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História 91 Dias de Outono - Primeira folha


Escrita por: azul46

Notas do Autor


Postando por culpa da maju linda.

Capítulo 1 - Primeira folha


Fanfic / Fanfiction 91 Dias de Outono - Primeira folha

O vento batia em seu cabelo e o bagunçava, jogando as várias mechas castanhas para todos os lados. Suas pernas pendiam para fora e se balançavam. Fazia marcas na parede encardida do prédio com seus calcanhares sujos de terra. Qualquer um que o visse naquela posição e naquele local, certamente pensaria que ele estava prestes a tirar sua vida. Porém, Taehyung não tinha intenção alguma de saltar da abandonada construção. Tornara-se hábito seu subir pelas escadas rangentes do velho prédio e sentar-se no parapeito, observando o quase não existente movimento debaixo de seus pés. Taehyung gostava de observar as pessoas andando pela calçada, tão pequenas vistas de cima. Ele ria sozinho, achando engraçado como as pessoas eram pequenas e insignificantes enquanto o mundo era tão grande e amplo. Ele mesmo não era diferente daquelas pessoas. Era pequeno e insignificante, apenas mais um na multidão. Nada mais do que isso.

Antigamente ele não se sentia assim. Taehyung se sentia especial, com suas cores únicas de cabelo e sorriso peculiar. Ele se sentia único, um em um milhão.

Ele suspirou, deixando a cabeça cair para trás e fazendo seus olhos se perderem na imensidão azul cerúleo do céu.

Quando foi que isso mudou?

Hoje em dia ele não tingia mais o cabelo de cores vibrantes, apenas um castanho comum e qualquer, como o de tantas outras pessoas. Envergonhava-se de seu sorriso retangular, que os alunos de sua classe diziam ser estranho. Não se sentia mais especial, mas sim, apenas mais um ser anônimo no meio de tantos outros.

Seu celular de repente vibrou no bolso. Não esperava nenhuma outra pessoa senão sua babá de plantão, vinte e quatro horas por dia, tirando àquelas em que ele se encontrava dormindo. Tirou o aparelho do bolso do moletom e abriu a mensagem de Yoongi.

 

Desce

Yoongi hyung

 

Abaixou a cabeça para poder ver melhor e lá estava ele, parado na calçada e olhando para cima. Yoongi se escondia dentro de um grande cachecol enrolado e amarrado em seu pescoço. Suas mãos iam dentro dos bolsos do casaco e seus cabelos avermelhados, já desbotados, voavam com o vento frio. Taehyung sorriu e se levantou, fazendo uma dança estranha antes de sumir para dentro do prédio.

 

X

 

Apenas Yoongi sabia aonde ele ia quando queria ficar sozinho. Taehyung não ia apenas ao prédio abandonado, mas ia a vários outros lugares que lhe passavam um sentimento de tranquilidade, e Yoongi sabia todos eles. Taehyung sempre teve a mania de explorar os locais em que se encontrava até achar um canto interessante, um local onde ele pudesse ficar sozinho e pensar. Namjoon o arrastava para diversas festas, encontros familiares, exposições e vários tipos de eventos. Yoongi sabia que Taehyung iria sorrir amarelo para as pessoas por alguns minutos e logo iria se esgueirar para algum desses lugares, algum oásis no meio da multidão barulhenta. Ele mesmo não gostava de multidões, mas se obrigava a parecer simpático até que se cansasse e desse qualquer desculpa para ir embora dormir, levando Taehyung para casa de carona. Ele entendia o mais novo bem mais do que pretendia e bem mais do que devia entender. Não sabia se isso era ruim ou não, só levava a vida como ela era. Cuidava de Taehyung do jeito que um dia foi lhe pedido por seu melhor amigo.

Algo que agora ele fazia por conta própria, sem perceber.

 

X

 

Taehyung logo apareceu em sua frente com roupas cheias da poeira daquela construção. Yoongi fez um sinal com a cabeça e os dois começaram a andar no sentido da rua. Estavam acostumados com aquele silencio confortável, nenhum deles precisava falar nada. O mais velho nunca foi de falar muito, apenas quando necessário e quando ele queria dizer algo, o que não era muito frequente. Taehyung era o oposto. Ele sim, falava pelos cotovelos, mas apenas com determinadas pessoas. Yoongi era uma delas e ele ouvia pacientemente a baboseira aparentemente sem sentido do mais novo.

