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História 91 Dias de Outono - Décima terceira folha


Escrita por: azul46

Capítulo 13 - Décima terceira folha


Fanfic / Fanfiction 91 Dias de Outono - Décima terceira folha

 Prestar atenção no resto das aulas foi uma tarefa difícil para Taehyung, mas não mais do que tentar fazer Jeongguk parar de falar com ele e prestar atenção nele. Sabia que teria que revisar esse conteúdo com ele depois, porque Jeongguk permanecera o tempo todo olhando para ele. Não que Taehyung tenha se incomodado com isso, pelo contrário, gostava da atenção. Porém, como bom aluno que era, sabia que aquela falta de atenção refletiria no desempenho escolar de seu “aluno” particular.

Ele andava por cima do meio fio, com uma mão estendida e outra segurando a de Jeongguk, que puxava a bicicleta com a mão livre. Não tinha mais tanta vergonha de pegar na mão do outro, e às vezes nem precisava, pois Jeongguk iniciava o contato. Aquilo parecia tão certo; suas mãos na dele, o sorriso no rosto e aquele silencio agradável.

Sim, era muito bom.

Taehyung se sentia feliz, apesar de toda tensão daquele dia.

Não queria pensar em mais nada que não fosse Jeongguk.

Não conseguia pensar em mais nada que não fosse o novato.

Não que isso fosse ruim, pelo contrário.

– Taetae. – Ouviu Jeongguk o chamar e finalmente virou os olhos para ele, se desequilibrando um pouco. – O que você quer fazer para o jantar?

– Hm. – Taehyung desceu do meio fio e perdeu o olhar no movimento da rua. Ele mesmo não sabia muito de cozinha e imaginava que Jeongguk também não fosse um chef, então teria que ser algo fácil. Sem ter um motivo, sua mente o teletransportou para um dos filmes da Disney que ele gostava muito, por ter cachorros como protagonistas. “A Dama e o Vagabundo”.

Então, Taehyung teve uma ideia.

– Podemos fazer spaghetti! – Ele disse sorrindo, olhando novamente para Jeongguk.

Spaghetti? – O outro ergueu uma sobrancelha, porém ainda segurando aquele sorriso pequeno e sincero nos lábios.

– É, você não gosta? – Taehyung perguntou, ficando momentaneamente chateado por ter sugerido algo assim tão bobo. – É que eu...

– Tae. – Jeongguk parou de andar e fez com que Taehyung voltasse a olhar para ele. – É uma ótima ideia, nós podemos fazer sim.

Sorrindo novamente, Taehyung comemorou com os braços e puxou Jeongguk pela mão.

– Então temos que comprar os ingredientes!

O que Taehyung e Jeongguk não sabiam, é que existe mais de uma receita de spaghetti. Na verdade, existiam muitas.

Jeongguk arrastava o dedo na tela do celular, perplexo com tantos tipos diferentes de spaghetti que existiam. Alguns nomes ele nem sabia como pronunciar.

– Qual deles Tae? Tem muitos... – Taehyung encostou a cabeça na de Jeongguk para poder ver a tela do celular. Os dois já estavam dentro do pequeno mercado.

– Hm, me empresta aqui. – Ele estendeu a mão e Jeongguk o cedeu o iphone. Taehyung pensou em dizer para Jeongguk procurar pela receita do filme, mas preferiu procurar ele mesmo e se abster do constrangimento de querer fazer uma receita de um filme de criança. Digitou rapidamente no Google e achou uma receita, bingo!

– Já sei o que temos que comprar! – Taehyung anunciou, fechando a janela e entregando o celular para Jeongguk, que apenas o lançou um olhar confuso e depois soltou uma risada.

Depois de muito protesto, Taehyung aceitou que Jeongguk pagasse os ingredientes com o cartão de crédito. Sua desculpa foi o fato de ser bem mais fácil usar cartão, e Taehyung o fez prometer que ia aceitar a quantia em dinheiro depois.

Obviamente, Jeongguk não prometeu.

Com uma falsa expressão brava no rosto e uma sacola com um pacote de macarrão dentro, Taehyung seguiu andando ao lado de Jeongguk, que ainda segurava sua bicicleta vermelha com as mãos, a sacola com os tomates, cebola, temperos e carne moída em cima do banco da bike.

