzes coloridas. Os móveis escuros todos bem limpos e a cozinha repleta de miados dos gatos manhosos de Jihoon. 

— É o trabalho da minha vida, noona! — Woozi quase sussurrou, de repente sendo invadido pelos sentimentos que o perseguiam como as sombras da noite, olhou-a sob sua franja escura, o canto dos lábios manchados de molho. 

— Eu sei Woozi, você se tornou um homem nobre e toda sua convivência com os lobistas o deram esse ar preparado para qualquer perigo! — Hayun disse com um tom orgulhoso e capturou sua mãe fria do outro lado do balcão. — Tenho certeza de que eles estão tão orgulhosos de você quanto eu! — acrescentou com um sorriso triste. — Agora coma, senão vai esfriar Senhor Wayne! — zombou e recebeu uma risada gostosa do irmão. 

 

    Quando a noite cai e os monstros saem debaixo da cama, a sorte pertence àqueles que já estão adormecidos ou sequer fecharam os olhos. Por outro lado, para as pessoas que possuem tantas turbulências nas páginas de suas histórias, o céu se fecha em um cinza perigoso e a maré sobe. 

    Bae Ha-Neul sabia que se tratava de um pesadelo quando Soo-Hyun estava lá, com seu rosto quente e sorriso oval que brilhava a ponto de cegá-la, porém o efeito que não conseguir abrir os olhos e dizer a si mesma que não era real, quebrava seus ossos, triturava-os e fazia a mulher se sentir impotente. 

Então Bae abriu os olhos e foi recebida pela luz da lua que se derramava no topo daquele prédio enquanto o vento criava a desordem de seus fios escuros. Olhou para seu corpo, como se não a pertencesse, usava um vestido de seda longo de cor salmão e um kimono colorido por cima, um de seus muitos pijamas. Passando as mãos pelos braços desnudos sentia como a pele estava macia e úmida. Notou onde estava, observando a altura dos arranha-céus que a observavam com luzes psicodélicas. Uma vertigem tomou seu corpo a ponto de fazê-la revirar os olhos. Repousava os pés descalços na beirada, um passo a mais que cairia em queda livre por inúmeros andares em direção a uma avenida movimentada. 

— Bae… vamos contar até três? — Uma voz tão doce e melódica soou atrás de si, virou-se com violência, louca para encontrá-lo mais um vez, tocar-lhe o rosto, sentir seu afago, o beijo em sua testa. 

Mas estava presa, não movia sequer um centímetro, engoliu em seco e arregalou os olhos, encarando Soo-Hyun de forma desesperada. 

— Coloque suas mão cruzadas nos ombros, por favor, meu amor! — pediu com a voz aveludada. 

O homem trajava um belo terno preto, nada fora do lugar, milimetricamente colocado e bonito. Por algum motivo, Park olhava para Ha-Neul sem realmente enxergá-la, quase via através dela. Fez o que seu noivo mandou, fechando os olhos e esquecendo-se do vento frio que arrepiava sua pele de maneira selvagem, ignorou o som das buzinas longínquas e se dedicou ao relaxamento que Soo-Hyun repetia ao lado dela, com o calor de seu corpo transmitindo toda a confortabilidade que qualquer ser humano no mundo necessitaria. 

— Um…

A voz foi levada com a brisa e o perfume doce dele entrou pelas narinas de Bae. 

— Dois…

Só precisava abrir os olhos, ele não estava ali.

— Três…

Bae caiu, abrindo os braços, sentindo o cabelo rasgar suas bochechas e o som aumentar gradativamente, as luzes estavam embaralhadas pela infinidade de andares que caía.

Ao emergir do mundo dos pesadelos, sentindo os pulmões resumirem-se a dois feijões e as lágrimas queimando nos olhos, deu de cara com Min-Hyuk e encolheu-se com o susto. 

— Oppa? —  a mulher chamou se folego e indefesa. Os olhos castanhos esbugalhados e perdidos. 

Sem esperar resposta olhou para seu lado, imaginando se encontraria algum vestígio de Park e enquanto buscava pelo impossível, seus olhos miraram a gaveta onde a camisa jeans azul escura que ele tanto vestia estava intacta. O último pedaço que guardara do amor da sua vida. 

— Bae teve um pesadelo? — Min-Hyuk perguntou curioso e sentou-se na beirada da cama. Ha-Neul franziu as sobrancelhas e sorriu, os dois tinham uma conexão de irmãos. — Estava contando tão alto: um, dois… — explicou coçando a nuca constrangido. Também vestia pijamas e os olhos se fechavam de sono a todo segundo. 