Aparentemente.

— Seu cabelo está da cor das folhas que estão caindo no chão. — Taehyung sorriu e apontou para o cabelo desarrumado do mais velho. De fato, eles estavam no outono, a estação em que as folhas perdem sua cor verde e secam, caindo das árvores e forrando as ruas e calçadas.

Yoongi olhou para cima, como se tentasse encarar a própria franja que caia sobre seus olhos e concordou com a cabeça.

— E o seu é marrom assim como o tronco das árvores. – Ele disse, bagunçando ainda mais os cabelos de Taehyung, que fez uma careta e começou a chutar as pedrinhas na rua.

— Marrom como o de todo mundo.

— Essa cor cai bem em você.

— Obrigado.

Então Taehyung parou em uma esquina qualquer, onde havia um grande amontoado de folhas secas. Puxou Yoongi pelo braço e apontou para o grande monte com um sorriso no rosto.

— Se o hyung se escondesse dentro desse monte, seria bem difícil de achar! — Ele sorriu — Como um camaleão!

— Eu não vou entrar nisso aí! — Yoongi respondeu fazendo uma cara de chateação.

Ele bufou, tentando não ceder ao quão adorável o mais novo ficava com um bico nos lábios, rosados por causa do frio. Yoongi tirou sua câmera da bolsa e entregou para Taehyung, logo se agachando perto do monte e lançando para ele um olhar, como se estivesse cogitando se esconder dentro dele. Depois que ouviu o “click” da câmera, se pôs em pé novamente e foi acolhido pelo sorriso retangular do mais novo.

— A foto ficou muito boa!

— É bom que tenha ficado, porque não vou fazer isso outra vez.

Os dois andaram o resto do percurso trocando poucas palavras. Taehyung reclamava sobre as aulas e Yoongi balançava a cabeça uma vez ou outra. Já havia terminado a escola há algum tempo. Tentava dizer que ir à escola era necessário em poucas palavras, porque tinha preguiça de realmente falar tudo o que tinha a dizer sobre o assunto. Sabia que Taehyung não gostava de ir à escola e sabia o porquê, mas não podia fazer o garoto se desanimar ainda mais. Ele mesmo não gostava da escola, mas sabia que era uma etapa necessária e que Namjoon o mataria se ele dissesse alguma coisa que fizesse Taehyung desistir de frequentar o local.

A única coisa que Yoongi podia fazer era ouvir o garoto e tentar ajudar da forma que sabia, dando colo e conselhos que nem ele mesmo fazia ou fez em sua época de escola. A única coisa que podia fazer era confortar o garoto, porque sabia que Taehyung era como um vidro trincado e que não era ele quem poderia colar os pedaços todos novamente.

Podia apenas mantê-los juntos.

Chegando ao apartamento de Taehyung, Yoongi se viu subindo junto, pois o mais novo insistiu que não queria ficar sozinho. Ele queria dizer que ele não ficaria sozinho, mas sabia que Namjoon provavelmente não estava em casa. Yoongi preferia rumar para casa, se afundar em uma xícara de café e depois em seu sofá quentinho, mas não podia dizer não àqueles grandes olhos castanhos.

Nunca pôde.

Talvez porque Taehyung o lembrasse muito de si mesmo ou porque depois de tanto tempo, havia se apegado ao garoto. Yoongi preferia que fosse a primeira opção, embora soubesse no fundo que se importava com Taehyung bem mais do que queria.

Bem mais do que devia.

 

X

 

Taehyung estava encarando as letras brancas que passavam rapidamente sobre o fundo preto na televisão. Yoongi dormia ao seu lado, roncando baixinho enrolado em um cobertor de bichinho que pertencia a Taehyung. O ruivo nunca aguentava até o final do filme, sempre dormia na melhor parte dele. Taehyung riu, brincando com os cabelos avermelhados dele, pensando se Yoongi havia alguma vez na vida terminado de assistir um filme sem adormecer antes do final. Pensava que talvez assim fosse melhor, dormir sem saber o que acontecia no final, imaginar diversos finais diferentes, sem ter que ficar preso ao final proposto pelo autor. É, talvez ele devesse fazer isso também, desligar a TV antes de o filme acabar, apenas para dormir pensando em uma possibilidade infinita de finais que a história poderia ter.

