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História 90's Love - norenmin - B Mais


Escrita por: SafiraOpaca e SafiraZen

Notas do Autor


Oi pessoinhas ><

Esse é um daqueles caps que não prometo muuuita interação norenmin, mas tem pontos importantes viu?

Boa leitura, perdoem os errinhos e até as NF!

Capítulo 7 - B Mais


Quando a sexta-feira chegou, trazia o alívio notável do final das provas. Olheiras eram esquecidas por baixo de sorrisos satisfeitos ou conformados e dentro da sala de um dos terceiros anos, Lee Jeno batia inconscientemente o pé contra o chão enquanto mastigava a própria boca. O problema da prova de matemática ter sido uma das primeiras a fazerem? Também era uma das primeiras a serem corrigidas. Sentindo quase como se estivesse indo fazer outra prova, Jeno perdeu o compasso da respiração quando o professor Kim entrou com um dos seus casacos de lã pendurado num braço – será que ele esperava que esfriasse no final da primavera? – e um bloco de provas corrigidas no outro.

Jeno mal ouviu as considerações feitas sobre os resultados de sua turma, atento demais às folhas deixadas sobre a mesa para se importar com a média de seus colegas. Numa lentidão quase torturante, ele viu o senhor Kim começar da fileira oposta à sua, entregando aluno por aluno os resultados marcados em caneta vermelha. Os fios da franja começavam a arrepiar pelo passar incessante dos dedos suados para organizar aquilo que já estava no lugar e Jeno sentiu suor brotar nas têmporas quando a folha finalmente foi estendida sobre sua mesa.

Por um momento, ele só encarou o resultado, tão ansioso que inicialmente mal conseguiu ler o próprio nome. As sobrancelhas arquearam e as mãos ficaram trêmulas sob a camada de suor quando o coração acelerou, e ele engoliu com dificuldade antes de ouvir a voz do professor chegar aos seus ouvidos.

– Parabéns, Jeno. Sua melhora foi notável.

O sorriso agradecido foi nervoso e os dedos úmidos deixaram marcas nas folhas quando ele enfim teve coragem de tocar na prova, como se temesse acordar um dragão ou apagar a nota circulada no topo direito.

B .

Seu primeiro B em matemática desde que entrara no ensino médio.

Estava tão surpreso que não notou os olhos curiosos de Jaemin se esticarem em sua direção, tentando ver o resultado que parecia mais importante que o seu – não era surpresa ver o A encabeçar suas provas. Com as aulas finalizadas, o senhor Kim não tinha motivos além da entrega da prova para mantê-los em sala, então logo os desejava boas férias e liberava um aglomerado de jovens enérgicos para os corredores do colégio. Jaemin saiu primeiro, distraído em uma conversa com Donghyuck o suficiente para se assustar quando algo pesou em suas costas.

O coração parou quando reconheceu o cheiro de sabonete e Jeno.

– Obrigado, obrigado, obrigado – ele agradecia sem parar enquanto se equilibrava em seus ombros. Jaemin sentiu o coração retumbar no peito, o calor dele atravessando as roupas e nublando seus pensamentos. Como se o puxasse de volta, Jeno estendeu a prova na direção de seus olhos, ainda perigosamente perto para que Jaemin sentisse a respiração dele bater no pescoço – Eu consegui um B! Um B em matemática! Eu estou até agora sem acreditar.

Jaemin acabou rindo e puxou as coxas de Jeno para que ele se ajeitasse melhor em suas costas, fazendo com que ele risse pelo susto. Não tinha pensado, apenas agido quando o viu parado no corredor, a gratidão e a alegria impulsionando seus pés até estar grudado nas costas dele. Agora, enquanto Jaemin o girava em uma comemoração apenas deles dois, Jeno não conseguia deixar que nada além da risada e do cheiro dele ocupasse seus pensamentos. E isso teve efeito direto em seu coração, as reações cada vez mais claras ao toque e à presença de Jaemin.

Por um momento, enquanto rodopiavam, decidiu não dar uma de Jeno. Abraçou-o pelos ombros com mais força e riu contra o pescoço e a mandíbula dele. Não perceberam, mas os corações sincronizaram as batidas no mesmo ritmo.

