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História A Burning Touch - PRÓLOGO


Escrita por: Ninjauregui

Notas do Autor


Como prometido... cá estou. Esse é apenas o prólogo, mas espero que gostem. Boa leitura!

Capítulo 1 - PRÓLOGO


O que pensa que está fazendo? — Lauren olhou, cautelosamente, para o marido, enquanto desafivelava as sandálias, na porta dos fundos da casa.

— Só vou dar uma volta.

Samuel fechou os olhos com raiva. Nunca entenderia a mania de Lauren sair sozinha para longos passeios na praia. E especialmente naquela tarde de final de agosto, não só pelas nuvens escuras sobre a baía de Cape Cod, mas também porque havia hóspedes. A mãe e as irmãs de Samuel haviam acabado de chegar para uma última visita, antes que ele fechasse a casa de veraneio.

— Só lhe peço que seja uma boa anfitriã por umas três, quatro horas — ele resmungou. — Você é minha mulher. Será que faria o favor de ficar por aqui e fazer seu papel apenas por uma tarde?

Samuel passou os dedos pelos cabelos com alguns fios prematuramen­te grisalhos.

Quando Lauren se casara com ele, dez meses atrás, os cabelos prateados foram uma das coisas que mais a haviam atraído. Jamais conhecera um homem tão sofisticado, e mal pudera acreditar na própria sorte quando, após um namoro de apenas seis semanas, Samuel a pedira em casamento.

Porém, agora, os cabelos e os lábios sempre contraídos cada vez mais lembravam-na de seu próprio pai. Principalmente quando Samuel começava a pregar sermões sobre postura e comportamento. Na noite an­terior, deitada na cama, Lauren se pusera a imaginar o que aconteceria, caso fizesse as malas, entrasse no seu carro Saab e fosse embora. Sozinha. Aquele pensamento a enchera de satisfação.

— Estarei de volta em meia hora. Por favor, Sam, farei o papel que você quiser quando voltar. Mas agora preciso ficar meia hora sozinha.

Com rudeza, ele a sacudiu pelos ombros.

— Não! Agora mesmo você vai servir uma bebida para minha mãe e para minhas irmãs. Elas nunca mudarão de ideia a seu respeito se não parar de fugir sempre que...

— Nunca irão mudar de ideia a meu respeito de qualquer maneira.

Lauren se libertou do marido, esfregando os braços machucados. Agora ele começara também a ter modos bruscos, o que a fazia pensar se suas maneiras ultracivilizadas não seriam apenas uma fachada.

— Se pelo menos você tentasse... — insistiu Samuel.

— Não sou igual a elas.

Lauren ergueu o queixo, mas o tremor na voz traía a frustração, o sentimento enorme de inutilidade.

— Você não se casou com uma debutante de Newport, Sam. Sou filha de um advogado de classe média, da humilde Mansfield, Nova Jersey. Não pertenço à alta sociedade. Tenho uma carreira e metas a alcançar que não têm nada em comum com torneios de polo ou bailes de gala. Sua mãe e suas irmãs terão de conviver comigo do jeito que sou.

Virando-se em direção à praia, Lauren tomou fôlego e acrescentou:

— E você também.

Caminhando pela praia particular, examinando o céu ameaçadoramente cinzento sobre as águas, Lauren pensou que talvez devesse voltar. Virou-se e olhou para a casa. Mesmo a distância, podia visualizar Sam, todo de bran­co, e as três loiras esguias, com roupas claras de linho, apoiados na balaustrada do andar de cima. O sol do fim de tarde realçava os corpos bronzeados e fazia brilhar os copos em suas mãos. O som de uma risada feminina chegou até Lauren, trazida pela brisa marítima.

Ela suspirou, pensando em ficar na praia só mais dez minutos. Consultou o relógio e continuou a cami­nhar, feliz por estar sozinha, uma solidão que sempre apreciou, desde criança. Somente nesses momentos podia ser ela mesma, sem precisar fingir.

Entregou-se à carícia da areia morna sob os pés descalços, à cadência relaxante das ondas quebrando na praia.

Dez minutos depois, decidiu que voltaria quando co­meçasse a chover. Ouvia trovões ao longe, mas o sol continuava a brilhar. Tinha tempo, até que a chuva desabasse. Quando alcançou a praia pública, viu que estava deserta. O estacionamento à direita, além das dunas, também. Ouviu-se o barulho de um trovão, e ela se assustou.

Contrariada, começou a voltar para casa.

 

 

 

Lauren abriu os olhos.

Estava deitada de costas, a chuva caía. Sob seu cor­po, em vez de areia, sentiu a dureza do asfalto. Entrou em pânico quando tentou mover os braços, depois as pernas, e não conseguiu. Mal podia respirar, e seu coração batia descompassadamente. A chuva parecia penetrar em seu corpo, machucando.

 

Um trovão ressoou, seguido por raios que riscaram o céu escuro.

Fora atingida por um raio e desmaiara, compreen­deu, espantada.

Bem devagarinho, ergueu a cabeça. Olhando ao re­dor, constatou que havia sido atirada a uma boa dis­tância da praia até o estacionamento. Quando abaixou a cabeça novamente, sentiu uma dor intensa.

Passou-se algum tempo, até conseguir sentar-se. Viu sangue, muito sangue, em seu corpo e sobre o asfalto. Todos os membros doíam. Sabia que havia quebrado algumas costelas, quem sabe fraturara a clavícula. Com dificuldade, ergueu a mão, tocou levemente o ros­to, fazendo uma careta de dor. A face direita estava inchada e pegajosa de sangue.

