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História A base de mentiras - Assustada



Notas do Autor


Olá povooooo! Como estão?

Bem, vou fazer rapidamente o resumo da vida de uma personagem, pois ela vai aparecer no capítulo de hoje e eu acho que ninguém se lembra dela.

HASI: Ela, Arai Raiden e Arai Fuyu são trigêmeos. Separada dos irmãos, cresceu com a mãe, que não a deixava sair de casa. Quando cresceu, sua mãe entrou para os serpentes e a abandonou lá, com a desculpa de que iria atrás dos irmãos dela. É filha de Kaede Noburo e se assemelha muito com o pai, por isso não pode mostrar seu rosto para ninguém e vive escondida, com medo de ser descoberta e morta. Não tem certidão de nascimento, não possui identidade ou qualquer outro documento, é como se fosse um fantasma.

Preciso ir, está chovendo aqui e está entrando água. Vou ajudar meus pais.

Capítulo 219 - Assustada


Yukki

 

- Vai querer de que? – Pergunto para ela, que está com o rosto exprimido contra o vidro, admirando os potes de sorvete.

- Não sei. – Ela fala, tirando o rosto do vidro. – O que é isso?

- Você não sabe o que é sorvete?! – Exclamo, às vezes nem parece que ela é de família rica, pois não conhece várias coisas comuns. – O que vocês comem?!

- É... Lá em casa nós damos preferencia a comidas saudáveis. – Ele justifica, dando um sorriso constrangido. – Ela não é de comer besteiras como sorvete.

- Mas gosta?

- Sei lá. – Ele responde, já percebi que dialogo entre os irmãos não existe, parece que um não sabe nada sobre o outro. – Acho que ela nunca comeu, então tem que experimentar.

Era melhor eu ter escolhido a pizzaria, mas eu não tinha como saber que ela nunca tinha tomado sorvete na vida. Propus que saíssemos juntos porque eu não aguentava mais ficar trancado dentro daquele quarto, e porque eu gostaria de tentar virar amigo desse loiro.

- Posso escolher pra você? – Indago, recebendo um aceno positivo da mesma. – Você está com pouca fome ou muita fome?

- Muita. – Ela conta, sem nem parar para pensar, não sei porque não falou antes.

- Três bolas de sorvete de... – Penso em voz alta, resolvo arriscar um tradicional. – Chocolate.

- Quero duas bolas de creme. – O loiro pede ao atendente, enquanto o outro já está preparando o pedido dela.

- E eu também vou querer uma bola de morango. – Peço para mim, logo depois que me deram o dela. – Aqui.

Entrego o pote para ela, junto com uma colherzinha. Após pegarmos os outros pedidos, nos dirigimos para uma mesa vaga, que fica ao lado da parede de vidro. Coloco meu sorvete sobre a mesa e pego meu celular, abro meu diário e começo a escrever tudo que acabou de acontecer.

- É bom?

- É – Ela o responde, com uma voz tão desanimada que até paro de escrever para poder encará-la. Me controlo ao máximo para não rir, pois sua boca está completamente suja de chocolate, o que a deixa com uma aparência engraçada.

- Espere um segundo. – O Arai pede, pegando um guardanapo. – Deixa eu limpar para você.

Ele se debruça sobre a mesa para alcançá-la, já que eles estão sentados em lados opostos. Nesse momento, resolvo retornar a escrever, deve ter sido apenas impressão minha, ela nunca está desanimada.

Eu sei que eu não deveria estar escrevendo, apenas para mostrar pro Yuu como é legal não saber o que aconteceu na sua ausência, mas, se eu fizer isso, meus amigos podem acabar descobrindo sobre minha dupla personalidade, e eu não quero isso. Eles pensam que eu sou normal, e quero que continuem pensando assim.

- O que você tanto escreve nesse celular? – Ele questiona do nada, por instinto, acabo largando o celular, o que deve ter parecido suspeito.

- É um diário. – Respondo, guardando-o no bolso. – Escrevo sobre tudo que acontece.

- Deve ser cansativo. – Ele comenta, e realmente é, tinha vezes que eu escrevia tanto que até esquecia de aproveitar o momento, aproveitar meu controle sobre o corpo.

