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História 91 Dias de Outono - Segunda folha


Escrita por: azul46

Notas do Autor


postando de novo só porque eu quis

Capítulo 2 - Segunda folha


Fanfic / Fanfiction 91 Dias de Outono - Segunda folha

Mãos macias e toques gentis. Dedinhos passeavam por seu corpo tão suavemente como o vento outonal que fazia lá fora. Virava na cama e sentia aqueles braços finos se agarrarem ao seu tronco, e um corpo magro colar-se ao seu. Sentia sua pele em contato com a pele dele, um toque que irradiava calor por toda a extensão de seu ser. Sentiu o nariz gelado do mais novo tocar em seu pescoço quente e lhe causar arrepios. Suas mãos procuravam trazer garoto mais perto, precisava de mais calor, mais contato. Finalmente encontrou as mechas macias de cabelo e trouxe a cabeça de Taehyung para perto da sua, até que sentiu seus lábios roçando de leve nos dele.

— Hyung... — Foi quando ouviu a voz grave que Yoongi acordou bruscamente.

Estava sozinho em sua cama, usando apenas suas calças de moletom. Havia voltado do apartamento dos Kim e ido dormir outra vez, já que não estava acostumado a acordar tão cedo.

Yoongi sentou-se na cama e levantou os braços, tentando se esticar. Essa não foi a primeira vez que sonhava com Taehyung e Yoongi sabia que havia algo de errado. Sabia que não devia sonhar com o irmão mais novo de seu melhor amigo. Merda, é claro que não devia. Mas Yoongi não podia evitar? Podia?

Yoongi já era crescido o bastante para admitir – pelo menos para si mesmo – a sua orientação sexual. Inclusive já havia ficado com alguns garotos, casos de uma noite ou até duas, as vezes mais. Não que ele gostasse de dormir com pessoas diferentes a cada noite, mas porque nessas ocasiões ele se encontrava bêbado demais para pensar. Ele sabia que gostava de homens e sabia que já fazia um tempo que não saciava suas vontades e necessidades.

E sim, Taehyung só deixava tudo ainda pior.

Nunca achou que fosse pensar no mais novo de tal forma. No começo, via o garoto com um pirralho barulhento que devia tomar conta. De fato, Taehyung era apenas um garotinho de 14 anos quando eles se conheceram. Acontece que esse garotinho cresceu e em alguns anos acabou se tornando um jovem muito bonito.

Se tinha algo que Yoongi não podia negar, era que sim, Taehyung era muito atraente.

Mas ele poderia conter seus pensamentos se o mais novo não ficasse se esfregando nele o tempo todo, o que é claro, sempre acontecia. Taehyung precisava de muito contato físico e seu irmão não o propiciava isso.

Não como antes.

Yoongi achava que não haveria problema em continuar aceitando e devolvendo as carícias do mais novo, até a primeira noite que sonhou com ele. Não era nada indecente, na verdade era bem inocente e sutil. Uma troca de olhares e um tocar de mãos que foi o suficiente para Yoongi entender que estava começando a sentir algo mais pelo garotinho barulhento que havia conhecido alguns anos atrás.

Porém, a única coisa que podia fazer era fingir que os toques, os olhares e os atos do mais novo não o afetavam de tal forma.

E estava conseguindo fingir muito bem

Só não sabia até quando.

 

X

 

Filosofia, História Matemática... As aulas se passaram e Taehyung não conseguiu se concentrar muito em nenhuma delas. Normalmente ele apenas ficava quieto prestando atenção e rabiscando em seu caderno, mas dessa vez nem isso foi possível.

Jeongguk estava debruçado na carteira atrás dele, ouvindo música. Taehyung sabia, porque conseguia ouvir o som da música escapar pelos fones e a respiração do outro bem perto de seus ouvidos. Isso, mais o barulho da chuva batendo na janela, tornava impossível prestar atenção nas palavras que saiam da boca dos professores.

Estava com medo de se mexer muito na carteira e assustar Jeongguk. Talvez ele estivesse dormindo, o que era estranho a julgar pelo volume alto da música que ouvia. Taehyung não conseguia parar de pensar em como seria esse tal de Jeongguk. Seria ele como os outros colegas? Será que Taehyung conseguiria fazer amizade com ele?

