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História 9 meses - O olho do furacão


Escrita por: Walflarck e AnneSadWalker

Notas do Autor


Olá, estamos reativando finalmente o projeto depois de um longo tempo obscuro. Esperamos que gostem da continuidade.
Previamente desculpem qualquer eventualidade com o texto.
Sem mais delongas.

Obs: capítulo pode conter cenas que podem despertar gatilhos.

Boa leitura ❤️

Capítulo 17 - O olho do furacão


Fanfic / Fanfiction 9 meses - O olho do furacão

O delegado Poe Dameron era um sujeito muito respeitado em seu campo profissional, mesmo sendo originalmente de uma cidade do interior do Texas pouco conhecida, foi incorporado como um chefe na DP 765 de Nova York com pouco tempo de serviço, após a eficiente graduação na grande metrópole. Tinha inúmeras atribuições dentro da polícia desde que assumiu a responsabilidade como um chefe, mas sua especialidade seguia na investigação de pessoas desaparecidas. 

Poe havia há pouco dias terminado, inclusive um intrigante caso sobre uma menina de 9 anos que foi sequestrada por um vizinho a menos de dois dias.  Um caso complexo, que necessitou de muito empenho para encontrar os caminhos obscuros e corretos, assim como descobrir que infelizmente a menina Sandra já estava sem vida e seu corpo dentro de uma mala… A investigação sobre o caso foi bem difícil, uma vez que as pistas pareciam sem contundência alguma. Surpreendente. No entanto, para os agentes que trabalhavam com o empenhado delegado no caso, o cruzamento de algumas informações identificou o culpado do caso de homicídio. Dameron descobriu que os fios faltantes das cortinas da casa do suspeito mais improvável eram compatíveis com os encontrados amarrados a mala que estava com o corpo da criança. Depois disso, foi somente questão de tempo para remexerem nos utensílios da cozinha e encontrarem o DNA da menor espalhado pela casa, levando assim a prisão do homem que confessou o crime.

Ele detestava as conclusões, os fechamentos de casos com tragédia como no caso de Sandra. Para a maioria das pessoas era um circo dos horrores, para outros um mero dado estatístico. Porém, Poe Dameron sempre se viu frustrado por isso. Seu objetivo era encontrar saídas, soluções e salvar vidas, tal coisa, foi o motivo pelo qual se dedicou muito jovem a trilhar uma carreira no campo de investigação.

Agora, no entanto, o homem do interior do Texas que construiu uma carreira espetacular havia recebido mais do que um mero caso. Recebeu um desafio ao notar a imagem da mulher que estava na mesa com a palavra "denúncia" sobre o topo da página impressa. 

Os anos que ele havia deixado de lado tornaram a voltar, e o investigador não precisou pensar duas vezes antes de assumir para si toda a responsabilidade sobre o caso do desaparecimento de Rey Johnson. 

Quando mais novo, ele foi apaixonado pela colega na escola, mesmo que fosse mais jovem do que ele, alguma coisa sempre chamava a atenção dele sobre a moça de olhos verdes, e apesar da constante rejeição que sofria nunca a esqueceu.

Sendo assim, toda a inconveniência tornava o caso não somente peculiar, como também pessoal.

O destino era louco e mais uma vez, o testava e colocava diante dele alguém impossível de superar... Logo, Poe, aquele que jurou a si mesmo que a havia esquecido aquela ideia de fazê-la um dia sua esposa.

A partir daquele momento todas as determinações se foram, lembranças retornaram a mente e ele soube que aquela não seria uma investigação qualquer que o destino lhe deu, seria um resgate de alguém com quem se importava, um alguém que, com uma foto, tornou a invadir o seu mundo até então estruturado.

Por um momento, o investigador pensou nas inúmeras famílias as quais um parente fora roubado, vidas que jamais voltariam. Ele temia que isso ocorresse com ela… o Ele não permitiria, aquele não poderia ser o seu pesadelo.

"Recebemos pela manhã" um dos agentes que estavam na sala discrimino o conteúdo, de modo contundente.

"Pensamos em caminhar ao FBI..." outro mais baixo, ao lado do primeiro acrescentou.

Dameron franziu as longas e grossas sobrancelhas com as palavras, avaliado o melhor método de lidar com os seus subordinados.

"O FBI, não se envolveria com esse caso" advertiu mantendo seu tom eloquente, procurando saídas para justificar que o caso deveria permanecer em suas mãos. "Eles apenas investigam ocorrências de desaparecimento em casos envolvendo um serial Killer". 