Taehyung parou algumas vezes no meio do caminho, mais precisamente, em cada montinho de folhas secas que encontrava. Quando Jeongguk o questionou, ele simplesmente respondeu que precisava achar a folha perfeita para colocar na página do dia, para servir de lembrança do dia em que eles jantaram juntos. Jeongguk sorriu tímido estendeu a mão para apertar a de Taehyung, voltando àquele silencio confortável que os dois estavam acostumados.

Não demorou muito para que chegassem ao apartamento sempre fantasma de Jeongguk. Assim que ele abriu a porta, Taehyung tirou os sapatos e depois levou os ingredientes para a cozinha, os colocando em cima do balcão de ilha. Aquela cozinha parecia um cenário de programa culinário, provavelmente tinha todos os equipamentos também. Taehyung se perguntava se Jeongguk  já havia colocado os pés dentro daquele lugar alguma vez na vida.

Depois de lavar as mãos – e espirrar água um no outro – os dois voltaram para a cozinha. Jeongguk pegou um controle preto que estava em cima do balcão e ligou o rádio moderno que Taehyung nem tinha percebido. Logo uma música animada ecoou na cozinha e Jeongguk começou a dançar com uma frigideira na mão.

– Agora sim podemos cozinhar! – O moreno disse, fazendo Taehyung rir. Na verdade, Jeongguk tinha movimentos muito precisos e afiados para quem apenas estava dançando casualmente na cozinha.

– Você dança muito bem, faz sempre isso é? Dançar com uma frigideira? – Taehyung perguntou aos risos, enquanto tirava os ingredientes das sacolas de mercado.

– Na verdade... – Jeongguk descansou a panela em cima do fogão e se aproximou de Taehyung, um brilho sonhador iluminava seus olhos. – É esse o meu sonho.

– Virar parceiro de dança de utensílios de cozinha? – Taehyung deixou escapar, sem saber realmente de onde estava vindo aquela confiança toda para fazer piadas. Jeongguk o mostrou uma careta e depois riu sonoramente, bagunçando seus cabelos levemente com as mãos.

– Eu quero ser um dançarino profissional, sabe, dançar em palcos e estádios enormes.

– Oh. – Taehyung arregalou os olhos. Então era isso que Jeongguk queria fazer. Fazia sentido agora do porquê seus pais não gostavam muito da ideia. – Entendo...Por isso seus pais...

– É. – Jeongguk se encostou no balcão e cruzou os braços. – Eles acham que é perda de tempo e que é inútil. Não acreditam que eu vá conseguir. Meu pai disse que se eu entrar para alguma empresa para treinar, ele não vai me acolher quando eu voltar depois de ser rejeitado. – O garoto respirou fundo. – Mas eu sei que vou conseguir, tenho treinado duro muito tempo para desistir antes mesmo de tentar. – Ele olhou para Taehyung, e o ultimo podia ver a determinação em seus brilhantes olhos escuros. – Eu vou conseguir Taetae, eles querendo ou não.

Taehyung sorriu pequeno, sentindo orgulho e outro sentimento estranho que o embrulhava o estômago. Ele não sabia como Jeongguk se sentia, porque não tinha nenhum sonho ou ambição. Não estava treinando duro para nada e não sabia como se sentir em relação àquilo.

– Você vai conseguir, eu sei. – Por fim, Taehyung disse, colocando uma das mãos na cabeça de Jeongguk. – Só pelo que vi você dançando com a frigideira, posso dizer que é um ótimo dançarino.

– Você não viu nada ainda. – Jeongguk disse sorrindo de canto, o que fez uma onda de arrepios viajar pelo corpo de Taehyung. Conseguia sentir o peso das palavras de Jeongguk, e o que elas significavam. – Depois eu te mostro uma das minhas sequencias.

– Eu adoraria ver. – Taehyung sorriu tímido, voltando seu olhar para o pacote de macarrão. – Mas antes vamos fazer isso, estou ficando com fome...

– Eu também.

A receita não era lá tão difícil, precisavam descascar os tomates, picar as cebolas – tarefa que fez Jeongguk chorar e Taehyung cair na gargalhada – e enrolar a carne moída em forma de bolinhas para fazer as almôndegas. Faziam tudo isso cantando e, vez ou outra, dançando de acordo com a música. Jeongguk tinha arranjado para eles dois aventais brancos, e Taehyung se sentia finalmente em um daqueles programas de culinária chique que passava na TV.

Taehyung fritava as almôndegas quando pedira para Jeongguk jogar o macarrão na panela. No momento em que ele olhou para o garoto e ele o retribuiu o olhar, Taehyung sentiu uma coisa diferente. Jeongguk sorria para ele, logo alternando o olhar e prestando atenção no macarrão no fogo.