À parte da comemoração, Donghyuck os observava curioso e interessado. Percebeu antes deles a movimentação da sala vizinha e trocou um olhar com Mark antes de qualquer um. Ele entendeu o sinal discreto e pareceu tão surpreso quanto o namorado ao ouvir as risadas dos outros dois. Jaemin tinha muitas camadas e como seus melhores amigos, eles conheciam cada uma delas. Mas em nenhuma dessas camadas eles já tinham visto nascer um sorriso como aquele. Era como se Jeno libertasse um Jaemin que o mundo ainda não conhecia e eles se preocuparam.

Porque aquele, puderam perceber, era um Jaemin apaixonado.

Sem combinar, os quatro olharam ao mesmo tempo para Renjun e ficaram ainda mais confusos com aquela situação. Ele os observava, como era esperado. O que não esperavam era que ele estivesse sorrindo, que os olhos fossem gentis e a expressão encantada. Quando os rodopios pararam, Jeno desceu das costas de Jaemin e reparou em Renjun do outro lado do corredor. Não teve tempo de ficar constrangido ou avaliar a reação dele ao vê-lo nas costas de outro garoto, o sorriso do namorado desencadeou outra série de rebuliços eufóricos em seu organismo e antes que percebesse, seus pés o guiaram mais uma vez numa corrida desenfreada até estar nos braços dele.

– Eu consegui! – compartilhou, sorrindo enorme enquanto puxava Renjun pelos ombros. Podia sentir o sorriso dele em seu ombro também – Eu tirei B em matemática!

Renjun o puxou minimamente para cima, apertando o abraço ao redor da cintura delgada e todos os outros pareceram despertar lentamente do transe, se aproximando para conversarem.

– Parabéns – Renjun falou, se afastando para sorrir para ele, tirando a franja bagunçada da frente dos olhos que gostava de ter preso aos seus, notando o sorriso dele se abobar – Eu sabia que você conseguiria.

Jeno suspirou e logo agradecia às congratulações do restante dos amigos. Era engraçado porque sentia como se tivesse passado na faculdade de medicina com todas as palavras gentis que recebia, mas isso só mostrava o quanto eles prestavam atenção em seus receios. Eles sabiam que tirar um B na prova de matemática, para Jeno, era como passar na faculdade de medicina e os sorrisos compartilhados foram tão sinceros que ele sentiu vontade de chorar.

– Obrigado por ajudá-lo – Jeno escutou Renjun falar e se virou minimamente para olhar para Jaemin, parado um passo atrás dele. Com os ânimos menos exaltados, sentiu vergonha por ter pulado nele daquele jeito tão íntimo, mas não poderia dizer que se arrependia. Não quando ele o aceitou e o puxou para mais perto, quando o rodou e comemorou sua vitória daquele jeito.

– Não foi nada. Esse B é uma conquista inteiramente dos seus esforços – completou, olhando-o mais uma vez e Jeno simplesmente não conseguia parar de sorrir. Jaemin pareceu ter uma ideia quando os olhos brilharam e ele convidou – Que tal a gente comemorar vendo um filme lá em casa hoje? Estamos oficialmente de férias, temos que aproveitar cada minuto.

A ideia foi aceita com ânimo e comentários altos sobre quem levaria o que para eles se empanturrarem durante a sessão enquanto guiavam os passos até o lado de fora. Combinaram de se encontrar no mercadinho perto da locadora no centro, já que a maioria não sabia como chegar na casa de Jaemin, então se despediram no estacionamento antes de cada um partir para um lado da cidade. Mais sorrisos foram trocados enquanto as bicicletas saíam do estacionamento e Jaemin não soube que a ansiedade que sentia em ver seus amigos mais tarde era compartilhada pelo casal que dividia a bicicleta branca e sumia no horizonte.

– Minnie? – Jaemin olhou por cima do ombro antes de conseguir montar na bike. Era raro Mark chamá-lo pelo apelido, acontecia quando estava preocupado, frustrado ou prestes a lhe dar uma notícia ruim. Franziu o cenho.

– O que foi? Não vai para o treino com o Hyuck hoje?

Mark parecia não saber por onde começar o que tinha a falar, então coçou a nuca e soltou uma risada baixa e nervosa.

– Vou, vim perguntar se não quer vir comigo.

Jaemin tentou não transparecer a confusão, mas não soube se conseguiu. Acabou assentindo e devolvendo a bicicleta para o estacionamento. Sabia que não era apenas por isso, pelo treino de Donghyuck. Mark queria conversar e se o amigo precisava de sua ajuda, Jaemin não se importaria de chegar mais tarde no trabalho.