"Nós achamos que poderia ser repassado como tráfico de influência." O homem mais alto do trio que tinha mais cheias de cicatrizes avaliou em contraponto.

"O investigador Reds está certo" o mais baixo concordou. "Pelo que direciona a denúncia, o homem envolvido é Ben Solo" remexendo as folhas brancas, outro se mostrava confuso.

"Não há provas conclusivas ainda." Poe estava são apesar de seu interesse pessoal no caso, algo que ninguém além dele, conhecia. "Até termos certeza sobre a questão, nós como a polícia comum, devemos assumir o caso." Decretou como se não estivesse disposto a negociar qualquer apontamento.

"Por onde devemos começar então?" outro que havia ficado calado aguardou as ordens subsequentes. 

"Bom, eu mesmo farei as buscas pelo tal Ben Solo" ele fez uma pequena pausa. "Quanto a vocês." Se direcionou aos dois "Eu preciso que direcionem-se a um lugar mais específico." 

Poe já havia lido as informações disponíveis mais de cinco vezes. Havia avaliado todos os apontamentos em marca texto de que lugares deveriam ser averiguados, assim como possíveis pessoas a serem questionadas com interrogatórios.

"Aqui está" ele entregou as folhas para os dois agentes. "Podem começar com base nisso"

Eles assentiram e saíram em seguida.

Era assim que deveria ser.

Ninguém mais além dele tinha a tarefa de investigar a vida do homem que foi acusado pelo crime, e Poe prendeu a respiração quando leu tudo sobre Ben Solo, o dono da Falcon Airlines, que parecia encaixar na personalidade distorcida de muitos homens com quem teve o desprazer de se deparar. Isso não necessariamente o faria um psicopata, mas de fato o tornava um suspeito forte para qual as provas se viravam facilmente se houvesse a adição de outras estruturas no caso.

As abordagens teriam que ser firmes, ele não tinha tempo a perder. A vida de Rey estava em jogo.

Gregoriano Snoke era um homem ambicioso e isso não era uma informação confidencial para ninguém, assim como não era segredo que era um homem articulador e antiético que não se importava com outras pessoas quando queria atingir seus objetivos. Mas o que ninguém de fato sabia era que, apesar de todo seu modo duro, determinação e dinheiro que garantia poder, Snoke possuía um complexo incompreensível com a figura de Ben Solo. 

Seu olhar sobre o herdeiro legítimo da companhia Falcon Airlines, é antigo, desde que o viu pela primeira vez. Foi tão intenso os sentimentos despertados que se tornou uma espécie de doença. Com o tempo querer de certa maneira assumir a identidade de seu rival o deixou-o inclusive mais violento para atingir o objetivo de assumir a cadeira da presidência de uma companhia que nunca teve relação familiar com a dele.

Observando aquela moça deitada sobre uma cama nos moldes hospitalares, o interior corroído de Snoke pela primeira vez se derramava de satisfação. Por anos procurou maneiras de estar por cima, mas sempre estava frustrado… Agora, diferente de antes, podia sentir-se o completo dono do jogo de poder. 

Olhando a face adormecida desprotegida pensava em como Ben Solo estaria naquele momento. Pela dedução o rival estaria enlouquecendo pela falta de notícias sobre a moça sequestrada e sobre a falsa acusação que articulou milimetricamente.

Snoke era um homem de mente perigosa, não havia dúvidas. Não havia também como negar que tamanha periculosidade foi o que o fez articular o plano perfeito, por conseguinte o êxito esperado. 

Convencendo Karé a ir a firma não se sentiu dolorido pela conexão dela com Ben, afinal, a própria esposa nunca passou de um mero peão assim como todos os outros envolvidos, que permaneciam a ser movidos dentro de imenso tabuleiro de xadrez dele que seria o verdadeiro mestre da manipulação.

Articular com 'amigos de negócio' a comprar do fornecedor da Falcon foi a parte mais fácil, destacaria. Depois disso a última parte do plano, onde mandou diretamente a delegacia a tal carta de modo que cairia nas mãos de Poe Dameron, ou melhor, do delegado que no passado teve forte ligação com ela... Ele poderia nem saber disso se não fosse pela moça interiorana chamada Connix com quem o tal enfermeiro  espião se encontrou após o fracasso de espionagem direta. 