Sem ter certeza de nenhum deles.

Afinal, a vida era assim não é? Viver dia após dia, pensando no hoje no ontem e no amanhã, mas sem saber ao certo como vai ser no final. Taehyung não pensava na morte, mas em como ele estaria dali a alguns anos. Quem ele seria depois que terminasse a escola e o que ele faria. Não sabia. Era como se estivesse vendo um longo filme que não possuía um final. Vivia pensando nisso, em diversas possibilidades. Seria médico? Seria um engenheiro? Talvez um dentista, ou um malabarista. Quem sabe um músico ou um mímico? Um bibliotecário ou um astronauta? Tinha muitas opções, assim como os filmes poderiam ter vários finais em sua cabeça.

É, talvez fosse por isso que Yoongi dormia tanto. Para não pensar muito nessas coisas.

Ouviu a chave sendo virada na porta do apartamento e seu corpo todo se enrijeceu. Sabia quem era. Ora, quem mais poderia ser? Seu meio irmão, vulgo Namjoon, Namjoonie ou apenas Joonie como costumava chamá-lo quando ambos eram crianças. O loiro entrou pela porta e a fechou. Seu cabelo, como sempre impecável, vinha penteado para o lado e com gel demais para ser bagunçado pelo vento lá de fora. Ele lhe mostrou seu sorriso charmoso, aquele que fazia suas covinhas aparecerem. Namjoon com certeza herdou o sorriso lindo da mãe, a única coisa que os dois tinham em comum. Um sorriso que derretia qualquer um, que conseguia qualquer coisa e que colocava qualquer um em um transe hipnótico, ou como Taehyung gostava de pensar, um feitiço mágico. E ele? Havia herdado o sorriso quadrado de um homem qualquer, um infeliz que não teve o prazer de conhecer e que não chamava de pai.

Não o chamava de nada.

Namjoon largou as coisas em cima da mesa da sala e andou até o sofá, sorrindo de leve para o amigo que babava em suas almofadas. Namjoon gostava de ver Yoongi em sua casa, acompanhando Taehyung. Afinal, foi ele que pediu para o mais velho ficar de olho em seu irmãozinho, como chamava Taehyung carinhosamente em sua cabeça. Sabia que seu irmão não gostava mais dele como antigamente, embora não conseguisse entender o motivo. Yoongi era seu melhor amigo e ele sabia que podia confiar no ruivo, mas não deixava de sentir ciúmes. Ele era o irmão mais velho e não Yoongi. Por que Taehyung preferia que Yoongi tomasse conta dele então? Seu sorriso desmoronou em uma expressão séria, fazendo Taehyung desviar os olhos que o estavam encarando desde que ele chegara ao apartamento.

— Acorde ele, Tae. — Pediu, tentando soar o mais suave possível. – Yoongi tem que ir para casa, logo vai ficar tarde.

— Deixa ele dormir aqui hoje. — Taehyung pediu baixinho, num volume de voz quase que inaudível. — Além disso, vai ser impossível acordá-lo.

Suspirando, Namjoon consentiu. Não gostava do fato de seu irmão o tratar daquele jeito frio e o recepcionar com sua famosa expressão vazia. Mas não podia fazer outra coisa que não fosse tentar agradar o garoto, já que não sabia o que mais poderia fazer.

— Fome? — Ele perguntou, indo até cozinha a acendendo as luzes.

— Não.

— Você comeu alguma coisa?

— Yoongi hyung e eu comemos salgadinhos.

— Taehyung... — Namjoon suspirou e voltou à sala, conectando seus olhos com aqueles profundos e inexpressivos olhos castanhos. — Você precisa comer algo decente antes de dormir.

— Não estou com fome hyung, sério. – Não adiantava insistir.

— Então vá para cama, você tem aula cedo amanhã.

— Eu vou dormir no sofá.

— Como vai dormir no sofá se Yoongi já está dormindo aí? – Namjoon franziu as sobrancelhas e sentiu seu coração se apertar ao ver o garoto se aconchegar perto do amigo, colocando-se debaixo do cobertor de bichinho e fechando os olhos.

A conversa acabava ali.

