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História 90's Love - norenmin - Emaranhados


Escrita por: SafiraOpaca e SafiraZen

Notas do Autor


Oi pessoinhas ><

Boa leitura, perdoem os errinhos e até as NF!

Capítulo 9 - Emaranhados


Jaemin tinha o hábito de levantar cedo, por isso não se frustrou quando as pálpebras se abriram pouco depois das oito horas em seu primeiro dia de férias. Mesmo que tivesse passado boa parte da madrugada conversando com os amigos antes de, um por um, eles cederem ao sono, não sentia a fadiga carregada de uma noite mal dormida.

Lembrava de oferecer os colchões a eles e ajudá-los a descê-los do mezanino até sua sala, onde se distribuíram da forma que acharam melhor. Não precisou de muita insistência para que ele aceitasse descer o próprio colchão e dormir entre Donghyuck e Chenle. Aos pés do seu colchão, Renjun e Jeno dividiam o espaço limitado de um colchonete e Jaemin se perdeu por alguns instantes enquanto observava os corpos emaranhados.

Renjun abraçava Jeno por trás e tinha os fios longos esparramados contra o próprio rosto. Parecia tão sereno quanto Jeno, que vez ou outra se ajeitava apenas para se aconchegar melhor contra o peito do namorado. Jaemin abraçou os joelhos e, antes que percebesse, mastigava o lábio inferior em uma inquietude que crescia como galhos de uma árvore plantada em seu coração.

Enlouqueceria com a vontade de tocá-los daquele jeito, com o desejo de afundar o rosto nos fios de Jeno ou sentir os braços de Renjun ao redor do seu corpo como ele fazia ao namorado. A angústia crescente o fez se erguer e subir de volta ao mezanino, trocando a roupa amarrotada por peças limpas antes de seguir ao cômodo espremido onde ficava seu banheiro. Lavou o rosto e quis lavar junto a lembrança dos dedos de Renjun entrelaçados aos seus, do corpo de Jeno pendurado em suas costas no corredor da escola enquanto comemoravam a nota em matemática.

Saiu do banheiro não muito menos inquieto do que quando entrou e acabou bufando antes de sentar com as pernas cruzadas em frente ao espelho. O sorriso da mãe, congelado e eternizado na fotografia, parecia ganhar tons diferentes para diferentes ocasiões onde precisava da ajuda dela. Naquele dia parecia um sorriso morno e compreensivo, o sorriso de quem está disposta a ouvir suas dores enquanto deixa carinhos suaves nos cabelos azuis.

– Eu não sei o que fazer – sussurrou, com medo de acordar os garotos esparramados em sua sala, mesmo que parecessem entregues ao mais profundo dos sonhos.

Donghyuck tinha virado de barriga para cima em algum momento da noite e agora tinha uma perna jogada por cima da lombar de Mark, que dormia com a boca aberta apoiada no braço dobrado. Jisung e Chenle dormiam de costas um para o outro e o espaço de onde havia se levantado ainda era um emaranhado de cobertor, lençol e travesseiro, rastros da pressa em se afastar do casal sereno dormindo a seus pés.

– Eu sei que você não deve mais me aguentar ouvir falar sobre eles – sorriu triste, os dedos com unhas irregulares brincavam com fios soltos do jeans, a tatuagem pareceu desbotada. Desde Renjun e Jeno, Jaemin vinha repensando a própria definição de liberdade – Mas eu não consigo parar de pensar neles, em nenhum dos dois. E é tão confuso, mãe... Porque eu sei que eles são mais felizes quando estão juntos, eu não quero nunca que eles se separem, que percam essa felicidade. E mesmo que isso acontecesse – as lágrimas apertaram o caminho da garganta, mas ele se recompôs ao inspirar de olhos fechados. Mesmo que isso acontecesse, completou mentalmente, não saberia escolher. A última palavra queimava na língua e ele nunca a dizia em voz alta – Você deve ficar horrorizada ao me ver gostando não de um, mas de dois meninos, não é? Sinto muito por te encher com isso, mas eu queria tanto ouvir sua resposta. Porque me afastar não é mais uma alternativa, eu não consigo mais... Mesmo que seja como mergulhar de bom grado num tanque de tubarões diariamente, eu não quero ficar longe. De nenhum dos dois.