Concordo e suspiro, virando minha cabeça para observar o lado de fora, mas não dá para ver muita coisa por conta da escuridão. O que atrai minha atenção é a azulada, que empurra o potinho de sorvete, com bastante sorvete ainda, para longe de si, talvez eu tenha exagerado ao pedir três bolas.

- Está cheia? – Questiono, puxando o pote para mim, posso comer um pouco para não deixar estragar.

- Não. – Ela nega, quase em um sussurro, deve ser impressão minha quando imagino-a trêmula. – Acho que estou enjoada.

- Se quiser ir, o banheiro é ali. – Conto, apontando para a porta do banheiro feminino. Mesmo mancando de leve, ela se levanta e vai até o banheiro numa rapidez impressionante.

- Como se conheceram? – Ele pergunta, pouco depois dela sair.

- Bem, primeiro eu conheci a prima de vocês. – Afirmo, se eu não estivesse esbarrado na Miko naquela farmácia, eu nunca teria conhecido eles. – Eu virei amigo dela e acabei ajudando-a a contar para a família que estava grávida... Foi aí que conheci seus irmãos, pois eles ficaram uns meses lá na casa da Miko, então acabamos nos encontrando.

- Minha prima... – Ele repete, como se processasse a informação. – A adotada ou a psicopata?

- A adotada. – Digo, nem sabia da existência de uma outra prima deles, ainda mais uma psicopata.

- Ela engravidou? – Ele indaga, nunca imaginei que alguém poderia ser tão alienado com as coisas que acontecem ao seu redor.

- Sim, ela tem uma filha. – Informo, assim ele não fará mais nenhuma pergunta. – Sério mesmo que você não sabia?

- Nunca fui muito próxima dela. – Ele se justifica, dando de ombros. – Entendo que as pessoas possuem seus próprios segredos, mas sempre achei ela misteriosa demais, como se escondesse muita coisa.

- Deve ser só impressão. – Afirmo, só que eu também já tive essa sensação sobre ela. – Deveria tentar conhecê-la melhor.

 

Naoto

 

- Conheço-a bem o suficiente para querer manter distância. – Falo, eu até queria ser próximo dela, mas meus planos foram por água abaixo quando ela me ameaçou com uma arma, foi assim que percebi que ela é igual a eles.

- Ela é minha melhor amiga. – O azulado conta e, apesar disso, não acho que ele seja uma pessoa ruim. Ao que parece, meu irmão e minha prima escondem muitas coisas dele, a começar pelo fato dele achar que ela é nossa irmã. – Ela não é uma pessoa ruim.

- Todo mundo tem um lado ruim. – Retruco, ninguém consegue ser completamente santo. – Um lado que poucas pessoas conhecem.

É isso que eu mais amo nela, porque não importa como eu analise sua vida, essa frase não se encaixa com ela. Eu cresci cercado por pessoas nocivas, então a natureza dela me faz mais do que bem.

- Isso não se aplica a Kamiko.

Resolvo ficar calado, pois não quero começar uma briga, principalmente por algo tão banal. Ele é amigo dela, eu poderia mostrar um vídeo dela me ameaçando que, mesmo assim, ele ainda acreditaria nela.

- Vou fumar um cigarro. – Aviso, me levantando da mesa e me dirigindo para fora da sorveteria. Tiro o maço de cigarros do meu bolso e pego apenas um, ao qual acendo.

Sei que esse é um hábito horrível, entendo completamente o dano que estou causando aos meus pulmões, mas essa é minha forma de manter-me calmo. O que mais me mata nem é o cigarro, é observar tudo ao meu redor e ter que ficar de boca fechada, isso me consome por dentro.

- Pode me ver um cigarro?

Viro a cabeça, dando de cara com uma figura encapuzada. Não consigo ver seu rosto ou qualquer outra coisa, só sei que é uma garota por conta da voz. Como eu tenho um maço cheio, pego-o novamente e dou um para ela, que se põe a fumar ao meu lado.

- Você não é japonesa. – Afirmo, sem deixar de reparar no seu sotaque.