Aqueles dois segundos que seus olhos permaneceram conectados pareceu uma eternidade para Taehyung. Aquele momento era tão doméstico e agradável que gerou um sentimento desconhecido em Taehyung, algo que ele nunca havia sentido. Já havia cozinhado com Namjoon – aquelas panquecas que grudaram no teto – e também já tinha ajudado Yoongi na cozinha, mas nunca se sentira tão bem quanto se sentia naquele momento.

Ele sorriu para si mesmo, voltando a prestar atenção nas bolinhas de carne dentro da frigideira.

Era especial porque era com Jeongguk.

Tudo que fazia com o garoto se tornava especial.

– Hm, acho que o macarrão já está no ponto, Tae. – Jeongguk resmungou, pegando um garfo e tirando um fio de massa da panela. – Experimenta aí.

Antes que pudesse protestar, Jeongguk enrolou o macarrão no garfo e colocou perto da boca de Taehyung, que a abriu e desviou o olhar depois de fechar a boca, mastigando o fio de macarrão timidamente.

Taehyung se perguntava se algum dia iria se acostumar com isso.

– Pode desligar, a receita diz para colocar no molho junto com as almôndegas e misturar por um minuto.

Depois de exatamente um minuto – Jeongguk cronometrou – Taehyung pediu por pratos e Jeongguk colocou um grande prato em cima do balcão.

– Huh, Jeongguk, está faltando um prato.

– Não está. – O moreno sorriu. – Você não queria o spaghetti de “A dama e o vagabundo”? Que eu me lembro bem, eles comeram em um prato só.

Taehyung sentiu suas bochechas ficarem quentes, provavelmente rosadas de vergonha. Como Jeongguk sabia?

– Eu fui procurar no histórico a receita e achei sua pesquisa no Google. – Jeongguk sorriu, pegando a panela das mãos de Taehyung. – Eu achei fofo. Quem diria, parece que temos outro bobo romântico aqui.

– Cala boca. – Taehyung não conseguiu segurar o sorriso.

E nem precisava.

Jeongguk arrumou a pequena mesa que ficava na varanda, encheu duas taças com suco de uva – para fingir que era vinho – e chamou Taehyung para sentar com ele. A varanda era grande o bastante para acomodar uma mesa e duas cadeiras, na verdade, tinha ate um pequeno sofá perto da grande porta de vidro. Como tudo naquele apartamento, era espaçosa e luxuosa, mas ao mesmo tempo aconchegante.

Comiam enquanto conversaram sobre coisas aleatórias e, ao contrário do que houve no filme, brigaram pela ultima almôndega. No fim, Taehyung perdeu no “pedra papel e tesoura” e teve que ceder a ultima bolinha de carne para Jeongguk, que sorria de boca fechada enquanto o provocava com os sons de “hmm”, indicando o quão deliciosa estava a ultima almôndega.

– Não é justo. – Taehyung cruzou os braços, forçando um bico nos lábios e virando o rosto.

– Da próxima vez ela é sua... Se você ganhar. – Jeongguk mostrou a língua, depois limpou o rosto sujo de molho com o guardanapo.

– Próxima vez?

– É, não tem um monte de receita de spaghetti? Vamos fazer todas! – Jeongguk se levantou da mesa e esticou o braço para o alto. – Eu declaro agora que toda sexta-feira é dia de spaghetti. – Jeongguk olhou para Taehyung e ao ver a expressão surpresa no rosto do garoto, desviou o olhar e coçou um dos braços. – Só se você quiser, claro...

– Eu quero. – Ele respondeu, e Jeongguk comemorou, tagarelando sobre o próximo tipo de molho que fariam e que talvez devessem inventar novos tipos de receita quando as existentes acabassem. Taehyung apenas sorria e entrava na onda, sentindo uma crescente felicidade que não cabia mais em seu peito.

Sentia algo que estava transbordando de seu ser e que ele não conseguia mais controlar de forma alguma.

Sem perceber nada do que se passava dentro de Taehyung, Jeongguk sugeriu que eles levassem as louças para o lava-louças “afinal, quem é que precisa lavar louça?”. Depois de colocar tudo dentro do aparelho doméstico – que intrigava Taehyung, “por que, como é que uma maquina podia lavar louças sozinha?” – e depois sentaram naquele pequeno sofá na varanda.