Não, fazia tempo que não conseguia fazer amizade alguma.

Desde que Jimin parou de falar com ele.

Jeongguk só levantou a cabeça quando ouviu o sinal para o almoço. Taehyung se virou para trás e não conseguiu segurar uma risada. O rosto de Jeongguk estava com as marcas dos botões do blazer e também de suas dobras.

— Você é bobo? Tá rindo do que? — Ele perguntou bocejando, e Taehyung balançou a cabeça.

— Seu rosto. — Sem saber direito o que estava fazendo, o castanho aproximou seu dedo indicador do rosto de Jeongguk e o encostou nas marcas. A pele do garoto era justamente como parecia ser; macia e fria, como se Jeongguk tivesse acabado de vir de uma nevasca.

O garoto de cabelos negros o fitou com os olhos arregalados e Taehyung recolheu sua mão. Normalmente não tocava em estranhos. Por que teve tanta coragem agora?

Perfeito, agora ele vai achar que eu sou um esquisito.

Ao contrário do que Taehyung pensou, Jeongguk apenas sorriu e se levantou da carteira, esfregando as mãos no rosto e colocando os fones no pescoço.

– Vamos comer. Estou morrendo de fome! – Ele tateou a barriga com as mãos e Taehyung acenou com a cabeça.

Os dois então começaram a andar pelos corredores da escola. Jeongguk notou que Taehyung evitava os grupinhos de pessoas, desviando delas como se fossem obstáculos. Ele andava rápido e sem prestar muita atenção em volta.

Estranho.

Chegando ao refeitório, Taehyung parou na porta e Jeongguk sem querer esbarrou nele.

— O que você está esperando?

— Lugar...

De fato, todas as mesas estavam ocupadas. Havia cadeiras sobrando, mas em todas as mesas havia pessoas.

— Vamos encontram um lugar, vejo várias cadeiras vazias. — Jeongguk sorriu e lhe deu um tapinha nas costas. Vendo que o outro não se moveu, Jeongguk fez uma careta. — Okay, eu vou procurar uma mesa e você vai fazer seu prato.

 Ele era um aluno novo, havia de existir alguma alma boa que lhe cedesse um lugar em alguma mesa. Fora que seria fácil convencer alguma pessoa a lhe dar um lugar. Jeongguk sabia por experiência própria que precisava apenas de um sorriso certeiro para conseguir o que queria, dependendo da pessoa. Ele sabia que era atraente. Além disso, sempre tinha a segunda opção que era assustar a pessoa com sua presença por vezes mais fria do ele que realmente era. 

Era fácil demais.

Taehyung, por outro lado preferia evitar as pessoas. Ele se dirigiu até a fila, pegando uma bandeja e torcendo para que continuasse passando despercebido. Ao fim do balcão, havia sobrado apenas um potinho de pudim. Taehyung o pegou e o colocou na sua bandeja, se sentido mal por pegar a ultima sobremesa daquele dia. Resolveu pegar duas colherinhas de plástico e colocar no bolso.

Talvez pudesse dividir.

Depois de sair da fila, Taehyung ergueu a cabeça para procurar Jeongguk no meio da multidão. Logo que o avistou em um dos cantos do refeitório, sorriu e começou a andar cuidadosamente até a mesa.

Um pé na frente do outro. Taehyung colocou a língua entre os dentes enquanto andava lentamente pelo refeitório, tentando não derrubar a bandeja no chão. Mordia a língua e olhava para o pudim de chocolate, que tremia dentro do potinho enquanto ele andava.

Estava distraído.

Quando ouviu algumas risadas e sentiu algo bater em seu pé, já era tarde.

A gravidade o puxou para baixo e seus braços jogaram a bandeja para cima. Em câmera lenta, conseguiu apenas pegar o potinho de pudim antes que seu corpo viesse ao chão e a bandeja caísse por cima de sua cabeça.

— Ops! — Uma voz feminina chegou aos seus ouvidos. — Você devia ser mais cuidadoso, esquisito.

Depois de alguns segundos de silêncio, o refeitório todo começou a rir em uníssono. Taehyung não conseguia levantar a cabeça e tirar seus olhos do tênis de marca de Jiae, que sorria triunfante como se tivesse ganhado algum prêmio.

