Karma
Eu e a Aki adentramos a emergência, que está lotada.
- Quero falar com o doutor Tanaka. – Digo para a recepcionista, que me pede para esperar. Eu e a Akiko ficamos em pé, já que todas as cadeiras estão ocupadas.
- Antes que você pergunte, sim, ela está viva. – Responde o médico, aparecendo do meu lado.
- Já tem sangue suficiente? – Pergunto, já que o evento começou a bastante tempo.
- Nem de perto. – O médico responde, respiro fundo, tentando manter um controle sobre mim mesmo. Nesse momento lembro da mãe dela.
- E a mãe dela? – Pergunto, ele me olha confuso.
- A mãe dela está aqui?
- Ela chegou ontem, foi uma das vitimas do acidente que teve. – Respondo, queria saber o nome dela.
- Você tem que me dizer o nome.
- Eu já vou descobrir. – Falo e pego meu celular descartável, eu sempre saio com ele, e ligo para a Kay.
- Oi! – A Kayano fala, sua voz animada.
- Oi Kay. – Digo, estranhando seu tom de voz.
- Você conseguiu completar o desafio?
- Kayano, você está bem? – Eu pergunto, do que ela está falando?
- Claro! Agora fale logo, estou com um monte de jornalistas na minha frente. – Ela responde, leio nas entre linhas o que ela quis dizer, estão filmando ela.
- Sim, eu consegui. – Respondo, entendendo o que ela quis dizer.
- Que bom, então tchau!
- Espera! Qual o nome da mãe da Nagisa?
- Shiota Hiromi. – Ela fala e desliga o celular, olho pro médico.
- Shiota Hiromi. – Digo, e vejo o semblante dele mudar.
- Ela só sofreu uma pancada na cabeça, fizemos uma TC (tomografia computadorizada) do cérebro e não tem nada anormal.
- Se ela está bem, por que você está com essa cara? – Pergunto, a cara dele está horrível.
- Digamos que ela é uma paciente difícil de lidar. – Ele responde, voltando para onde ele saiu.
- Posso ver uma das duas? – Pergunto, na verdade eu quero mesmo é ver a Nagisa, mas é minha responsabilidade ver se a mãe dela está bem. Espera um pouco, minha responsabilidade? De onde eu tirei isso?
- Vou levar vocês até o quarto da senhora Shiota. – O médico diz, fazendo eu e a Aki seguirmos ele. Coincidência ou não, o quarto dela é ao lado do da Nagisa.
- Podem ficar o quanto quiserem, mas aviso que a paciente está sedada. – O médico fala, atiçando a minha curiosidade.
- Por que? Você não disse que ela está bem?
- Ela está bem, mas ela sofre de transtorno de personalidade borderline.
- Explique de um jeito que nos possamos entender. – Falo, apontando para mim e para a Akiko.
- Transtorno de personalidade borderline ou transtorno de personalidade limítrofe é uma condição mental grave e complexa cujos sintomas instáveis podem invadir o indivíduo de modo súbito, caótico, avassalador e desenfreado. Tratar de pacientes com esse transtorno é complicado, porque eles tendem a explodir a qualquer momento, por isso resolvemos sedá-la. – O médico fala, me fazendo pensar em como é a vida da Nagisa, já que a mãe dela tem uma personalidade instável. Começo a ficar curioso sobre o assunto.
- E como uma pessoa desenvolve isso?
- Pode ser genética, anomalias cerebrais e abuso verbal, emocional, físico ou sexual por seus pais.
- Genética? Quer dizer que a Nagisa pode desenvolver... – Começo a falar, mas o médico me interrompe.
- Transtorno de personalidade borderline? Sim, têm grandes chances. Eu acredito que ela já tenha.
Encaro o médico, com uma mistura de preocupação e raiva. Ele mal a conhece, como pode dizer que ela tem esse transtorno?
- O que te faz pensar nisso? – Pergunto, fracassando miseravelmente em manter a raiva longe do meu tom.
- Primeiro que ela tem predisposição genética. – O médico fala, o que não prova nada. – Não sei se você observou, mas nos pulsos têm cortes em forma de X, o que significa que ela tentou se suicidar. Isso me intrigou, por isso resolvi acessar o histórico médico dela, e adivinha? Ela já ficou internada duas vezes por tentativa de suicídio, a primeira vez ela cortou os pulsos e a segunda ela ficou em coma depois de tomar seis calmantes. Suicídio é um dos critérios para se diagnosticar o transtorno de personalidade borderline.
Encaro o médico com os olhos arregalados. Nunca passou pela minha cabeça que ela teria tentado se suicidar, muito menos duas vezes. Aquelas marcas, não foram do acidente de carro, se é que houve realmente um acidente, são cicatrizes da primeira tentativa de suicídio dela. Volto a realidade, só então percebendo que o médico não está mais aqui.
- Karma, você está bem? – Pergunta a Aki, parando na minha frente.
- Estou, agora vamos... – Paro a frase, não quero ir para lugar algum.
- Para casa. – A Aki completa, apenas assinto com a cabeça.
# Quebra de tempo #
Já dentro do táxi ligo para a Kay.
- Pode falar. – Ela diz assim que atende o celular, os jornalistas já devem ter ido embora.
- Por que você mentiu? – Pergunto, a Kay fica muda do outro lado da linha. – RESPONDE!
- Desculpa Karma. – Fala a Kay, e logo volta a ficar muda. – Como você descobriu?
- Eu estava conversando com o médico, ele me contou que ela tentou se suicidar.
- ELA O QUE?! MEU DEUS DO CÉU! ELA TÁ BEM? O QUE ACONTECEU? – A Kay grita, consigo escutar a respiração descompassada dela do outro lado da linha.
- Não se faça de desentendida, você mesma se desculpou. – Acuso, mas ela é rápida em me contradizer.
- Eu confundi com outra coisa. – Silêncio. – Eu juro, eu nunca soube disso.
- Mas você é a melhor amiga dela! – Digo, pelo pouco que observei da Nagisa eu notei que ela e minha irmã são muito próximas.
- Ela também é a minha, e nem por isso eu contei sobre você. – Ela rebate e, mesmo que eu não queira, ela tem toda a razão.
- E a mãe dela? Você sabe alguma coisa sobre isso? – Ela pergunta, nos tirando de um assunto ruim para um péssimo.
- Ela está bem, já até acordou. Você sabia que ela tem transtorno de personalidade borderline? – Pergunto, minha fala embolando na última palavra.
- Sei. – É a única coisa que a Kay responde, muito calma.
- Você sabe que, provavelmente, a Nagisa também tem?
- Lógico que ela não tem! – A Kayano dispara, como ela pode dizer com tanta convicção se ela não sabe quais são os sintomas?
- Se ela não tem, como você explica o fato dela ter tentado se suicidar duas vezes? Isso é um sintoma!
- Karma, eu conheço ela há exatamente. – Ela fica em silêncio, como se estivesse contando. – 6 anos, ou seja, muito mais que você. Então não fale sobre o que você não sabe. – A Kay diz e simplesmente desliga, me deixando com vontade de socar alguma coisa. O táxi para, eu e a Aki saímos e entramos no nosso prédio.
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