História 91 Dias de Outono - Décima sexta folha

– Taetae, você está usando muita tinta! – Jeongguk advertiu, segurando a escada com as duas mãos.

Taehyung olhou para baixo e sorriu. Estava empolgado com a ideia de finalmente pintar o teto branco do quarto. Havia saído mais cedo com Jeongguk para buscar tinta e pinceis, coisas que o moreno tinha de monte em seu apartamento. Os pais de Jeongguk não estavam em casa, o que fez Taehyung se sentir um pouco mal por estar entrando lá. Porém, ele havia prometido para si mesmo que ajudaria o moreno a se reconciliar com os pais, mesmo que ele não quisesse.

Mas por hora, estava sentado na escada emprestada da vizinha, pintando desenhos aleatórios no teto.

– E isso tem problema?

Jeongguk bufou, logo depois abrindo um sorriso.

– Sim, se você pegar muita tinta ela vai escorrer e pingar no chão.

Taehyung continuou pintando, não levava muito jeito para esse tipo de coisa. Achava que era só mergulhar o pincel na tinta e fazer os desenhos de qualquer jeito. Jeongguk havia o ensinado como fazer, mas depois do terceiro desenho ele já tinha esquecido. Quando ia terminar de pintar a pipa colorida que estava desenhando, um pingo de tinta caiu bem em seu nariz.

– Ah, droga!

– Eu te avisei. – Jeongguk sorriu e soltou a escada, que ficava bem fixa no chão, portanto não precisava de outro tipo de apoio. – Deixa eu fazer uma coisa.

Jeongguk pegou um pote de tinta, um pincel e subiu em cima da pequena mesa que Taehyung usava de escrivaninha. Taehyung – depois de tentar esfregar a tinta de seu nariz – virou a cabeça e ficou observando o que Jeongguk estava pintando. Ele sorriu quando percebeu que Jeongguk estava desenhando os dois, numa versão pequena e fofa.

– Ah, somos nós em chibi¹! – O castanho não conteve o sorriso. Estava muito feliz de ter Jeongguk com ele, fazendo algo que ele queria fazer a muito tempo. Sempre que se deitasse na cama e olhasse para o teto, veria aquele desenho dos dois juntos.

Isso aquecia seu coração naquele dia frio.

– Você já cansou? – Jeongguk tirou a sua atenção da pintura e sorriu de canto para Taehyung.

– Meu pescoço dói de ficar olhando para cima... – Taehyung passou a mão suja de tinta no pescoço e depois soltou um som de surpresa, o que fez Jeongguk gargalhar. – Para de rir de mim! Não é engraçado...

– É sim! – Jeongguk mostrou a língua. – Você é fofo.

Emburrado, Taehyung continuou a desenhar no teto. Ele desenhou folhas, nuvens, personagens de anime – com a ajuda de Jeongguk – e diversas coisas que gostava. Cada vez que ele se lembrava de alguma coisa que o fazia feliz, desenhava no teto.

– Então temos sorvete, um sol sorridente, folhas, um boneco de neve e outras coisas aleatórias... – Jeongguk sorriu, olhando para cima. Ele já havia descido da mesa e a colocado no lugar. – O que mais falta?

– Ah , eu esqueci de uma coisa! – Taehyung subiu novamente a escada e pintou uma flor, porque sua mãe gostava muito de flores e, afinal, a vontade de pintar o teto veio dela.

– Ainda tem um espaço sobrando, bem ali. – Jeongguk apontou para um espaço em branco entre os desenhos.

Taehyung então desceu da escada, a colocando debaixo daquele ofensivo espaço vazio. Depois, subiu novamente e pintou lá um pato.

– Um pato? – O moreno deu risada e ajudou Taehyung a descer da escada. – Por que pintou um pato?

– Eu gosto de patinhos. – Taehyung disse, sem perceber que estava formando um bico em seus lábios.

Jeongguk apenas sorriu e esticou os braços para trazer Taehyung para perto, o pegando pela cintura.

– Você é meu patinho.– Jeongguk disse sorrindo, encostando o nariz no pescoço de Taehyung.

– Por que?

– Não sei, porque é fofo igual o desenho? – O moreno riu e apertou Taehyung em seus braços.