Taehyung se colocou ao lado de Jeongguk e se perdeu na escuridão do céu noturno, adornado com vários pontinhos brilhantes. Daquela varanda, eles tinham uma visão privilegiada do céu, sem ter prédio mais alto para bloquear a vista. Taehyung estava perdido em seus pensamentos, que se misturavam com as estrelinhas do céu, quando sentiu Jeongguk tocar em sua mão.

– Eu... – Jeongguk limpou a garganta, fixando os olhos na mão de Taehyung que ele segurava. – Eu gostei muito de conhecer você, sério...

Taehyung ficou estático de repente, antecipando o que Jeongguk iria falar a seguir. Seus olhos diziam que tinha mais coisas para dizer, só que ele não sabia como fazê-las sair.

– Eu nunca havia conhecido ninguém que valesse a pena, sabe, fazer amizade e trocar segredos. Eu nunca disse nada sobre mim e sobre minha família para ninguém, nem nunca trouxe ninguém para cá. – Jeongguk soltou uma risada nervosa, apertando a mão de Taehyung que ele segurava. – Nunca me senti tão bem com outra pessoa antes, nunca me diverti tanto...

Taehyung sorriu, ele queria dizer “eu também”, mas não queria interromper Jeongguk.

– Quando eu estou com você eu sinto... Como se eu pudesse ser eu mesmo, como se eu pudesse finalmente parar de me proteger atrás do nome da família e do mau comportamento. – Jeongguk levantou o olhar, olhando Taehyung nos olhos. – Com você eu me sinto especial.

– E você é. – Taehyung disse, tímido. – Tudo que faço com você se torna especial, porque você é especial para mim... – Ele respirou fundo. Seu coração batia a mil por hora e parecia que ia sair de sua caixa torácica.

Jeongguk riu baixinho, brincando com os dedos compridos de Taehyung.

– Quando está comigo, você se sente assim também, Taetae? Sente que pode ser você mesmo?

Taehyung desviou o olhar. Antes de conhecer Jeongguk, vivia sua vida escolar como apenas mais um móvel da sala de aula. Fazia tanto tempo que não se divertia com alguém, que não falava suas maluquices e compartilhava seus segredos, que ele teve dificuldade no começo. Porém depois que percebeu que podia confiar em Jeongguk, tudo isso mudou.

– Sim. – Ele respondeu baixinho, observando como a mão de Jeongguk segurava a dele. – Finalmente posso ser quem eu sou, sem me importar com que os outros pensam, porque... Me sinto mais confiante com você.

– Eu também.

Os dois caíram em um silêncio mortal. Jeongguk mordia o lábio inferior, e Taehyung, se viu espelhando a ação. Apenas o abafado barulho os carros na rua podia ser ouvido.

– Eu gosto de você. – Taehyung tomou a iniciativa, sem saber exatamente por que sua boca abriu para dizer essas palavras. Foi automático.

Jeongguk abriu um sorriso daqueles que podia animar qualquer pessoa que estivesse triste, e Taehyung prendeu a respiração. Jeongguk era lindo, mas principalmente quando sorria assim. Pequenas ruguinhas se formavam ao redor de seus olhos, e seu sorriso charmoso adornava sua face.

– Eu também, Taehyung. – Ele finalmente ouviu a voz do outro novamente. Jeongguk se mexeu no sofá, seu joelho estava agora encostando ao lado da coxa de Taehyung. – Muito.

Taehyung não conseguia ficar encarando aqueles olhos escuros. Jeongguk o fitava intensamente e ele não sabia por quanto tempo iria aguentar aquilo. Quando achou que não ia mais conseguir manter a calma, sentiu a outra mão fria de Jeongguk o tocar no rosto. Instantaneamente, Taehyung se inclinou ao toque, finalmente encontrando o olhar carinhoso do moreno. Naquele momento, Taehyung se perdeu no mar escuro os olhos de Jeongguk, mar esse que estava cheio de um sentimento que lhe passava uma calma incrível.