Taehyung arriscou olhar para cima e viu vários rostos rindo dele. Jiae sorria de boca fechada, como se aquilo não fosse engraçado o bastante para lhe valer sorrir mostrando os dentes. Kei ria tapando a boca e os garotos gargalhavam enquanto apontavam para Taehyung, o chamando dos apelidos que ele estava acostumado a ouvir.

Apesar das risadas, Taehyung mantinha seu rosto sem expressão. Apesar do macarrão em seu cabelo, do molho em seu rosto e uniforme, e da humilhação que estava passando, permanecia sério. Yoongi dizia que o que eles queriam era vê-lo chorar. O mais velho dizia que era só ele não dar a eles o que eles queriam. Taehyung fazia isso. Ele se esforçava para perecer indiferente às provocações.

Mas aí ele viu aquele par de olhos pequenos. Jimin andava entre o amontoado de alunos, abrindo caminho. Em seu rosto Taehyung podia ver preocupação.

E pena.

Uma das coisas que Taehyung odiava que as pessoas sentissem por ele era a pena.

Jimin finalmente se aproximou dele e se abaixou no chão, fazendo Jiae soltar um resmungo.

— Tae, você está bem? — O garoto perguntou suavemente, procurando os olhos que há tempos não olhavam mais nos seus. — Tae?

— Estou bem. — Taehyung respondeu sem olhar para ele. — Não preciso da sua ajuda, pode ir.

— Mas você está todo sujo, deixa eu te ajudar... Eu não acredito que fizeram isso com você, eu sinto muito...

— Não precisa.

— Mas Tae...

— Eu acho que disse que não precisa da sua ajuda. — Taehyung e Jimin olharam para cima juntos, vendo Jeongguk parado perto dos dois. — Vamos sair daqui Taehyung, está muito cheio.

Jeongguk então estendeu a mão e Taehyung a pegou sem hesitar dessa vez.

— Achei que não falasse mais com o alien. — Kei disse baixinho para Jimin e o resto das pessoas na mesa começou a rir. — Vamos Jiminnie, levanta daí.

Jimin se levantou do chão e ficou observando os dois garotos saírem do local.

Taehyung não olhou para trás.

 

X

 

Os dois saíram do refeitório e foram até o vestiário. Taehyung colocou suas roupas de ginástica e tentou tirar o máximo de molho do uniforme e os pedaços de macarrão de seu cabelo. Jeongguk estava encostado nos armários, apenas observando, perdido em seus próprios pensamentos. Taehyung achou que ele fosse fazer uma porção de perguntas e sentir pena dele como todos faziam.

Mas isso não aconteceu.

Depois de ter feito o que podia sobre seu uniforme, Taehyung aproveitou o tempo do intervalo e mostrou alguns lugares da escola para Jeongguk. Apesar de ter acabado de passar por um dos piores momentos de sua vida escolar – até agora – o sorriso calmo de Jeongguk o deixava tranquilo.

— Então aqui é seu lugar preferido de toda a escola? — Jeongguk perguntou, cruzando os braços atrás da cabeça e se encostando-se à arvore. — É legal.

Taehyung sorriu e balançou a cabeça, sentindo o vento bater em seu rosto. Gostava de sentar debaixo da árvore que ficava perto dos muros do colégio, no jardim atrás da construção. Os alunos não ficavam muito por lá, preferindo se encontrar no refeitório ou na cafeteria. Ali ele podia ficar sozinho e longe do barulho, apenas com seus pensamentos, com o som suave das folhas e o canto dos poucos passarinhos.

— Oh ow... — Jeongguk soltou uma risada e colocou a mão sobre a barriga, que havia feito um barulho alto. — A gente acabou não comendo nada.

— Você quer voltar para lá? — Taehyung perguntou. Seu rosto adquiriu uma expressão triste. Ele se sentia culpado por ter feito Jeongguk ficar sem almoço.

— E aguentar aqueles idiotas? Nem pensar! — O outro sorriu. — Eu nunca fui de me socializar com as pessoas, mas agora eu sei que nem vale a pena.

O castanho sorriu. Talvez, Jeongguk fosse diferente dos outros.

— Oh! — Taehyung mostrou para Jeongguk o potinho de pudim que ainda estava segurando. — Eu tenho isso!