O castanho já estava mais acostumado com esse tipo de proximidade, mas não podia conter os batimentos descompassados de seu coração. O jeito que Jeongguk o tocava, o olhava, era muito difícil não reagir ao carinho que o outro emanava.

Taehyung gostava disso, muito.

Ele subiu as mãos pelos braços de Jeongguk e chegou até os cabelos de sua nuca, enterrando os dígitos ali. Quando percebeu, já estava se perdendo no calor dos lábios do outro, se afundando no gosto de seus beijos e se intoxicando com seu cheiro.

Mesmo nunca tendo ficado bêbado, Taehyung sabia que o efeito de Jeongguk causava nele era como uma embriaguez.

O moreno o trouxe cada vez mais para perto, encaixando seus corpos de forma que nem uma folha de papel caberia no meio deles. Taehyung já estava ficando zonzo quando sentiu as costas de seus joelhos se encostarem na cama. O beijo fora interrompido quando o castanho caiu de costas em sua cama, uma expressão assustada em seu rosto. Seu coração batia a mil por hora e ele respirava pesadamente, por conta do beijo e da surpresa.

– Tudo bem, Taetae. – Jeongguk o assegurou, subindo na cama e engatinhando até ficar por cima de Taehyung. – Eu não vou fazer nada. – Ele tinha um sorriso tímido no rosto, que combinava com o fraco tom de rosa que pintava suas bochechas.

Taehyung sorriu pequeno e acenou com a cabeça, levando uma das mãos para tocar no rosto de Jeongguk. O moreno sorriu e se ajoelhou, com os dois joelhos um de cada lado do corpo de Taehyung. Uma de suas mãos se atreveu a passar por baixo da camiseta do castanho e a outra tocou a mão que estava acariciando seu rosto.

Sentir a mão gelada de Jeongguk fazendo carícias em sua barriga fez Taehyung soltar uma risadinha, que foi interrompida pelos lábios rosados do outro. Era confortável assim, beijar Jeongguk enquanto alisava suas mechas escuras e recebia carinhos por debaixo de sua camiseta. Taehyung sentia deliciosos arrepios passearem por seu corpo todo. Logo, a mão que massageava sua barriga estava fazendo círculos perto de sua cintura. Jeongguk se separou do beijo e, sorrindo, deixou um último selinho na ponta do nariz de Taehyung antes de se levantar da cama.

Taehyung sentiu frio de repente, falta do calor que Jeongguk o fazia sentir. Sentou na cama e ficou observando o artista organizar as tintas. Apenas percebeu que estava com um bico nos lábios quando sentiu outro beijinho contra eles.

Jeongguk estava sorrindo docemente.

– Acha que vai nevar esse ano? – Taehyung perguntou, ainda admirando a face do namorado.

– Só se você quiser muito. – Jeongguk sentou ao seu lado na cama, tomando sua mão e brincando com seus dedos. – Se você quiser que neve, vai nevar.

– Não vai nevar só porque eu quero. – Ele fez uma careta, e Jeongguk riu, apertando seus dedos.

– Vai sim, eu vou providenciar.

– Ah é? E desde quando você tem o controle sobre isso?

– Você quer que neve ou não? – Jeongguk ignorou as perguntas, se inclinando para perto de Taehyung e encostando o nariz em seu rosto. – Hm?

– Quero. – Taehyung virou o rosto para olhar pela janela. Fazia muito tempo que não nevava na cidade e ele queria desesperadamente ver neve outra vez. Ainda mais agora que tinha Jeongguk. Queria muito aproveitar a neve com ele.

– Então vai nevar. – Jeongguk disse confiante.

Taehyung ainda estava com aquela careta no rosto quando a porta do quarto foi aberta. Namjoon colocou a cabeça para dentro do quarto, e Taehyung agradeceu mentalmente por ele não ter aparecido antes.

– Meninos? Eu chamei pizza. – Namjoon saiu do quarto, deixando a porta aberta.

Os dois trocaram olhares e levantaram da cama, indo até a cozinha.