— Não era nada, estou bem oppa! — tranquilizou-o com uma expressão falsa e tocou a mão quente dele. — Mas… pode ficar aqui? — pediu nervosa, abaixando a cabeça para não encará-lo. 

Na escuridão do cômodo, Min-Hyuk assentiu sem precisar perguntar por que, entendia o sentimento e da forma dele só queria aliviar a dor da irmã, que era como uma ferida aberta. Deitou-se ao lado de Bae de barriga para cima e olhou o teto, da mesma forma a mulher o imitou, fixando-se na pintura branca opaca. 

— Queria que ele estivesse aqui! — Ha-Neul sussurrou mais para si do que para qualquer outro ser vivo que pudesse escutar. 

O silêncio voltou calmo, embalando-os como duas crianças recém-nascidas, prontas para o sono. No fundo dos pensamentos de Bae, Soo-Hyun permanecia visível e não gostava de admitir, porém as lembranças começavam a ficar escassas. Tinha medo de esquecê-lo, rejeitava perdê-lo mais uma vez. 

Suas pálpebras ficaram mais pesadas do que poderia aguentar e deixou-se mergulhar no mundo dos sonhos. 

— Eu também… — respondeu Min-Hyuk em um fio de voz. 

 

O automóvel foi estacionado em frente ao caminho de pedras coloridas do Hospital Psiquiátrico e Bae colocou os óculos de sol na cabeça, olhou para o banco do passageiro onde Min-Hyuk conferia seus pertences em uma contagem que só ele entendia. 

— Precisa que eu fale com o Doutor Leng? — Bae perguntou curiosa, batendo as unhas longas no couro do volante. O irmão balançou a cabeça negativamente. 

O dia estava bonito, o sol quente iluminava as flores do jardim e fazia a água da fonte reluzir, era um local calmo e aconchegante. Um homem caminhou em direção ao carro com as mãos nos bolsos e se abaixou na janela, dando duas batidinhas na janela Os irmãos se assustaram. 

— Falando no demônio… — Ha-Neul brincou com um sorriso e abaixou o vidro. 

O Doutor Leng sorriu e seus cabelos claros também pareceu os cumprimentar, indo de um lado para o outro com a brisa praiana. 

— Leng-sshi não é o demônio! — Min-Hyuk disse irritado e o homem arregalou os olhos confusos.

— Bom dia, doutor! — Bae disse e inclinou-se um pouco para frente para poder vê-lo.

— Como está, Ha-Neul? — o homem questionou com seu timbre médico e abriu a porta para que Min-Hyuk descesse apressado. 

— Estou ótima! — respondeu e voltou a colocar os óculos, queria acabar com aquele assunto irritante. 

— É mentira! Bae está sonhando com Soo-Hyun de novo! — O irmão dedurou com os olhos perdidos nos pacientes que tomavam sol. 

— Oppa! — A mulher chamou a atenção, porém percebeu que não valia a pena irritá-lo. Sua decisão foi abrir um sorriso constrangido e admirar a pintura das unhas como se tivessem sido esculpidas por Michelangelo.

— Deveria voltar a frequentar nosso grupo! — O Doutor Leng convidou amigável e tocou o ombro de Min-Hyuk. 

Bae não se deu ao trabalho de responder, ignorou-o e fechou a janela, dando partida em direção aos outros carros na avenida. Deixou os dois homens para trás e pôde ver seu irmão mais velho acenando pelo retrovisor. 

Ligou o rádio na intenção de distrair seus pensamentos. Sentia-se tão confusa desde a noite anterior que mal conseguiu comer o café da manhã, não entendia de forma alguma por que seu ex-noivo estava de volta em seus sonhos. Tinha superado aquela fase, as lágrimas e desespero foram deixados guardados no baú junto com todos os pertences de Soo-Hyun, mas só de lembrar do homem, vívido como ele estava, jurava que era verdade, que se o tocasse sentiria a pele macia e quente sob os dedos. 

— Não! Soo-Hyun está morto! — Bae lembrou em um murmúrio irritado, apertando as mãos em volta do volante e acelerando para chegar mais depressa a delegacia. 

Não demorou muito, estacionou seu automóvel no estacionamento traseiro, subiu as escadinhas a tempo de encontrar Hwang Gi que fumava um cigarro de forma despreocupada. Foi até a sala 7, falou com o sargento e desceu para o necrotério. Estava ciente de que o corpo de Brandon Shin fora guardado para que ela fizesse a necropsia, mas tinha que esperar seu ajudante medroso aparecer. 