Seguiram em silêncio para a arquibancada, subindo até o degrau onde Donghyuck tinha largado a própria mochila e Jaemin viu quando Mark negou uma vez com a cabeça e suspirou pela falta de cuidado do namorado. Riu discretamente. A voz do treinador cortou o campo assim que se ajeitaram sob o sol escaldante do meio-dia, os jogadores entrando em passadas ainda preguiçosas depois do almoço. Jaemin franziu o cenho ao notar a roupa de Donghyuck, mas não teve tempo de tecer comentários quando ouviu a voz de Mark.

– Está tudo bem?

Ele o olhou confuso, mas tinha algo na seriedade dos olhos dele que o fez querer se encolher. Mark era gentil e compreensivo, o melhor ouvinte em seu seleto grupo de amigos. Mas também carregava aquela intensidade, aquela postura de quem não precisava dizer nada para se fazer entendido, quase opressor mesmo que fosse sem querer. Jaemin engoliu seco e desviou o olhar, as mãos se entrelaçando entre as pernas abertas.

– O que você realmente quer saber?

Ouviu o suspiro baixo de Mark um instante antes do apito do treinador assustá-los e a bola rolar pelo gramado em exercícios entre cones e linhas. Antes de terminar a primeira bateria, Donghyuck já tinha os cabelos impregnados de suor grudando por todo o rosto.

– Jeno – o nome fez o maxilar de Jaemin travar e ele amaldiçoou o coração por bater mais rápido. Deus, pediu, que eu não esteja corando – Você gosta dele?

O verão já começava a deixar seus rastros no vento morno que soprava contra eles, tirando os fios azulados de Jaemin de seu rosto o suficiente para que Mark notasse a apreensão em lhe dar uma resposta. Ali, na tensão dos músculos e nos olhos distantes, ele soube antes de ouvir.

– É complicado.

Mark segurou uma risada debochada.

– Ah, isso com certeza – falou e Jaemin deixou os ombros caírem num gesto derrotado – Você sabe que eles-

– Eu sei – cortou, mais ríspido do que gostaria – Não é como se eu estivesse satisfeito com a situação também.

Mark esfregou a nuca, sentia a tensão do amigo pesar em seus próprios ombros. Na mente, via o sorriso gentil de Renjun ao ajudá-lo conseguir a fita para Donghyuck e o coração se apertou, dividido entre os dois.

– Por que nunca disse nada?

Não faria diferença, era o que gostaria de responder, mas não era apenas isso. Falar de Jeno implicava diretamente falar de Renjun e Mark o conhecia o suficiente para reparar. Estaria em seus olhos, em seus trejeitos, que ele estava confuso sobre os dois.

– Eu sei que você e Renjun se aproximaram, não queria te deixar numa situação desconfortável – disse, o que não era totalmente mentira.

– Entendo. Mas vocês também se aproximaram – Mark não viu quando os dedos entrelaçados de Jaemin ficaram brancos pela força que fazia ao apertá-los – Deve estar uma confusão da porra na sua cabeça agora.

Jaemin, mesmo no meio de um dos piores cenários que já vivera, acabou rindo. Ouvir Mark xingando sempre era divertido.

– Acho que você está andando muito com Chenle – o comentário o fez rir constrangido e Jaemin suspirou, grato por tê-lo ao seu lado – E você está certo. É uma confusão da porra.

Mark assentiu antes de apertar afetuosamente a coxa do amigo e conseguir sua atenção.

– Não sei o que posso fazer para te ajudar, mas não pense duas vezes antes de me chamar, ok? – Jaemin sentiu um bolor amargo parar em sua garganta, mas assentiu, vendo o semblante de Mark se tornar preocupado um instante depois – E tome cuidado. Eu sei que no coração a gente não manda, mas não faça nada que possa te machucar no final.

Com isso, Jaemin não pôde concordar. Porque já estava machucando. A cada dia que convivia com os dois e não expressava o que sentia, machucava. A cada vez que os via juntos e não conseguia se pintar no quadro do romance deles, doía. A cada tentativa de escolher, se desesperava. Mas preferiu guardar essas dores mais um pouco no próprio peito, deixando que o treino do time o distraísse o suficiente antes de agradecer e se despedir de Mark, seguindo para o clube onde usaria ainda mais atividades diárias para ocupar a mente tão cheia.