Jaemin se deu o próprio tempo para limpar a mente e sorrir ao pegar a foto da mãe. Deixou um beijo na testa dela e agradeceu à companhia silenciosa que sempre fazia tanto ao confortar seu coração. Alcançou na carteira dinheiro o suficiente para comprar café para todos eles e, tentando sair o mais silenciosamente possível, empurrou a bicicleta para fora do galpão antes de fechar a porta novamente.

Jeno acordou com o barulho das rodinhas arranhando o trilho e se mexeu sem real ânimo de se levantar. Quando virou o corpo, Renjun o abraçou mais apertado e ele acabou sorrindo. Com os olhos inchados e meio embaçados ainda, levou os dedos ao rosto delicado e tirou os fios bagunçados do meio do caminho, deixando um carinho suave na bochecha antes de se afastar para não acordá-lo. Espreguiçou e girou a coluna para estalar as vértebras, coçando a nuca e notando a ausência de Jaemin.

Pensar nele fazia estrelas explodirem em suas veias, tremeluzindo em seu corpo e colidindo em seu coração. Lembrou do apagão, dos momentos perdidos pelos olhos cobertos pela escuridão, a sensação confusa no peito quando a luz voltou e ele viu.

Se levantou com cuidado para não acordar os outros, ficar sentado parecia incomodar demais o seu espírito inquieto. Desembaraçou os fios com os dedos enquanto procurava ao redor por qualquer coisa que o ajudasse a extravasar. Com a permissão prévia de Jaemin, subiu as escadas do mezanino e lavou o rosto no banheiro pequenino e organizado. Quando saiu, avistou cadernos, lápis e canetas organizados no chão perto do espelho e acreditou que Jaemin não se importaria se pegasse algumas coisas emprestadas. Quando se ergueu, armado de bloco de notas, lápis e borracha, notou a foto diminuta presa na moldura do espelho. Se aproximou curioso e não demorou para concluir que era a mãe de Jaemin.

Sorriu para os olhos familiares e a tocou na testa, um carinho longe e um agradecimento contido por ter criado uma pessoa que vinha se tornando tão importante em sua vida.

Quando chegou à parte de baixo novamente, ocupou uma das cadeiras ao redor da mesa redonda de Jaemin e bloqueou o restante do mundo enquanto trabalhava. As sobrancelhas se apertavam e relaxavam, a boca crispava e às vezes os lábios se separavam enquanto analisava o resultado do desenho que não esperava imprimir com tanta facilidade. A ponta de alguns dedos estava manchada de preto, o grafite esfumado do esboço dançando num jogo de sombras muito parecido com o que tinha observado na noite anterior. E durante todo o processo, Jeno pensava neles.

Não era surpresa, eram as únicas coisas a ocupar sua mente nas últimas semanas. Pensou no beijo de Renjun enquanto esperavam o restante dos amigos no mercado, na forma como ele o olhava como se fosse um tesouro raro, como arrumava sua franja sempre que ela tampava sua visão. Então pensou na tatuagem na pele clara de Jaemin, na liberdade que ele vivia em cada suspirar, no jeito doce de encorajá-lo, no cuidado ao deixar um bombom de morango separado para cada dia de tutoria ou prova. E como seu coração respondia a cada uma dessas coisas. Não apenas por um deles, mas pelas demonstrações dos dois. Temia sentir que seus sentimentos por Renjun tinham diminuído, a ideia de deixar de amá-lo o horrorizava, mas percebeu que não era bem assim.