Comeram a pizza grande em silêncio. Taehyung ainda não tinha apresentado Jeongguk formalmente para Namjoon, muito menos o informado do relacionamento que eles tinham, por isso estava nervoso. A pizza descia pesada até seu estômago e suas mãos tremiam um pouco. Não devia estar se sentindo assim, afinal, contava tudo para Namjoon ultimamente. Contara até que tinha se reconciliado com Jimin. Havia finalmente aprendido que podia confiar todos os seus problemas a seu irmão mais velho e obviamente não poderia esconder um namoro e nem queria.

– Então, Jeon Jeongguk não é? – Namjoon finalmente interrompeu o silêncio. Ele tinha um sorriso gentil no rosto, coisa que acalmava Taehyung pelo menos um pouco. – Kim Namjoon,  muito prazer em finalmente conhecê-lo.

– O prazer é todo meu, Namjoon ssi. – Jeongguk se levantou para alcançar a mão de Namjoon e a apertar. Taehyung achou engraçada toda essa educação, porque quando Jeongguk conhecera Yoongi não foi nem um pouco parecido com isso.

– Hyung, pode me chamar de hyung. – O irmão Kim sorriu, mostrando as tão famosas covinhas. – Fico feliz que Taehyung tenha arranjado mais um amigo na escola.

Taehyung queria aproveitar a deixa para contar que Jeongguk era mais do que um amigo, porém Namjoon começara uma conversa casual com o garoto. Jeongguk parecia mais relaxado a cada momento, conversando com Namjoon enquanto mantida aquele sorriso charmoso nos lábios.

Taehyung estava derretido apesar do frio.

Não conseguia prestar atenção na conversa, estava muito feliz por seu irmão estar se dando bem com Jeongguk. Além disso, estava ocupado observando cada detalhe do outro enquanto ele falava. O jeito que seus olhos se moviam, a maneria como ele gesticulava levemente com as mãos, o movimento de seus lábios formando cada palavra e os eventuais sorrisos. Taehyung estava hipnotizado.

Talvez estivesse realmente muito apaixonado por Jeongguk.

Não que ele duvidasse disso a essa altura, mas Taehyung não sabia a intensidade do que sentia. Nunca gostara de alguém dessa forma, tanto que antes estava confundindo o que sentia por Jeongguk pelo que sentia por Yoongi, o que era puramente diferente. Com Yoongi ele se sentia salvo, querido. Era como ele se sentia sobre Namjoon, um laço fraternal. Quase como o que ele sentia com Jimin, seu melhor amigo. Porém, com Jeongguk era diferente. Taehyung queria amar Jeongguk, mostrar para ele tudo o que sentia em forma de ações, palavras. Queria tocar Jeongguk e queria que ele o tocasse. Queria estar com Jeongguk o tempo todo, rindo com ele, estudando com ele, chorando com ele, o ajudando e sendo ajudado. Queria ser seu companheiro de aventuras e de desafios, queria ser seu apoio e ser apoiado por ele. Taehyung queria ser de Jeongguk e queria que o moreno fosse dele, apenas dele.

E era por isso que queria contar para Namjoon. O mais velho era a única família que tinha e ele se sentia fazendo algo ilegal, namorando sem contar para o loiro. Então, Taehyung respirou fundo e abriu a boca para falar finalmente.

– Jeongguk e eu estamos namorando.– Taehyung disse de uma vez só, ganhando a atenção de ambos os garotos.

Taehyung alternou o olhar entre os dois e encontrou sorrisos gentis no rosto de ambos.

– Eu sei Taehyung, Jeongguk acabou de me contar.

– Huh?

Os dois soltaram uma gargalhada, e Taehyung fez uma careta. Sentiu Jeongguk segurar sua mão e voltou os olhos para ele.

– Você estava no mundo da lua e nem nos ouviu falando. – Jeongguk disse.

– Imaginei que estava tendo um dos seus conflitos internos e nem quis te interromper. – Namjoon sorriu. – Mas saiba que estou bem com isso, Jeongguk é um bom garoto. Além do mais, se ele está morando com Yoongi e ainda esta vivo, posso confiar nele.

Taehyung sorriu sem graça, envergonhado por ter se perdido em seus pensamentos – o que era bem comum aliás – e ter perdido a confissão de Jeongguk. Porém estava feliz, Namjoon sabia e aprovava seu namoro e era isso que importava.

