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História A Busca (Malvie - Mevie) - A Prisão de Fogo


Escrita por: RyokkiHeron

Capítulo 43 - A Prisão de Fogo


Fanfic / Fanfiction A Busca (Malvie - Mevie) - A Prisão de Fogo

Reino de Auradon

Aziz tentou não ficar preocupado com Audrey pela forma em que ela saiu do seu quarto horas antes. Ele repetiu para si mesmo que ela apenas havia colhido o que plantou todo aquele tempo e merecia o que estava acontecendo. No momento o príncipe tinha coisas mais importantes povoando sua mente, por exemplo, como iniciaria a conversa com Bianca sem assustar a menina ou perder sua amizade. Ele estava próximo ao corredor do quarto dela quando pensou em desistir e até deu meia volta falando sozinho, mas logo retornou para seu caminho parando em frente à porta do dormitório da menina. Ele passou as mãos pela roupa se arrumando e conferiu seus cabelos antes de bater suavemente. Esperava que a amiga não estivesse dormindo. A garota abriu a porta segundos depois da primeira batida.

- Az - disse ela sorrindo - Entra.

- Com licença - respondeu o príncipe adentrando no lugar - Espero não ter te acordado.

- Eu não dormi - confessou Bianca fechando a porta - Tive uma discussão com a minha mãe.

- O que a Branca fez dessa vez? - indagou o rapaz tentando controlar o nervosismo que estava fazendo seu estômago revirar quando a amiga se aproximou.

Bianca sentou-se em sua cama finalmente arrumada e soltou um pesado suspiro. Devagar o príncipe sentou ao seu lado sem tirar os olhos dos dela.

 A garota sentiu o coração batendo nos ouvidos, mas empurrou aquela ansiedade no fundo da mente antes de responder ao amigo.

- Ela queria que eu voltasse para casa. Me esconder, como sempre, mas não concordei e me mantive firme até ela desistir dessa ideia absurda - contou a princesa - Além de tudo ela é contra minha amizade com a Evie! Ainda acha que ela é tão ruim quando a Rainha Má! - esbravejou incrédula.

- Sinto muito que sua mãe pense dessa maneira sobre a Evie, mas estou muito orgulhoso que tenha a enfrentado - Aziz respondeu sorrindo – Embora eu não deixasse sua mãe te levar.

Bianca se perdeu por alguns segundos naquele sorriso imaginando se a barba dele faria cócegas em seu rosto.

- Eu também estou um pouco orgulhosa - respondeu a garota.

- A Audrey foi até o meu quarto - disse Aziz a pegando de surpresa.

- O que? Quando?

- Quando cheguei ao quarto ela estava lá me esperando completamente transtornada e muito brava comigo. Disse que eu era o culpado por ela perder a coroa e que não ficaria por isso mesmo. Por um breve instante tive pena dela.

- A Audrey estava obcecada pela coroa, Az. Ela podia ter contado a verdade ao Ben assim como você fez. Não é culpa sua o que houve. Ela cavou a própria cova - disse Bianca tocando o braço do rapaz - Ela nunca mereceu você.

Aziz assentiu e a encarou procurando o jeito certo de começar aquela conversa. Mesmo ensaiando em sua mente as várias formas de fazer isso, ele ainda estava totalmente despreparado e morto de medo, então quando eles ficaram em silêncio decidiu que era o momento propício.

- Bia, eu... Precisamos conversar sobre nós.

Os olhos da princesa se arregalaram, mas não foi de surpresa, afinal no fundo ela sabia que teriam que tocar naquele assunto como ele disse que faria.

- Cla-claro - gaguejou ela se recompondo - Eu não quero estragar nossa amizade Az – completou sentindo receio.

- Nem eu - concordou o rapaz pegando as mãos dela com carinho - Porém também não posso mais esconder o que estou sentindo por você. Me deixe falar e depois você decide se ainda quer ser minha amiga - pediu o príncipe.

Bianca engoliu em seco. Ela não queria mais ser só a melhor amiga dele e esperava que ele também não.

- Tudo bem.

Aziz tomou um fôlego antes de começar.