- Sou japonesa, só estou com a língua enferrujada. – Ela diz, deve ter estado fora do país por bastante tempo. – Passei os últimos três anos nos Estados Unidos.

- Estudando?

- Fugindo. – Ela responde de forma direta, sem vacilar. – Mas percebi que não posso fugir para sempre.

- Deixa eu adivinhar, fugindo da família? – Chuto, não se existe motivo melhor para fugir, já perdi as contas das vezes em que pensei em fugir pelo mundo, mas aí eu me lembro dela e forço-me a ficar.

- Mais ou menos. – Ela diz, rindo. – Maldito DNA.

- Põe maldito. – Sussurro, pensando na minha família, crueldade deve ser transmitida por genética.

- Tenho uma amiga que vive falando que eu vou morrer por conta desse vício.

- Você tem sorte. – Afirmo, adoraria que alguém se importasse comigo ao ponto de mandar-me parar de fumar. – Existe alguém que se preocupa com você.

- Acredite, eu não tenho sorte. – Ela nega, jogando o cigarro no chão e o amaçando com o tênis. – Sou a pessoa mais azarada da Terra.

Olho para dentro da sorveteria, para a mesa que eu estava. A preocupação me atinge com força quando enxergo apenas uma cabeleira azul, isso significa que ela ainda não voltou do banheiro, mesmo já tendo se passado muito tempo.

Antes que a encapuzada vá embora, seguro-a pelo braço, preciso que ela me faça um favor.

- Poderia entrar no banheiro dessa sorveteria e procurar uma garota com cabelos azuis? – Peço, já que não posso fazer isso, me chamariam de tarado se eu invadisse o banheiro feminino. – Ela é... Minha irmã mais nova.

- Claro. – Ela aceita de cara, coisa que eu não esperava. – Mas, antes, gostaria que respondesse uma pergunta minha.

- Sou todo ouvidos.

- Estou procurando uns amigos. – Ela conta, apontando para o chão, preciso forçar minha visão ao máximo para enxergar o que ela aponta. – Então, você viu o dono ou dona dessa cobra? É provável que seja de um de meus amigos.

- Lamento, mas essa cobra é da minha irmã. – Afirmo, nunca entendi o motivo dela gostar tanto de cobra, confesso que não é um animal que me inspira confiança. – As duas são.

 

Hasi

 

Entro no estabelecimento, logo percebo que é uma aconchegante sorveteria que, por algum motivo, me trás lembranças do meu lar.

- Não é permitido a entrada de pessoas com o rosto coberto.  – Um atendente para na minha frente, bloqueando minha passagem até o banheiro feminino. – Por favor, abaixe o capuz.

- Não dá. – Sussurro, puxando-o ainda mais para frente, certificando-me que está cobrindo tudo. Avanço, como se ele nem estivesse na minha frente, essa não será a primeira vez que precisarei passar por cima de pessoas que tentam tirar meu capuz.

Como esperado, ele acaba cedendo e abre passagem. Acelero meu passo, antes que ele consiga chamar o segurança, estarei segura dentro do banheiro feminino. Discretamente, procuro pela presença de câmeras, encontro várias com bastante facilidade, e é capaz de terem mais escondidas.

- Olá? – Falo, entrando no pequeno banheiro, que aparenta não ter ninguém. – Tem alguém aqui?

Ninguém me responde, nem mesmo uma mulher chata me repreendendo por quase gritar no meio de um local público, a irmã dele não está aqui. Quando estou prestes a dar meia volta, deparo-me com um espelho, onde vejo refletida minha imagem.

Como estou sozinha e aqui não tem câmeras, resolvo abaixar o capuz, para poder ver meu rosto. Encaro minha pele lisa e macia, sem qualquer recordação das minhas tentativas de desfiguração, sempre fui interrompida antes de conseguir fazer algo definitivo.

- Quem se importa com aparência? – Pergunto ao meu reflexo, desafiando-me. – Eu pago sem pensar duas vezes se esse for o preço da liberdade.

A última vez que disse isso, eu não estava encarando meu reflexo, estava encarando minha melhor amiga. Nunca esquecerei a descrença em seus olhos, juntamente com o horror estampado em seu rosto. Eu estava com raiva dela, estava com raiva de todos, não entendia porque se importavam tanto com minha aparência.

