Nagisa
- NAGISA!
Acordo com esse grito, dando-me conta de que adormeci no chão da sala, junto com as outras. Apoio a mão no sofá e levanto, totalmente desorientado. Não consigo nem pensar por causa da dor de cabeça, na verdade, nem sei que sala é essa.
- NAGISA! – O grito se repete, não tenho a mínima ideia de quem é o dono da voz, só sei que estou com vontade de matar essa pessoa, que só está piorando a minha dor de cabeça. Em pouco tempo o Hibiki aparece na minha frente, presumo que era ele que estava gritando o meu nome.
- Pra que gritar há uma hora dessas?! – Reclamo, parando de andar. – Que droga de dor de cabeça!
- Desculpe, mas eu pensei que você já estava acordado. – Ele se justifica, tenho certeza que acordei com o pé errado.
- Por que eu estaria acordado tão cedo?! – Resmungo, massageando a minha testa, com a esperança que a dor passe.
- Cedo? São dez horas da manhã. – Conta o Hibiki, pelo visto eu perdi toda minha noção de horário, jurava que ainda não era nem oito horas.
- Eu não sei nem onde estou, como quer que eu saiba que horas são?! – Pergunto, nunca tive problemas de ser acordado aos gritos, já estou até acostumado, mas hoje isso mexeu com o meu temperamento.
- Nagisa... Você por acaso bebeu? – Ele interroga, conseguindo a minha atenção.
- Como você sabe? – Devolvo a interrogação, não é possível que ele tenha deduzido isso apenas pelo meu mau humor.
- Experiência com pessoas bêbadas, você acaba reparando nos mínimos detalhes. – O moreno explica, segurando na minha mão e puxando-me para algum lugar. – É muito problema para resolver.
- Pra onde está me levando? – Questiono, feliz por não estar falando enrolando, espero que o álcool não esteja mais no meu sangue.
- Você mesmo falou que está com uma baita dor de cabeça, então estou atrás de algum remédio.
# Quebra de tempo #
- Melhor? – Ele indaga, sendo que eu acabei de tomar o remédio e ainda não deu tempo de fazer efeito.
- Você está muito apressado, o que significa que quer algo de mim. – Afirmo, também consigo ler um pouco as pessoas. O Hibiki não demonstra surpresa, apenas começa a me arrastar novamente, até a porta do quarto em que ele e a Gina dormiram.
- Preciso que você coloque algum juízo na cabeça dela. – Pede o Hibiki, suspirando. Ele abre a porta do quarto para mim, revelando a Gina sentada na cama, com a mesma camisola de ontem, e com suas mãos apoiadas ao redor do pescoço. Ela se levanta assim que nos ver entrar, sem tirar as mãos do pescoço.
- Não adianta trazer o Nagisa para convencer-me, eu não vou mudar de ideia. – A Gina fala, com bastante convicção. Meu olhar reveza entre os dois, parece existir uma grande tensão entre eles.
- Vamos ver se não. – O Hibiki desafia minha prima, estou me sentindo no meio de um cabo de guerra. – Tire as mãos do pescoço.
Tenho a impressão de que a Gina engole em seco, mas não obtenho confirmação visual. Lentamente ela abaixa suas mãos, dando-me uma visão clara de seu pescoço.
- O que é isso? – Indago, aproximando-me dela. Seu pescoço tem uma estreita mancha vermelha, que pega todo o redor do seu pescoço. Toco levemente na marca, vejo que seu rosto se contorce de dor com apenas um toque.
- Alguns clientes eram... Um pouco violentos. – Ela conta, mesmo assim não acredito que alguém possa deixar uma marca dessas no corpo de outra pessoa. Surpreendo-me por não ter visto essa mancha antes, estava tão preocupado com a verdade que esqueci de avaliar seu físico.
- Um pouco violenta?! Essa pessoa, seja lá quem for, te enforcou! – Exclamo, não acredito no que ela estava aguentando, nunca imaginei que ela também sofresse com violência.
- Você não viu o resto. – Diz o Hibiki, recostado na porta atrás de mim.
- Mais? Você tem mais machucados? – Questiono, provavelmente meus olhos estão arregalados. A Gina fica vermelha e tira sua camisola, ficando completamente nua. Controle o rubor das minhas bochechas, ela é minha prima, não tenho motivos para ficar envergonhado de vê-la nua. Hematomas, chupões, marcas de fortes mordidas e cortes, não tenho a mínima ideia com o que eles foram provocados, espalham-se por todo o seu corpo.
- Eu sei que são feios, mas eu não quero ir no médico. – Ela fala, então é por isso que eles brigavam, o Hibiki deve estar querendo levá-la para tratar desses machucados.
- Não importa a sua opinião, você vai no médico. – Afirmo, não sabemos a gravidade de seus machucados, eles podem ser piores do que pensamos.
- Como vou explicar esses machucados? E se o hospital resolver chamar a polícia? E se os serpentes me encontrarem? – Interroga a Gina, com a voz num ritmo frenético, ela está assustada com a possibilidade de ser pega novamente. Vou até o armário do quarto e pego uma roupa para ela, seu tamanho é um pouco maior que o meu.