- Eu achava que amava a Audrey de verdade e como você bem disse uma vez. Tinha esperanças de que um dia ela deixasse o Ben para finalmente ficar comigo. Muito idiota da minha parte não enxergar o que ela realmente fazia. Me usar - Aziz riu, mas sem alegria - E aos poucos você foi me mostrando tudo de errado que havia nessa relação até que o encanto que ela tinha sobre mim se quebrou. Então tomei coragem e contei ao Ben sobre nós e obriguei meu coração a expulsá-la. Foi a melhor coisa que fiz, pois comecei a enxergar quem realmente importava. Quem sempre esteve no meu coração e quem era a dona dele. Sempre foi você.

Bianca não conseguiu evitar sorrir ao ouvir aquilo, mas se conteve em ouvi-lo.

- Você sempre esteve comigo, Bia. Me ouvindo falar sobre a Audrey e dando conselhos valiosos, mas estava tão cego que não te via como deveria e toda essa confusão com os vilões me fez descobrir que eu morro de medo de te perder por que você é quem realmente importa para mim. Se fosse você no lugar da Riley eu não saberia o que fazer... Entendo a raiva do Harry e entendo ainda mais o que a Evie fez pela Mal pulando no fogo – confessou o príncipe com os olhos marejados - Gosto de você mais do que como minha melhor amiga e vou entender se não sentir o mesmo por mim, mas preciso dizer... - Aziz parou para procurar as palavras - Eu te amo!

- Az... – Bianca sussurrou sentindo os dedos dele acariciando suas mãos.

- Na verdade acho que sempre te amei, só não sabia e não entendia os sinais ao meu redor. Me sinto tão estúpido! E mesmo correndo o risco de perder sua amizade eu precisava falar o quanto aquele beijo na bochecha mexeu comigo. O quanto tive vontade de agarrar você e te beijar quando vim te buscar para a cerimônia, mas não o fiz. Não queria te assustar nem ultrapassar limites, mas... Não consigo mais guardar isso no meu peito. Eu te amo, anãzinha.

Quando ele acabou Bianca estava chorando e o deixou assustado.

- Me desculpe, me desculpe! Não queria fazer você chorar – ele pediu enxugando as lágrimas dela.

Bianca pensou em milhares de coisas para dizer a ele, mas estava eufórica demais para tentar organizar frases muito elaboradas. A felicidade que sentia ao saber que Aziz compartilhava dos mesmos sentimentos que ela quase não cabia dentro de si e respirando fundo ela soltou o peso que estava segurando há muito tempo.

- Eu também amo você – Bianca respondeu em meio às lágrimas de alegria – Você é o cara mais gentil, educado, fofo e doce que conheço e acho que mesmo que não fosse um príncipe de contos de fadas eu ainda me apaixonaria por você.

Aziz sorriu de orelha a orelha sentindo-se maravilhado com a reação da princesa, por saber que também era amado por ela.

- Fiquei com medo de que se eu me confessasse você não quisesse mais ser meu amigo – disse a menina sorrindo se sentindo uma boba por admitir aquilo em voz alta – E pensasse talvez que eu só queria separar você da Audrey.

- Pensamos muitas besteiras pelo visto – brincou Aziz se aproximando dela.

- Sim – Bianca murmurou vidrada nos olhos dele.

- Eu nunca fui da Audrey.

A princesa não fazia ideia do que iria acontecer depois, mas naquele instante nada importava, ela só queria os lábios de Aziz colados aos seus. Queria matar o desejo que sentia de beijá-lo. Devagar tocou o rosto dele sentindo a barba bem feita e colocou uma mecha do cabelo dele atrás da orelha respirando pesado em antecipação.

- Vamos esquecer essa garota – murmurou Bianca.

Com toda a gentileza do mundo o príncipe a envolveu em seus braços como há muito tempo gostaria de fazer e finalmente a beijou como ele tanto desejava. Ele não queria fazer comparações, mas era impossível não sentir a diferença entre os beijos sem sentimento de Audrey e aquele carregado de amor com que Bianca lhe presenteava. Ela era tão pequena e delicada dentro do abraço do príncipe, mas ele sabia o quanto Bianca podia se agigantar diante de situações adversas. Aziz obrigou sua mente a silenciar e aproveitar cada segundo.