Snoke gostou de descobrir o quanto a loira traidora adorava dinheiro, e mais do que isso, o quanto a suposta amiga de Rey adorava falar dela. Foi assim que Snoke conseguiu extrair tudo que queria e bolar planos para acabar com o relacionamento que nem bem havia ingressado há patamar conclusivo.

Costurando os enlaces como quem tece ouro e linho a roupa de um rei, o acionista então localizou Poe Dameron, que para sua surpresa já trabalhava em uma DP de Nova York.

"Você quem dificultou tanto as coisas." Confessou para a sua vítima desacordada.

Mirando os olhos fechados não sentiu compaixão por ela, mas tocou a face macia da mulher como se fosse um aviso. 

Todos os seus planos quase haviam sido arruidos por aquela pessoa indefesa, porém agora ironicamente ela virou o trunfo. Enquanto a tivesse em seu poder tudo estaria sob controle, Ben Solo mais especificamente permaneceria onde precisava estar.

Deslizou os dedos pela pele alva de Rey, tocou os fios castanhos e os cheirou. O cheiro era diferente, simples, mas algo em seu âmago o inquietava ao senti-lo. Saber que ela era tão importante para Ben o fazia sentir que tocava o próprio poder de controlar seu inimigo…

"Então, o que você fez com ele?" O sussurro foi próximo ao ouvido dela, só que a moça permanecia sem capacidade para responder. Estava completamente sem ciência. "Preciso saber, Rey…" O nome dela saiu de modo diferente de sua boca, mais aveludado, um tanto malicioso.

Snoke continuou concentrado, obcecado pela passividade apresentava no corpo inerte. Deixou que a mente formulasse um milhão de coisas, desde que soube que Ben e ela tinham divido um quarto no Texas, claro que na época era diferente, eles estavam tentando uma inseminação até onde sabia. Mas ao vê-los juntos na festa rompeu uma barreira que nunca pensou. Não eram somente as circunstâncias pelo que analisou, eles de algum modo eram muito próximos.

Afinal, o que eles fizeram juntos e sozinhos? Quantas vezes haviam feito se era o que ele deduzia? Considerar as possibilidades o deixava febril e do pior modo possível... Sim... A imagem dela não era como ver uma pessoa comum aos olhos dele, Rey Johnson estava sendo encarada naquele instante mais como um objeto pela sua forma impiedosa, invejosa e obsessiva… 

Cavando nas frestas de cada pensamento, Snoke estava se arrastando pelo espaço até restar a impotência e o poder nas suas mãos. Quem testemunharia contra ele se fizesse qualquer insanidade? A sua forma de pensar que sairia impune de qualquer atrocidade contra Rey o deixava mais corajoso, com as sensações o dominando como fogo. Era uma sensação diferente do que sentiu quando seduziu Karé, porque Rey diferente dela tinha o coração de Ben...

"Você precisa ser minha" Snoke sentiu o estômago queimar com as palavras que dizia, os dedos desciam pelo braço de Rey e ele segurou sua mão, colocou a boca sobre as costas macias. Inalou de novo do perfume e mordeu levemente a pele bronzeada para depois então chupar a localidade como se imaginasse a própria boca da garota na sua.

Os sentidos se aguçaram, os desejos vieram para fora, porém ele não estava sozinho. Alguém assistia-o rastejar sobre a garota como se ele fosse uma cobra que desejava engolir a presa.

"O que está fazendo?" A voz da esposa o atingiu com surpresa. 

Não, desta vez não foi o seu crime mais perfeito. Quando se virou, Snoke soube, ele leu que os seus pensamentos distorcido com a mulher foram lidos pela sua esposa...

"Achei que estivesse em casa, depois de dizer que estava louco." Fugiu ao assunto.

Se aproveitou a fragilidade da situação, afinal eles haviam brigado justamente por causa do sequestro da garota. O olhar recriminatório que o fuzilou não havia mudado desde então... 

Karé logicamente não suportava o que o marido estava fazendo, talvez se ele tivesse revelado as reais intenções, sequer teria contado com ela disposta a colaborar com o plano desde o princípio. E ele sabia que não era falta de apoio por ciúmes, porque o que a levava a olhá-lo assim era mais profundo.

Karé era interesseira, ambiciosa, também tinha uma vasta lista que não a colocaria como uma mocinha em um conto de fadas, porém naquela circunstância específica sabia que as atitudes do marido estavam indo contra o pensava sobre a vida e sobre as pessoas. Ela jamais machucaria fisicamente terceiros independente de suas motivações, esse inclusive, foi um dos motivos que a levou a trilhar a carreira de enfermagem… Salvar as vida das pessoas.