Hoje, apesar de ainda ter esse desejo de mutilar meu rosto, eu agradeço por terem me impedido, uma garota com o rosto desfigurado chamaria muita atenção nos Estados Unidos. Eu não conseguiria passar despercebida e, consequentemente, acabariam descobrindo que todos os meus documentos são falsos, desde a certidão de nascimento até o passaporte.

Recoloco o capuz, e é nesse momento, quase saindo, que escuto um soluço. Soou tão baixo que poderia ser apenas uma impressão, mas não é, parece ser alguém tentando conter o choro, como se não quisesse ser descoberto.

Espero, só que o som não se repete, porém aquilo foi o suficiente para provar-me que não estou sozinha. Se tem alguém comigo, só pode ser a irmã daquele garoto. Caminho silenciosamente pelo banheiro, abrindo a porta de cada uma das cabines, deparo-me com todas elas vazias.

Chego a última, sabendo que o soluço só pode ter vindo daqui. Abro essa porta com mais cuidado, não quero deixá-la assustada. Consigo abrir sem resistência alguma, logo vejo uma garota sentada no chão, a menina é tão pequena que consegui abrir a porta mesmo com ela ali.

Ela está chorando, deduzo isso através de seus olhos vermelhos e o rosto manchado por lágrimas. A garotinha também treme, não sei se é por medo de mim ou apenas consequência do choro, mas ela treme muito.

- Ei, seu irmão está preocupado com você. – Conto, abaixando-me para reduzir a diferença de altura, e para inspirar confiança. – Quer que eu te leve até ele?

- Ninguém pode me ver assim. – Ela afirma, abaixando o rosto. – E-Ele disse que ni-ninguém po-pode sa-saber.

- Do que está falando? – Pergunto confusa, vendo-a enfiar as unhas na perna com força. – Você vai se machucar!

- Na-Não co-consigo. - Ela gagueja, ouvindo meu aviso e relaxando as mãos. – Não co-consigo fi-fingir. Na-Não e-está tu-tudo bem.

- Acho melhor você ir procurar seu irmão. – Aconselho, como a mesma disse, ela não está bem. Do jeito que ela está falando, parece até uma maluca.

- E-Ele pro-prometeu que não fa-faria. – Ela continua divagando, deixando-me sem ideia do que fazer. – Não sa-sabia que do-doía tanto... E-Eu pe-pedi que e-ele pa-parasse...

Ela é interrompida por soluços e mais lágrimas, o que faz-me desejar que minha amiga estivesse aqui, ela se dá muito melhor com criança do que eu. Abro a boca para falar, mas acabo fechando-a quando vejo um detalhe vermelho no chão claro.

- Isso é sangue. – Penso em voz alta, sabendo que só pode estar vindo dela.

- Te-Tentei pa-parar, ma-mas não pa-para de sa-sair sangue. – Ela revela, olho seu corpo em busca de algum machucado, fico preocupada quando não encontro nada visível.

- De onde está vindo o sangue? – Indago com meu tom mais manso, uma ideia horrível apareceu na minha mente, e eu não quero acreditar que seja verdade.

- Lá de ba-baixo.

Ela poderia estar apenas menstruada, a primeira vez que a pequena fica e não sabe o que está acontecendo, mas isso não se encaixa com o que estava falando. Minha teoria se encaixa, agora eu entendo o que está acontecendo.

Pego o celular, sem saber para quem ligo primeiro, a polícia ou a ambulância. Nesse momento, acho que ela precisa mais de ajuda do que justiça, então ligo primeiro pro hospital.

- Qual a emergência?

- Eu estou com uma criança. – Conto, sem saber direito por onde começar. – Ela está sangrando, eu preciso de uma ambulância.

- O nome da criança?

- Eu não sei. – Respondo, sem saber como isso é relevante.

- E o seu nome?

- Não importa. – Corto-a, tentando esconder a magoa que sinto toda vez que escuto essa pergunta, eu não tenho um nome. – Quanto tempo a ambulância vai demorar?

- Sabe me dizer qual é o ferimento?

- Eu acho que ela foi estuprada.  



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