Sentou-se em uma das cadeiras giratórias da sala clara e permaneceu em silêncio observando o ambiente. Estranhamente gostava daquele trabalho, lidar tão de perto com a morte quando não sabia nada sobre a mesma, descobrir causas e mistérios escondidos em simples tecidos e sistemas complexos. As duas mesas de necropsia brilhavam sob a luz amena, as geladeiras que cobriam a parede do fundo estavam perfeitamente polidas, aquele minúsculo cômodo decidia a causa da morte dos cadáveres que passavam por ali. Mas por que não conseguiu descobrir quem matara o seu amor? A melhor parte de si. 

A porta foi aberta e Bae voltou à realidade. Kang Haekyun entrou distraído e aproximou-se. 

— Disseram que você queria me ver… — comentou baixo, jogando os cabelos de lado. O maxilar estava cerrado como se estivesse apressado e descuidado. Vestia uma camisa de botões preta e uma calça jeans da mesma cor, finalizando com tênis esportivos, era só um garoto. 

A mulher sorriu e levantou-se. 

— Me disseram que você levou um tiro! — exclamou com seus olhos de águia varrendo a expressão dele. 

— Na verdade foi no colete…

— Quero ver! — Ha-Neul interrompeu e deixou a cabeça cair de lado de forma petulante. 

Haekyun a encarou por alguns segundos com um sorriso surpreso, mas não questionou, desabotoou a camisa e expôs o ferimento. Apesar do colete à prova de balas, um círculo meio oval de cor roxo esverdeado estava pintado no centro de seu peito. Bae aproximou-se mais, encarando-o como um crítica feroz, seu dedo indicador tocou a ferida, fazendo pressão sobre. Kang franziu as sobrancelhas. 

— Isso dói! — avisou desconfortável, além de o dedo estar gelado era incômodo lembrar da sua vida passando diante dos olhos. 

— Eu sei! — a legista respondeu baixo. Ele não fazia ideia do que a mulher estava fazendo. Olhava, media, comparava, pensava… — alguns centímetros para cima e eu estaria fazendo sua necropsia agora! — ponderou com um sorriso sombrio e pôde ver Kyun engolir em seco. Afastou-se e cruzou as mãos, exibindo uma expressão pensativa. 

Haekyun fechou os botões da camisa tão escura quanto seus olhos e esperou ser dispensado. 

— Foi o mesmo modelo de arma que matou Hyuri Jin! — determinou séria e virou-se, seus vestido longo laranja moveu-se como penas no ar e seus saltos ecoaram no silêncio confuso de Kang. 

— E falou isso só olhando essa marca deformada? — indagou sarcástico. 

— Eu não brinco em serviço! — esclareceu com um ar orgulhoso e coçou a nuca. — Pode ir! E se encontrar com o meu ajudante negligente no corredor, diga para ele correr ou será mais um corpo envelopado! — acrescentou irritada e caminhou em direção a geladeira, onde o nome Brandon Shin estava escrito. 

Haekyun riu baixo e assentiu, reverenciou-se e saiu da sala. 

O rapaz subiu as escadas e de repente parou de andar, parando em frente a sala de provas. Olhou no relógio de parede e então apertou os olhos. Precisava pegar a caixa logo, quanto antes o fizesse, mais rápido saberia de informações, o futuro da família do Sargento Kim dependia daquilo. Levou a mão a maçaneta, porém não girou, seu olhar levantou-se para a câmera que o filmava e sentiu-se como uma criança que tenta roubar chocolate do mercado. Já fizera coisa pior, lembrou-se com certa dor. Teria que se livrar das gravações também. 

O plano parecia perfeito, roubar a caixa de provas do Caso Cinzas, durante a troca de turno do policial que cuidava, apagar a gravação na sala ao lado e correr para o carro, no fim da tarde quando saísse da delegacia, iria direto para o Céu, e selaria o pacto com o diabo. 

Abriu a porta antes que pudesse pensar em desistir, caminhou apressado pelas prateleiras intermináveis, em direção ao ano correto, na letra correta. Passava o dedo pelas estantes e se concentrava, uma adrenalina corria em suas veias. Sabia que se o pegassem roubando teria que deixar o distintivo sobre a mesa da Capitã. Não queria vê-la decepcionada, apostara tanto em si, não podia ser pego. Achou o ano e com um suspiro de satisfação, correu os olhos pela caixa. 