Quando ele viu Jeongguk se aproximar devagar, Taehyung fechou os olhos levemente. A mão do outro ainda acariciava seu rosto e acalmava seu coração. Contava mentalmente quantos segundos levaria para que ele finalmente selasse seus lábios, mas acabou perdendo a conta quando sentiu a respiração quente de Jeongguk perto da sua boca. Quando finalmente sentiu os lábios de Jeongguk tocarem suavemente os seus, suas pernas perderam a força e Taehyung agradeceu mentalmente por estar sentado. O beijo começara tímido, um simples selar. Jeongguk ainda segurava uma de suas mãos e também seu rosto, movendo o polegar devagar sobre a pele bronzeada de Taehyung. Assim que Jeongguk começou a mover os lábios contra os seus, Taehyung respondeu da mesma forma e suas mãos encontraram a camisa do moreno, segurando lá como se ele fosse cair caso não se prendesse ao outro. Logo estavam se separando, o beijo fora curto, doce, gentil e inocente. Diferente de daquilo que Taehyung imaginava que seria – se tratando de Jeongguk, ele espera algo mais experiente – mas acabou sendo muito melhor do que ele esperava.

Quando abriu os olhos, encontrou Jeongguk de olhos fechados assim como ele. Suas testas encostadas e ambos os corações batendo rapidamente. Taehyung não conseguiu segurar o sorriso e levou uma de suas mãos para o rosto de Jeongguk, que abriu os olhos com o toque.

Os dois ficaram sorrindo como bobos por alguns segundos, até Jeongguk retrair suas mãos e novamente tomar as de Taehyung com ele.

– Esse foi... – O moreno respirou fundo, e Taehyung jurava que vira seu rosto ficar osa de vergonha. – Foi meu primeiro beijo, Taetae.

Dizer que Taehyung não estava surpreso com a revelação seria mentira, porque estava. Sempre pensou que Jeongguk era bem mais experiente que ele, porque o garoto sempre tomava as iniciativas, sempre iniciava os toques e sempre fazia Taehyung ficar com uma cara de bobo e com as bochechas rubras.

– E eu acho que foi o seu também, não foi?

Taehyung mordeu o lábio inferior, seus olhos automaticamente se voltando para outra coisa.

Não, não foi.

Jeongguk pareceu ler sua mente e logo desmanchou o sorriso, apertando de leve os dedos de Taehyung. O garoto queria poder voltar no tempo e não ter feito aquilo. Queria que aquele beijo fosse especial e agora sabia que Jeongguk também queria, tanto quanto ele. Mas como sempre, estragara tudo.

– Foi com uma garota? – Jeongguk perguntou, sua voz mais baixa e mais insegura que o normal.

Taehyung negou com a cabeça, começando a se sentir mal por causa do fato. Sentia-se como se tivesse traído Jeongguk.

– Então, foi com aquele Jimin?

Novamente, Taehyung negou, mordendo o canto da boca.

Jeongguk soltou uma de suas mãos e passou-a pelos cabelos negros, chamando a atenção de Taehyung para sua face um tanto quanto desapontada.

– Foi com Yoongi, não foi?

E nesse momento, os sentimentos bagunçados e trancafiados dentro de Taehyung explodiram em culpa e o fizeram finalmente abrir a boca.

– Eu beijei Yoongi hyung porque eu estava confuso ai eu descobri que gostava de você mas eu não devia ter beijado ele eu sou um idiota e eu acabei magoando os dois e... – Taehyung tornou a tagarelar sobre coisas que Jeongguk nem conseguia entender. Parecia uma vitrola quebrada cuja música não era possível distinguir.

Taehyung só parou de falar quando sentiu a forte pressão dos lábios de Jeongguk novamente contra os seus. Sentiu também a mão do outro o pegar pela nuca a outra pela cintura. Dessa vez, Jeongguk o beijava de uma forma mais forte e mais rápida. Taehyung logo se perdeu no beijo e passou a responder meio sem jeito, a falta de experiência dos dois não importava muito naquele momento. Quando a língua de Jeongguk encostou em seu lábio inferior experimentalmente, Taehyung não pensou duas vezes antes de deixar que ela entrasse. O beijo era uma bagunça de dentes e línguas curiosas e inexperientes, mas era bom. Taehyung achou os fios de cabelo negros de Jeongguk e enterrou os dedos nas mechas, ganhando um som de contentamento do outro garoto.

Não demorou muito para que os dois precisassem respirar propriamente. Taehyung sentiu Jeongguk encostar a cabeça sobre seu peito e colocar os braços em volta de sua cintura, ficando ali aconchegado em seu abraço. Ele jurava que Jeongguk podia ouvir seu coração batendo em alto e bom som, porém não ligava para isso.

Ficaram parados naquela posição meio esquisita – porém estranhamente confortável – quando enfim Jeongguk limpou a garganta.

– Namora comigo. – Ele disse contra o peito de Taehyung.