 

X

 

Yoongi acordou com uma tremenda dor nas costas e sentindo mais calor do que gostaria. Sentia uma respiração quente bater em seu pescoço e dois braços magros o abraçarem por debaixo do cobertor. Não precisava abrir os olhos para saber que estava servindo de urso de pelúcia para um certo garoto de cabelos castanhos. Finalmente abriu os olhos e apertou o abraço em volta de Taehyung, logo sentindo o garoto esfregar o rosto nele ainda mais, como um gatinho.

Fofo, Yoongi pensou.

Estava prestes a fechar os olhos novamente e voltar para o mundo dos sonhos, quando ouviu Namjoon limpar a garganta e bater os pés em frente ao sofá. Yoongi sorriu sem graça, mas logo desmanchou a expressão, notando o olhar sério do amigo, que alternava entre ele e o garoto adormecido.

Não precisava falar nada.

— Obrigado por ter me deixado ficar. — Yoongi se desprendeu do garoto delicadamente e se colocou de pé, esticando o corpo. — Dormi como uma pedra.

— Taehyung pediu para não te acordar e ele não quis dormir na cama dele. — Namjoon disse, ainda sério.

— Não tenho culpa se a criança gosta tanto assim de mim! — Yoongi riu, debochando. Mas Namjoon não estava rindo junto. — Eu... Vou embora, até mais!

Yoongi sabia que estava se metendo em uma relação complicada entre dois meio irmãos. Sabia que estava fazendo bem mais do que “ficar de olho” em Taehyung. Mas o garoto precisava dele, precisava de alguém que lhe desse o que Namjoon não conseguia e não sabia dar. Yoongi nunca quis roubar o lugar de irmão mais velho de Taehyung, não, nunca. Nunca faria isso com seu melhor amigo.

Mas essa escolha não cabia só a ele.

Assim que Yoongi saiu pela porta, Namjoon se sentou no sofá e começou a correr a mão pelo braço de Taehyung. Seus dedos gelados fizeram o garoto tremer debaixo de seus dígitos e acordar assustado, percebendo a falta de seu grande urso de pelúcia.

– Yoongi foi embora?

– Sim, e você tem que se arrumar para a escola.

Foi o bastante para que Taehyung se levantasse arrastando seu cobertor de bichinho e se trancasse no quarto.

Namjoon odiava segundas-feiras.

 

X

 

Uma das únicas coisas que Taehyung gostava sobre ir à escola era passar pelo caminho que levava à grande construção. Ele ia andando lentamente pela larga rua, coberta de pedras ao invés do asfalto comum das outras ruas. Mordia seu salgado e andava pela subida que parecia sem fim.

Sua escola ficava em uma colina, igual nos animes.

Dos dois lados da rua havia um caminho de altas árvores, antigas a julgar por seu tamanho e pela grossura de seus troncos. Seus altos galhos e folhas se encontravam por cima da rua, fazendo como que um túnel natural, cheio de falhas por conta dos vãos entre as folhas. Taehyung gostava de observar os pequenos pedaços de céu nesses vãos, e os pequenos raios de luz que passavam por eles e faziam desenhos disformes nas pedras. Gostava ainda mais quando era outono, porque as folhas estavam todas em vários tons de marrom, amarelo e vermelho. Folhas essas que caiam sobre a calçada e sobre a rua, escondendo-as suavemente. Gostava de pisar nas folhas que estavam em seu caminho, ouvindo o barulho que elas faziam ao se quebrarem em pedacinhos.  

— Desculpe folhinhas por pisar em vocês, mas eu gosto do barulho. — Ele dizia olhando para baixo, enquanto fazia uma música descompassada cujo arranjo de fundo era o vento que batia nas arvores e chacoalhava as folhas que ainda resistiam presas a elas.

Estava um pouco atrasado para a escola, isso porque preferia passar na padaria perto de casa e tomar o café da manhã andando, apenas para evitar ficar torturantes minutos sentado à mesa com Namjoon.

Taehyung então começou a correr, fazendo as folhas perto de si voarem em várias direções. O vento parecia ajudá-lo, soprando na mesma direção que ele corria e fazendo várias folhas grudarem em seu uniforme escolar.

Hoje ao menos ele teria a companhia das folhas.

 

X

 

Para a sua sorte, o professor ainda não estava na sala quando ele chegou. Nas segundas-feiras a aula começava com Filosofia, aula dada por um professor magrelo que não se importava nem um pouco em chegar no horário.

