Autora
- Pode soltar isso para mim? – Ele pede, olhando para seus pulsos, então ela faz o mesmo. Os olhos dela se arregalam ao ver amarras, que estão prendendo-o na cama, por isso o loiro torna a falar antes que a assuste demais. – Eu não sou mal, juro pra você que não sou.
- Eu... Eu não pensei isso. – Ela nega, trabalhando em desafivelar as marras em uma velocidade impressionante, ainda mais para o loiro que esperava que ela tivesse dificuldade. – Ninguém merece ficar preso... Eu só lembrei de uma coisa.
- Envolvendo amarras? – Ele interroga, esperando receber uma risada seguida de resposta negativa, mas recebe apenas o silêncio dela, porque a azulada não quer verbalizar a verdade, ela é proibida de contar qualquer coisa.
O loiro sente um imenso alívio quando um de seus pulsos é libertado, e a primeira coisa que faz com a mão livre é movimentar os dedos, tentando recuperar a sensibilidade. A pele, originalmente branca, está manchada por vermelho e roxo, sua própria mão também está um pouco arroxeada, devido à má circulação do sangue.
Ela solta o pé dele, seguindo para o outro lado, onde desafivela com a mesma velocidade, expondo as horríveis manchas, que não atraí a atenção de nenhum dos dois. O loiro, ao se ver livre, senta lentamente, mesmo querendo saltar daquela cama, onde esteve amarrado por tanto tempo e, ainda por cima, drogado.
- Obrigado. – Ele agradece, forçando sua mente a pensar em alguma saída, mas está difícil. – Estamos em um hospital, certo?
- Acho que sim. – Ela concorda, confirmando algo que ele tinha quase certeza, não está mais lá, o que facilita muito uma fuga. Só existe alguns problemas, e o principal deles é o fato do loiro não se aguentar em pé, além de não poder deixar ninguém ver seus olhos.
- Você viu alguém estranho nos corredores? – Ele interroga, ignorando a visão parcialmente embaçada e dupla, estaria muito pior se não tivesse tirado aquilo das suas veias.
- Estranho? – Ela repete, sem saber o que ele quis dizer, então o loiro considera como uma negação. Mas ele sabe que eles estão lá, provavelmente disfarçados, para não chamar a atenção dos curiosos.
Uma ideia passa pela cabeça de Shiro, um pouco maluca, porém a única. Ele não tem nada a perder, já foi descoberto pelo governo, então mostrar sua outra face para uma garotinha não fará diferença alguma, principalmente ao se tratar de alguém como ele.
- Pode se virar? – Ele pede, e ela obedece sem questionar. Não existia essa necessidade dela se virar, mas prefere que ela só veja quando estiver tudo terminado.
A azulada, apesar de ter obedecido, está apreensiva, com dúvidas rondando sua mente, sem saber se pode confiar no garoto que acabara de conhecer. Ela não acha que ele seja mal, só que isso não significa nada, a pequena não considera ninguém ruim.
- Se você conseguir me ouvir, já pode olhar.
Ela se vira, não encontrando o garoto, a única coisa que vê sobre a cama é uma cobra. Os olhos da azulada passeiam pelo cômodo, procurando pelo menino, que evaporara.
- Oi! – Ela cumprimenta a cobra, com a maior inocência do mundo. – Você viu o menino que tava aqui?
- Eu sou o garoto... – Ele sussurra, temendo a reação dela, você nunca sabe como uma pessoa reagirá ao dar de cara com uma cobra falante. – Sou ele.
- Sério?
- É.
- Você ficou parecendo com os meus amigos. – Ela conta, reagindo muito melhor do que ele esperava. – Sabia que tinha visto seus olhos em algum lugar! É igual aos dos meus amigos! Mas eu não sabia que vocês podem ficar parecidos comigo também.
- Alguns podem. – Ele revela, encobrindo o número exato, apenas quatro pessoas têm essa capacidade e, pelos olhos dela, o Shiro sabe que ela faz parte desse grupo. – E eu preciso de mais um favor seu.