— Cinzas! — sussurrou ao encontrá-la, tocou-a um pouco nervoso, contudo no momento em que capturou-a entre suas mãos soube que algo estava errado. Apoiou-a contra a prateleira e a destampou. Seus olhos se arregalaram e o coração acelerou de forma nada saudável. 

Estava vazia. 

Engoliu em seco e devolveu ao lugar, afastando-se confuso e passando a mão pela testa como se suasse frio. Alguém tinha colocado as mãos nas evidências antes. Não queria ser pessimista, mas seus pensamentos perguntavam se Cinzas não tinha mandado um infiltrado, ou o Sargento decidiu enfim fazer aquela troca absurda… Sua cabeça girou. 

Kyun correu para fora da sala sem fôlego e se enfiou no banheiro masculino. Não podia ser. 

 

Antes de serem liberados para o horário de almoço, Bae Ha-Neul os comunicou para ir à sala 7, tinha o resultado da necropsia de Brandon Shin. Assim que abriu a porta todos ficaram em silêncio, esperando ansiosos pelas informações. 

— Como o esperado, a causa da morte de Brandon foi ferimento perfurante na região central da testa, causada por um pistola 9mm. O mesmo modelo foi utilizado para matar Hyuri Jin e atirar em Kang. — Bae explicou e entregou uma cópia do relatório para Jun-Myeon. Entregou algumas fotos para os outros policiais. — Encontrei essa tatuagem no pescoço dele, pode ser que signifique alguma coisa! — continuou argumentando e parou perto do quadro de evidências de braços cruzados. Seus olhos varreram o ambiente em busca de qualquer expressão que evidenciasse que aquilo era útil. O vestido colado, delineava sua cintura em uma profunda curvatura e posicionada de braços cruzados e de olhos impassíveis se tornava uma estátua renascentista. 

Im Him Chan franziu as sobrancelhas e tirou o celular do bolso, encontrando a foto que tirara de um capanga e comparou-as. Era idêntica. 

— Deve ser o símbolo de Cinzas! — Him Chan comentou e virou a tela para os outros. 

— É quase como se estivesse marcando o gado! — Hwang Gi ponderou com os olhos fixos nos traços da tatuagem. Limpos, retos e sem detalhes, feitos para marcar muitos pela praticidade do desenho. 

Do outro lado da mesa, Haekyun engoliu em seco e lembrou-se de quando seu pai recebeu  a tatuagem. Era a marca eterna. Algo que sempre o lembraria sobre seu passado. 

— A prisão costuma ter arquivos sobre as tatuagens dos detentos, Tenente Chansung e Hwang Gi poderiam procurar por algum deles que queira falar conosco? — O Sargento perguntou, mas na verdade estava designando o que eles iriam fazer. Os dois assentiram levemente constrangidos, porém isso não foi notado pelos outros, pelo menos não de forma explícita, mais como um relance de sentimento confuso que compartilhavam. 

 

Os olhos de Yoo In Na estavam fixos na tela do computador enquanto os dedos redigiam alguns documentos antigos. Era a hora de finalizar os assuntos que estavam pendentes, não imaginava qual seria o futuro da força-tarefa, muito menos de seu emprego, por isso, queria deixar tudo arrumado para o próximo capitão se fosse o caso. Em seus pensamentos passavam um turbilhão de informações, pessoas para quem deveria ligar, agradecer, comunicar, talvez um descanso fosse vir em boa hora. 

— Que bela força-tarefa que foi montada! — Gyun Soo invadiu a sala de forma informal e maldosa, assustando a mulher. — Parece até o clubinho dos desajustados: gays, criminosos, detetives… apenas crianças que não sabem onde estão se metendo! — acrescentou perverso, arrumando a gola de sua camisa. 

O sangue de Yoo In borbulhou, às vezes a vontade de esganá-lo era quase maior que a sua sanidade mental. 

— Sinto muito, Policial Gyun, todos são qualificados e aptos, está ressentido por não ter recebido um convite, deveria falar com a nossa psicóloga! — A Capitã exclamou séria e se levantou, mantendo a postura ereta em uma clara defesa. 

— Estou extremamente irritado que o Comissário tenha permitido essa pouca vergonha. Mas isso logo vai acabar, assim como sua carreira…

— Não entendo onde você deseja chegar! Estamos falando de uma família que foi raptada, como pode ser tão insensível? — perguntou exasperada e passou a mão pelo cabelo, levando alguns fios para trás da orelha. 