No campo, Donghyuck se jogou contra a grama aparada assim que o treinador anunciou o final do treino. Se sentia duas vezes mais exausto do que o normal pelo calor que sentia. A pele pregava e a respiração era arfada, o suor descia em rios por seu corpo e ele daria tudo por uma ducha gelada no vestiário.

– Você está bem, cara? – a voz familiar e amigável de Shotaro o fez abrir os olhos, o corpo ligeiramente inclinado para trás lhe dando a visão perfeita do rosto redondo e dos olhos castanhos. Ele também pingava suor, mas parecia mais recomposto – Por que está usando calça? Deve estar uns quarenta graus aqui hoje.

Donghyuck umedeceu os lábios e desejou por uma garrafinha de água, levando o corpo para frente até que a cabeça pendesse na direção das pernas. Quando ergueu o olhar, encontrou a figura familiar esperando-o na arquibancada, olhando-o em silêncio já com as mochilas em mãos. Mark não pedira para ele deixar de usar os shorts do uniforme de futebol, mas Donghyuck sabia que era isso o que ele queria. Mark nunca precisava falar, nunca precisou pedir, Donghyuck o lia como um livro de receitas. Ainda tinha o semblante constrangido e ansioso dele nas lembranças quando o entregara a fita K7 do Michael Jackson e foi como ser lembrado do quanto o amava, desde os pequenos aos grandes gestos.

Chegou à conclusão que mais um pequeno sacrifício para agradá-lo não seria nada demais, mesmo que o sacrifício incluísse se enfiar em calças tactel às portas do verão. Ele sabia como as sobrancelhas de Mark franziam toda vez que corria para o campo usando o short vermelho, branco e curto. Preferia o jeito que ele o olhava agora, com um sorriso ansioso para que fossem embora juntos.

– Jura? Nem estou sentindo – foi tudo o que respondeu para Shotaro, que riu da voz arfada antes de oferecer uma mão que o ajudou a ficar de pé.

Trocando as últimas informações em um círculo com o treinador, o time uniu as mãos e gritou, batendo palmas antes de se desejarem boas férias e se dispersarem. Mark o esperava com uma garrafa de água na mão.

– Você parece acabado para alguém que acabou de sair de férias.

Donghyuck fez cara feia para o comentário e Mark riu, fingindo que não notava a água que escapava dos lábios bonitos e escorria pelo pescoço suado.

– Tudo bem se eu tomar uma ducha? Acho que não vou aguentar chegar em casa de tanto calor.

Mark engoliu a reclamação. Tinha reparado nas calças quentes de Donghyuck e quis dizer que ele não precisava fazer aquilo por ele, mas permaneceu em silêncio. Mentiria se dissesse que não apreciava o esforço para agradá-lo. Por isso, negou com um sorriso que pouco chegou aos olhos, vendo um genuíno nascer em Donghyuck antes de ele agradecer, pegar a mochila e sumir dentro do vestiário.

Quando chegaram à rua, Mark apreciou as pernas expostas pela bermuda de Donghyuck e arriscou entrelaçar o mindinho ao dele quando o caminho esvaziava o suficiente para se sentirem seguros. Estava tudo bem, era o que pensavam, sempre acabava tudo bem entre eles.
 

Os headphones não abandonavam a cabeça de Donghyuck desde que Mark o presenteara com o HIStory. Já cantarolava algumas letras decoradas pelo tempo ininterrupto que passava ouvindo e reescutando as músicas das fitas duplas, o dia inteiro com elas repetindo suas canções enquanto ele arrumava a casa, estudava ou ia buscar a irmã mais nova no colégio. Era com essa última tarefa que ele se ocupava, na verdade, quando deixou os limites da casa e desceu a rua em direção ao Colégio Para Meninas da Professora Choi.

O rei do pop cantava que não importava se você era preto ou branco* e Donghyuck já considerava aquele álbum o ápice de sua carreira quando chegou aos portões brancos da antiga igreja pintada de amarela que servia de sede para o colégio. Parado na calçada, as pernas falhando em conter os movimentos que seguiam o ritmo da música, ele notou um rabo de cavalo castanho se destacar dos demais pelo laço de bolinhas amarelas que prendia os fios no lugar. Havia um cartaz convidando parentes e amigos das estudantes a prestarem audições para uma peça escolar e ele demorou os olhos nas informações por um instante, até que a risada conhecida da caçula chamou sua atenção. Ele sorriu quando a viu deixar um beijo na bochecha de outra menina antes de correr sorridente em sua direção.