- O que?
- Pode me levar pra casa? – Ele indaga, sentindo os efeitos da droga ainda mais fortes no seu organismo daquele jeito, seus sentidos aguçados estão completamente desnorteados.
- Eu não posso sair daqui... – Ela murmura de forma triste, porque quer muito ajuda, porém sabe que não pode sair do hospital, principalmente acompanhada de um garoto quase desconhecido.
- Por favor. – Ele implora, desesperado tanto por ele quanto por ela. O loiro quer voltar para casa, para juntos dos amigos e da sua família, e, do jeito que as coisas estão indo, teme que isso nunca aconteça. Mas, como o Shiro não é egoísta, ele também está pensando nela, que está em um hospital cercado por agentes do governo que farão com ela o mesmo que fizeram com ele caso vejam seus olhos, olhos de serpente. – Não consigo andar, nem rastejar... Eles me drogaram e o efeito ainda não passou, não consigo sair daqui sozinho.
A azulada está dividida, porém acabou optando por ajudá-lo, mesmo que ela se ferrasse mais na frente. Ela tenta pegá-lo, mas ele desvia.
- Assim não... – O loiro nega, seriam detidos na primeira esquina se ela o carregasse tão a mostra, uma cobra chama bastante atenção dentro de um ambiente tão estéril quanto um hospital. – Não podem me ver.
- Então como?
- Debaixo da sua roupa. – Ele sugere, avaliando onde pode se esconder. – Posso me enrolar nas suas pernas.
- Mi-Minhas pe-pernas? – Ela repete com a voz trêmula, sentindo-se extremamente incomodada com a ideia.
- Acho que consigo me segurar. – Ele responde, sem perceber o incomodo dela. – Posso?
- Po-Pode.
Kayano
- MAIS UM ASSASSINATO! – Gritam, me fazendo dar um salto da cama, acabando com meu sono tranquilo. – MATARAM MAIS UM!
Meu cérebro tenta entender, porém não consigo, deve ser o oitavo assassinato aqui dentro.
- Mais alguém morreu? – Mana pergunta, também acordando, tinha até esquecido que deixei-a dormir aqui.
- Não. – Nego, fazendo carinho no seu cabelo, saber a verdade só irá assustá-la. – Deve ter sido só um sonho ruim, volta a dormir.
Ela concorda e fecha os olhos novamente, enquanto eu saio da cama, lançando um olhar mortal para a garota que me acordou.
- Você usa lentes? – Ela questiona, suas palavras, por pouco, me impedem de sair, esqueci de colocar as lentes que mudam a cor dos meus olhos.
- Uso. – Confirmo rapidamente, indo até a cômoda e pegando minhas lentes, espero que ela não crie nenhuma suspeita sobre mim. Sem que eu precise chamá-la, Sawa vem pro meu lado, se tem algo que eu vou levar daqui, será essa cobra. – Precisava invadir meu quarto gritando desse jeito?
- Não sabia que estava com uma criança... Quem é ela? Alguma parente sua?
- Não, é só uma garotinha assustada. – Explico, acompanhando-a pelo corredor deserto, o que é estranho. – Como ela não tem família aqui, pensei em deixá-la dormir lá no meu quarto.
- Quase nenhuma criança tem família por aqui. – Ela conta, não consigo encarar esse fato com a mesma naturalidade que eles. – Quer dizer, somos a família um dos outros.
- Para onde está me levando? – Interrogo, parando de andar ao perceber que seguia-a sem questionar.
- Comunicado dos líderes.
- Dos líderes? – Repito, sem esconder minha surpresa, sempre me disseram que os líderes não aparecem. – Pensei que não se soubesse nada sobre eles.
- E não se sabe. – Ela diz, se contradizendo. – Mas, vez ou outra, eles fazem transmissões com ordens, e as transmissões são passadas na sala de reuniões, que é grande o suficiente para todos verem.