— Na Academia tudo bem, sempre que mulheres batem o recorde dos homens elas se destacam, mas você não merece nada disso Yoo In Na! — Gyun Soo esbravejou e se aproximou com um olhar ameaçador. — E foi exatamente por isso que eu fui atrás de mais histórias, aquela jornalista… Sakura! Ah, ela é muito esperta! — continuou malicioso e naquele momento estava muito perto de Yoo, quase tocando-a.

A Capitã levantou o celular com a tela virada para o homem e pausou a gravação de voz. 

— Você tem exatamente três segundos para sair da minha sala e levar essa sua boca imunda com você! Jamais me ameace novamente! Nunca mais entre aqui dessa forma e falando informalmente comigo! Eu sou sua Capitã, goste você ou não! Aproveite para passar o resto do dia em casa, está precisando clarear as ideias! — aconselhou séria, com aquele tom gutural velado sob o timbre aveludado de sua voz e olhos castanhos inocentes. 

Gyun Soo a encarou irado e os dois disputaram a vitória, em uma briga na qual já era claro o vencedor. De queixo erguido, Yoo In Na se manteve firme, focada com o fogo de suas orbes naquele homem. Ele abaixou a cabeça em desistência e se retirou. A Capitã caiu sentada, sentindo os olhos queimarem e o coração acelerado quase quebrar suas costelas. 


 

Não era que Kang Haekyun estivesse desesperado, ele estava, na verdade, extremamente preocupado. Se o Sargento tivesse entrado em contato com Cinzas e se rendido àquele trato poderiam estar envolvidos em mais problemas. O rapaz sentia-se tão confuso que ao pegar a motocicleta seguiu sem rumo pela avenida e quando se deu por si estava estacionando em frente ao Céu, como se D’or pudesse lhe dar respostas satisfatórias, ou sanar aquela dúvida, se tinha tantos infiltrados assim na gangue de Cinzas, saberia. Como ela mesma dizia ser onisciente. Tirou o capacete e balançou a cabeça para espalhar seus fios selvagens no vento, seu perfume forte espalhou-se pelo vento como pétalas e Kyun olhou para o letreiro brilhante. 

Ao entrar foi recebido pela música baixinha e um sorriso do barman que parecia tê-lo reconhecido. Seus olhos varreram o estabelecimento em busca da mulher de cabelos loiros. Os olhares se encontraram em tudo pareceu congelar. 

D’or que estava acompanhada de outros homens e ria familiar, o encarou com uma sobrancelha arqueada. Estava diferente, o cabelo se derramava em cachos pelos ombros e a maquiagem lhe reservava um tom misterioso. A mulher falou alguma coisa escondendo a boca para que Haekyun não visse e se levantou, indicando uma mesa. Vestia um terninho preto, bem passado e o blazer estava apertado na cintura por um cinto grosso de forma despojada. Chefes da máfia deveriam se vestir assim, Kyun pensou. 

— Voltou cedo! — brincou com um sorriso e sentou-se no canto sob o olhar atento de Kang. 

— A caixa sumiu! — Haekyun foi direto e como se fosse da casa chamou o garçom.

D’or riu baixo e apoiou os cotovelos na mesa. 

— Não sumiu! Ela será entregue para mim esta noite! — exclamou sarcástica. 

Haekyun deixou que sua expressão confusa ficasse totalmente à mostra e abriu a boca para contestar.

— Você me enganou? Quem vai vir entregar a caixa? — perguntou incrédulo e assim que o copo de bebida foi entregue, virou-o de uma vez só. 

— Está fazendo as perguntas erradas. — aconselhou com um suspiro e analisou o menu. 

Aquele ato era chamado de domínio ativo, algo exercido por poucas pessoas pois manter a atenção de outra sobre si, mesmo quando parava para fazer outra coisa, não é uma tarefa fácil, mas D’or aprendera muito com Cinzas, o suficiente para destruí-lo e tomar seu lugar, algo que faria futuramente e com maestria. 

— O problema de se envolver com pessoas como eu quando se vive em um meio no qual a honestidade é essencial, é que vocês ficam cegos para o resto. — continuou após decidir o que iria comer. — Em algum momento pensou nas consequências para todos? Ou estava tão desesperado em sanar a dor de Jun-myeon que esqueceu qual é o meu trabalho? O Sargento terá sua família de volta, mas todos os que aceitaram o trato que eu propus ficarão me devendo! — acrescentou exausta e bebeu um gole de vinho para umedecer a garganta. 