 

Depois de organizar a cozinha, Taehyung se viu sentado no sofá assistindo um filme com Jeongguk. Namjoon andava para lá e para cá, até que parou na frente dos dois. Ele ajeitava uma jaqueta de couro sobre os ombros, coisa que Taehyung fazia tempo que não via ele usar.

– Vai sair hyung?

– Sim Tae, marquei de sair hoje a noite.

– Vai ver Jin hyung? – Taehyung perguntou, e Jeongguk levantou uma sobrancelha.

– N-Não Tae, eu vou sair com Yoongi. – Namjoon coçou a parte de trás da cabeça. – Aquele rapper que a gente gosta vai se apresentar num clube aqui da cidade.

– Legal! Podemos ir?

– Vocês não tem idade nem pra entrar lá. – O mais velho sorriu simpático. – Quem sabe daqui alguns anos.

Taehyung resmungou algo e sentiu Jeongguk passar a mão por seus cabelos.

– Bom, juízo. – Namjoon disse, caminhado até a porta. – Voltaremos tarde então se ajeitem aí, tem cobertores a mais no armário.

Dizendo isso, Namjoon saiu e fechou a porta, deixando os dois garotos sozinhos.

 

Taehyung estava tentando prestar atenção no filme, porém Jeongguk se movia a todo instante. Era engraçado como o moreno não conseguia ficar quieto, Taehyung achava. Estava acostumado a assistir filmes assim com Yoongi, durante os quais o mais velho dormia e Taehyung podia ficar agarrado nele tranquilamente. Jeongguk porém tinha aquele sangue de dançarino correndo por suas veias, o que o impedia de ficar parado por muito tempo. O castanho riu e finalmente desistiu de assistir o filme, se virando no sofá e puxando Jeongguk para beijá-lo. O moreno prontamente respondeu ao beijo, inclinando o corpo para cima de Taehyung. Imitando o que o novato fizera mais cedo, Taehyung moveu timidamente uma das mãos por baixo da camiseta do outro. Ele interrompeu o beijo e arregalou os olhos quando sentiu os músculos rígidos do moreno debaixo de seus dígitos, fazendo Jeongguk rir contra seus lábios.

– Eu malho um pouco.

– Percebi... – Taehyung murmurou, sentindo suas bochechas queimarem. Para evitar olhar nos olhos de Jeongguk, Taehyung o puxou pela gola para que o beijasse novamente, o que o outro aceitou com fervor.

Logo Jeongguk estava no meio de suas pernas, e Taehyung, com as costas contra o braço do sofá. Estava tonto por conta da falta de ar, a boca de Jeongguk era viciante e sua lingua fazia Taehyung se perder na realidade. Quando Jeongguk experimentalmente rolou os quadris contra os seus, Taehyung sentiu algo novo e aquilo o assustou, o trazendo de volta para o o mundo real.

– Gukkie... – Ele gemeu baixinho, sem dar permissão para que sua boca deixasse tal coisa escapar.

Ao ouvir aquilo, o outro soltou algo como um rosnado e deixou alguns beijos no pescoço de Taehyung.

Parecendo a posição em que se encontrava, Taehyung trouxe as duas palmas para o peito de Jeongguk e o empurrou levemente.

– Jeongguk...– Ele disse arfando. – Sobre aquilo... Aquilo que eu vi no seu notebook...

– Do que você está falando? – O moreno respirava pesadamente. Seus cabelos negros estavam bagunçados, seu rosto rosado e seus olhos negros ainda mais escuros.

Claro, Jeongguk nao sabia que ele havia achado sua pasta de porno, Taehyung não havia contado isso a ele ainda.

Taehyung o empurrou mais e o garoto saiu de cima de si. Jeongguk agora tinha os olhos arregalados, numa expressão parecida com a de um filhote abandonado. Taehyung nunca ia entender como o outro fazia isso, passando de totalmente sexy para uma criança que acabara de levar uma bronca.

O castanho se sentou corretamente no sofá e respirou fundo. Ele sabia que teria que falar sobre isso algum dia.