Todas as coisas ruins que aconteceram nos últimos dias com Bianca e seus amigos e que gritavam na mente da menina, simplesmente foram caladas com aquele beijo quente. Se pudesse, a princesa teria gargalhado quando a barba de Aziz fez cócegas em seu rosto, mas por nada ela quebraria a ligação entre eles e as caricias, que mesmo delicadas despertavam sensações nunca sentidas pelo corpo da garota.

 

Jay havia se esgueirado até a sala de esgrima para fugir um pouco da agitação que era Auradon naquela manhã ensolarada. Carlos acordou cedo e foi ajudar na reconstrução e limpeza das casas e dos prédios, mas Jay não o acompanhou. Não conseguiria parar de pensar nas garotas se estivesse no meio de escombros causados por Malévola e seu exercito. Ele foi até o armário onde eram guardados os floretes e pegando um se dirigiu ao centro da sala se posicionando para iniciar um treino solitário que talvez o relaxasse.

Tentando esvaziar a mente o rapaz começou uma sequência de movimentos sutis característicos do esporte, porém Jay sempre adicionava suas acrobacias e saltos que aprendeu na Ilha, o que deixava a esgrima muito mais atrativa para ele. Aos poucos os pensamentos e lembranças sobre o Submundo e Mal e Evie perdidas nele foram dando espaço ao prazer que Jay sentia em poder se mover e atacar tão rápido. Ele estava tão concentrado em não errar as posições que não percebeu quando Lonnie entrou, pegou outro florete e saltou na frente dele o desafiando.

Os dois se encararam sorrindo um para o outro e começaram um pequeno duelo em que Lonnie levou a melhor.

- Você precisa me ensinar esses golpes – disse Jay ofegante sentando-se no chão.

- Um dia quem sabe? – brincou Lonnie largando o florete e sentando na frente dele - Carlos me disse que o encontraria aqui. Está melhor?

- Estou, mas confesso que pensei em roubar o cetro do meu pai e ir atrás das meninas, mas Uma me fez desistir da ideia – confessou o VK.

Lonnie lhe deu um olhar amoroso e assentiu paciente. Ela não iria brigar, mesmo ele merecendo uns bons puxões de orelha só por pensar naquela possibilidade.

- Ainda bem que ela lhe convenceu a não fazer isso – disse a princesa rindo.

- É. A Uma mudou tanto. Você precisava ver como ela era insuportável. Ela até entregou o namoro das meninas para a Malévola – contou Jay lembrando-se dos seus dias na Ilha.

A princesa de olhos puxados não ficou surpresa com aquela informação.

- Eu imagino.

Os dois ficaram em silêncio por alguns minutos até que Lonnie começou.

- Jay?

- Fala.

- A gente tem um lance legal, não é? – questionou ela se aproximando mais.

O sorriso de bad boy se desenhou no rosto do rapaz.

- Sim. A gente combina tão bem – Jay respondeu piscando para ela.

- Concordo e por isso eu queria te perguntar uma coisa – disse Lonnie mordendo o lábio.

- Claro.

- Você quer namorar comigo? – Lonnie perguntou sem rodeios.

Jay arqueou as sobrancelhas surpreso com a pergunta inesperada da princesa. Eles tinham uma conexão legal e estavam se aproximando muito esses últimos meses, ele até estava pensando em pedi-la em namoro depois que tudo se resolvesse com os violões, mas Lonnie era uma garota de atitude e tinha sido mais rápida.

- Tem certeza que quer namorar alguém como eu? – questionou Jay a provocando.

Sorrindo Lonnie cobriu a distância entre eles e o beijou enterrando suas mãos nos longos cabelos dele derrubando a touca no chão. Ela sentou no colo de Jay enquanto o rapaz a segurou pela cintura com firmeza e percorreu suas costas com as mãos.

- Isso responde a sua pergunta? - indagou Lonnie ofegante quando eles interromperam o beijo.

Jay sorria completamente fisgado por ela quando ouviu uma batida na porta. Os dois deram um salto e ficaram de pé em segundos vendo a figura masculina entrando na sala.

- Pai? - Lonnie exclamou arrumando a roupa amarrotada e os cabelos assanhados.