- Quem são eles?
- São dois líderes, é só o que sabemos. Não dá para ver o rosto deles, e as vozes são modificadas... É impossível determinar a identidade deles.
# Quebra de tempo #
Entramos numa sala lotada de pessoas, acho que esse termo ainda é pouco, nunca vi tantas pessoas juntas em um só lugar, e das mais diversas idades. Ela me empurra pela multidão, cortando caminho para nós duas e, por mais incrível que seja, ninguém nos xinga.
De repente, consigo ver uma parte mais elevada, uma espécie de palanque. Andamos até uma pequena escada que dá para esse lugar e, na beirada dele, está o Riki.
- O que está acontecendo? – Sussurro ao chegar perto dele, ela volta para a multidão assim que me encontro com ele. – Vocês estão me deixando nervosa.
- E como você acha que eu estou? – Ele retruca, tentando puxar-me escada acima, para subirmos no palanque, onde se encontram algumas pessoas, todos membros fixos do conselho. – Quase nunca recebemos recados diretos dos líderes.
- E o que isso significa?
- Significa que deu merda. – Ele responde, finalmente conseguindo me arrastar para cima, não queria ficar bem aos olhos de todos, posso ser descoberta. – E eu estou encobrindo uma prisioneira e lhe passando informações secretas, isso me coloca numa ótima situação.
- A ideia disso tudo foi sua. – Falo, nem mesmo queria subir aqui, mas parece que todos os membros do conselho precisam estar aqui. – Onde está o Shiro?
- Combatendo uma crise existencial trancado dentro do quarto. – Ele conta entredentes, para que ninguém consiga ler seus lábios, ou escutar nossa conversa. – Ele voltou completamente louco, com esse papo de que não é o Shiro.
- Vão passar isso sem ele presente?
- Ele pode ser importante, mas não é o único. – O Riki retruca, dando as costas pro pessoal, viro um pouco a cabeça e vejo uma enorme tela atrás de nós. – As informações por aqui correm mais rápido que as cobras, todos querem saber o que está acontecendo.
- Quando vai começar?
- Assim que você der o sinal.
- Por que eu?! – Exclamo, elevando um pouco a voz, mas todos estão tão entretidos com seus próprios sussurros que nem notam.
- Porque é tradição o mais novo membro do conselho dar o sinal para a transmissão.
- E aqueles dois estranhos que entraram para substituir a Gina? – Indago, eles entraram depois de mim, então as honras são deles.
- Foi uma substituição, então não conta como novo membro, eles são temporários.
- E eu não?
- Você nem deveria estar aqui, mas ninguém sabe disso. – Ele responde, fazendo um gesto com as mãos. – Só faz assim, o pessoal que entende dessas coisas vai projetar a gravação na tela.
- Certo... – Aceito, imitando seu sinal, na mesma hora todas as luzes se apagam. Eu, instintivamente, me aproximo mais do Riki, a única pessoa que sabe quem sou de verdade, o único em quem posso confiar.
O vídeo começa, e logo entendo completamente o que me disseram. A imagem é completamente escura, até permite ver o local, a silhueta de uma pessoa e, aparentemente, uma cobra. Mas nem a pessoa e nem a cobra são possíveis de distinguir, já o local parece ser um escritório.
Antes mesmo que uma palavra seja proferida, o som das vozes aumenta, porém não consigo entender nada, todos parecem ter se agitado.
- Sempre são dois. – O Riki pensa em voz alta, até ele parece ter ficado mais agoniado. – Por que só um?
- O caos chegara aos meus ouvidos. – A voz saí por todos os altos falantes do recinto, calando cada voz. – Não teremos misericórdia com o assassino em série que, ao que tudo aponta, está infiltrado na nossa base.
- Algo está muito errado... – Ele torna a falar, roendo as unhas. – Onde está ela?
- Ela?