A porta estava aberta e os alunos ainda estavam em pé conversando. Taehyung passou por eles sem ser notado – como sempre – e se sentou em seu lugar, a penúltima carteira da fila da janela. Depois que se sentou, sentiu que algo estava errado e de fato estava. Não costumava sentar ninguém na ultima carteira, então por que Taehyung sentia que havia alguém lá? Estava tão acostumado a andar de cabeça baixa dentro da sala que nem notou a presença da pessoa sentada na carteira que era para estar vazia.

Pelo menos desde que Jimin parou de sentar ali.

Taehyung então se virou para trás, tentando não chamar muita a atenção da pessoa que queria observar. Quem estava sentado atrás dele era um garoto de cabelos tão negros e brilhantes como penas de corvo. Seus olhos grandes e escuros estavam direcionados para a mesa, como se ela fosse a coisa mais interessante do mundo. O garoto estava de braços cruzados, corpo esticado para trás e usando grandes fones no ouvido. Usava uma camiseta preta de alguma banda de rock por baixo do blazer cinza do uniforme, onde deveria estar a camisa branca que está descrita nas normas de vestuário do colégio. Ele balançava a cabeça levemente, provavelmente de acordo com a batida da música, fazendo seus cabelos escuros dançarem por cima de sua testa.

Taehyung ficou o observando, perplexo. Por que ele estava sentado ali? Por que Taehyung nunca o havia visto na sala? Taehyung não falava com os alunos da classe, mas ele os conhecia e sabia seus nomes. Como ele podia ter passado despercebido? Seria ele um aluno novo? No meio do ano?

Sem perceber, estava com uma expressão confusa no rosto. O garoto então tirou sua atenção da mesa e olhou nos olhos de Taehyung, que se assustou com o contato visual repentino. Já o garoto, olhava-o com a mesma expressão calma que estava antes, ainda ouvindo música pelos fones de ouvido.

Taehyung não sabia o que fazer. Será que ele devia dizer oi? Será que devia se apresentar? Ou será que devia simplesmente sorrir e virar para frente? Fazia tempo que não conversava com ninguém na sala de aula e nunca foi de puxar conversa com desconhecidos. Não sabia o que devia fazer. Então apenas continuou olhando para o garoto, olhos fixos naqueles olhos redondos. Tinha esse costume ficar encarando as pessoas sem perceber, a não ser é claro que essa pessoa fosse Namjoon. Normalmente as pessoas não aguentavam o peso de seu olhar sobre o delas e o desviavam. O garoto dos fones de ouvido, porém, continuava o encarando como se os dois estivessem em uma daquelas brincadeiras cujo ganhador era aquele que piscava primeiro. Os dois piscavam e nenhum deles desviava o olhar, até que o garoto de cabelos negros quebrou o silencio entre os dois.

— Jeon Jeongguk. — Ele disse com uma voz meio rouca, porém agradável aos ouvidos.

Taehyung ficou olhando para o então Jeon Jeongguk, piscando seus olhos arregalados e segurando com as duas mãos no encosto da carteira. O que ele devia fazer agora? Devia dizer seu nome também? Devia sorrir e dizer “prazer em conhecê-lo”?

— Ah... — Foi tudo o que saiu de sua boca, um sonoro e baixo “ah”. Taehyung praguejou mentalmente e manteve a expressão vazia no rosto. Agora que tinha se envergonhado, devia finalmente virar para frente e fingir que nada havia acontecido? Devia fazer como sempre fazia e fingir que era invisível? Que não existia?

E como acontecia frequentemente, acabou se perdendo dentro de sua confusa cabecinha enquanto seu rosto mantinha aquela expressão que não segurava nenhuma emoção. Jeongguk franziu as sobrancelhas e sua cabeça pendeu para o lado, tentando entender qual era a daquele garoto estranho a sua frente. Pensou em acenar com a mão na frente do rosto de Taehyung, para acordá-lo do aparente transe em que se encontrava enquanto olhava para o vazio sem quase nem piscar.

Taehyung só acordou de seus devaneios quando ouviu uma risadinha abafada. Jeongguk estava mostrando para ele um pequeno sorriso de canto. Taehyung abriu a boca em um formato de ‘o’ e ficou observando o sorriso charmoso do outro, pensando que talvez ele estivesse debochando dele, assim como todos os outros faziam. Então Jeongguk levantou a mão e Taehyung instintivamente fechou os olhos, esperando receber um tapa, ou cascudo ou qualquer tipo de agressão que pudesse ser feita com uma mão só.