"Não pense que minha presença muda o que penso. O que falei nunca esteve tão certo."

Escutando a comprovação de outra repreensão, Snoke se levantou impaciente, bruto e rápido. O olhar queimando com fogo a face morena da loira de olhos expressivos.

As respirações se agitaram uma contra a outra... Próximos e ao mesmo tempo tão distante na alma.

"Se encostar um dedo que seja nessa mulher, o valor para barganha diminui..." Karé precisou ser esperta.

Não era do tipo que nutria quaisquer afeto especial por Rey, mas a empatia permanência sobre a situação, pois também era uma mulher. Considerar esse tipo de agressão causava calafrios.

"O que sabe?" Ele colocou como se fosse loucura da parte dela levantar qualquer suspeita.

"Estamos casados mais tempo do que pode querer. Vejo em seu olhar suas intenções, mas ela não sou eu." As palavras não terminaram, ainda assim, ele captava a insinuação. Seria burrice negar. "Se Solo sonhar que você sequer pensou em encostar nessa vadia, tudo será posto a perder…"

O homem soltou um som de desdém.

"Diga o que quiser. Negue. Porém no fundo sabe que se quer garantir que ele faça o que deseja... É melhor agir com a cabeça, não sentidos de impulsão." Alertou. "Você é inteligente, astuto. Está prestes a ganhar esse jogo. Não coloque tudo a perder."

A fera então foi domada com as palavras, e o monstro ocultado novamente pela ação de sua mulher.

Snoke nada disse após o ato, apenas se afastou da esposa e a deixou sozinha no silêncio do quarto com baixa claridade, olhando para a mulher que jamais saberia que tinha sido salva por ela.

Foi uma pequena vitória para um oceano chamado guerra, ainda assim uma vitória que não se podia negar o esforço.

Assim, Karé observou a moça, pensando internamente em como ela poderia ajudar a vítima. Ela seria a tela invisível de proteção, a única coisa capaz de manter os planos de Snoke dentro do aceitável, a linha que não levaria a desgraça irreversível.

"Logo, você poderá abrir seus olhos" ela sussurrou.

*

As paredes eram nuas, frias, sem vida. Nenhum aspecto inclusive ousava fazer contraponto da visão como o piso frio e os vidros que cercavam o quarto que lembravam o de uma UTI. Ela acordou e se deparou com aquela realidade que mais parecia um filme de terror, um sonho ruim ao qual ela depois de lutar por horas se encontrava exausta demais.

Os gritos haviam cessado a pouco mais de trinta minutos ao ver que apesar de todo o esforço ninguém chegava em seu socorro. Agora no corpo permanecia apenas o sintoma de garganta apertada, dolorida e que ardia em protesto contra sua medida desesperada. 

Nos olhos, a moça reclusa que estava presa mantinha então somente as lágrimas de quem implorava por outro alguém, alguém que sempre tinha o poder de sanar suas tristezas com braços apertados… Lembrar-se dele era tão real que podia jurar que sentia o perfume característico de um corpo quase duas vezes maior que o seu. Adicionando assim as recordações também dos movimentos da língua insaciável dele.

"Ben…" A voz quase não saiu, o sussurro quase não se ouviu para mais de uma milimétrica escala.

Era apenas ela ali, e Rey precisava encarar essa realidade quando batia os olhos na parede fria, as mãos tocando no material sem entender o motivo da prisão.

Não havia ninguém além dela ou da cama… Era difícil entender o que acontecia, quantas horas haviam se passado. Impossível precisar o tempo, quando ele não se registrava em canto algum… Não havia dia ou noite… Apenas as luzes em sua cabeça e o entorno esbranquiçado e vazio.

Os poucos ferimentos que existiam tinham traços de tratamento. Detectou também nos braços furos e dores que não sabia a proveniência, de como houve ou porque houve.

Se para Ben Solo que estava lá fora existia a angústia da espera, na mente de Rey habitavam medos, dúvidas e preocupações... Contextos opostos, equilibrando e convergindo para os mesmos caminhos.

Enrolou-se em uma posição fetal quando não mais podia olhar as paredes. Murmurou meia dúzia de adjetivos incompreensíveis, palavras que soavam como uma prece, uma oração para a resgatassem de seu calvário.

