Potter virou-se e começou a andar de um lado para outro. Precisava de tempo para pensar.
— Tem alguma coisa gelada, aí? — perguntou, apontando para o minibar, no canto do escritório.
— Só umas pedras de gelo — disse Malfoy. — Mas posso preparar um drinque para nós. Que tal, uísque?
Enquanto ele pegava os copos e o gelo, Harry repassou mentalmente tudo que precisaria para ganhar a aposta. Primeiro, a imagem teria de ser perfeita: roupas, carro... Ele já tinha um Corvette clássico. Podia riscar o item "carro", da lista. Faltavam as roupas e um endereço importante. Harry também riscou ambos os itens. O limite de seu cartão de crédito não estava estourado, e se fosse necessário, ele poderia providenciar mais um ou dois. Quanto ao endereço... ele simplesmente não convidaria o possível noivo ou noiva para ir à sua casa. A única coisa que faltava era o pretendente. Harry tamborilou os dedos na mesa. O Reino Unido eram um país enorme. Valia a pena tentar.
Malfoy aproximou-se com os drinques e um sorrisinho triunfante no rosto. "Pobre Draco", pensou Harry, aceitando o copo. "Nem imagina que já perdeu a aposta."
— Estou considerando sua sugestão — disse ele. — Mas cinqüenta dólares não é o suficiente.
Malfoy enfiou a mão no bolso.
— Quanto?
Potter fez um aceno com a mão.
— Deixe seu dinheiro aí. O que tenho em mente é muito mais interessante.
— Diga.
Harry bebeu a dose de uísque praticamente de um só gole e colocou o copo vazio sobre a mesa.
— Se eu levar esse projeto adiante, terei um rombo em minhas finanças. Só criar a imagem certa custará uma fortuna. Concorda?
Malfoy assentiu e tomou um gole de uísque.
— Por isso, se eu conseguir, você cobrirá todas as minhas despesas. Não a editora, Malfoy. Você. De seu bolso. Cada centavo.
— Se você conseguir, terá dinheiro mais que suficiente para cobrir as despesas — observou ele.
— É o acordo.
— Não deixa de ser justo. — Draco deu de ombros. — Cobrirei as despesas.
Potter deu um passo na direção dele.
— E quero que "O matrimônio perfeito" seja uma série. Um artigo por semana, a partir de agora, até setembro.
Draco começou a protestar, porém Harry ergueu uma mão.
— Pense bem, Draco. Enquanto estou lá fora, tentando provar que dá certo, os leitores poderão acompanhar o progresso do solteiro cobiçado, suas vitórias e fracassos. Mas o resultado será revelado no final.
Draco largou o copo sobre a mesa.
— Continue — murmurou, com ar de pouco-caso, embora Harry detectasse o brilho de interesse em seus olhos. Chegara o momento de dar o golpe.
Ele chegou mais perto.
— E, quando eu for pedido em casamento, você me dará sociedade na revista.
— Ei, espere um momento...
— Não na editora, na revista — explicou ele. — E não precisa ser a metade. Trinta e três por cento estará perfeito.
Malfoy fez uma careta.
— Eu devia despedi-lo, sabia?
Potter fingiu-se de magoado levando a mão a peito com cara de deboche, enquanto se aproximava cada vez mais de Malfoy.
— Qual é o problema, Malfoy? — Ele traçou uma linha com a ponta do dedo no peito dele, fazendo-o recuar. — Com medo de perder?
Malfoy baixou os olhos para a mão de Harry.
— Nem por um momento.
— Então, qual é o problema? Tenho certeza de que os leitores da coluna vão adorar me ver caçando um homem ou uma mulher rica... "Ele conseguirá?" "Não conseguirá?" Tudo isso levará a um aumento de circulação da revista e representará propaganda para você. E eu quero participar desse benefício.
— E disso que eu gosto em você, Potter. Você pensa como eu. _ diz Draco aproximando-se mais de Harry até seus rostos quase se tocarem. — Qual é a sua ideia, exatamente?
— Qual será a minha parte nisto tudo, claro. — Harry tentou recuar, porém Malfoy segurou-o com firmeza.
— Preciso ter alguma vantagem.
— Aumento nos lucros e maior participação no mercado — murmurou ele. — Que mais você quer?
— Algo que torne o acordo mais interessante para mim. Alguma coisa mais... pessoal.
Harry ficou paralisado. Aquilo era inesperado. Malfoy sorriu.
— Como o quê, por exemplo? — murmurou,Harry.
Malfoy suspendeu o queixo de Harry com um dedo, forçando-o a encará-lo. Ele prendeu a respiração, enquanto um milhão de possibilidades lhe passavam pela mente.
— Como seu carro — sussurrou ele.
Potter afastou a mão de Malfoy com um safanão e deu um passo para trás, bruscamente. Em que estava pensando? E ele só estava preocupado com os negócios!
— Eu devia ter previsto! — exclamou, andando de um lado para outro, com os punhos cerrados, contrafeito consigo mesmo por ter sido tão tolo. — Você é um conspirador, isso sim!
— Eu, conspirador? E você? Trinta e três por cento da revista?
— Eu teria merecido — revidou Harry. — Além do que, meu carro tem um valor sentimental incalculável!
— Qual é o problema,Potter? Está com medo de perder?
Harry parou do lado oposto da mesa e olhou para Draco. Não lhe desejava mal por querer incluir seu Corvette na aposta... só uma bela calvície, e precoce! Mas era tarde demais para recuar. Ele pegou as notas.
— Apostado.
Malfoy levantou um punho triunfante no ar, enquanto Harry guardava o dinheiro no bolso.
— Vou guardar isto, como um adiantamento.
— E talvez eu guarde seu carro em minha garagem, como adiantamento, também.
— Pode sonhar à vontade.
— Pelo menos, vou lá embaixo dar uma espiada nele. Só para ter certeza do que vou ganhar.
— Você vai ganhar um sócio, Malfoy, só isso. Além do mais, o carro não está aqui. Está na garagem desde o começo do inverno e só vai sair de lá na segunda-feira.
— Por quê? O inverno acabou há meses.
— Tradição. O Corvette sai para a rua no primeiro dia dez junho. Nem um dia antes. — Harry girou nos calcanhares e caminhou para a porta. — Mas pode imprimir as clausulas do acordo no computador. — Ele parou com uma mão na maçaneta. — Para não perder tempo, depois.
Malfoy atravessou a sala e espalmou uma mão contra a porta fechada, impedindo Potter de sair.
— Você realmente acredita que é capaz?
Harry olhou para a mão de Draco e depois fitou-o nos olhos.
— Você perdeu a primeira aposta porque subestimou a minha coluna de relacionamentos. E vai perder a segunda porque está subestimando a mim.
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