- Sim, a nossa líder. – Ele se explica, afastando a mão da boca. – Geralmente, nessas transmissões, ele sempre está sentado na cadeira atrás da escrivaninha e ela está sentada na escrivaninha, ela é sempre há que mais fala.
- Tomarei medidas extremas para encontrar o assassino. – O líder misterioso prossegue, acariciando a cabeça de sua cobra. – E, para essa árdua missão, convoco Shikichi Erena, Shikichi Yasuhiko, Maeda Riki e Kaede Kayano.
Controlo minha reação, bem diferente do Riki, que quase surta ao ouvir meu nome, estamos bem ferrados. Os sussurros recomeçam, afinal todos pensam que eu fugi.
- Peço que não ataquem a filha de nosso inimigo. – Ele pede, como se isso fosse evitar deles me lincharem. – Ela será de suma importância, e eu quero que os quatro saiam imediatamente da base.
A tela se apaga, e é aí que o problema surgi. De nós quatro, sou a única que poderia ser Kaede Kayano, apenas um passo e todos descobrem quem sou.
- O que faremos?
- Não podemos desobedecer uma ordem do líder, será pior. – Ele afirma, parecendo forçar as palavras para fora. – No três, nós corremos o mais rápido possível até o submarino e saímos daqui sem que nos alcancem.
- Isso não vai dar certo.
- Tem alguma ideia melhor?
# Quebra de tempo #
Salto para dentro da escotilha, quase torcendo o pé com a falta de cuidado. Ele pula em seguida, tratando de trancar o submarino rapidamente, mantendo o pessoal do lado de fora. Tento controlar minha respiração, que acelerou por conta da correria e adrenalina, nem sei como fizemos isso.
- Demoraram. – Uma voz, que não é do Riki, fala, quase dou um pulo com o susto. No canto, estão sentados os dois irmãos estranhos.
- Como chegaram aqui antes de nós? – Pergunto esbaforida, saímos correndo a todo vapor e os deixamos no palanque, é quase impossível eles terem chegado antes de nós.
- Atalhos. – Ela responde, meneando a cabeça em direção as cadeiras vazias. – Sentem-se.
Sento, não por causa de seu pedido, e sim por conta dos meus pés latejantes.
- Nós já fomos comunicados do resto da missão. – O irmão dela conta, é um pouco insano imaginar que estou em uma missão para os serpentes, é quase traição. – Nossa missão é encontrar Sasaki Shiro.
- Ele não precisa ser encontrado, o Shiro está em casa. – O Riki rebate, verbalizando meus pensamentos.
- Aquele não é o Shiro, é o Takeshi. – Tornam a repetir essa maluquice, não sei dizer qual dos três é mais maluco, esses dois ou o Shiro. – De acordo com o Takeshi, o Shiro está preso em um laboratório. Nossa missão é encontrar esse laboratório, resgatar todos e destruir o local, junto com todas as pesquisas.
- Isso tudo é maluquice, eu vou voltar. – O Riki afirma, levantando-se do assento, é nesse momento que uma alta sirene começa a tocar. – O que é isso?
- Alarme de quarentena. Nesse momento, o Takeshi trancara todas as portas da base, ninguém pode sair de lá. – Ele explica, eu nem sabia que tinha isso. – E nós também não podemos entrar.
- Por que botar o prédio inteiro em quarentena?! Só para nos forçar a sair da base e participar dessa missão sem pé nem cabeça?!
- A quarentena é para prender o assassino lá dentro, assim o Takeshi terá tempo para encontrar o assassino e o traidor. E vocês estão acima de qualquer suspeita dele, por isso foram os escolhidos para ficarem fora da quarentena e nos ajudarem a resgatar o Shiro.
- Como nosso líder concordou com isso? – O Riki pensa em voz alta, também queria saber.
- Ele concordou porque o Shiro é um dos melhores e mais confiáveis daqui, e ele sabe que Sasaki Shiro não está aqui e corre sério perigo, por isso nos designou para salvá-lo.
CONTINUA...
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