– Quando você me pediu para procurar a pasta de animes no seu notebook, eu acabei achando outra...

Jeongguk o olhava com uma expressão confusa, como se estivesse tentando se lembrar do dia.

– E eu abri um vídeo...

– Oh... – Jeongguk de repente fechou os olhos e cobriu o rosto com uma das almofadas do sofá. – Merda.

– E-Está tudo bem, e-eu não devia ter aberto aquilo e ferido sua privacidade... Mas... Eu... – Taehyung gaguejava, ambos estavam envergonhados naquele ponto.

– Olha, Taetae... – Jeongguk tirou a almofada da frente do rosto, que ainda estava rosado. – Você... Nós... Não temos que fazer aquilo se não quiser. E-Eu só estava curioso sabe? Não vou te obrigar a fazer nada que não queira. – O moreno evitava olhá-lo nos olhos.

– Jeongguk... Eu... – Ele mordeu o lábio inferior. Não sabia como dizer aquilo. Não era como se ele não quisesse fazer aquilo com Jeongguk, não era isso. Taehyung só achava que não estava pronto para dar um passo tão grande. Ele tinha medo de desapontar Jeongguk, então não sabia como dizer.

– Está tudo bem,Taetae. – Jeongguk sorriu tímido e pegou as mãos de Taehyung nas suas. – Eu não quero apressar as coisas, temos muito tempo para isso.

– É... Obrigado. – Taehyung se permitiu sorrir, sentindo os polegares de Jeongguk acariciarem a palma de suas mãos.

– A não ser que você termine comigo antes. – O novato fez uma cara triste e levou uma almofada no rosto. – Ei!

– Eu não vou fazer isso, eu – Taehyung fechou a boca. Estava prestes a dizer algo por impulso e não sabia se estava na hora.

Eu amo você.

Não era difícil dizer tais palavras, pois saíam da boca das pessoas como quaisquer outras. Porém carregaram um significado muito maior que uma simples palavra. Taehyung queria dizê-las quando tivesse certeza, porque sabia que elas eram muito, muito importantes.

– Você...?

– Eu gosto muito de você, não vou terminar com você Jeongguk. – Disse, procurando por alguma reação no rosto de Jeongguk.

O moreno sorriu e o puxou para um abraço no sofá, logo perdendo os dedos entre os cabelos castanhos de Taehyung.

– Eu também Taetae... Ainda mais agora que ganhei um apelido também.

– Huh?

– Gukkie, você me chamou de Gukkie enquanto a gente... Se pegava no sofá.

– J-Jeongguk! – Taehyung o acertou com outra almofada e logo os dois estavam rindo.

– Eu gostei, pode me chamar assim.

– Idiota.

O moreno riu e deixou um beijo contra a testa de Taehyung.

Outro filme entediante começou e não demorou muito para que os dois dormissem no sofá.

 

X

 

Yoongi estava acabado. Fazia muito tempo que não se divertia tanto. Seus pés latejavam de tanto que ele havia pulado, pois era baixo e não enxergava o palco com tanta gente mais alta na sua frente. Fora que o som estava muito bom para que ele simplesmente ficasse parado. Porém, toda a agitação e o cuidado que teve para manter Namjoon fora de problemas – pois o mais novo estava obviamente bêbado – havia o esgotado ao limite.

Brincava com o resto de água que gelada que havia em seu copo enquanto esperava Namjoon vomitar o estômago para fora no banheiro. A sua volta, ainda havia muita gente bêbada, ou dançando ou se amassando com alguém. Os próprios rappers que haviam se apresentado já estavam na pista procurando suas vitimas. Yoongi corria preguiçosamente os olhos pela multidão, achando graça a forma com que as pessoas ficavam quando tinham álcool no sangue.

Desde aquela época, ele havia desistido de ingerir tal coisa. O álcool em suas veias apenas o fazia mal. Ficava violento, inconsequente e magoava as pessoas. Nunca mais tomaria um copo sequer, prometera para si mesmo.

E foi ali, sentando em uma das mesas do bar, que ele viu novamente o garoto dos cabelos negros. Estava sentado no colo de um dos rappers.

Yoongi desviou o olhar.

