História A Aposta (Hiatus) - Ligação

O disfarçado sorriso desenhado em seus lábios fazia questão de manter presença, satisfeito pela brusca chuva que caía sem descanso, tornando-se uma canção ritmada. A baixa temperatura, juntamente à uma violenta chuva inesperada, fizera com que se desse ao prazer de ficar em casa, na ilustre companhia do melhor amigo.

Hinata: Essa chuva está péssima! - Gesticulou, vendo as rápidas e grossas gotas de água chocarem-se contra a janela do apartamento. Não costumava cabular aula, principalmente quando teria treino, mas, com aquele tempo, não poderia evitar a tentação de ficar protegido com cobertas quentes.

Balançando a cabeça em concordância, as orbes amareladas de Kenma se mantinham na televisão, focado na programação alheia proposta. Assim que vira o tempo impiedoso, teve a ciência que, consequentemente ao risco, causaria o atraso dos metrôs e possíveis não funcionamentos de ônibus.

Não seria a primeira, muito menos a última vez que cabularia aula.

Devido à distância entre sua casa e a escola, Hinata não se pôs a voltar para a própria residência, sabendo dos sermões que a matriarca diria caso o fizesse.

Hinata: Tobio disse que o treino acabou sendo cancelado por causa da chuva. Acho que foi em todas as escolas. - Afastando o olhar da tela no celular, suspirou aliviado, sentindo como se uma tonelada tivesse saído de seus ombros.

Kenma: Talvez, acho que...hum? - Pausou a fala, ao ter seu celular vibrando, indicando que recebia uma chamada. Mais do que imediato, sua expressão fora fechada em um ato descontente, por sua vez, querendo ignorar.

Seus sentimentos se revezavam em dúvida e ódio. A foto estampada chamava atenção facilmente, o corpo bem estruturado e esbelto exposto não dava-lhe opção de não olhar, qual aparentemente se tratava de uma foto feita na praia, por ter os óculos de sol refletindo o mar azulado cheio de ondas ao fundo, entregando facilmente a localização.

Não entendia o motivo de estar olhando com tanta admiração, ao invés de simplesmente negar à ligação, como normalmente fazia. Encontrava-se em um transe instantâneo, que lhe causava uma leve nervosismo e timidez. Uma timidez desconhecida.

Como Kuroo tinha seu número? E porquê estava lhe ligando?

Hinata: Quem é ele? - Com o rosto inclinado, observou o celular do melhor amigo em suas mãos, vendo-o encarar mais do que o costume a foto da pessoa indicada, indentificada como número desconhecido.

Kenma: Hm...é um garoto da escola, mas não sei como ele tem meu número. - Franziu o cenho, sentindo o peso do corpo do ruivo decair sobre si.

Sentando-se mais próximo do loiro, Hinata ajeitou-se confortavelmente ao seu lado no sofá, cobrindo as pernas com a grossa coberta de lã.

Hinata: Hummm...é gostoso, atende! - Comentou simplista, olhando a feição perplexa do, por um ano, mais velho.

Kenma: Você namora!

Hinata: Sim. Eu namoro, mas não sou cego! O cara é gato, posso fazer nada. - Arqueou os ombros indiferente, sorrindo convicto de sua resposta. Suspirando longamente, Kenma revirou as orbes por instinto, incrédulo no que ouvia. - A chamada vai se encerrar, anda logo!

Kenma: Eu não quero atender, nem ao menos gostar do Kuroo eu gosto! - Levantou o celular, mantendo-o longe do ruivo que, insistentemente, tentava pegar.

Aquilo era um problema. Um grande problema.

Hinata: Oh! Kuroo, é? Assim que ele se chama, então. - Sorriu lateral, contente com a descoberta. Sabia perfeitamente que em momentos de nervosismo, Kenma começara a atuar irracional, não tendo cuidado com o que dizia. Ciente disso, Shōyō sentia-se satisfeito. - Ora, Ora...seu namoradinho, é isso?

