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História A Acompanhista - Concerto no.1 Allegro ma non troppo, agitato


Escrita por: ElectraV4der

Notas do Autor


Fiquei ansiosa e acabei postando capítulo novo na quinta.

Capítulo 2 - Concerto no.1 Allegro ma non troppo, agitato


Yutaro levantou-se cedo, o costume de levantar-se cedo para tomar café em algum café vienense ainda não tinha ido embora. Ainda meio desarrumado, tentava anotar o que se lembrava da música que ele tinha composto com Karol e tentava ressignificar tal evento, tentava eximir-se de qualquer responsabilidade. Mentia para si, embora ele soubesse que mentir para si era pior que mentir aos outros.

Largou a pauta frustrado, largou a música de lado e encarou o retrato do pai. Talvez ele realmente devesse cuidar dos negócios da família, dos navios e dos portos e deixar de lado as notas, o piano. Ele jamais teria conhecido Viena, Chiara, Fabiana e muito menos Karol. Talvez Katsuki o amasse e o incentivasse se ele ficasse no país.

Percebeu um carro chegando pela janela, aquilo deixou-o confuso.

Embora ele estivesse planejando desde o início conseguir um criado ou criada de confiança, quem soubesse que ele estava tuberculoso, recusava-se a cuidar dele. Saindo de perto das cortinas, Yutaro voltou as suas cobertas e, então, ouviu as batidas em sua porta. 

— Senhor? Chegou uma criada! 

Yutaro ficou empolgado, embora tentasse disfarçar sua empolgação tossindo.

— Mande-a entrar!

Sunhee estava aliviada por finalmente chegarem até a grande casa dos Shionoya. Ela tinha um estilo europeu, era enorme, suntuosa até para aquele homem que ela acreditava já estar velho e doente, morar. Se perguntava se ele não teria descendentes para deixar a grande construção ou o que o governo japonês faria com a casa quando seu dono em breve morresse. Sunhee não teria que pensar nisso, apenas pensar no que a senhora Hwang lhe disse como orientação e em sorrir para que ele não desconfiasse dela. 

— Já estamos chegando? 

— Encoste-se. Vamos demorar a entrar, de fato.

Ela o fez, admirando os arbustos que cercavam a casa, que mais parecia um palácio. Segurava em suas mãos a carta, a qual ela não sabia ler, mas que tinha decorado bem o conteúdo, na esperança de ser bem aceita. Mesmo que viesse a contrair a doença, ao menos não estaria morrendo enforcada como morreu seu pai. A garota sorriu quando entrou na casa, parecia ansiosa para aquele grande passo naquele novo emprego. 

— Pronto, já chegamos.

Sunhee desceu do veículo, levando consigo a carta envelopada que lhe tinha sido entregue. Uma empregada mais velha a recebeu.

— Então, queres mesmo trabalhar com o senhor Shionoya? 

Ela assentiu, concordando com o que a mulher dissera. Ela então a conduziu pela entrada da casa. 

— Vamos avisar ao senhor Shionoya que está aqui. Por enquanto, siga-me, pois quero mostrar seus lugares. 

Andaram pela grande sala principal. Sunhee tentava não reparar muito, entretanto, aquilo era inevitável. Entraram em outra sala, na qual havia um piano, uma lareira e uma poltrona.

— Este é o piano dele. Ele desce para tocar, entretanto, deve deixá-lo sozinho para isso. Ele não gosta que o olhemos. 

Guiou-a até a cozinha, aos fundos, em outro corredor. 

— Deve vir aqui toda manhã para preparar o café dele. Ele não come comida apimentada, aparentemente, trouxe consigo as manias de Viena, come coisas ocidentais.

Ela levou-a a subir as escadas e então, guiou-a até o seu suposto quarto, isolado dos outros empregados, pequeno, mas mais confortável que o lugar que lhe deram para dormir na antiga casa.