Onde estaria Ben? Quem a levou naquele carro? Os flashes das cenas voltavam para aquele momento fático, e nada na mente indicava soluções para a perturbação que se instalava pelos questionamentos.

Neste tempo acalorado e complicado, pensou ter ouvido a porta, mas apenas pensou, porque não houve movimento na linha metálica. Talvez eles quisessem matá-la de fome ou sede… Não!… Protestou em seu monólogo mental. 

Se a intenção dos raptores fosse matá-la, então já estaria morta. 

Descartou a primeira teoria mais rápido do que a formulou para repensar. O queriam exatamente? 

Rey continuou. 

Se sentou ao chão próximo a porta, o tempo era seu inimigo e ao mesmo tempo seu único consolo. 

Braços enrolados as pernas, joelhos no peito, queixo sobre as rótulas. Era uma prisioneira e essa era a única certeza que pairava em sua mente.

"Snoke...?" O nome foi proferido lento por Rey ao se recordar do que pensava ser as últimas horas, e a crescente de desespero continuou ali. 

Teria sido ele?

A sensação de impotência, raiva, resistência, medo. Tudo de uma vez invadiu o peito da mulher texana.

Enraivecida por se sentir uma idiota caindo na armadilha, cerrou os punhos com força socando a porta ao se levantar. Por Ben, ela não podia ser fraca, ela precisava mostrar que não era qualquer pessoa e que seria forte independente do que estivesse planejando, mas de algum modo mesmo com essa determinação, o seu interior se remoia com lágrimas que escapavam ao ver que nada acontecia além de que machucava a si mesma de novo e de novo.

"Ben!" O nome escapou entre uma das batidas "Alguém?" A voz tornou a ficar baixa outra vez. "Por favor…  Me deixem sair..."

Exausta, cansada ao extremo de lutar contra o invisível, duelar com o que não podia modificar novamente parou.

"Por favor…" Era frio, frio como se estivesse sendo coberta por gelo puro.

Afastou-se da porta, recuou três passos. Alguma coisa acontecia pelo que ouviu no aço e o inesperado aconteceu… Alguém entrou no espaço...

O coração de Rey subiu sua garganta, ela poderia ter corrido, porém a imagem da desconhecida figura a assustou. Grande, alta, magra, trajando uma roupa preta e um pano na face que não permitia com que visse mais do que os olhos verdes mais intensos que os seus.

"Precisamos que se acalme" anunciou a figura com uma voz feminina.

"Não… por favor… Eu preciso que me ajude" implorou. "Alguém me trouxe para este lugar contra minha vontade. Deve haver pessoas me procurando agora." Contou de seu modo agitado, com esperança que fosse um engano.

"Está muito alterada." Observou a pessoa desconhecida que permanecia em uma postura reta. "Não creio que esteja pensando corretamente. Vejo que se sente desorientada. Precisa se acalmar." Disse-lhe "Em parte a agitação também pode ser pelos dias que esteve em tratamento..." 

"Dias?" Ela murmurou impactada. "Que dia é hoje?"

Nos olhos da cuidadora dúvidas surgiam cada vez mais sobre a sanidade dela. Rey percebeu.

"Segunda-feira." Recordou-se "E a senhorita está aqui a 15 dias ou um pouco mais que isso…" 

O estômago de Rey deu-lhe uma sensação estranha. Era como se houvesse caído em pleno o vácuo. Era tantos dias que seria tempo suficiente para alguém ser considerado morto…

"Quem a contratou?" Antes de mais nada precisava ter certeza que tipo de pessoa aquela estranha era.

"No hospital geral falaram que você era uma paciente especial, precisando de cuidados médicos." O tom indicava o que Rey já suspeitava, que alguém havia inventado que ela poderia ter algum tipo de doença mental.

"Eu não sou louca!" Bradou em protesto contra a concepção que a outra fazia sobre ela. "Veja que absurdo falaram a você, é mentira!" O desespero foi emendado com uma suplicar ao mesmo tempo "Por favor… Me ajude a sair daqui. Meu nome é Rey…"

"Rey Jonhson" a mulher completou sabendo exatamente sobre quem era ela. "Eu sei, também sei que é namorada do CEO da Falcon Airlines."

Espere, Ben? Como a estranha saberia sobre ele?

"Se o conhece sabe que deve estar a minha procura" raciocinou. 

"Tudo que sei é que me pediram para cuidar de você. Agora fique tranquila ou irão cedar você de novo" alertou. 