- General, capitão, imperador - gaguejou Jay tentando colocar a touca de volta na cabeça - O que seu pai é? - sussurrou para Lonnie.

A garota riu e deu uma cotovelada nele.

- Me falaram que você estava aqui. Espero não ter atrapalhado nada - disse Shang observando os adolescentes a sua frente.

- Só estávamos praticando - disse Lonnie sorrindo.

Shang sorriu para a filha e cravou os olhos em Jay.

- E você quem é?

Jay encarou os olhos negros do homem alto e robusto que lhe fuzilava sem misericórdia. O rapaz já havia enfrentado muitas coisas na vida e nada lhe dava mais medo do que a mãe de Mal. O pai de Lonnie era fichinha perto dela, ele poderia sobreviver àquilo.

- Sou Jay, senhor. Namorado da sua filha - disse estendendo a mão para Shang.

Lonnie sentiu o coração disparar no peito. Ela queria pular no pescoço de Jay e comemorar o fato do rapaz ter aceitado seu pedido de namoro, mas não faria esse tipo de coisa na frente do pai.

Shang analisou Jay com cuidado e expressão fria e depois do que pareceu ser uma pequena eternidade o homem apertou a mão do rapaz com força.

- Me falaram muito bem sobre você - disse Shang balançando o braço de Jay com violência.

- Falaram? – Jay indagou entre dentes.

- Sim. Você lutou com bravura e coragem ao lado do exército de Auradon. Minha filha não poderia ter escolhido namorado melhor - finalizou Shang soltando a mão do rapaz - Desejo felicidade aos dois.

Jay quase suspirou aliviado por se livrar daquele aperto e tentou sorrir mesmo sentindo a mão esmagada.

- Obrigado senhor - disse ele dando uma olhada para Lonnie.

Jay segurou a mão da princesa e os dois sorriram feito bobos. Shang limpou a garganta chamando a atenção deles e Lonnie disse.

- Já estão indo embora?

- Eu estou indo daqui a pouco. Sua mãe vai ficar por mais alguns dias. Ela quer ficar mais tempo com você e também tem a Ruby e a filha - revelou Shang - Sabe como é a amizade delas.

- Sei sim. Queria que pudesse ficar também - disse a princesa.

- Eu sei. Mas temos responsabilidades e um de nós precisa voltar.

- Tudo bem, pai - disse Lonnie abraçando Shang com carinho.

Jay observou a cena sorrindo e agradecendo por Shang não ser um pai terrivelmente ciumento e querer fazer picadinho dele.

- Até mais meu amor - disse Shang deixando um beijo na testa da filha - Foi um prazer conhecê-lo Jay. Cuide bem da minha filha.

- Igualmente senhor e... - disse Jay passando o braço em volta dos ombros de Lonnie - Embora a Lonnie não precise de ninguém para defendê-la, irei cuidar bem dela.

Shang sorriu concordando.

- Já o apresentou a sua mãe?

- Não.

- Boa sorte meu rapaz - disse Shang indo embora.

- O que ele quis dizer com boa sorte? Sua mãe é muito brava?

Lonnie gargalhou e virou-se para ele arrumando a touca que estava torta em seus cabelos.

- Não precisa se preocupar - ela sussurrou voltando a beijá-lo.

 

Ben estava em seu quarto e se preparava para sair quando passou em frente ao espelho e o brilho de sua coroa lhe chamou a atenção. Ele acompanharia de perto os reparos e consertos pelo reino já que não esteve presente na batalha do dia anterior e ainda se sentia um rei inútil e covarde. Faria de tudo para ajudar os cidadãos de Auradon inclusive colocar as mãos na massa, então talvez fosse melhor deixar o objeto de ouro e joias no castelo. Mais cedo Fada Madrinha bateu em sua porta o tirando da cama para começar os trabalhos de reconstrução. Ela fez questão de levar Sebastian consigo para distraí-lo um pouco, o que era ótimo. O homem precisava ocupar a mente com outras coisas que não fosse Evie.

Batidas na porta tiraram Ben do seu devaneio matinal e ele viu os pais entrando no recinto.

- Se vieram me dar sermão pelo que fiz, podem esquecer - alertou Ben tirando a coroa e a deixando em cima da cama - Não me arrependo.