Jaemin tinha sido agregado a seu coração como se sempre tivesse um espaço reservado apenas esperando sua chegada. Não precisava abrir mão do que sentia por Renjun para senti-lo por Jaemin também, eles completavam sua existência como duas partes de um inteiro de três. O número perfeito, percebia, se aplicava muito bem naquela situação. Mas ainda era tão confuso. Era tão confuso perceber os olhares entre os dois e sentir o rosto esquentar, sentir o coração comemorar ao invés do ciúme queimar suas veias. E também havia um medo natural que vinha entrelaçado a todas essas sensações, um medo que ele não conseguia deixar para lá.

O som da porta de correr se abrindo fez com que Jeno recostasse contra a cadeira, os olhos encontrando os de Jaemin assim que ele deu o primeiro passo para dentro.

– Bom dia – ele desejou baixinho, o silêncio do sono tranquilo do restante dos amigos ajudando a voz a se propagar até Jeno. Ele sorriu pequeno antes de responder.

– Bom dia.

Havia uma energia diferente que os rodeava toda vez que eles estavam sozinhos, Jeno tinha percebido isso desde as primeiras tutorias. Ali, cercado pelos amigos inconscientes, ela parecia se condensar e turvar ao redor deles, como se quisessem se tocar, mas temessem serem pegos fazendo algo errado. Assim, Jeno se contentou em abaixar o rosto na direção das folhas enquanto Jaemin colocava a água para ferver, o silêncio caindo como uma distância bem-vinda entre eles enquanto as mentes agitadas se voltavam uma para a outra.

Jaemin notou que ele tinha buscado no mezanino por seu bloco e lápis, mas não se importou, se aproximando com cautela antes de sentar ao lado dele e se impressionar com os detalhes ricos das mãos desenhadas na superfície amarelada.

– Isso está incrível – exclamou baixinho e Jeno sorriu de canto, os olhos atentos aos detalhes que acrescentava. E Jaemin atento a ele.

A linha tensa do maxilar travado, os olhos concentrados sob as sobrancelhas franzidas, os lábios quase formando um bico quando o inferior se projetou para frente. Jaemin quis tanto tocá-lo que precisou desviar o olhar, e quando prestou mais atenção à gravura em grafite, sentiu o chão faltar sob seus pés.

Jeno desenhava com perfeição, em curvas suaves e traços marcados exatamente nos pontos que precisavam. Jaemin se perguntou como não havia reconhecido antes. A curvatura do dorso da mão, os dedos entrelaçados em um gesto íntimo, o formato conhecido das falanges, até mesmo o jogo de luz e sombras provocado pelos postes da rua.

Era a sua mão, enlaçada na de Renjun.

Um zumbido alto ecoou em sua cabeça, a pressão parecia prestes a fazê-lo desmaiar. Jeno os vira. O que deveria fazer com essa informação? Ele os estava desenhando para descontar uma frustração ou alguma coisa diferente? Precisava de respostas para essas perguntas mais do que precisava de ar.

– Jeno – moldando uma coragem crua em seu peito, o chamou. Mas Jeno já tinha voltado ao estado longe e concentrado, onde os arredores pouco importavam enquanto sua mente mergulhava nos traços traduzidos de sua mão para o papel. Jaemin inspirou, esperou o coração parar de bater de forma tão dolorosa no peito pela ansiedade, e umedeceu os lábios antes de tentar outra abordagem.

Viu os fios escuros começarem a incomodá-lo pelo jeito que Jeno os afastava com movimentos bruscos e esporádicos. Ele fazia isso nas tutorias também, mas Jaemin nunca esteve tão afetado e tão próximo dele para fazer o que sempre teve vontade: erguer o indicador e, suavemente, afastar os fios do rosto.

Jeno ficou tonto com a velocidade que o mundo voltou a ganhar cores ao seu redor. Era uma tarefa difícil chamá-lo de volta depois que ele entrava na própria mente e se perdia por lá, guiando a conversa dos dedos ao papel em artes sinceras e ricas em detalhes. Mas aquilo, aquele gesto específico, provavelmente o traria de volta até do mundo dos mortos se recebesse.