Então Rey usou pela lógica a soma simples sobre os eventos, entendo assim o que significavam os furos em seu braço e que se mostrar contra seus raptores não geraria mais nada do que dor, ela precisava pensar... Se aquela mulher fosse ao menos esperta, talvez soubesse dos noticiários interminável falando de Ben e o tal sequestro, mas era leiga sobre a situação toda quando só vivia puramente para os pacientes da ala psiquiátrica, tornando assim o desfecho mais simples complexo.

*

Hux era a pessoa a quem Ben diria que era mais próxima dele antes de Rey e tinha certeza de poder confiar qualquer tarefa a ele. Também sabia que, se ele estava livre da cadeia após o interrogatório da polícia que ocorreu a mais de 15 dias isso em grande parte se devia a competência e comprometimento de seu melhor amigo.

Mas apesar de toda a circunstância, e de estar livre pela falta das provas concretas sobre o desaparecimento da Texana, a situação não ficou menos caótica. Constantemente, agitado, Ben estava irreconhecível por causa das preocupações geradas pelo sumiço de Rey. A empresa passava a ter a aparência de uma gota dentro do oceano que a ausência dela gerava, o engolido pela escuridão.

Ben começava nas semanas subsequentes ao desaparecimento a sair pelos lugares, dirigir sem rumo como se um milagre fosse ocorrer em sua vida, como se Rey fosse aparecer em uma esquina qualquer e entrar em seu automóvel. Lógico que ele sabia que essa teoria era ridícula, assim como o fato de que não dormir e não comer a vários dias de modo decente não ajudaria a solucionar mais rápido as questões jurídicas, investigativas ou a situação de disputas de poder na Falcon. 

Estava virando algo menos que um humano, a aparência magra, barba por fazer, roupas amassadas, cabelo bagunçado. Ele até mesmo acabou sendo afastado forçadamente da presidência e provisoriamente o cargo foi entregue a Amilyn Holdo, uma rasteira que nem Snoke poderia esperar.

A avaliação pareceu muito emergencial para a crise que a Falcon começou a apresentar quando teve o principal acionista envolvido em um escândalo e Snoke se encontrava afastado devido ao diagnóstico médico sobre a fratura da face…

"Ainda não terminei de avaliar o último relatório Hux" Ben disse ao ouvir a porta do escritório ser fechada sem sequer levantar a cabeça. Estava a horas preso na mesma página batendo a caneta na folha, um tic que não parou e se agrava a cada dia mais irritando até Hux, que por vezes sai da sala para deixá-lo sozinho com aquela mania sem fim.

As investigações sobre Rey não avançavam também, o que não melhorava o seu estado, já que e os dados coletado com o motorista que foi encontrado quase morto na garagem do seu prédio não foi tão útil como ele ou os investigadores da polícia poderiam querer.

Tudo foi tão bem arquitetado que parecia não haver falhas para solucionar o caso, mesmo Poe Dameron parecia estar andando em círculos a pelo menos vinte dias desde o registro de denúncia.

"Você está péssimo, mas fique despreocupado. Eu não vim falar do seu relatório. Talvez tenhamos mais coisas a discutir além do que você deve ou não assinar" A voz presunçosa de Snoke fez os olhos de Ben se dilatarem ao ver o intruso.

O curativo em seu nariz era bem menor do que lembrou ter ouvido falar por algum funcionário nos corredores do escritório. Os lábios estavam mais rosados e a expressão mais firme. De algum modo, o bom humor de seu rival não era um bom sinal, não para Ben.

"Achei que ainda estivesse de licença" a desconfiança sobre a aparição crescia com os passo de Snoke até a sua mesa, quando sem convite, ele parou a frente mantendo aquela postura sagaz.

"Você sempre deduz as coisas Solo, por isso que sempre está atrás. Deduções não são certezas" ele não entendeu bem qual o ponto Snoke queria chegar.

"Seja lá o que queria falar, não tenho tempo para isso" o homem mais alto proferiu querendo se desprender da conversa, não necessitava de mais tormentos em sua rotina já bem conturbada. 

Àquela altura, até Ben já havia desistido de teorizar que Snoke pudesse de fato ter alguma relação com o caso de desaparecimento de Rey… Claro que ele estava errado de se fechar para as possibilidades quando tudo continuava a ser uma constante estranha. Na cabeça dele coincidências não existiam, mas o tempo transcorrido era muito longo para ter sido Snoke quando este não se manifestava para impor condições.