- Não viemos por esse motivo - disse Bela se aproximando do filho - Embora a rainha Leah e Aurora tenham ficado um pouco chateadas com tudo o que aconteceu e irão levar Audrey do reino.

- Sinto muito por isso, mas eu não amava a Audrey, mãe. Como poderia me casar com ela?

- Poderia ter terminado com ela em particular, não na frente do reino todo - retrucou Adam não escondendo o descontentamento com o rapaz.

- Audrey merecia uma lição pelo que fez. Ela era arrogante, humilhava as pessoas, se achava melhor que todos. Como disse, não me arrependo. Auradon, nem reino algum merece uma rainha com esse caráter - Ben disse com firmeza.

Adam fez menção de replicar, mas Bela o impediu colocando a mão em seu ombro e tomando a frente.

- Sabemos disso. Na verdade viemos pedir desculpas por forçar você a se casar com ela. Nós meio que empurramos essa relação aos dois durante anos e não foi certo. Parte disso é culpa nossa. Você tem direito de escolher com quem quer ficar.

- Sua mãe tem razão – disse Adam parecendo mais calmo – Nos perdoe filho. Você é muito novo. Não precisa noivar ou casar agora. Tem a vida toda pela frente.

- Obrigado por entenderem. Sei que o que fiz não foi atitude digna de um rei, mas eu também sou só um adolescente e adolescentes cometem erros.

Os três riram e Adam e Bela abraçaram o filho com afago.

- Eu amo vocês – disse o rei protegido pelos braços dos pais – Mas agora se me dão licença, tenho muito que fazer na cidade.

- Nós também iremos ajudar – revelou Adam pegando Bela pela mão.

- Quanto mais ajuda melhor – brincou Ben e os três deixaram o quarto em direção à cidade.

 

Reino dos Mortos

Horas antes da Ascensão de Mal

Sentado despreocupado em uma rocha arredondada Baudeir aguardava pacientemente que Evie terminasse seu banho na fonte de água calma e morna, quando a menina fez mais uma de suas perguntas.

- Baudeir?

- Sim.

- Acha mesmo que podemos derrotar Hades? Ele era um Deus - a voz da garota saiu um pouco sem confiança.

- Hades sem seus poderes é só um inútil, mas se aceita meu conselho. Deviam jogá-lo no Flegetonte.

- O rio de fogo que cerca o Tártaro? - indagou Evie parecendo assustada.

Baudeir riu da menina e continuou.

- Isso. Fogo, lava e sangue. O Submundo tem cinco rios, dois campos e o Tártaro. Talvez seja o Flegetonte o melhor lugar para aprisionar Hades. Por toda a margem do rio há inúmeros centauros arqueiros que não deixam as almas saírem dele. Os centauros também não gostam de Hades. A maioria deles, pelo menos.

O demônio ouviu um barulho nas águas e imaginou que ela estava saindo da fonte.

- Como vocês se viraram esse tempo sem o Hades? - ela perguntou curiosa.

- Temos um sistema sólido aqui. As Parcas cortam os fios da vida, Tânatos, a morte, reivindica as almas, Hermes as conduz para o cais onde Caronte as leva para o Tribunal em que os três juízos as julgam e decidem suas sentenças. Não precisamos de Hades - contou Baudeir categoricamente.

- Então também não precisam da Mal - apontou Evie surgindo ao lado dele fechando sua jaqueta.

Baudeir a encarou e sorriu.

- Não – admitiu o demônio.

- Só vai nos ajudar por que sabe que não ficaremos aqui - completou Evie o vendo ficar de pé.

- Sei que se ficasse, a soberana não seria igual ao pai. Mas também sei que ela tem uma vida fora daqui.

- Alguém teria que mostrar o caminho do rio para a Mal – disse Evie ignorando o comentário anterior dele.

- Pânico e Agonia estarão de prontidão – disse Baudeir.

Evie assentiu e não perguntou mais nada. Os dois voltaram para a prisão em total silêncio.

 

Ascensão

Baudeir ouviu o estrondo vindo das cavernas do Submundo e em seguida um vento forte soprou assanhando seus cabelos e assustando a maioria dos demônios presentes. Uma forte luz azul viajou pelo ar e se chocou com fúria contra o redemoinho de fogo que girava sem parar e ficava ainda maior a cada minuto.