Kenma: Como? Não...não! Eu não gosto dele e nunca vou! Pare de falar tolices. - Negou rapidamente, tropeçando nas próprias palavras.

Hinata: Diz que não gosta, mas não parava de secar à foto dele! - Provocou, esticando os braços para que alcançasse o eletrônico.

Tudo acontecia tão rapidamente, que Kozume sequer conseguia raciocinar adequadamente e acompanhar os acontecidos.

Kenma: Não...nada a ver! - Por um segundo, sentiu tudo quieto, sentindo a falta de um leve peso em sua mão esquerda. O único som presente, era da forte chuva, enquanto ambos se olhavam confusos.

 — Gatinho?

Kenma: Puta merda. - Sussurou ácido, decaindo seu olhar no ruivo. Antes que pudesse tomar qualquer atitude, Shōyō se pôs a pular para o chão, buscando o celular para si.

Hinata: Aí meu joelho, cacete! - Lamentou, ao sentir uma ardência na região do joelho, julgando por tê-lo batido ao cair no chão.

A baixa risada vinda do outro lado da linha pudera ser ouvida com clareza, fazendo Hinata parar por instantes. Em sua opinião, aquela risada era um quanto sexy, desejando pôr ouvi-la mais.

 — Ahn...oi?

Hinata: Oi! Kuroo, não? - Sorriu para o loiro, correndo do mesmo, que vinha em sua direção descontente.

 — Err...sim. Sou eu, e você quem seria?

Hinata: Eii, gato malvado! Gato malvado! Se comporte. - Diminuindo o tom da voz conforme falava, dando a volta pelo sofá, sem segurar a exuberante risada.

 — Kenma? Você está aí?

A gargalhada do outro lado da linha se mantivera, fazendo a irritação de Kenma aumentar. Buscou pela almofada no sofá, jogando-a no ruivo que, eventualmente, desviou com facilidade.

Hinata: Ele está! E eu sou Hinata, best friend dele.

Kenma: Shōyō, cala a boca. Não estou não! - Com a voz manhosa, desistiu de fazê-lo parar de qualquer coisa que estivesse planejando. 

Estivera cansado, ofegante diante todo aquele esforço feito, seu peito levantava e descia rapidamente, entregando sua exaustão, jogando seu corpo no sofá, por fim, relaxando por ali mesmo, fechando os olhos. 

  — Gatinho! Como vai?

Kenma: Estava melhor antes da sua ligação. - Com um fio de voz, respondeu-lhe sem vontade alguma, ouvindo-o rir baixinho.

Hinata: Gatinho, hum? - Sorriu maliciosamente para o loiro que, felizmente, não o viu. Com o celular em seu comando, sentou-se no braço do sofá, interessado em prosseguir aquela conversa.

 — É...ele parece muito com um. Não acha?

Os lábios do ruivo se entreabriram, dando um grito mudo animadamente, vendo o cenho de Kenma se franzir. Não acreditava no que acabara de ouvir, julgava por poder surtar a qualquer segundo.

Hinata: Nunca pensei nisso, mas olhando bem, ele realmente parece com um mesmo! - Incentivou propositalmente, ansiado com a provocação. - Mas então, o que você tá querendo com ele? Pode tratar sobre o assunto comigo mesmo, porque ele está um pouco nervoso, sabe?

Zombou mais um pouco do loiro, ignorando seu olhar incrédulo. Vários xingamentos eram deferidos para o ruivo, agindo como se nada tivesse acontecendo.

 — Oh? Entendo, gatinho é tímido. Para ser sincero, isso faz dele muito atraente.

Uma pausa foi feita, fazendo ambos olhares se encontrarem instantemente. Hinata sorriu largamente, levantando-se ligeiramente e pondo a mão sobre os lábios, em tentativa de fazer seu grito não sair diante de tal comentário. Não era necessário um espelho, Kenma era ciente que estava corado, já que sentia suas bochechas ardentes.