— O quarto do senhor é este a frente do seu e este é seu quarto. Vou mandar saber se ele já a chamou. Neste caso, pode entrar. Fique aqui.

Ela parou, com sua única mala e a carta de recomendação, ansiosa em relação a resposta do japonês. 

— Por via das dúvidas, se ele perguntar seu nome, diga que se chama Hideko.  

Ela repetia baixinho as informações que lhe foram passados, tanto pela senhora Hwang como por aquela mulher.

Hideko.

Senhora Fujiwara.

Sei preparar todo tipo de comida.

Quando a empregada voltou, ficou silenciosa e ouviu-a dizer.

— O senhor Shionoya está esperando. 

Caminhou, passos nervosos até o quarto. Ela se acalmou, ao bater a porta e então ouviu a voz masculina falar-lhe, em japonês.

— Entre. 

Ela abriu a porta, esperando encontrar ali um homem velho, enfermo, deitado. Entretanto, Yutaro Shionoya estava de pé, à janela, vendo-a entrar. Ele não era velho, pelo contrário.

Se tinha trinta anos, já era muito. A pele dele era bronzeada e bonita, o verão europeu o tinha feito andar sob o Sol. Os cabelos negros, diferente da moda que os ijin usavam, entretanto, eram compridos e lisos, até o pescoços. Sua boca, cujo desenho era tão exótico e bonito, sorriu de canto. Poucas vezes na vida, Sunhee tinha visto homens tão bonitos quanto aquele. Não sabia se ficava impressionada, se perguntando como um homem tão jovem e tão bonito poderia estar acometido pela doença, ou se deveria parar, o admirando.

— Deixa tua mala aí. Disseram-me que vieste da casa de um oficial com uma carta de recomendação ou engano-me? — Falou, sem muito interesse em tais burocracias. 

— Não, senhor, ela está bem aqui. 

Estendeu o pedaço de papel a ele, o qual ele pegou e sorriu, lendo-a superficialmente. Ali, num japonês mais antigo, o qual ele não conseguia entender algumas palavras, ele deduziu que uma pessoa velha tinha escrito a carta e recomendado a jovem, que não parecia ter mais que dezoito anos.

— Eu sei cozinhar todo o tipo de comida, senhor. Minha antiga patroa, a senhora Fujiwara dizia coisas boas de mim. Que sou limpa, obediente, saberei agradá-lo bem. — Ela tentou manter o sorriso, embora estivesse tímida e Yutaro percebeu aquilo, de novo com o mesmo sorriso que não exibia os dentes. 

— Imagino que sabe. Como é o teu nome? 

— Hideko, senhor. 

— Não o nome que a empregada te deu, seu nome real. Vamos ter um relacionamento muito pessoal se quiser trabalhar e morar aqui, tens de me falar a verdade. 

— Sunhee, senhor. — Ela disse, um pouco menos tímida. 

— Quantos anos tens, Sunhee? — Lhe perguntou, curioso, uma voz arrastada do sotaque que os Shionoya tinham. 

— Dezenove, senhor. 

Yutaro sorriu. Ele pensou que ela seria perfeita ao seu plano, pela idade, pela aparência que tinha e por ser, aparentemente, subserviente. Admirava também, a beleza dela, tanto quanto ela o admirava e o observava. 

— Escute… não me interessam as cartas de recomendação ou o que lhe disseram ao teu respeito. O que quero de ti é que coopere comigo e jamais traia minha confiança. Entendeste?

Ela assentiu com a cabeça, entendendo o pedido simplesmente como algo que qualquer patrão pediria. Sunhee não o roubaria, mentiria para ele ou o deixaria de repente e o homem, em aprovação, sorriu momentaneamente e então, virou-se com uma ordem para ela.

— Ajude-me com a roupa, vamos ao jardim, Sunhee. Escolha-me uma roupa confortável.