– O-O que?

Jeongguk então se separou rapidamente de Taehyung, ainda o segurando pela cintura.

– Eu disse, namora comigo. – Ele ainda respirava mais fundo que o normal, mas em seus olhos Taehyung podia ver aquela determinação que vira antes. – Assim só eu vou poder beijar você.

Taehyung sentiu seu rosto esquentar e suas mãos começarem a suar, porém um risada escapou por sua boca.

– Tá rindo do que? – Jeongguk parecia ofendido, mas logo começou a sorrir também.

– Devia imaginar que você era assim possessivo. – Taehyung provocou, criando coragem para selar um beijinho na testa de Jeongguk.

O outro rosnou alguma coisa que parecia um “eu não sou possessivo” e pressionou um outro beijo nos lábios de Taehyung e depois um na ponta de seu nariz.

– Você aceita? Ou eu fiz papel de bobo de graça?

Taehyung fingiu estar pensando e decidindo sua resposta, recebendo algumas cócegas, cortesia das mãos de Jeongguk perto da sua barriga.

– Eu vou ser seu namorado. – Taehyung disse em meio aos risos, ainda se recuperando das cócegas repentinas. 

Jeongguk apenas abriu outro daqueles sorrisos enormes e Taehyung fez o mesmo, exibindo aquele sorriso quadrado que antes ele tinha vergonha de mostrar. Com Jeongguk ele podia ser ele mesmo, porque o outro o aceitava e gostava dele daquele jeitinho.

Os dois ficaram ali soltando risadinhas, trocando carícias, beijos tímidos – e uns nem tanto – e por fim se aconchegaram em uma posição melhor no sofá, uma que os propiciava uma boa vista de céu e um contato gostoso entre eles.

Taehyung achava que as coisas não podiam ficar melhores. Queria ficar sentado ali, brincando com os cabelos de Jeongguk e sentindo seu corpo pertinho, quase como se eles fossem uma pessoa só.

No entanto, Jeongguk logo se desprendeu dele quando ouviu a porta da sala abrir.

Taehyung o lançou um olhar curioso, e Jeongguk o puxou pela mão. Quando chegaram à sala, se deparam com um casal distinto. A mulher usava um tubinho preto debaixo de um casaco branco de pele bem fofa, e o homem, um terno escuro e sapatos bem engraxados. Suas feições eram sérias, quase que desgostosas. Ambos tinham cabelos bem negros e aparência jovem, como se não tivessem passado dos vinte e poucos anos.

Taehyung não sabia o que fazer. Obviamente aqueles eram os pais de Jeongguk. Mas nunca os vira antes e estava ciente da relação que eles tinham com Jeongguk. O outro segurava sua mão com uma força que quase – quase – o machucava. Podia ver no rosto de Jeongguk que ele estava nervoso, para não dizer furioso.

– A escola nova nos notificou de seu comportamento e notas e eu preciso dizer que estou impressionada. – A mulher largou a bolsa em cima do sofá e pegou o celular nas mãos. – Parece que você finalmente está virando gente.

Ignorando completamente a presença de Taehyung, ela se sentou no sofá e se pôs a digitar no aparelho. O homem acendeu um cigarro e limpou a garganta, não parecendo se importar com Taehyung da mesma forma.

– Só falta desistir de ser um palhaço de circo e começar a se importar com os negócios da família. – Ele colocou o cigarro na boca, e depois de dar uma tragada, continuou.  – Será que essa escola milagrosa consegue fazer isso?

A mulher soltou uma risada e finalmente olhou para cima, encontrando os olhos assustados de Taehyung,

– E quem é esse? Não sabia que tínhamos um mordomo tão jovem.

Taehyung sentiu Jeongguk apertar ainda mais sua mão. Ele não se sentiu ofendido sendo chamado de mordomo, afinal, estava com a camisa branca do colégio e a mãe de Jeongguk não o conhecia.

– Não interessa para você quem ele é, e estamos de saída. – Jeongguk puxou Taehyung pela mão e os dois atravessaram a sala.

– Jeongguk... – O garoto tentou parar o outro, mas quase tropeçou nos próprios pés.

Não tiveram tempo de ouvir o que os pais de Jeongguk tinham a dizer – se é que tinham algo – pois em questão de minutos já estavam do lado de fora do grande edifício. Jeongguk arrastara Taehyung pelas escadas de emergência e agora estavam andando pelas ruas frias da noite.