Mas nada disso veio.

Abrindo primeiro um dos olhos, Taehyung viu uma folha amarronzada bem perto de seu nariz. Logo que abriu o segundo, pode ver Jeongguk sorrindo para ele enquanto segurava a folha.

— Estava no seu cabelo. — O garoto disse e Taehyung pegou a folha com uma das mãos. — Eu demorei para perceber porque é da mesma cor que ele.

Taehyung alternava seu olhar entre a folha e Jeongguk, sem saber muito o que fazer. Devia agradecer? O que devia fazer com a folha agora? Aceitar como presente?  Devia dizer “ah muito obrigado por me dar essa folha” ou “gentileza sua tirá-la do meu cabelo”?

— E você se chama...? — Jeongguk começou a falar novamente, tirando os fones de ouvido e os descansando em cima da carteira.

Taehyung abriu a boca e soltou um pouco de ar. Sentiu seu rosto queimar por inteiro e suas mãos começaram a suar. É simples Kim Taehyung! Ele te fez uma pergunta simples! Ele dizia para si mesmo silenciosamente dentro de sua cabeça.

Jeongguk o observava como aquele leve sorriso no rosto, como se estivesse achando graça da confusão interna que Taehyung estava passando.

— Kim... — Assustado com barulho rouco e baixo da sua própria voz, Taehyung limpou a garganta e repetiu mais alto. — Kim Taehyung.

Jeongguk sorriu e estendeu a mão para que Taehyung a apertasse, mas ele ficou apenas a observando por alguns segundos. Jeongguk tinha mãos bonitas, mas elas não eram finas como as suas, algo que o irritava. Taehyung ficou imaginando se aquelas mãos tocavam algum instrumento, porque certamente ficariam bonitas tocando qualquer um deles. Talvez ele tocasse violão ou guitarra, julgando pela camiseta de banda de rock que usava, ou talvez piano.

 É, aquelas mãos ficariam bonitas tocando piano...

— Sabe, quando alguém te estende a mão, é normal que você a aperte. — Jeongguk disse e Taehyung se viu ainda mais envergonhado do que estava. Levou sua mão ao encontro da mão ligeiramente mais pálida do outro. Tentou apertar com a mesma força e pode ouvir novamente a risadinha do outro. — Isso, com firmeza!

Taehyung sorriu, sorriu de verdade. Não era aquele sorriso enorme que ele sorria quando estava extremante feliz, mas era um pequeno sorriso verdadeiro.

Jeongguk se viu hipnotizado por aquele pequeno sorriso diferente, meio quadrado e estranhamente adorável, tímido. Parecia que era Taehyung o aluno transferido e não ele, o que era engraçado.

— Do que você tanto ri? — Taehyung tomou coragem e perguntou, fazendo uma expressão brava sem perceber. Na verdade, ele parecia mais uma criancinha emburrada do que alguém realmente bravo.

— De você. — Jeongguk respondeu, rindo mais um pouco da careta que Taehyung fez em seguida.

Ótimo! Mais um para rir de mim, pensou o castanho. Ele desviou o olhar e o concentrou nas mãos de Jeongguk, que agora estavam espalmadas na carteira de madeira. Eram com certeza mãos masculinas, apesar da delicadeza e dos dedos compridos. Seus dedos não eram tão ossudos como os de Yoongi e sua pele não tão branca, mas eram até parecidos. Olhou para suas próprias mãos, esquecendo completamente da presença do outro por um momento. Começou a comparar seus dedos compridos e finos com os dedos de Jeongguk. Suas mãos eram mais escuras, de uma cor levemente bronzeada. Eram mais delicadas quase que como mãos femininas, parecidas com as de Namjoon. Talvez eles tenham herdado as mesmas mãos que sua mãe.

Jeongguk ficou observando o garoto a sua frente, que estranhamente trocava olhares entre suas próprias mãos e as de Jeongguk. Achou engraçado o jeito do outro, porque nunca havia conhecido alguém tão... Estranho? Seria essa a palavra? Diferente? Talvez ele só fosse tímido e avoado.