— Um potinho de pudim?

Ele sorriu e tirou as duas colherinhas do bolso, agradecendo aos céus por elas não terem quebrado com a queda.

— Você quer dividir seu pudim comigo? — Jeongguk perguntou sorrindo, fazendo Taehyung desviar o olhar a fim de esconder seu rosto vermelho de vergonha.

— Você está com fome e eu só tenho isso, então...

Taehyung sentiu a mão fria do outro encostar na sua e pegar o potinho de pudim. Ele virou a cabeça e encontrou Jeongguk sorrindo para ele. Um sorriso tão bonito que sua boca se abriu e seus olhos se perderam no brilho daqueles dentes brancos.

Jeongguk parecia um coelho quando sorria.

— Você não vai me dar a colher? — Jeongguk riu e Taehyung o entregou a colherinha.

Os dois começaram a rir sem motivo algum e Taehyung se aproximou um pouco mais de Jeongguk.

E esta foi a primeira coisa que dividiu com o garoto de cabelos negros; um potinho de pudim.

 

X

 

As últimas aulas passaram rápido. Jeongguk dormira durante todas elas e Taehyung apenas rabiscava em seu caderno enquanto pensava no garoto atrás dele.

É, talvez ele pudesse fazer amizade com Jeongguk.

Os alunos conversavam e debochavam dele alto o bastante para que ele pudesse ouvir, mas Taehyung não ligava. Sentia bolinhas de papel baterem na sua cabeça e ouvia a voz de Jiae rindo dele e falando besteiras para os outros alunos, mas Taehyung fingia não ouvir. Sentia o olhar preocupado de Jimin pesar sobre si, mas Taehyung não ousava encontrar os olhos do outro.

Normalmente seria difícil ignorar tudo isso, mas Taehyung estava distraído demais com outra coisa para notar.

Estava distraído demais ouvindo o jeito que Jeongguk respirava. Taehyung estava distraído demais ouvindo a música alta que saia dos fones do garoto. Estava distraído demais imaginando o rosto pacifico do novato, seus olhos fechados e sua boca ligeiramente aberta enquanto dormia debruçado na carteira.

Taehyung estava distraído demais pensando que talvez, só talvez, ele pudesse fazer um amigo de verdade.

O sinal para o fim da aula tocou e pela primeira vez Taehyung se sentiu triste por ter que voltar para casa

 

X

 

— Aqui está o meu número. — Jeongguk o devolveu o celular com um sorriso no rosto.  — Salvei na sua lista de contatos.

— Desde quando está com meu celular?

— Desde que você quase o esqueceu no vestiário. — Jeongguk sorriu de canto e Taehyung fez uma careta. — Você é meio descuidado.

— Sempre me dizem isso... — Ele murmurou e Jeongguk soltou uma risada.

— Você mora perto daqui? — Jeongguk perguntou, pegando sua bicicleta que estava amarrada junto com algumas outras.

— Não muito. — Taehyung respondeu olhando para o o uniforme sujo que carregava consigo, sentindo frio por estar usando apenas regata e calção. — Alguns quarteirões daqui.

— Se quiser, posso te dar uma carona na minha moto! — Jeongguk sorriu orgulhoso e passou a mão sobre a bicicleta vermelha.

— Não é uma moto, é só uma bicicleta velha. — O castanho fez uma careta e soltou uma risada.

– Você não tem imaginação? – Taehyung ficou pensativo depois que ouviu a pergunta.

Desde quando ele não imaginava mais?

Ah sim, desde quando todo mundo cresceu e começou a fazer piada de sua fértil imaginação.

 Desde quando Namjoon parou de ser criança e parou de brincar com ele.

“Vê se cresce, Taehyung.”

— E então, o que me diz? — Jeongguk bateu com as mãos no banco da bicicleta. — Quer a carona ou não?

— Não vai ser necessário. — Jeongguk fez uma careta e Taehyung virou a cabeça para trás.

Yoongi estava parado perto deles, jogando a chave do carro para cima.

— Hyung! — Taehyung se virou para o mais velho e depois lançou um olhar para Jeongguk. — Obrigado, mas não vai precisar... Jeongguk ssi...