– Por que saiu desse jeito? – Depois de finalmente retomar seu fôlego, Taehyung perguntou. Estava preocupado em deixar os pais de Jeongguk assim, provavelmente eles não gostariam nada daquilo. Jeongguk, porém não parecia compartilhar da mesma preocupação.

– Você não merece conhecer pessoas como eles. – O outro resmungou. – Só iam começar a te fazer perguntas estúpidas e te fazer sentir mal.

Taehyung respirou fundo, encarando seus dedos entrelaçados.

– Eu não ligo mais para isso, Jeongguk. – Ele disse. – E eles são seus pais, apesar de tudo.

– Você viu que eles não me deram nem um “oi”? Depois de tanto tempo fora de casa, nem me disseram que sentiram minha falta. – Ele rosnava. – Só porque eles me deram a vida não significa que são meus pais.

O garoto se viu triste de repente. Jeongguk não merecia ser tratado daquele jeito. Não merecia ser carente de carinho dos pais. Ele tinha os dois, mas mesmo assim era tão carente quanto Taehyung. Não fazia diferença tê-los se eles não agiam como uma família. Isso o incomodava muito.

As coisas não deviam ser assim.

– Eu não quero falar sobre isso agora, não quero estragar essa noite. – Jeongguk colocou um fim no assunto. Taehyung porém, estava determinado a falar sobre isso em algum outro momento.

Quando viu, já estava parado na frente de um pequeno prédio. Jeongguk tirou uma chave do bolso e abriu a porta. Subiram um lance de escadas e quase esbarraram em um garoto.

– Ow, o que você está fazendo aqui a essa hora? – O rapaz perguntou para Jeongguk. – Eu estava quase trancando tudo aqui.

– Eu vou usar a sala um pouco. – Ele respondeu.

O garoto tinha uma sobrancelha arqueada e não parecia muito mais velho que eles. Olhou Taehyung de cima a baixo e depois sorriu de canto.

– Conseguiu descolar um bonitinho huh? Essa sala é só pra dançar então trate de acalmar esse seus hormônios adolescentes.

– Cala a boca Hoseok! – Jeongguk praticamente gritou, empurrando o rapaz – chamado Hoseok – da frente da porta e entrando junto com Taehyung.

– É Hoseok HYUNG para você tá? Pirralho abusado. – Taehyung ouviu Hoseok gritar antes que Jeongguk pudesse fechar a porta.

– Quem era ele? – Ele riu baixinho, examinando a sala em que estavam.

– É só meu instrutor idiota de dança. – Jeongguk enfiou as mãos nos bolsos e desviou o olhar. – É aqui que eu treino.

– Oh! – Taehyung deu alguns passos pela sala e depois se virou para o espelho. – Nunca estive em uma sala de dança.

– Lembra que eu disse que ia te mostrar uma de minhas sequencias? –Jeongguk abriu um dos armários e pegou algumas roupas e um boné preto. – Espera aí um pouquinho.

Taehyung acenou com a cabeça e seguiu Jeongguk com os olhos até que ele abrisse a porta e sumisse para fora dela. Depois de alguns minutos, Jeongguk voltou vestido com um conjunto de moletom preto e um boné igualmente escuro na cabeça. Assim que ele viu Taehyung o encarando, abaixou mais um pouco a aba do boné, escondendo seus olhos.

O moreno se dirigiu até os um computador e logo uma musica estava tocando. Depois, ele se colocou perto da parede da sala e ficou parado, olhando para baixo. Taehyung observava atentamente enquanto a música tocava, até que Jeongguk começou a se mover.

Taehyung estava maravilhado.

O corpo de Jeongguk se movia como se ele a música estivessem dançando juntos. Seus membros se moviam com leveza e precisão, acompanhando a batida como se fossem um só. Até o som de seus pés batendo no chão era compassado, como se fizesse parte da música americana que Taehyung desconhecia. Apesar de ter parecido uma eternidade, a música logo acabou e Jeongguk também parou de se mover.

– Oh... – Era o que Taehyung conseguiu dizer.

Jeongguk levantou a aba do boné e sorriu pequeno, indo até o computador e colocando outra música.

Taehyung achou que veria outra sequencia, porém logo foi puxado para o meio da sala.

– Eu vou te ensinar alguns passos.

– Mas eu não sei dançar. – O garoto tentou se afastar de fininho, mas Jeongguk não deixou.

– Eu te ensino.