"Pois eu teria mais atenção sobre isso" a voz fria fez Ben levantar a cabeça novamente. O prelúdio finalmente viria.

Escorou-se a cadeira usando uma expressão de poucos amigos. O tampo de sua caneta selou o bico azulado, então Ben girou o objeto entre os dedos, observando a expressão do homem de barba.

"Soube que o caso não foi solucionado ainda" jogou displicente.

"Do que está falando?" 

"A fazendeira que levou para festa dos acionistas e seu desaparecimento" Ben sentiu algo estranho pinicar sua pele pelas palavras. Porém àquela altura só pensava que o loiro usaria isso como provocação "Acho que em breve o caso poderá ser solucionado. A minha única dúvida é qual será o desfecho… Um milagre ou uma tragédia?" Ben se levantou em um salto disposto a ir até aquele homem, socar seu rosto de novo, ele não sabia se era deboche ou o começo de uma chantagem, só sabia que precisava saber sobre Rey.

E o homem que estava a frente dele então colocou um aparelho qualquer tecnológico no mesmo momento sobre o tampo da mesa do escritório, em um gesto súbito. Nele um vídeo começou a rodar com gritos exaltados.

"BEN! ME TIRA DAQUI!" 

Ele reconheceu a voz, pois reconheceria-a em qualquer lugar. Assim, seus olhos se arregalaram quando viu a imagem de Rey de uma perspectiva confusa. Ela socava uma porta, gritava, chorava e implorava por ajuda… A ajuda dele…

Ben não pensou quando os nervos explodiram juntando as peças. Agarrou Snoke pelo pescoço.

Se sentiu idiota de não ter ido afundo com sua primeira teoria, se sentiu mais estúpido ainda por ter caído no jogo do homem que dava uma risada preenchendo a sala ao ser agarrado por ele.

O jogo era doentio, a brincadeira era algo que jamais poderia jogar.

"Você entendeu finalmente, não entendeu?" As mãos de Ben estavam tremendo sob o pescoço do ardiloso homem enquanto sua mente maquinava em uma velocidade absurda.

Sim, ele havia entendido, porque finalmente se deu conta que estava nas mãos de Snoke, não importava o que tentaria fazer. Poderia tentar salvar Rey, mas machucar Snoke seria o começo para o fracasso disso.

"Muito bem" disse e arrumou a própria roupa quando Ben soltou seu colarinho. "Agora começamos a conversar" sorriu presunçoso. "Você quer salvar a garota, talvez mais do que isso. Você não quer ser acusado pela morte dela, ou quer?" 

"Onde ela está?! Miserável." Os dentes de Ben se apertaram involuntariamente com a chantagem e ele conteve a angústia crescente.

"A pergunta não é onde, e sim, o que você tem que fazer para trazê-la de volta com vida." O homem caminhou de modo elegante se sentando no sofá da sala de Ben como se fosse proprietário dos móveis alocados. Era ele afinal quem colocava as cartas na mesa.

"Sente-se, não gosto de tratar de negócios importantes de pé."

Sabendo que estava pisando em ovos, Ben se sentou como solicitado, ainda que estivesse em uma constante de alerta para não avançar sobre Snoke.

"O que você quer? A presidência?" Arriscou chegar ao fundo dos objetivos intermináveis do outro.

"Você é um homem muito simplista" o chantagista colocou os cabelos para trás ironizando a falta de percepção. "Isso será meu, naturalmente" pontuou com um sorriso debochado. "Para mim esse jogo permanece exatamente igual, porém para você existe diferenças."

A garganta de Ben se apertou, ele teve que reter todo o seu autocontrole para não esquecer que Rey era mais importante que o seu orgulho, sua empresa ou até mesmo sua vida.

"O que não te garante que eu não vou comunicar as autoridades agora mesmo o que sei? A polícia pode perfeitamente resolver isso." Uma expressão mais dura brotou de Snoke 

"Sabemos que você não vai fazer isso" o outro se levantou pegando o aparelho que havia ficado na mesa de Ben e colocou novamente para rodar em sua mão. Logo, a cada som de Rey no aparelho, ele desfrutava da agonia de sua voz como se fosse uma música clássica. "Sabemos que não vai fazer isso, porque não tem como me ligar a essa ocorrência. A polícia?" Falou emitindo outra ironia. "Você presume? Equivocadamente." Torna a dizer convicto.

As veias de Ben vibravam quentes, enquanto a garganta secava. Ele queria matar Snoke, queria o estrangular sem se importar se isso o levaria a prisão, mas ao lembrar de Rey como se a presença dela fosse real ficou vacilante.