Perdendo a timidez ela abriu o armário tirando dali o que considerava ser confortável, roupas típicas do Japão. Ajudou Shionoya a despir-se, sem reparar muito, pois bem sabia que os ricos não gostavam que pessoas de sua classe reparassem. Yutaro, entretanto, não parava de encará-la, de examiná-la, por vezes sério e quando ela percebia tais olhares, ele sorria, discretamente. 

— Pronto, senhor. — Terminou de vesti-lo ao que Yutaro calçou os sapatos e desfez um pouco da bagunça que a cama causara aos cabelos dele com suas mãos. 

— Vamos. — Ele disse, caminhando até a porta e Sunhee, a abrindo, ainda sentindo certo temor. A jovem o seguiu até o jardim, por vezes reparando no homem enquanto ele andava a sua frente, seguindo-o até o jardim, no qual os dois andaram, se distanciando da casa. Sunhee percebeu: seu patrão não era um homem ingênuo e tinha algum propósito. Sentia um misto de temor e de fascinação ao passar aquelas primeiras horas com o japonês, coisa que ele não sabia que poderia causar. Yutaro gostaria que os dois tivessem uma relação de confiança, então, quis conversar com a moça, conhecer melhor sua cúmplice.

— Percebi que teu antigo patrão em verdade parece ser alguém mais velho…

Sunhee, com aquelas perguntas, entretanto, sentiu-se mais acuada, intimidada e ansiosa. 

— Sim, sim! Na verdade, a senhora Fujiwara escreveu tal carta e o oficial para quem trabalhava apenas sugeriu que eu a apresentasse, senhor.

— Hm… Compreendi. — Ele falou, calmamente, conforme subiam pelo jardim. — Sunhee, onde exatamente neste país você nasceu?

— Incheon, senhor. 

— Oh, é um lugar bonito. E bastante longínquo daqui. 

Sunhee sentia que Yutaro desconfiava dela e que cedo ou tarde, ele a mandaria embora e temia aquilo. Mas, com nervosismo, apenas concordava. Temia possíveis perguntas, perguntas sobre tal senhora que ele conhecera e ela não havia conhecido ou perguntas sobre o oficial. Se ele investigasse, iria descobrir sua mentira e Sunhee arrependeu-se de tentar enganar  um homem tão inteligente quanto Yutaro. Shionoya, por sua vez, percebera que ela não sabia como disfarçar o nervosismo e, provavelmente, lhe escondia algo. Chegando até uma árvore, a qual ele lembrava da mãe ao ver, sua única lembrança de infância: brincar com ela embaixo de uma árvore como aquela antes que ela morresse; Yutaro sentou-se e voltou a inquirir a moça.

— Diga-me… eu pareço doente? Pareço estar morrendo? 

Mais aliviada por aquela ser uma pergunta que não era de cunho pessoal, ela negou a pergunta com a cabeça. Yutaro, definitivamente, não parecia em nada moribundo.

— Não, senhor. 

— É porque eu não estou, Sunhee. Não estou doente. 

— Mas… disseram-me que o senhor estava doente. 

— Eu estive mentindo para todos. Então, não há necessidade de me temer por não ser completamente honesta. Já avisei-te que não me importo com cartas de recomendação e com tua antiga vida, apenas quero que não me traia. 

— Eu não irei traí-lo, senhor Shionoya… eu…

— Se ficares aqui, terás de guardar bem meu segredo. Entendeste? Caso contrário, não poderás ser minha criada pessoal. 

Sunhee encarou o patrão com um olhar vago, cheio de dúvida. Yutaro naquele momento estava sério, aguardando a resposta dele. Ela quis questioná-lo do porquê da mentira, mas simplesmente não poderia questionar e assim tinha sido ensinada. Enquanto esperava por sua resposta, Shionoya a encarava e ela, por sua vez, encarava os lábios exóticos do homem, tentando formular a resposta.

Guardar o segredo era a condição de Yutaro, a única condição.

 



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