Talvez Jaemin não fizesse ideia do quão íntimo aquele toque era, de tudo o que significava. Mas Jeno deixou toda a história estampada na forma surpresa que olhou para ele, olhos nos olhos e bochechas rubras por centenas de motivos diferentes. Jaemin se perguntou se havia avançado sinais demais, feito algo errado, mas a proximidade bloqueou qualquer pensamento que não fosse sobre a boca entreaberta de Jeno, a pele a um toque de distância, o cheiro do shampoo que ainda se propagava do cabelo e atrapalhava todo o balanço de seu corpo, fazendo-o se inclinar para mais perto...

– Bom dia – a voz era animada e fez ambos sobressaltarem. Jaemin se colocou de pé num pulo e se praguejou baixinho por ser tão descuidado.

– Bom dia – foi Jeno quem primeiro conseguiu voltar a falar, respondendo Chenle com um sorriso pequeno.

Ele não notou os olhos inteligentes indo de um para o outro, guardando na mente a vermelhidão da nuca de Jaemin que parecia fazer um par perfeito com as bochechas de Jeno. Se aliviou no banheiro do mezanino antes de ajudar o amigo a pôr a mesa do café enquanto Jeno arrancava a folha usada e guardava de volta os pertences de Jaemin. Quando desceu as escadas, todos já tinham levantado e dobravam os cobertores usados antes de tomar café.

O corpo tremeu e arrepiou quando sentiu um beijo familiar ser espremido em sua bochecha.

– Bom dia, meu anjo – a voz baixa e ainda rouca, o sorriso bonito, o apelido tão carinhoso. Jeno se desfez nos braços de Renjun antes de se virar para abraçá-lo de volta.

De repente, o momento que vivera com Jaemin na cozinha pareceu cobrar seu preço ao pressionar uma culpa desmedida em seus ombros. Jeno se agarrou com mais força a Renjun antes de desejar bom dia de volta, querendo se esconder no pescoço dele até apagar de suas lembranças toda a confusão que a presença de Jaemin causava em seu interior. Mas sabia que isso seria impossível.

O café foi recheado de meias-conversas preguiçosas e bocejos esporádicos, rostos inchados e cabelos bagunçados que os faziam rir sozinhos uns dos outros quando os olhares se encontravam sobre as canecas. Tinha sido um início de dia conturbado, mas ainda era entre os sete que se sentiam o mais confortável, que viviam as versões mais genuínas deles mesmos.

– Valeu por ceder o barraco, Jaemin – o agradecimento de Chenle os fez rir antes que eles se abraçassem com tapinhas, não tão inhos, nas costas – Da próxima vez a gente faz lá em casa.

Jaemin assentiu para todos os agradecimentos e sentiu o peito confortado pelas promessas de se encontrarem outras vezes durante as férias. Não era apenas por Renjun e Jeno, era pelo pertencimento ao que mais se assemelhava a uma família em sua vida. Pensou se deveria ligar para o pai, perguntar como a vida estava indo, mas nunca reunia coragem o suficiente. Não era como se fosse uma relação ruim, apenas distante e silenciosa. Como a distância e o silêncio que vinha mantendo de Jeno e Renjun desde o café.

– Obrigado, Jaemin – o sorriso de Renjun o desconcertou, mas Jaemin sorriu de volta – E é melhor se acostumar comigo por aqui, o galpão é um ótimo lugar para os ensaios dos Nightmares.

Por um momento, Jaemin tinha se esquecido dessa parte também. Se estapeou mentalmente por armar ciladas para ele mesmo, onde sempre colocava Renjun e Jeno ao alcance de suas mãos mesmo sabendo que nunca iria tocá-los, como uma sátira de O Feitiço de Áquila. Como se para comprovar suas palavras, Jeno sorriu tímido antes de falar.

– Acho que isso significa que vamos nos ver mais vezes também, não é?

Jaemin sentiu suor nas palmas e no pescoço e não conseguiu fazer algo muito melhor do que formar um sorriso trêmulo e assentir. Eles partiram lado a lado e sua cabeça só conseguia repreendê-lo pela forma animada que o coração sambava no peito com a simples ideia de passar mais dias com eles.