Haekyun a encarava boquiaberto, não conseguia saber o que sentir, se deveria ser ódio, medo, confusão, dor…

— Então quando eu vim até você, desesperado para fechar o trato já tinha falado com outras pessoas? — Kyun perguntou sem fôlego. 

— Exatamente! Se você fosse um pouco menos impulsivo, não teria se envolvido nisso! — D’or concluiu com um sorriso cínico que cortou Kang por dentro. 

Ele havia se esquecido de como as pessoas funcionam, de como os ratos se escondem e as cobras rastejam. Enfim tudo ficava claro, seu sangue estava em um livro de contratos sem nenhuma pretensão, apenas por seu egoísmo e necessidade. Os lábios tremeram de nervosismo. O garçom se aproximou e entregou um prato de macarrão ao molho Caprese e D’or sorriu admirando o alimento, após uma garfada generosa, olhou para o rapaz. 

— A força-tarefa deveria se chamar Eight Ball, tipo a bola oito da sinuca, afinal é ela quem decide quem ganha e quem perde, é ela quem determina a jogada final. Só vocês têm esse poder! — anunciou com um tom amigável e observou Kyun sob seus cílios longos. 

Àquela luz amarelada parecia até inocente, como podia ter caído no joguinho de D’or? 


 

Hwang Chansung abriu a porta da sala de descanso com o cotovelo e empurrou-a com as costas, aproximando-se da mesa que residia no centro da sala. O ambiente estava escurecido pela noite que brotou devagar e passou despercebida. Os papéis se acumulavam em pilhas sobre as outras cadeiras. Hwang Gi estava sentado no sofá pouco confortável e massageava os pés. 

Chan caminhou em direção a mulher e entregou uma xícara de café, sentou na cadeira à sua frente, analisando sua expressão cansada sob a luz da lâmpada trêmula. 

— Você está bem? — perguntou preocupado. 

— Claro que sim, é normal sentir dores nos pés após passar o dia todo de salto! — Gi explicou em um tom sarcástico que fez Chansung rir. 

Ela dedicou-se a explorar os olhos castanhos profundos do homem e a notar seus movimentos, ele não tinha mudado nada, pelo menos no exterior. Quando se conheceram, naquele momento a Hwang lembrava como se o fato tivesse acontecido há séculos, nenhum dos dois tinha a mínima certeza do que o futuro reservava e devotaram-se a viver o presente. A partir do momento que a porta se fechava e era apenas os dois dentro de um cômodo claustrofóbico o mundo lá fora parecia parar, a chuva deixava de pingar da beirada do telhado, os carros ficavam silenciosos e os toques se tornavam o único caminho no qual ambos podiam ser felizes. Um mundo próprio, era como cair na toca do coelho. Apesar de ignorar os pensamentos, eles permaneciam frescos na memória de Hwang Gi; como Chansung era bom em fazê-la rir, suspirar, pedir para que não fosse embora, ou que só ficasse ali ao lado dela por mais cinco minutos.

— Se quer que eu faça uma massagem é só pedir, não precisa ficar me encarando! — o Hwang comentou petulante e largou sua xícara de café fumegante sobre a mesa. Deu dois tapinhas sobre seu joelho, erguendo as sobrancelhas de forma engraçada. 

A princípio Gi rejeitou a ideia, estavam em ambiente de trabalho, em um momento no qual deveriam estar procurando por uma tatuagem dentre todos aqueles arquivos. 

— Cinco minutos de descanso não vão fazer mal… — o homem continuou ao notar seu olhar sobre a mesa. 

Por fim ela cedeu, esticando seus pés sobre as pernas de Chansung e recostando-se até ficar confortável no sofá. Fechou os olhos, sendo teletransportada para milhões de anos antes, sentindo a fragrância das velas aromáticas que tanto gostava, a água correndo pela torneira para encher a banheira, o som do vinho caindo na taça. Até ser interrompido pelo toque do celular do Tenente. 

O homem observou o número e sua expressão mudou drasticamente, levantando-se e caminhando para perto de uma das janelas. 

— “Estou à sua espera, Tenente!” —  a voz feminina disse. 

— E eu estou a caminho! — respondeu sério e olhou por cima do ombro para Hwang Gi. 

Pensando no quanto gostaria de continuar naquele momento, ver a mulher que tanto gostava com outros olhos, saber que enquanto observava-a ela fazia o mesmo, como se o romance que vivenciaram nunca tivesse acabado. Mas com dor teve que deixá-la, pois suas prioridades clamavam. 

 


Notas Finais


E então? O que será da pequena 8ball? <3


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