Era uma manhã fria em Blumenau, dezoito de outubro de 2010. Elizabeth ainda dormia tranquilamente em seu quarto, já estava perto de fazer 16 anos, mas tinha um coração e mente de criança. Com o dia frio, ficava cada vez mais difícil acordar. Porém, mais frio que o dia, era o coração de seu pai, Fábio, que declarava à família que tinha uma amante, ou melhor, não declarava, somente confirmava as suspeitas de sua mãe, Laura.
- Mas... Fábio... Como assim? – Laura disse tentando controlar a voz, não queria acordar Elizabeth.
- Me desculpa, Laura. Mas não posso evitar... – Disse Fábio encarando o mundo de fora através da janela.
- Olhe pra mim, Fábio! - Irritou-se Laura. Fábio olhou para ela hesitando. – Por que fez isso comigo, com Elizabeth, com a nossa família?
Ele olhou pra cima, seus olhos ficaram marejados, ele desejou estar em qualquer outro lugar ao invés desse. Encostou-se no balcão da cozinha e respirou fundo.
- Não queria prejudicar ninguém, quando me dei conta, já estava apaixonado...
- Apaixonado? – Interrompeu Laura, sem acreditar. – Há quanto tempo tem feito isso?
- Não sei... Talvez uns 6 meses...
Foi o suficiente pra Laura desabar na cadeira que estava ao seu lado. Passou as mãos pelo cabelo e tentou ser forte, por ela, por sua filha. Foi uma tentativa falha, pois ela começou a chorar. Fábio não sabia o que fazer ou dizer, somente se sentir culpado por ter traído a mulher. Tocou no ombro de Laura com delicadeza, ela recuou.
- Não me toque.
- Sinto muito, Laura...
- Sentir muito não muda nada. – Ela enxugou as lágrimas. – O que vai fazer agora?
- Bom...
Enquanto isso, Elizabeth acordou, e foi ao banheiro, lavou o rosto e ao descer as escadas ouviu seus pais conversando. Parou e decidiu ouvir.
- Bom... Não estou pronto pra deixá-la agora, eu te amo Laura.
- Não é o que parece.
Elizabeth estremeceu. Estava confusa, não sabia o que estava acontecendo. Começou a pensar nos vários momentos que passaram juntos em família e quis chorar. Mas se conteve.
- Então pare com isso, Fábio! Acabe com toda essa palhaçada! – Laura disse alterando a voz.
- Eu não consigo... – Ele disse se envergonhando das próprias palavras.
- Mas eu não vou aceitar que você saia daqui pra comer uma puta todas as vezes que diz estar saindo pra uma reunião de trabalho! – Laura gritou, furiosa se levantando da cadeira.
Elizabeth sentou-se no degrau da escada, finalmente compreendeu o motivo da confusão. Se recusava a acreditar, repetia para si mesma:
- Ainda estou dormindo, é só um sonho!
Foi interrompida pelo grito de sua mãe.
- Aí! – Gritou Laura, colocando a mão no rosto. Fábio a havia estapeado.
- Não sou esse tipo de homem! Cecília não é uma puta, ela é uma moça de família!
- Moça de família? No mínimo ela é a puta que está destruindo a nossa família! – Laura disse decidida a tomar alguma decisão. – Quer saber, tenho que trabalhar. Assumir o papel de mulher que tenho, e o de homem que você não tem feito! – Disse recebendo outro tapa em seu rosto.
- Não ouse dizer que eu não faço meu papel de homem nessa casa! Coloco o dinheiro todo mês aqui dentro!
- Ser homem não é só isso! E na verdade, nem dinheiro tem colocado direito. Certamente tem dado pra aquela prostituta de esquina!
Fábio fechou o punho com força, se preparando pra dar um grande soco em Laura, quando ela disse:
- Se você fizer isso, eu chamo a polícia.
Elizabeth se desesperou, subiu correndo de volta para o quarto, com medo e ligou para seu melhor amigo, Matheus. Estava chorando por dentro e por fora, o coração batia acelerado e a chamada ia para a caixa postal. Olhou o relógio.
07:03.
Estava cedo ainda, ele devia estar dormindo. Então, ela pensou sozinha, com o celular na mão
“Que ótima forma de começar o dia”.
Mas enquanto ela sofria em silêncio, mesmo que sua mente estivesse fazendo um barulho terrível, ouviu a porta da frente ser fechada. Sua mãe já deveria ter ido embora, e ela não queria descer, não queria olhar seu pai tão cedo. Por um segundo quis nunca mais voltar a vê-lo. Mas se olhou no espelho, forçou um sorriso e disse:
- Você é bem mais que isso, você é capaz.
Embora seus pensamentos estivessem desalinhados, ela entrou no banheiro, deixou a água quente percorrer seu corpo, aliviando todo medo que estava sentindo. Ouviu batidas na porta, e foi como se o mundo tivesse caído sobre ela.
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