Fofo, Jeongguk pensou.

— Eu sou novo aqui. — Resolveu começar a conversa novamente, tirando a atenção do garoto de suas mãos. — Será que eu poderia ficar com você? Eu não sei onde ficam os lugares e eu não conheço ninguém.

Taehyung o olhou confuso. Por que ele queria ficar com ele? Normalmente as pessoas o evitavam e corriam atrás de Jimin e sua turma. Os alunos legais, como ele os chamava dentro da sua cabeça. Ninguém queria ficar com Taehyung, então por quê?  Por que Jeongguk queria passar seu primeiro dia de aula ao lado de um ninguém? Isso significaria escrever na testa que ele também era um ninguém e assim seria por todo o resto da sua vida escolar. Isso não era regra e não estava escrito em nenhum lugar, mas permanecia na mente dos alunos do colégio e todos respeitavam esse acordo implícito. Até Taehyung sabia que ele fazia parte daqueles alunos que pouco importavam para o resto. Era como se ele fosse mais um móvel daquela sala. Raramente alunos desse tipo conseguiam mudar esse rótulo. Ainda mais ele, que era diferente de todos os outros alunos de uma certa forma. 

Jimin era um dos casos raros que conseguira a façanha de "subir de nível".

Mas Jeongguk era novo na escola. Além disso, ele era bonito e tinha uma aura descolada. Só de olhar para ele, Taehyung podia afirmar que ele era como os outros alunos daquela escola cara. Podia facilmente fazer amizade com Jimin e entrar no grupinho dos legais, então por que jogar tudo isso fora e ficar com Taehyung?

Talvez ele devesse explicar das regras implícitas do colégio.

Coitado do garoto novo, não sabia de nada.

— Talvez você queira ficar com eles. — Taehyung apontou para as pessoas que estavam no meio da sala. Um grupo de algumas meninas e meninos bonitos e sorridentes. O grupo de amigos de Jimin.

— Se eu quisesse ficar com eles, teria pedido a eles e não a você. — Jeongguk sorriu. — A menos que você não queira a minha companhia, daí eu vou ficar sozinho mesmo.

— Eu não... Não é isso! Eu quero, quer dizer... Eu não quero... Não, eu quero... — Jeongguk dessa vez soltou uma risada alta e Taehyung se sentiu pequeno, menor do que já se sentia antes.

Começou, Jeongguk seria mais um dos que riria dele.

E por que seria diferente?

— Só diga sim ou não. — Jeongguk disse, assim que terminou de rir.

Taehyung pensou um pouco. Se dissesse “não” soaria muito rude e negativo. Mas e se dissesse “sim”? Será que Jeongguk iria achar que ele era um maluco desesperado? Um doido?

— Sim. — Respondeu baixinho, resolvendo confiar nas palavras afirmativas que sempre lhe soaram mais leves do que as negativas.

Jeongguk então abriu um sorriso maior do que antes, fazendo seus olhos quase se fecharem.

Oh!

Taehyung queria conversar mais com Jeongguk, mas finalmente o professor chegou à sala. O barulho da porta se fechando o fez virar instintivamente para frente, sem dizer mais nada para o outro.

Será que fui mal educado? Será que eu devia ter dito alguma coisa? Um “ok” ou um “nos vemos depois” ou “a aula vai começar”? Taehyung ficou pensando sozinho enquanto o professor arrumava seu material e os alunos se sentavam em seus lugares.

Apesar de confuso e envergonhado, Taehyung estava feliz. Fora uma conversa estranha, com poucas palavras, mas foi uma conversa de verdade. Com um estranho!

Na verdade, não era mais um estranho.

Jeon Jeongguk.

Hoje Taehyung não passaria o intervalo sozinho. 


Notas Finais


Eu devo ter revisado umas 5 vezes, mas algo sempre escapa...

Esse capítulo foi mais de introdução e apresentação dos personagens principais, ao longo da fanfic, outros aparecerão. Inclusive alguns que não são do bangtan. Mas quando eles aparecerem, vou colocar aqui o link para as fotos deles. E não se preocupem, eles são apenas secundários.

Tenho alguns capítulos dessa fanfic já escritos (até o cap 8), vou postando a medida que for terminando os próximos.

Espero que gostem, essa fanfic clichêzinha é meu xodózinho.


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