— Só Jeongguk. — Ele deu de ombros e montou na bicicleta. — Tudo bem. Mas quando precisar, já sabe. Até amanhã, Taehyung.

— Até amanhã! — Antes que Taehyung pudesse acenar, Yoongi o puxou para o outro lado da rua onde seu carro estava estacionado.

— Entra logo no carro, Tae, você está congelando! O que diabos aconteceu com a suas roupas? — Yoongi entrou no carro e ligou o aquecedor. — Assim você vai pegar um resfriado!

— Eu sujei com comida na hora do almoço. — Não era mentira. Tecnicamente.

— Você é como uma criança. — O mais velho sorriu e deu partida no carro. — Vou te levar para casa e você vai tomar um banho bem quente antes do seu irmão chegar.

Taehyung acenou com a cabeça. Yoongi desviou sua atenção para a rua e tentou tirar da mente as imagens de Taehyung no banho que sua imaginação havia criado.

— Quem era aquele? — Ele perguntou, olhando rapidamente para o mais novo e depois voltando os olhos para frente novamente. — Amigo novo?

— É cedo para dizer. — Taehyung respondeu, sem tirar os olhos da janela do carro.

– Ele é legal pelo menos?

— É.

— Então tudo bem. — Yoongi queria saber mais, mas sabia que não poderia forçar o garoto a falar. Sabia que Taehyung tinha dificuldades para fazer amizades e estava feliz de saber que ele havia encontrado alguém com quem conversar.

— Dividimos um pudim.

— O quê? — Ele perguntou e Taehyung respondeu rindo. — Que história é essa?

— Nada, hyung.

Yoongi bufou e estacionou em frente ao prédio que estava tão acostumado a visitar.

— Sobe.

— Não, eu tenho coisas para fazer. — O mais velho tentou, por mais que soubesse que era inútil.

— Mentira.

— Como você pode saber disso?

— Sei que você vai chegar em casa e deitar no sofá. — Taehyung sorriu e o puxou pelo casaco. — Você pode deitar aqui no nosso sofá.

— Não posso, Taehyung...

— Pode sim.

— Você... — Ele olhou para Taehyung e tentou ignorar aquele brilho estranho nos olhos do garoto. Tentou ignorar o aperto em seu coração ao ver aquela expressão pedinte. Tentou ignorar seus sentimentos.

— Eu?

— Você não entende, Taehyung.

— Não entendo o que?

— Vá para casa, tome um banho, faça as tarefas e vá dormir.

— Mas hyung!

— Namjoon já vai chegar, você não vai ficar sozinho.

— Ficar com ele ou ficar sozinho não faz diferença alguma! — Taehyung finalmente saiu do carro e bateu a porta com força.

Yoongi até podia ignorar as lágrimas que viu caindo pelo rosto do garoto, seus olhinhos tristes e o tom melancólico de sua voz chorosa.

Mas não podia ignorar a dor que sentia no peito.

Contudo, teria que ser assim.

 

X

 

Chegando em casa, Taehyung nem se preocupou em trancar a porta do apartamento. Ele apenas se jogou no sofá e soltou alguns gritos contra uma almofada.

Por que Yoongi tinha que ser assim? Ele era o único que entendia Taehyung, então por quê? Por que ele o deixou sozinho?

Taehyung ficou ali, respirando com dificuldade por entre a almofada úmida de suas lágrimas. Queria ter contado para Yoongi o que houve na escola, mas não teve forças. O mais velho já se preocupava demais com ele. Namjoon? Não podia contar para Namjoon também. Seu irmão já tinha muitos problemas para lidar, além de nunca realmente prestar atenção no que ele dizia.

Não como antes.

Ele se mexeu no sofá e sua mochila caiu no chão. Por estar aberta, algumas coisas caíram de dentro dela inclusive seu celular. Taehyung observou o objeto por alguns instantes e depois de pensar um pouco, o tomou nas mãos.

Ele rolou dedo pelos contatos até a letra “J” e encontrou o contato que estava procurando.

Jeon Jeongguk.

Taehyung apertou sobre o nome e uma foto apareceu. Era uma foto do garoto mostrando o polegar, enquanto os dois estavam sentados debaixo da arvore. Na foto, dava para ver Taehyung sentado ao seu lado, virado para outra direção e com o os olhos fechados. Ele riu ao ver a foto. Realmente, era tão distraído que nem havia percebido que o outro estava registrando aquele momento.