A casa mais próxima era um chalé a alguns metros de distância. Havia uma caminhonete vermelha para­da na porta e luzes nas janelas. Lauren tentou levan­tar-se, mas as solas dos pés estavam queimadas, e a dor era insuportável. Então, rastejou vagarosamente debaixo da chuva até que, finalmente, após o que pa­receu uma eternidade, alcançou a porta de entrada do chalé.

Caiu pesadamente, tentou bater, mas não conseguiu erguer a mão. Experimentou gritar, porém não foi pos­sível emitir um som sequer.

Diversas vezes bateu com o ombro na porta, até que, finalmente, abriram-na, e Lauren tombou sobre um tapete.

— Oh, meu Deus! — gritou uma mulher. — Frank! Chame a polícia!

E Lauren desmaiou.

Quando voltou a si, percebeu que podia se mover. Tubos brilhantes erguiam-se acima de seu corpo, e ela ficou olhando, numa espécie de hipnótica apatia. Ouvia um rumor abafado e sentia cheiro de antisséptico. Pre­sumiu que estava sendo levada de maca pelo corredor de um hospital, e sentiu-se aliviada. Iriam tomar conta dela.

Durante as horas que se seguiram, permaneceu em um estado de semiconsciência. Cuidaram das queima­duras nos pés e trataram de sua clavícula. Saíra de casa sem nenhum documento, e as pessoas ao redor ficavam perguntando seu nome, mas Lauren não conse­guia falar direito e ninguém entendia os sons que emi­tia. Deram-lhe um lápis para escrevê-lo, porém seus dedos não conseguiam segurá-lo.

Mesmo em meio ao grande torpor, Lauren percebia, claramente, que algo estranho acontecia, cada vez que alguém a tocava: imagens distorcidas, como em um aparelho de televisão com defeito, surgiam perante seus olhos e logo desapareciam, antes que pudesse dar-se conta do que representavam, e ela se sentia invadida por estranhas sensações.

Havia algo naquele fenômeno que lhe era muito fa­miliar, mas não conseguia lembrar o porquê. Exausta e confusa, chegou à conclusão de que as ondas elétricas de seu cérebro foram abaladas pelo raio que a atingira na praia, e rezou para que aquilo fosse temporário.

Finalmente, transportaram-na para um quarto, onde ficou sozinha. Adormeceu, mas foi acordada no meio da noite por uma enfermeira loira, de meia-idade.

— Você é Lauren Michelle Jauregui Claflin?

— Sim, sou.

Sorriu, mais por conseguir falar do que propriamen­te por lembrar-se de quem era.

A enfermeira fez um sinal e alguém entrou no quarto. Era Sam. Pela primeira vez em muito tempo, Lauren alegrou-se em vê-lo, porém, quando o marido chegou perto, ela percebeu seu olhar de espanto. Bem, era de se esperar. Ela devia estar com uma péssima aparên­cia. Apesar dos problemas que atravessavam, rever Samuel era reconfortante. Lauren tentou alcançá-lo, e ele pegou sua mão, relutante.

Imediatamente, algo dentro de sua cabeça foi acionado. Ela viu seu próprio rosto em meio a luzes e som­bras. Deu-se conta de como estava inchada, dos ferimen­tos nas faces e na testa, dos cabelos negros chamuscados e em desalinho, e soube, com absoluta certeza, que essa era a visão que John estava tendo dela.

Não! Que não esteja acontecendo de novo! Rezou, porque subitamente entendeu, horrorizada, o motivo das visões estranhas: ela estava lendo os pensamentos das pessoas.

Já havia tido contato com aquele dom muito tempo atrás, e isso quase arruinara sua vida. Agora, o raio que a atingira havia feito com que voltasse.

Ver a si mesma através dos olhos de Samuel já era ruim, porém, além disso, ele lhe transmitiu outras sen­sações. Uma onda de pura repulsa a envolveu, sem nenhum traço de amor, ternura ou afeição. O que Lauren sentiu, ou melhor, o que Samuel sentiu e transmitiu através de seu toque foi total repugnância. Ele não a via como uma mulher querida que precisava de com­paixão, mas como algo desagradável a ser enfrentado. Uma coisa irritante, feia e nojenta.

— Lauren! Você está me machucando! Largue! — Involuntariamente, ela havia apertado muito a mão do marido. Tentou soltar os dedos, mas eles não se moviam. Samuel procurou se libertar, e com a ajuda da enfermeira conseguiu abrir a mão de Lauren.

— Pronto! Não é bom ver o seu marido aqui? Posso preparar uma cama, se quiser, para ele passar a noite com você. Não seria...

— Faça ele sair. Deixe-me em paz, Samuel!

A voz de Lauren soou trêmula. Samuel e a enfermeira se entreolharam.

— Vamos lá, querida.

A enfermeira pousou a mão no braço de Lauren e, novamente, ela viu seu próprio rosto, os olhos aterro­rizados, e soube o que a outra mulher estava pensan­do... queria dar-lhe um sedativo bem forte.

— Não!

Lauren enxotou a enfermeira desajeitadamente, fa­zendo uma careta de dor.

— Vá embora! Não me toque!

Samuel agarrou seu ombro. A imagem voltou: sentiu e viu a repulsa do marido por ela.

— Lauren, pare com isso. Agora! — gritou ele.

— Não me toque! Deixe-me em paz! — ela berrou, contorcendo-se.

Outras pessoas entraram no quarto. Mãos fortes a seguraram, enquanto se debatia, sua mente era um caleidoscópio de imagens e sensações desconexas. Alguém machucou seu braço, ao tentar segurá-la. Lauren sentiu o frio do álcool sendo esfregado na pele, seguido da picada de uma agulha.

— Deixem-me só — gemeu, enquanto seus músculos relaxavam e as pálpebras ficavam pesadas. — Quero ficar sozinha. Foi isso o que sempre quis.


Notas Finais


O que acharam? 👀


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