"...Você não vai tentar me matar… Você não vai falar com a polícia sobre isso… Você não vai cogitar dizer qualquer coisa a qualquer pessoa, mesmo seu amigo ruivo que mais parece seu cão" Decretou. "Sabemos que isso não é viável a você, porque tem medo do que acontecer a ela se fizer essa burrice." 

Ben sabia que perderia tudo, incriminar Snoke não era uma tarefa fácil. Ele era esperto, e se queria salvar Rey deveria seguir o jogo do homem a frente pelo menos até formular um plano.

"O que você quer que eu faça?" Finalmente tentou se desarmar para entender a mente criminosa.

"Algo fácil." Snoke se inclinou para frente. "Vai deixá-la." 

"O que?" Ben pensou não ter ouvido corretamente, mas ele tornou a repetir:

"Vai deixá-la Solo. Abandonando assim qualquer intenção sobre aquele testamento idiota" então era isso? Tudo o que Gregoriano Snoke queria era que como herdeiro Ben deixasse a possibilidade de gerar um filho e claro deixasse assim a presidência exposta. 

De um modo ou de outro era sempre Snoke quem estava vencendo, pois no outro cenário Ben sabia que perderia a presidência e ainda perderia Rey… A acusação de um possível assassinato já estava articulada para manchar sua imagem para sempre… Mas Snoke ainda estava ali para dar uma escolha de salvar Rey, não porque ele fosse um ser humano normal e controlado. A real intenção do chantagista era se deliciar com o sofrimento de Ben, de algum modo, saber o matava exatamente como se fosse um paciente em estado terminal.

Ben também suspeitava que tampouco havia necessidade real de Snoke pedir isso ele, porque a última tentativa com ela foi frustrada, então não importava o que haveria a frente e isso era o que tornava situação toda mais estranha.

"Ainda não me respondeu" insistiu em ouvir as palavras.

"Se eu a deixar, então, você irá deixá-la fora disso?"

"Precisamente" verbalizou.

"Então temos um acordo" Ben anunciou deixando o espírito do outro homem em regozijo. 

*

De um lado para outro Karé pensava exatamente em tudo que aconteceu naqueles dias. Pensava na figura de Snoke cercando com tanta intimidade a vítima, talvez desejando farejar em Rey a comprovação do que ela tinha agora em mãos. Os dedos descendo pelas letras transcritas do papel com a informação que poderia mudar o rumo de todas as coisas, que poderia mudar mais do que isso a vontade do vilão de continuar o curso de seus planos. 

Conhecimento era o poder, conhecimento era o que fazia com que cada pessoa se movesse sobre o mundo de modo diferente, sem importar o quanto pudesse na verdade estar no escuro na perspectiva real ao desconhecer a face do todo. 

Dessa vez, diferente da maioria das vezes, a decisão era de Karé. Ela sabia que isso era muito maior do que ela mesma ao focalizar a conclusão do estranho teatro que se formava com a vida de Rey, Ben e Snoke.

"Senhora?" A cabeça de Karé então se voltou para a mulher alta que entrou na sala e que estava sempre a frente do tratamento da pseudo paciente. 

"Algum problema?" Podia ler na loira os traços de perturbações, enquanto abaixava o papel cobrindo o que estava escrito. 

"Os laudos saíram essa manhã, eu fiquei sabendo que foi encontrando uma anomalia nos exames de Rey Johnson"

"Você? Quem disse?" O alerta sobre a informação vir a ser vazada foi preocupante. Se Snoke tivesse acesso a isso, então a rede invisível de Karé estaria rompida… Ela sabia o que aconteceria.

"O analista das amostras, ele comentou quando os entregou para mim. Só não tive coragem de abrir antes de entregar a responsável por ela. É grave?" Karé tinha poucas possibilidades de parar isso. Precisava encontrar aquele analista, precisava também de alguém a quem pudesse confiar, antes que o pior viesse a tona.

"Preciso contar algo a você, mas antes preciso que entre em contato com a pessoa da área de exames que emitiu o laudo. Isso deve ser feito agora mesmo." Não deu chance para a outra indagar mais informação.

Agora era Karé quem iria direcionar as coisas e precisava ser rápida.


Notas Finais


Esperamos os comentários de vocês! Muita coisa acontecendo.
Obrigada por quem esperou ansiosamente por esse capítulo! Nos vemos na sequência.


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