Apertando em mais alguns lugares, descobriu que Jeongguk também tinha o aplicativo do Kakao Talk*. Instintivamente, prendeu a língua entre os dentes e apertou em cima da foto dele, abrindo uma janela de conversa.

Taehyung não sabia o que fazer. Devia mandar um “oi?”, talvez um “tudo bem” ou um “chegou a salvo em casa?”

Ele balançou a cabeça e recusou as alternativas, então apenas digitou uma carinha feliz e apertou em enviar.

Taehyung se arrependeu logo que a carinha foi enviada e colocou o celular debaixo de uma almofada, como se isso fosse adiantar de alguma coisa. Logo o celular vibrou e ele jogou a almofada longe.

E aí Tae Tae ? B)

 

Taehyung não conseguiu conter o sorriso.

“Taetae” era como sua mãe o chamava.

Apesar de sentir saudades dela, não se sentia triste por ser chamado assim. Namjoon havia parado de chamá-lo por esse apelido e Yoongi nunca o havia chamado daquele jeito.

Mas ser chamado assim por Jeongguk o fez sentir um calor diferente no peito.

Queria ouvir a voz do outro o chamando assim.

 

Tae Tae??

 

É, posso te chamar assim???

 

Pode...

 

:D

 

Tae Tae!

 

Taehyung escondeu o rosto entre as mãos e começou a rir sozinho. Por que estava se sentindo tão envergonhado por causa de algo tão bobo? Eram apenas mensagens de texto e ele já estava agindo como uma criança.

Talvez seja porque eu não esteja acostumado a fazer amigos, ele pensou.

É, talvez.

— Taehyung? — Namjoon apenas empurrou a porta e entrou no apartamento. — Você deixou a porta aberta? — Ele perguntou em um tom acusatório, embora não tivesse a intenção.

— S-Sim, desculpa hyung. — Ele respondeu abaixando a cabeça, evitando olhar seu irmão nos olhos.

— Tudo bem Tae, só não faça mais isso... É perigoso. — Namjoon se aproximou do garoto e fez uma careta ao ver que ele se levantou do sofá. — Por que está com roupas de ginástica? Está frio!

— Eu... Sujei meu uniforme...

— Francamente Taehyung... Às vezes eu penso que você ainda tem 8 anos! — Namjoon colocou a mão na testa e Taehyung se sentiu ainda menor perto do outro. — Vá tomar um banho, eu cuido disso.

E o mais novo foi como um relâmpago para dentro do banheiro, fechando a porta logo em seguida.

Namjoon colocou a mochila em cima da mesa da sala e guardou os livros dentro, depois de tirar o uniforme molhado.

— Céus! É como uma criança. — Ele pegou o blazer e franziu as sobrancelhas. Uma mancha enorme de molho vermelho cobria algumas partes da roupa. A camisa branca de Taehyung estava praticamente tingida de molho de tomate. – Como ele conseguiu se sujar tanto assim?

Alguma coisa cheirava mal nessa história e Namjoon sabia que não era o molho de tomate.

 

X

 

— Como foi na escola hoje? — Namjoon perguntou, pegando um pouco de arroz e levando até boca.

— Legal.

— Aconteceu alguma coisa?

— Não.

— Não minta para mim, Taehyung. — O mais velho descansou os talheres na mesa, lançando um olhar para o irmão.

— Você se meteu em alguma guerra de comida? — Namjoon continuou. — Porque eu vou ter que fazer milagre para tirar aquelas manchas enormes no seu uniforme! Acha que ele foi barato? Acha que dinheiro nasce em árvores?

Taehyung não sabia o que responder, apenas escorregava pela cadeira, tentando fugir do olhar sério do irmão.

— Você sabe muito bem que mal temos dinheiro para pagar as contas, como acha que vamos conseguir bancar as asneiras que você faz? Quando é que você vai crescer?

— Desculpa, hyung. — Sua voz saiu baixa e mais melancólica que ele queria.

“Desculpa, hyung” não vai pagar um uniforme novo! Coloque-se no seu lugar, Kim Taehyung! A mamãe não está mais aqui para cuidar da gente e passar a mão na sua cabeça! — Namjoon gritou e Taehyung se levantou da cadeira.