Ele sabia que depois de tanto tempo, obviamente Hoseok o trataria como um estranho. Quando se esbarraram na rua, Hoseok apenas se desculpou e foi embora. Yoongi sabia, no fundo ele sabia que não seria diferente, mas não podia dizer que aquilo não havia o afetado um pouco.

Sem querer, olhou novamente na direção de Hoseok e o viu completamente entregue ao outro homem, visão que fez seu estomago revirar. Ele sempre foi assim, a relação dos dois começara daquele jeito. Hoseok queria ser tocado, e Yoongi precisava de algo para aliviar seu stress. No fim, Hoseok ainda era o mesmo e estava muito bem sem ele, tendo uma legião de outros caras que se aproveitariam de suas habilidades como dançarino.

Tsc.

Yoongi tomou aquele ultimo gole de água e soltou um suspiro. Hoseok não era como Taehyung. Yoongi ainda amava o garoto com todas as suas forças, ver Hoseok não havia mudado tal fato. A verdade era que ele sentia raiva. Sentia raiva porque parecia que ele não havia mudado a vida de Hoseok em nada. Claro, a relação deles era puramente carnal no começo, mas depois ela evoluiu para algo mais emocional, mais romântico. Yoongi achava que ele tinha mudado Hoseok, da mesma forma que o garoto o havia mudado. Mas ver o mais novo ali, rebolando no colo de um completo estranho era prova de que ele ainda sentia falta de alguma coisa em sua vida.

Yoongi sentia pena, dos dois, dele e de Hoseok.

Quando tinha finalmente encontrado o amor, este fora tirado dele por outra pessoa. Não era culpa de Taehyung, nem de Jeongguk. Taehyung não correspondia seus sentimentos, isso nunca mudaria. Yoongi não podia fazer nada, tanto que percebera que não adiantava implicar com Jeongguk. O que ele podia fazer se o garoto fazia Taehyung feliz? Por que ele interferiria, se os dois estavam se ajudando? Completando-se? Mudando um ao outro para melhor? Não podia fazer nada e também não faria. Queria ver Taehyung feliz  e ele estava, com Jeongguk.

E por isso Yoongi ficara com raiva quando vira Hoseok. Porque ele estava infeliz. Continuava correndo atrás de coisas que não o trariam a felicidade, assim como antigamente. Hoseok largara Yoongi sem nem pensar duas vezes, ao invés de tentar ajuda-lo com o obvio problema da bebida. Nunca agrediu Hoseok, nunca. Apenas bebia demais, voltava tarde e quebrava as coisas. No fundo Yoongi sabia que Hoseok tinha seus problemas também, e que usara aquilo como desculpa para terminar tudo.

Ele chegou à conclusão de que ambos precisavam crescer e levar algumas surras da vida. Porém Yoongi estava cansado de apanhar, já aprendera lições valiosas e  mesmo assim, continuava colecionando os machucados que a vida lhe causava.

Talvez um dia, quem sabe, Hoseok também percebesse isso.

Yoongi não ia se meter.

Primeiro porque não era de seu feitio. Hoseok deixara bem claro que não queria mais nada com ele. Segundo, porque sabia que o mais novo viria até ele se ele quisesse, e se isso acontecesse, Yoongi o ajudaria como amigo.

Por enquanto, deixaria o tempo fazer a sua mágica, como remédio que curava a dor lentamente.

– Hyung... – Ouviu Namjoon gemer perto de si. – Vamos para casa... Eu to podre.

– É, eu sei. – Sorriu de canto e ajudou o amigo a se colocar de pé.

 

Assim que chegou à porta do apartamento de Namjoon, Yoongi pegou a chave do garoto e abriu a porta. Entrou e logo viu o casal deitado no sofá, dormindo como se fossem anjinhos.

Tsc.

Namjoon foi correndo até o banheiro, e Yoongi sentou sobre a mesa de centro, observando os dois garotos. Taehyung dormia com a cabeça sobre o peito de Jeongguk, que tinha um dos braços ao redor do corpo do mais magro. Yoongi cutucou o castanho, que acordou depois de algumas tentativas.

– Yoongi hyung... – Taehyung disse arrastado, sua voz estava rouca pois acabara de acordar. –  Como foi lá?