 — Eu liguei porque quero convidar o Kenma para ir num encontro comigo, quando o tempo estiver melhor, claro!

Parou de falar por um momento, escutando-o limpar a garganta brevemente.

 — Aceita ir comigo ao um mero encontro, senhor Kozume?

Possuindo ciência da previsível atitude do ruivo, Kenma ajeitou a coluna corretamente, arqueando uma sobrancelha com aquele pedido. Se pôs a olha-lo repreendedor, vendo o sorriso sapeca se formar em sua face angelical, feito criança quando ganha um brinquedo novo. Voltando a franzir o cenho, sussurou pausadamente um breve "Shōyō, não faça isso."

Hinata: Ele vai adorar!

Kenma: Filho da puta!

 — Perfeito! Eu converso com ele na escola para acertarmos melhor. Tenho que desligar, foi ótimo te conhecer, Hinata!

Hinata: Digo o mesmo, Kuroo! - Sorriu descontraído, sentindo seu corpo arrepiar conforme ele falava, apreciando a voz rouca que o mesmo emitia.

Kageyama que não lhe escutasse, mas esse garoto, denominado Kuroo, era realmente um charme.

Kenma: Kuroo, espera! Eu não... - Não pôde terminar a fala, por ouvir a chamada ser encerrada. Largou um pesado suspiro, olhando seriamente para Hinata. - Você foi muito sem noção.

Hinata: Deixe disso! O garoto é gato pra caralho, tem uma voz sexy e ainda é educado! O que você quer mais? - Gesticulou incrédulo, sorrindo sorrateiramente, ao ver que não ganhara uma resposta. - Viu só! Anda, não custa nada.

Kenma: É difícil para você entender que eu não gosto dele? - Exclamou, desviando o olhar.

Hinata: Que mente fechada, Ken-Ken. Credo! - Revirou as orbes, jogando o celular no colo do loiro. - Posso dar minha opinião?

Kenma: Não.

Hinata: Foda-se, vou falar do mesmo jeito você querendo ou não. - Ditou calmamente, lançando um olhar gentil para o mesmo. Sabia dos traumas do melhor amigo, entretanto, após tanto tempo, ele necessitava continuar com a vida e lhe daria essa iniciativa. - Olha, não sei o seu motivo para não gostar dele, mas às vezes, aparências enganam. Ele pode ser um cara incrível, que você hesita em conhecer por medo do passado.

Kenma não sabia o que dizer. Hinata estava certo, não tinha nem o que dizer. Talvez devesse ao menos ouvir Kuroo, obviamente, sem criar segundas intenções.

Hinata: Mas é o seguinte. - Riu baixinho, coçando a bochecha. - Esse gatinho bebe só leite de caixinha, ou bebe outro tipo de leite também?

Descaradamente, lhe provocou rindo animadamente, admirando suas bochechas coradas. Descontente, kenma atirou-o uma almofada qualquer, revirando os olhos.

Kenma: Pare de falar besteira!

Hinata: Ken-Ken, seu impuro! Pensou besteira, foi? - Pôs a mão no peito, balançando a cabeça em negação. - Estava me referindo se você bebia leite em pó também, não acredito que pensou nessas coisas. Que inapropriado!

Insistiu na provocação mais um pouco, segurando a risada ao máximo para não perder a postura.

Kenma: Falando assim, nem parece que escapa do treino para fazer boquete no Kageyama. - Rebateu no mesmo nível, recordando-se do que o ruivo contara à si.

Imaginar a cena era horripilante, mas portanto que fizesse Shōyō calar-se, já era mais do que aceitável. Olhou-o sorrindo, admirando a face constrangida e avermelhada do ruivo, sem ao menos ser capaz de responder-lhe. Havia ocasiões que agradecia a língua solta de Shōyō, pois conseguia usar as informações que lhe dava para o próprio benefício.

Hinata: KENMA!