- Estamos aqui para te proteger, não deixaremos que nada de ruim aconteça com você novamente. – Tranquilizo-a, entregando a roupa para ela. A Gina pega e veste o vestido, cobrindo todos os machucados, menos o do pescoço.
- Eu estou com medo de sair desse apartamento. – Ela confessa, sentando-se na cama. – Também tenho vergonha dos machucados, não quero que ninguém os veja.
- Você não deve ter vergonha de seus machucados. – Conto, sentando ao seu lado e apertando sua mão. – Você é a vítima, não a culpada. Quem deve sentir vergonha são as pessoas que fizeram isso com você.
Antes que ela diga algo, a campainha toca. Saio do quarto e deixo o Hibiki com ela, tenho certeza que agora ele convence a Gina à ir no médico. Desvio das garotas, que ainda dormem no chão da sala, e abro a porta. Dou de cara com o Karma, mas não é ele que me chama a atenção, e sim duas crianças atrás dele.
- Explico tudo depois. – O Karma fala, sendo curto e breve, ele parece estar um pouco atormentado. As crianças entram logo depois dele, nunca os tinha visto antes.
- Olá! Como vocês se chamam? – Dou um cumprimento animado, para fazer eles falarem.
- Mayumi e Kazuki. – A garota responde, apontando primeiro para si e depois para o outro, a voz dela saiu fria e dura. Eles passam reto por mim e vão em direção aos quartos, tomando cuidado para não pisar em nenhuma das garotas adormecidas. Observo eles, a Mayumi entra num dos quartos com quase todas as sacolas, deixando apenas uma mochila com seu amigo, que fica em pé do lado de fora da porta.
Karma
- Controle-se! – Exclamo, assim que entro no quarto junto com a Kimi.
- Eles tentaram te matar! – Explode a Kimi, estou com muito medo do que ela pode fazer com as crianças.
- São apenas crianças! – Afirmo, mesmo que sejam estranhos, são só crianças sem casa e sem família que, provavelmente, tiveram que aprender a se defender e a se virarem sozinhas.
- Karma... Com quem você está falando? – Pergunta a Nagi, entrando no quarto. Eu e a Kimi olhamos para ela ao mesmo tempo.
- Boa sorte para explicar. – Diz a Kimi, desaparecendo e deixando-me sozinho com a Nagisa.
- Com ninguém. – Falo, espero que ela não faça mais nenhuma pergunta. A Nagisa entra no quarto e fecha a porta atrás de si.
- Quem são aquelas crianças? – Ela interroga, queria saber responder essa pergunta.
- São as crianças que a Miko mencionou na carta. – Respondo, sentindo o pequeno corte no meu pescoço arder. – Tome muito cuidado com eles.
- Depois vou querer que você explique melhor, mas agora vou levar minha prima no médico. – Ela conta, pegando na maçaneta da porta. Por impulso pego no seu braço, imediatamente ela se vira para me ver.
- Não vá. – Peço, nesse momento diversas frases vêm em minha mente, mas não posso falar nenhuma delas, não se eu quiser protege-la da Kimi. – Eu não me dou bem com crianças.
- E o que te faz pensar que eu me dou bem com elas? – A Nagi indaga, se desvencilhando de mim. – Mas tudo bem, eu levo eles comigo.
Não sei se fico aliviado ou desesperado, resolvo optar pelo melhor sentimento.
- Obrigad...
- NAGISA! – Uma garota grita, acho que é a prima dela. A Nagisa sai do quarto na mesma hora, sigo-a para certificar-me que está tudo bem.
- O que foi Gina? – Questiona a Nagisa, encontrando a prima.
- Estou morrendo de fome, preciso comer antes de irmos. – Ela conta, com as mãos na barriga, um gesto que representa fome. Aqui está escuro, porque não tem janela e a eletricidade ainda não voltou.
Nagisa
- Nós podemos comer em alguma padaria. – Sugiro, não sei se aqui tem comida.
- É perigoso. – Afirma minha prima, fazendo não com a cabeça.
- Eu e o Hibiki vamos armados, não precisa temer ninguém. – Digo, noto que, atrás dela, o Kazuki nos observa.
- Vocês tem armas? – Ela pergunta, com os olhos arregalados. Confirmo, seus ombros tensos parecem relaxar. – Podem me dar uma?
- Você sabe lutar? – O Karma interroga, atrás de mim, nem sabia que ele estava aqui.
- Sei, eu tive que aprender. – Ela responde, começando a tombar para o lado. Sua mão rapidamente se apoia na parede, antes que ela caísse.
- Você está bem? – Digo, preocupado com sua saúde.
- Estou, foi só uma tontura. – A Gina explica, tirando a mão de parede e ficando reta novamente. – Esqueça a arma, não estou me sentindo muito bem para segurar uma.
- Nós vamos tomar café da manhã e depois iremos direito para o hospital. – Aviso, minha preocupação dobrou, a Gina não está bem. Passo por ela e vou até o menino, que não parou de olhar para nós.