— Eu sei disso! Não precisa me lembrar de que ela morreu e me deixou! — Com lágrimas nos olhos, Taehyung correu para o quarto e se trancou lá dentro.

Suspirando, Namjoon enterrou os dedos nos cabelos e encostou a testa na mesa de jantar.

Havia perdido completamente o apetite.

 

X

 

O toque do seu celular o acordou do sono. Yoongi abriu os olhos e se viu deitado no sofá.

Como sempre.

A televisão estava ligada em um canal qualquer. Algum drama romântico de quinta categoria, ele pensou.

Virando-se de lado no sofá ele encontrou o celular, que estava debaixo de seu corpo, e leu o nome que estava na tela.

Taehyung.

Logo a culpa o bateu como um soco no estômago. Lembranças dos olhinhos molhados do garoto passaram pela sua mente e Yoongi soltou um rosnado. Não devia ter tratado Taehyung daquela maneira. Devia ter sido mais delicado e tentado explicar para ele de alguma forma.

Explicar o que nem ele entendia direito.

O celular continuou tocando e Yoongi não sabia direito se devia atender. Devia manter uma distância segura de Taehyung, para evitar que seus sentimentos o traíssem e ele fizesse algo que fosse se arrepender depois. Porém, só de imaginar o rostinho do mais novo cheio de lagrimas, Yoongi se sentia a pior pessoa do mundo.

Ele atendeu o celular.

— Hyung... — Assim que encostou o celular na orelha, Yoongi ouviu o choro fraco do mais novo.

— Tae... — Ele fechou os olhos e se jogou contra o encosto do sofá, massageando a testa com a outra mão. — O que houve?

O garoto murmurou palavras confusas entre soluços e choros baixinhos e Yoongi decidiu que já tivera o bastante.

— Estou indo aí.

Desligou o celular e pegou as chaves do carro de cima da mesa. Novamente, estava indo atrás do motivo de seus sonhos proibidos todas as noites.

 

X

 

Assim que Namjoon abriu a porta e o lançou um olhar que carregava uma mistura de tristeza e cansaço, Yoongi não teve duvida. Eles haviam brigado.

Yoongi abriu um sorriso suave e bateu de leve nos ombros do amigo, logo se dirigindo para o quarto de Taehyung. Namjoon o seguiu até a porta e parou na frente dela.

— Tae? — O mais velho bateu de leve na porta e ouviu um abafado “entra” como resposta.

Yoongi então abriu a porta. O quarto estava escuro, apenas a luz do luar iluminava um corpo encolhido debaixo das cobertas. Ele caminhou lentamente até a cama e se sentou no canto dela. Olhou para Namjoon e se sentiu triste por ver o quão mal o amigo se sentia por fazer Taehyung chorar. Ele queria dizer “não é sua culpa”, mas as palavras estavam entaladas na sua garganta.

Taehyung tirou o cobertor de cima de sei corp e puxou Yoongi pelo braço. Ele não precisava falar, seus olhos diziam claramente o que queria.

Então Yoongi suspirou e direcionou um olhar para Namjoon. Um olhar que dizia “desculpa”. Depois, se enfiou debaixo das cobertas e se deitou junto com Taehyung, acolhendo o garoto em seus braços e dizendo palavras suaves em seu ouvido.

Namjoon colocou a mão na maçaneta da porta e observou os dois até que a única coisa que podia ver na sua frente era a madeira branca do objeto.

Ele precisava ter uma conversa séria com Yoongi.


Notas Finais


JIAE: http://images6.fanpop.com/image/photos/38100000/Teaser-image-for-Jiae-lovelyz-38148562-1152-1728.jpg
KEI: http://www.allkpop.com/upload/2015/02/af_org/lovelyz-kei_1424358273_af_org.jpg

Eu nunca atualizo tão rápido, postei o segundo porque deu vontade e porque acho importante o que tem nele... Enfim. Para vocês terem noção de como será o taegi nessa fanfic. Pode parecer que não vai ter, terá, mas... bom... E também para dar uma ideia de como é o drama familiar entre Taehyung e Namjoon. Acho que na verdade, tudo ficou mais confuso, não?

Espero saber de vocês.


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