- O que raios está acontecendo? – esbravejou Hades desistindo de correr atrás de Pânico e Agonia e se concentrando no redemoinho.

O turbilhão de fogo azul se agitou com aquela luz e emitiu um som como um rugido de uma besta raivosa pronta para atacar. Baudeir tinha que admitir que apesar de linda, aquela cena lhe dava um medo incomum.

Todos ficaram em silêncio e de olhos bem abertos esperando o que sairia de dentro do fogo e quando o redemoinho cessou, metade dos demônios caiu de joelhos perante as duas imponentes figuras de pé diante deles.

 

- Está pronta para acabar com seu pai? – perguntou Evie sorrindo para Mal.

O sorriso malicioso de sua rainha foi resposta suficiente para ela.

- Lembra-se do que Baudeir disse? – questionou a menina de cabelos azuis.

- Sim. Pânico e Agonia vão me guiar para fora do Palácio de Hades até o rio de fogo – Mal respondeu sentindo o peso da espada em sua mão.

- Só precisa jogá-lo no Flegetonte e voltar para cá – disse Evie como se fosse uma tarefa simples.

Mal assentiu e as duas encostaram suas cabeças fechando os olhos e respirando fundo.

- Se precisar de mim... – disse Evie se afastando para encarar os olhos verdes da menina e acariciar seu rosto – É só mandar uma brisa. Encontrarei você onde quer que esteja, ok?

- Obrigada – Mal respondeu confiante.

- Te amo – as duas sussurraram ao mesmo tempo e riram se beijando com vontade em uma despedida temporária, então o redemoinho de fogo se desfez revelando Hades perplexo e Baudeir rindo para elas maravilhado com as asas, os chifres e principalmente a coroa flamejante da soberana.

Mal viu quando metade dos demônios se ajoelhou diante delas deixando seu pai enfurecido a ponto de tentar arrancar os cabelos da cabeça.

- Vocês me enganaram! – esbravejou o homem com alguns fios de cabelos entre os dedos – Roubaram minha brasa! – berrou apontando para o objeto pendurado no pescoço de Mal – Irão pagar por isso! Pegue-as!

Os demônios que não estavam de joelhos sacaram suas armas que iam de espadas velhas a machados e dispararam na direção das garotas, mas antes que eles conseguissem sair do lugar os outros demônios se ergueram do chão e os impediram.

As meninas trocaram olhares com Baudeir e sorriram em agradecimento. Ele tinha conseguido convencer alguns demônios a lutar do lado delas.

- Te vejo daqui a pouco – disse Evie com sua voz rouca.

- Tome cuidado, por favor – pediu Mal segurando a mão dela.

Evie lhe deu uma piscadela antes de sacar a espada presa naquela armadura estranha e saltar no meio da horda que se atacava.

- Mas o que? – Hades gritou vendo seus servos divididos e lutando entre si.

Baudeir fez um leve sinal com a cabeça apontando a direção que Mal devia seguir e se juntou a Evie em meio aos demônios.

- Ei pai! – Mal exclamou chamando a atenção do irritado ex-Deus – Quer sua brasa de volta? Vem pegar! – finalizou a menina usando magia para mudar sua roupa.

O vestido que usava era lindo, mas atrapalharia seus movimentos e ela precisaria de toda a vantagem que pudesse conseguir naquela situação. Hades saltou para cima dela com violência, porém Mal se desvencilhou da investida e saiu pela lateral do altar procurando os demônios coloridos que deveriam guiá-la para fora do Palácio. Seu pai berrava todo tipo de coisa ensandecido atrás dela enquanto corria pelo lugar. O brilho das asas de Mal iluminava tudo por onde passava. Ela virou a direita em uma encruzilhada e deu de cara com Pânico e Agonia saindo de buracos das rochas e quase os derrubando.

- Rapazes! - disse Mal aliviada por encontrá-los - Me mostrem o caminho para o rio.

Os dois demônios estavam de boca aberta encarando as asas e a coroa queimando na cabeça de Mal e não se moveram.

- Agora! - ela berrou nervosa ouvindo os passos de Hades cada vez mais próximos.