- Você e a sua amiga querem sair para tomar café da manhã? – Pergunto, se bem que eles não têm opção, prometi ao Karma que levaria eles.
- Irmã. – Corrige a menina, saindo do quarto. A roupa deles me impressiona, não está tão frio para eles usarem moletom, calça comprida, tênis e luvas de borracha. – Sim, nós vamos.
- Então vão para a sala, vou trocar de roupa para irmos.
# Quebra de tempo #
- NAGISA. – Chama a Yuna, com a voz assustada. Enfio a blusa rapidamente e saio correndo até a sala, preocupado.
- O que acont... – Começo a falar, mas minha voz some ao ver a cena da sala. A Mayumi tem uma arma apontada para a minha prima, enquanto o Kazuki aponta outra arma para o Hibiki. O Karma e a Yuna apontam suas armas para a Mayumi, enquanto a Rio e a Okuda apontam as suas armas para o Kazuki.
- Estamos precisando de uma diplomática. – Explica o Karma, sem tirar os olhos da menina, que ameaça a minha prima. O Kazuki para de mirar no Hibiki e passa a mirar em mim.
- Vamos lá. – Digo, engolindo em seco, preciso dar um jeito de resolver essa confusão, senão alguém pode sair machucado. – Rio e Okuda, abaixem as armas.
- Ele vai atirar em você! – Exclama a Rio, segurando com mais força sua própria arma, não sei o que fazer.
- FAÇAM O QUE EU ESTOU MANDANDO! – Grito, perdendo momentaneamente o controle. A primeira a me obedecer é a Okuda, em seguida a loira também me escuta. Estou numa posição arriscada, o menino pode atirar em mim sem ter medo de morrer.
- Vocês não precisam ter medo de nós. – Afirmo, direcionando as minhas palavras para as crianças, que parecem agir por medo.
- Ela é uma serpente! – Acusa a garota, apontando com a cabeça para a minha prima. – Eles estão atrás da gente.
- Minha prima saiu dos serpentes. Ela não é uma ameaça. – Conto, não sei porque sou o único a tentar apaziguar essas crianças. Um movimento rápido no chão chama a minha atenção, desvio o olhar rapidamente. O Akira e a cobra da Gina aproximam se das crianças, cada um vai numa. Só quando as cobras pulam pro bote é que os outros notam a presença delas.
As crianças desviam as armas e atiram nas cobras, matando-as. Minhas pernas falham e eu caio, com uma tremenda falta de ar.
- Você está bem? – O Karma pergunta-me, ajoelhado ao meu lado. Meus olhos estão fixos no corpo das cobras, uma raiva enorme consome meu corpo.
- Não, eu não estou. – Respondo, entre os dentes. Reúno o máximo possível de calma para não fazer nada precipitado, eles mataram o Akira.
- Desgraçados! – Exclama minha prima, chamando minha atenção. Olho para ela, que se sustenta de pé apoiando-se na parede. Minha visão não está perfeita, mas tenho a impressão de que tem algo de errado com seus olhos. Ela se abaixa e pega uma arma que está aos seus pés, aquela arma não estava lá antes. A Gina, sem pensar duas vezes, atira na Mayumi.
- MAY! – O menino grita, agarrando a mão da irmã e a puxando para si. Ela cai em cima dele no momento em que a bala atingi a parede, a força do impacto derruba os dois no chão. O Hibiki afasta as armas deles, que caíram no chão.
- O que vamos fazer com eles dois? – Interroga a Rio, eles não são perigosos sem revolveres.
- Vamos matá-los. – Afirma a Gina, andando até eles. Pisco algumas vezes, não é impressão minha, seus olhos estão diferentes.
- Não podemos tomar uma decisão precipitada. – Diz o Karma, que continua ao meu lado, não estou bem o suficiente para me afastar dele.
- ELES MATARAM A AYA. – Ela grita, percebo que minha prima está chorando. Toco meu próprio rosto, eu também estou chorando.
- SUAS COBRAS NOS ATACARAM. – Berra o menino, levantando do chão junto a irmã.
- VOCÊS NOS ATACARAM PRIMEIRO! – Eu grito, levantando. Quase caio novamente, mas o Karma me ajuda a ficar de pé.
- Vocês duas se acalmem. – Pede a Yuna, calma é algo que não tenho nesse momento.
- FORAM SÓ COBRAS. – A garotinha grita, ela também parece estar furiosa. – SE QUISESSEMOS, PODIAMOS TER MATADO UM DE VOCÊS.
- ERAM NOSSOS ANIMAIS DE ESTIMAÇÃO! – Eu e minha prima exclamamos, acho que, se eu estivesse com uma arma na mão, atirava naqueles dois.
- JÁ CHEGA! – Grita a Okuda, posicionando-se entre nós e as crianças. – Gina e Nagisa, vocês estão muito alteradas. Saiam as duas, nós lidamos com eles.
- EU NÃO SAIO SEM A CABEÇA DESSES DOIS. – Retruca minha prima, trazendo-me um pouco de juízo, acho que estamos realmente bem alterados.
- Vamos pro hospital. – Digo, pegando a Gina e o Hibiki pelo braço e os arrastando para fora.
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