Ele se lembrava com perfeição da noite em que ela batera hesitantemente em sua porta, espiando-o por uma fresta pequena antes que ele deixasse o livro de tinha em mãos de lado e a convidasse para entrar. Lee Dongyoon era dois anos mais nova e brilhava com a energia do auge de seus quinze anos, por isso ele estranhara tanto o semblante meio cinzento de nervoso enquanto ela brincava com os dedos e evitava manter o contato dos olhos.

Donghyuck, como um bom irmão mais velho, perguntou qual era o problema. Dongyoon lhe contou sobre estar apaixonada e ele não escondeu a surpresa ou a animação antes de perguntar quem era o sortudo. Ela ficou da cor dos tomates maduros que a mãe trazia da feira antes de sussurrar a resposta: uma colega de sala, Bae Yejin.

– Você me acha estranha por gostar de outra menina? – com os olhos marejados ela perguntou. Donghyuck, mesmo que estivesse surpreso por nunca ter notado a orientação da irmã, suspirou antes de puxá-la para um abraço. Enquanto a ninava, ele contou sobre Mark Lee.

Viraram confidentes e, mais do que isso, encontraram companhia na luta tão solitária de esconder diariamente quem eles eram da própria família. Mas quando ela o abraçava daquele jeito, com aquele sorriso, antes de roubar seus headphones e cantarolar as músicas do Michael até em casa, Donghyuck se sentia a pessoa mais sortuda do mundo. Mesmo com tantos baixos entre aqueles altos.

– Jaemin nos chamou para assistirmos um filme na casa dele hoje – a família reunida tomava café da tarde na mesa pequena da cozinha, o pai ainda usava o uniforme da fábrica de embalagens da cidade, mesmo que as botas sujas tivessem ficado do lado de fora da casa.

– Durma por lá se ficar muito tarde, aquele bairro é meio perigoso.

Lee Nari era uma dona de casa orgulhosa do trabalho que fazia com os filhos, o marido e o lar. Tinha sorrisos e olhares doces a todo momento do dia, mesmo quando as ofensas do cônjuge levavam lágrimas aos olhos. Donghyuck sabia que ela nunca o impedia de passar tempo com Jaemin por pensar que os pais dele eram negligentes e sentir muito pelo menino solitário. Ela não se importava em saber o que realmente tinha acontecido para ele ser emancipado, uma mãe simplesmente largar o filho menor de idade sozinho para o mundo era cruel e nada mudaria suas ideias. Não seria Donghyuck a reclamar das autorizações pré-estabelecidas.

O som da televisão ligada na sala a poucos metros só chamou sua atenção quando ouviu o pai grunhir, um arrepio ruim subindo sua espinha antes mesmo de escutá-lo falar.

– Gente nojenta e pestilenta – Donghyuck trocou um olhar com a irmã, que se encolheu na cadeira, brincando com a comida sem ser notada por mais ninguém. O jornalista apontava números gritantes sobre os casos de HIV e a veia nervosa pulsando na garganta do pai foi tão medonha quanto o comentário – É por isso que irão todos queimar no inferno, essas bichas crias do capeta.

Dongyoon engasgou um soluço e Nari ergueu o semblante sereno de sorriso doce antes de pedir.

– Querido, vamos evitar esses termos na mesa, sim?

Apesar de petulante, o senhor Lee apenas resmungou antes de voltar sua atenção para o bolo fresco e fatiado em seu prato. Quando Donghyuck pensou ter visto o brilho das lágrimas contidas nos olhos da irmã, cobriu o pé dela com o seu por baixo da mesa. As meias se tocaram entre as peles e ela o olhou para encontrar um sorriso discreto e morno, como se a lembrasse de que não estava sozinha.

Mesmo que fossem comuns, os comentários do pai sempre pareciam abrir uma velha ferida que nunca cicatrizava em seus corações. Às vezes eles conversavam sobre os segredos que guardavam e sonhavam juntos com um mundo onde não precisariam se esconder. Por hora, a realidade era mais amarga, mas o conforto e a presença um do outro tornava o fardo que carregavam mais leve ao dividirem o peso.

Agradecida, Dongyoon voltou a comer.


Notas Finais


*letra da música Blak or White, Michael Jackson

É isso, galeris!
Não deixem de comentar oq acharam :3

Obrigada por lerem até aqui e até o próximo ~
XOXO


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