– Muito bom, tanto que Namjoon está vomitando os órgãos para fora do corpo.

– Que nojo hyung. – Taehyung sentou, se desvencilhando de Jeongguk levemente.

– Acorde-o, vou levá-lo para casa.

– Só deixa eu fazer uma coisa. – Taehyung colocou as mãos dentro do bolso do moletom de Jeongguk e tirou de lá seu iphone. Pegou seu próprio celular na outra mão e começou a digitar alguma coisa. Depois, colocou o aparelho no local de origem novamente e sorriu satisfeito.

Yoongi ergueu uma sobrancelha.

– O que está aprontando Tae?

– Nada... – Taehyung se levantou, sorrindo inocentemente.

– Sei, eu conheço você e essa cara de quem está aprontando alguma. – Yoongi bagunçou os cabelos do mais novo e soltou um suspiro. – O que você fez?

– Peguei os números dos pais dele. – Taehyung olhou para o chão. – Eu quero ajudar, hyung, fazer ele voltar para casa.

– Não acho que você devia se meter nisso. – Yoongi advertiu. Ele não gostava de se meter nos problemas dos outros, ficando na dele o máximo que podia. Apenas é claro quando isso envolvia Taehyung.

– Eu sei que não, mas se eu não fizer algo, Jeongguk vai ficar brigado com os pais até... – Taehyung suspirou. – Não quero que ele acabe sozinho, sabe? Sem pais, sem família. Como eu e Namjoon.

Yoongi olhou para o garoto e respirou fundo. Taehyung tinha um coração de ouro.

– Só me prometa que não vai fazer nenhuma besteira. – Yoongi pediu, tocando no ombro de Taehyung.

– Eu vou pedir ajuda para quem entende disso, hyung. – Taehyung sorriu. – Não se preocupe.

– Tá, tá... – O mais velho correu a mão pelos cabelos. Estava cansado. – Agora acorde esse pivete, eu não vejo a hora de dormir na minha cama.

Taehyung soltou uma risadinha e se ajoelhou no chão, perto do sofá.

– Jeongguk...Jeonggukie... – ele cutucava o garoto, mas ele nem se mexia. – Gukkie? Jeongguk? – Taehyung começou a chacoalhar Jeongguk, mas nada.

– Parece que ele tem sono pesado. – O mais novo concluiu, e Yoongi disse um palavrão.

– Merda, me dá licença vai. – Yoongi o puxou pelo braço e tirou Taehyung dali. Com as dua mãos, rolou Jeongguk do sofá, fazendo o garoto cair no chão.

– Hyung! – Taehyung reclamou ao ver o namorado fazendo uma careta de dor, finalmente acordando.

– Teve bons sonhos cinderela? – Yoongi sorriu de canto quando Jeongguk abriu os olhos. – A carruagem já virou abóbora, hora de ir pra casa.

–Minha  bunda dói. – Jeongguk murmurou, levantando do chão. – Filho da mãe...

– E do pai também, agora vamos. –  Yoongi andou até a porta e a abriu. – Boa noite Tae.

– Boa noite hyung! – O castanho acenou, rindo da cara de chateação de Jeongguk.

Yoongi saiu pela porta assim que viu os garotos trocando beijos de boa noite.

Era difícil acreditar que o tempo levaria para longe a dor.

Mas Yoongi era paciente.

 

X

 

– Então hyung, o que acha?

Seokjin fez um “hmm” enquanto olhava para suas próprias mãos sobre a mesa de madeira.

– Você vai contar para Jeongguk?

–Não, senão ele não vai querer ir.

O coordenador sorriu gentilmente e bateu as mãos uma contra a outra.

– Certo então, eu acho que você é capaz de conversar com eles Tae. Não sei por que quer que eu acompanhe...

– Preciso de uma testemunha confiável. Leve todos os documentos e me encontre no local.

– Por que isso se parece com alguma missão policial? – Seokjin riu, arrumando os papeis sobre sua mesa.

– Porque eu sou o detetive Kim, Kim Taehyung. – O castanho levantou e fez uma pose, o que fez Seokjin rir mais.

– Espero que dê certo...

– Eu também hyung... Eu também.