Quando voltou ao silêncio vazio e quase ecoante do galpão, alcançou a sacola da farmácia onde tinha parado antes de voltar para casa, encarou a embalagem alaranjada e seguiu em passos firmes até o banheiro.

Seriam férias confusas, aquelas.

 

Em alguma interseção da cidade, o grupo incompleto se separou na direção das próprias casas, reservando Jeno e Renjun à uma privacidade com a qual eles já estavam acostumados. Conheciam o silêncio e os pensamentos inquietos um do outro, sabiam quando precisavam muito conversar sobre algo, mas não conseguiam. Normalmente se encorajavam a colocar para fora, em palavras, o que quer que anuviasse as mentes turbulentas. Daquela vez, no entanto, não tiveram coragem. O que era apenas mais uma prova de que pensavam as mesmas coisas.

– O que é isso? – se esforçando para expulsar a atmosfera silenciosamente caótica entre eles, Renjun apontou para o papel dobrado que Jeno carregava desde o galpão.

Ele o segurou mais perto, com as duas mãos, e pensou em desconversar. Não era nada, poderia dizer e inventar um assunto qualquer para ocupar o silêncio que os incomodava. Mas era estupidez continuar fugindo de algo que vinha cada vez mais veloz em sua direção. Cedo ou tarde seriam obrigados a discutir sobre aquilo, o grande elefante branco que tentavam ignorar, mas já tinha feito sua presença ser notada. Dessa forma, estendeu o papel para ele e continuou a caminhar em silêncio.

Renjun parou dois passos atrás.

Como Jaemin, não teve dificuldade em delimitar os ângulos e sombras conhecidos de sua mão entre os dedos de outra pessoa. Ainda tinha a sensação da pele macia contra a sua, do suor do nervosismo, do carinho tímido que aceitou. As mãos tremeram e o papel imitou o movimento antes que ele erguesse o olhar para Jeno, que encarava a calçada.

– Jeno – ele o chamava cheio de medo, um medo que fez o do próprio Jeno criar forças em seu peito e ele acabou mordendo o próprio lábio para contê-lo – Olha para mim.

Jeno não tinha certeza se conseguiria, o medo se tornando pavor do que encontraria nos olhos de Renjun. Mas ele foi em sua direção, passos sem pressa alguma, voz que não cobrava, apenas pedia.

– O que isso quer dizer?

Jeno suspirou e ergueu o olhar. Não entenderam por completo o que viam nos olhos um do outro e isso era meio assustador. Ninguém lia um ao outro como eles faziam, não entender as páginas novas que começavam a ser escritas entre eles era como desaprender a andar.

– O que você acha que quer dizer? – devolveu a pergunta e viu que Renjun estava tão perdido quanto ele. Quando se deixaram levar tanto para o meio daquela confusão? Não seria melhor ignorar? Eram felizes da forma que viviam, um passo na direção errada, na direção mais perigosa, poderia fazer desandar tudo o que tinham construído até ali. E Jeno se sentia cruel por pensar desse jeito, mas o medo ganhava espaço em seu coração. Medo do desconhecido – Eu devo me preocupar com o que vi?

Renjun pareceu magoado, quase decepcionado. Jeno se perguntou o que ele esperava que dissesse, como esperava que reagisse. O semblante caiu ao desenho mais uma vez antes de devolvê-lo.

– Eu nunca faria nada para te machucar, você sabe disso.

Jeno assentiu, porque sabia. Mas havia um gosto amargo na boca quando percebeu que eles estavam prestes a ignorar o assunto mais uma vez, era visível que Renjun engolia os próprios sentimentos para não machucar os seus. Com a resposta em forma de pergunta que ofereceu a ele, tinha aniquilado as esperanças de que fosse recíproco. Aquele sentimento torto e confuso, que se alongava para além deles dois. Não poderiam, poderiam? Jeno não conseguia ver como fariam dar certo e na calçada da rua de seu bairro, decidiu que esconder que sentia o mesmo que Renjun era o melhor a fazer. Ele mesmo dissera que nunca faria nada para machucá-lo e talvez o melhor fosse continuar na segurança do que viviam, sem arriscar.