Depois de discutir uma troca de olhares, Taehyung acabou cedendo. Jeongguk acabou se mostrando um ótimo professor. Ensinara passos simples e uma sequencia fácil para Taehyung, que se atrapalhou um pouco até pegar o jeito.

– Você não dança tão mal, na verdade está muito bem para um principiante. – Jeongguk o elogiou, e Taehyung sorriu, se olhando no espelho para constatar que estava se saindo bem.

– Eu sou seu professor nas matérias da escola e você é meu professor de dança então? – Taehyung riu, e Jeongguk deu de ombros.

– Parece que sim.

Os dois continuaram dançando até Taehyung cansar, porque ao contrário de Jeongguk, não estava acostumado a se exercitar assim. Os dois então sentaram no meio da sala de treino, encostados um nas costas do outro.

– Você é muito melhor do que eu pensava. – Taehyung disse baixinho, tateando o chão até que achou a mão de Jeongguk. – Seus pais deviam ver você dançando assim, com certeza mudariam de ideia.

Jeongguk bufou, entrelaçando os dedos com os de Taehyung. Taehyung podia ver sua expressão séria pelo espelho da sala. Mas de alguma forma, conseguia ver lá que Jeongguk também queria que isso acontecesse.

– Eles não iriam se impressionar. – O moreno disse num tom que poderia ser descrito como triste. – Eles não ligam para o que eu gosto de fazer Tae, não adiantaria nada.

– Acho que você tem que continuar tentando falar com eles. – Taehyung se virou, tocando no ombro de Jeongguk para que ele olhasse para ele também. – Eu não sei como é estar na sua situação, também não sei como lidar com pais porque fiquei sem os meus muito cedo, mas... – Taehyung mordeu o lábio inferior, estava com medo de dizer alguma besteira. – Vocês são uma família, tem que se entender e se amar... Respeitar o que cada um quer fazer, eu acho...

– Queria que fosse fácil assim. – O novato suspirou. – Mas eu prometo que vou tentar, se isso te fizer feliz.

Taehyung sorriu fraco e depois trouxe Jeongguk para um abraço. Queria do fundo do coração que ele se entendesse com seus pais, queria ver Jeongguk feliz com sua família. 

Seu celular vibrou no bolso. Taehyung se separou do outro e tirou pegou o aparelho nas mãos. Era Namjoon perguntando sobre seu paradeiro.

Estou com Jeongguk, mas estou voltando para casa.

Taehyung

 

Respondeu a mensagem de texto e deixou um beijo de leve no rosto de Jeongguk.

– Tenho que ir.

– Eu te levo, e nem pense em dizer “não” porque você nem sabe onde está.

Taehyung ia argumentar, mas se lembrou que não tinha prestado atenção no caminho e realmente não sabia como voltar.

Os dois saíram do prédio e caminharam de mãos dadas até o apartamento de Taehyung. Chegando lá, Jeongguk o puxou para um abraço e depois deixou um beijo doce em seus lábios. Taehyung não resistiu, porque descobrira que beijar Jeongguk era mais uma das coisas que ele adicionou na coleção das coisas que gostava de fazer.

– A gente se vê amanhã?

– Claro, temos que revisar a matéria que você não prestou atenção hoje. – Taehyung cruzou os braços, e Jeongguk soltou um som de reprovação.

Despediram-se aos risos e Taehyung logo subiu escadaria acima. Abriu a porta do apartamento devagar e entrou em casa. Namjoon estava terminando de lavar a louça.

– Divertiu-se?

– Ah... Sim. – Taehyung mordeu os lábios para tentar suprimir o sorriso que queria aparecer em seu rosto. Namjoon o olhou com uma sobrancelha arqueada, mas deu de ombros e continuou a lavar a louça.

– Ah, Taehyung!

– Sim hyung? – Taehyung colocou a cabeça para dentro da sala, pois já estava na metade do corredor indo em direção ao banheiro.

– Acha que um dia desses posso conhecer esse tal de Jeongguk?

– C-Claro...

– Ótimo... – Namjoon respondeu com um sorriso no rosto que Taehyung não conseguia ler. – Vai dormir Tae, boa noite.

– Boa noite hyung!

Só que ao invés de dormir, Taehyung ficou trocando mensagens com Jeongguk, ou melhor, com seu namorado, até altas horas da madrugada.

Entretido com a conversa, Taehyung nem percebeu um solitário e tímido floquinho de neve caindo atrás da janela de seu quarto. 


Notas Finais




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