Esse foi um acordo silencioso que eles selaram ao deixar passar mais uma oportunidade de serem sinceros. A caminhada silenciosa foi menos agradável e o abraço que trocaram na porta da casa de Jeno foi como uma despedida dolorosa. Se despediam da esperança de aceitarem os sentimentos que nutriam por outro alguém, reafirmavam a fidelidade que tinham prometido um ao outro e calavam os gritos do coração com os argumentos lógicos da mente. Quando se afastaram, fingiram que não viram os olhos marejados um do outro. Ainda assim, quando Renjun o tocou no rosto, foi sincero ao dizer.

– Eu amo você.

Jeno sentiu o lábio inferior tremer, o coração parecia ter começado a trincar dentro do peito quando ele suspirou e, cheio de sinceridade no meio da dor, respondeu.

– Eu também te amo.

A bicicleta de Jaemin parou de trepidar pelo bairro quando chegou à rua onde seu galpão era construído, o som bagunçado do aquecimento individual de cada membro do Nightmares o fez sorrir enquanto descia da bike, empurrando-a para dentro pela porta já aberta. Sua sala tinha virado a nova garagem de ensaio dos melhores amigos, a bateria de Jisung perto das janelas altas tinha sido carregada por seu pai em um carrinho acoplado ao carro da família, Chenle a sua frente e à esquerda ainda conectava a guitarra na caixa de som e Mark dedilhava uma melodia qualquer no baixo, sentado no sofá ao lado de Donghyuck.

Jaemin deliberadamente ignorou a visão de Jeno oferecendo uma garrafa de água a Renjun enquanto ele aquecia a voz.

– Tenho novidades! – anunciou animado e conseguiu atenções curiosas em sua direção.

– Onde você estava? – Chenle perguntou, deixando a guitarra escorada na parede atrás de Jisung antes de se aproximar do amigo.

– Indo atrás da tal novidade que estou tentando contar – alfinetou e riu quando Chenle ergueu o dedo do meio – Vocês sabem que eu trabalho em um clube e eu tenho direito a aproveitar as piscinas e as quadras de esporte uma vez por mês pelo trabalho que faço – a informação fez com que arqueassem as sobrancelhas e Jaemin sorriu animado, as mãos esfregando uma palma na outra pela euforia – Bom, eu nunca animei muito a aproveitar a regalia porque o clube não tem graça quando a gente vai sozinho. Então eu fui conversar com meu gerente para ver se ele se importava que eu condensasse os meses que trabalhei sem usar o clube em um dia, só que levando mais gente comigo – antes que ele chegasse no final da história, sorrisos imensos já estavam abertos e eles quase comemoraram no meio da frase quando Jaemin completou – Ele falou que a gente pode usar a piscina nesse fim de semana!

Os gritos e os aplausos eram esperados, mas Jaemin ficou feliz em ver que não era o único animado com a ideia. De esguelha, notou os sorrisos que partiam e remendavam seu coração se abrindo nas faces que vinham lhe tirando o sono. Há três dias eles tinham ido dormir em sua casa e só então eles tinham se reencontrado, mas Jaemin notou que algo estava diferente. Não sabia o que poderia ter acontecido no meio do caminho, mas sentia uma parede invisível entre ele e os outros dois, bloqueando-o de se aproximar. De qualquer forma, não forçaria algo que nenhum dos dois aparentava querer mais, mesmo que isso o machucasse por dentro.

O ensaio foi exatamente como deveria: longo e barulhento, com alguns palavrões e pequenas discussões entre uma música e outra. Donghyuck havia sentado entre ele e Jeno e o cutucou com o cotovelo em algum momento para comentar.

– A cor ficou bonita em você – falou, apontando os fios laranjas e fazendo Jaemin sorrir agradecido – Mas não sei como você ainda não ficou careca depois de meter tanta tinta nesse cabelo.

Jaemin riu mais alto e não percebeu que chamou a atenção de Renjun com o ato, fazendo com que ele errasse a letra do cover que executavam. Jeno, que tentava muito não prestar atenção na conversa entre os outros dois ao seu lado, percebeu quando os olhos do namorado falharam em manter a atenção longe do dono do galpão.

Suspirou, porque não poderia culpá-lo. Num tom claro e vivo de laranja, os cabelos de Jaemin pareciam emoldurar seu rosto de uma maneira perversa que destacava todos os pontos bonitos – que se constituíam do rosto inteiro. Os lábios finos, o queixo e o maxilar marcados, as maçãs saltadas e os olhos expressivos no formato de amêndoas. Ele era todo lindo e quando Renjun percebeu que o encarava demais, olhou para Jeno quase como se o pedisse desculpas.

Jeno desviou o olhar. Não por culpá-lo, mas para esconder que sentia o mesmo. Estava hipnotizado por Jaemin, mesmo que tivessem prometido soterrar aquela confusão, e se sentia culpado.

O ensaio continuou até que as estranhezas fossem perdidas entre os acordes de canções famosas e Jeno se surpreendeu com a beleza de Jisung quando, por conta do calor e do suor, ele resolveu colocar a tiara e tirar o cabelo do rosto. Brindaram com refrigerante pelo ensaio bem-sucedido e quando partiram, Renjun não conseguiu evitar lançar um sorriso afetado a Jaemin.

Eles se entendiam bem demais para que ele não tivesse reparado na mágoa dos olhos dele. E queria se bater por pensar que magoava Jeno ao se preocupar com os sentimentos de Jaemin assim, mas não conseguia se conter, não conseguia mentir para si mesmo. Queria tentar mais uma vez, uma conversa mais sincera onde diria com todas as palavras aquilo que Jeno ainda parecia incapaz de assumir. Tinha o mesmo medo que ele, o medo do que o desconhecido poderia fazer com a familiaridade do que viviam, mas era sincero demais consigo mesmo para continuar levando as coisas da forma como estavam.

Quando se viram sozinhos novamente, olhou para Jeno antes de perguntar.

– Ainda vem para a minha casa na sexta?

Era uma segunda-feira e a banda ainda se encontraria para ensaiar na quarta, mas a ansiedade batia na porta desde a ideia sussurrada entre beijos no mercado na sexta-feira anterior. Jeno sentiu as bochechas queimarem, ideias e imagens se formando em sua cabeça antes de responder.

– Claro.

– Ei – Renjun chamou e eles pararam de andar, se encarando na calçada – Não precisa ficar nervoso. Não precisamos fazer nada demais, você sabe disso.

Jeno soltou o ar e concordou, mas quando voltou a olhar para Renjun, tinha determinação por trás da apreensão dos olhos.

– Mas eu quero fazer algo demais – confidenciou, fazendo o semblante chocado de Renjun lhe arrancar uma risada – Eu sempre quero fazer coisas demais com você, Junnie.

Ele viu o ar sair com dificuldade na expiração e Renjun apertar os olhos contra os punhos.

– Você ainda vai me matar, Lee Jeno.

– Espero que não antes de sexta.

Quando eles riram, foi com alívio. Alívio por ainda serem os mesmos, ainda serem capazes de fazer nascer risadas um no outro. Mas quando Renjun passou o braço pelos ombros de Jeno para guiá-lo em um discreto abraço até a porta de casa, ele corrigiu o pensamento.

Não eram mais os mesmos e, por respeito a tudo o que tinham vivido e construído juntos, não poderia continuar mentindo sobre seus sentimentos. Provaria a Jeno que o amava com a mesma força dos primeiros dias, mas esperava ser sábio o suficiente para explicar que aquele amor não mais se restringia a dois corações e sim tinha crescido para tocar mais um.

Temeu a chegada da sexta-feira tanto quanto ansiou por vivê-la.


Notas Finais


É isso, galeris!
Fui conferir uma coisinha e no próximo cap tem uma surpresa noren pra vcs risos ~tou nervorser~
Mas me digam, oq acharam do cap?

Obrigada por lerem até aqui e até o próximo ~
XOXO


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