- Por aqui soberana! - exclamou Pânico piscando saindo do transe em que ele estava preso.

Mal não se ateve a decorar o caminho para sua possível volta, ela só queria sair o mais rápido possível da casa de Hades e dar um fim naquela loucura toda, era a última parte do plano deles, então seguiu os demônios sem questionar nada. Eles subiram e desceram degraus, se enfiaram por passagens estreitas, apertadas e largas e depois de passarem por uma porta em forma de arco estavam finalmente fora do Palácio.

A visão de Mal foi preenchida por uma paisagem mais sombria e tenebrosa do que qualquer coisa que já tenha visto em toda sua vida. Havia um céu ali e ele era vermelho alaranjado como fogo apesar de encoberto por nuvens negras e carregadas. O cheiro ruim e os gritos se propagavam pelo ar pesado. As pedras pelo terreno eram disformes de todos os tipos e tamanhos. Mal observou que no céu voavam algumas aves que ela imaginou serem abutres ou algo semelhante. Elas rodopiavam por cima de uma grande muralha a quilômetros de distancia e vez ou outra mergulhavam sumindo atrás do muro.

Ela viu a sua direita uma construção imponente com uma grande abóbada central e duas torres laterais que lembrava o museu de Auradon, porém estava caindo aos pedaços e havia uma enorme fila de almas caminhando para dentro dela e outra saindo e se dispersando pelos inúmeros caminhos adjacentes.

- O que é aquele lugar? – perguntou ela enquanto corria na direção da muralha e dos abutres a frente.

- O Tribunal das Almas, soberana – respondeu Agonia já ficando cansado de correr – É para lá que as almas vão para serem julgadas.

- Os três juízes nunca saem de lá – completou Pânico.

- Poderíamos ir voando - sugeriu Agonia ainda em êxtase pelas asas da menina.

- Não seria uma má ideia, mas seríamos alvos fáceis no ar - constatou Mal seguindo seus ajudantes.

Por alguma razão Mal tentou enxergar a alma da mãe no meio daquelas tantas, mas não a viu e balançando a cabeça se repreendendo continuou seu trajeto. Quanto mais se aproximavam da muralha mais o céu parecia vermelho e logo Mal descobriu que não era à toa. O rio de fogo corria cercando o que Pânico havia dito serem os muros do Tártato, o lugar para onde as almas dos humanos injustos, cruéis e maldosos passavam a eternidade sendo castigadas.

Será que Mal iria ser condenada ao Tártaro por destruir os pais? E Evie por dar um fim a Rainha Má?

Mal afastou esse pensamento tão rápido quanto ele havia brotado em sua mente.

- Por que estão fugindo? – Hades gritou atrás deles.

O vilão apanhou uma velha espada caída no chão e a levou consigo, a usaria para recuperar sua brasa custasse o que custasse.

Quando estavam próximos a margem do rio eles avistaram os centauros arqueiros disparando suas flechas contra as almas que tentavam sair da lava incandescente. Mal nunca tinha visto criaturas como aquelas de perto. Ela era um dragão e não devia se surpreender com essas coisas, mas era impossível não encarar os homens metade cavalos que guardavam o Flegetonte. Os centauros ficaram bastante curiosos ao vê-los ali especialmente Mal com sua coroa nada discreta.

Os três pararam e viram Hades se aproximar já atacando Mal, a garota bateu asas e saiu do chão encarando o pai com Pânico e Agonia ao seu lado. As asas deles eram tão pequenas que Mal se perguntou por quanto tempo eles poderiam ficar no ar.

- Eu devia ter desconfiado antes! Você e sua namoradinha me enganaram! Me passaram a perna junto com esses dois vermes! – exclamou Hades apontando o dedo para os demônios coloridos.

- A Evie é minha esposa - retrucou Mal erguendo o dedo tatuado com o anel - Não foi o casamento dos nossos sonhos, mas tenho que agradecer a você por isso.

Hades gritou enfurecido perdendo o resto da paciência com a filha.

- E quer mesmo falar sobre enganação e trapaça? - debochou Mal ainda do alto - Você me enganou primeiro com aquele feitiço que supostamente selaria meus poderes quando na verdade só queria deixá-los sob controle para poder roubá-los futuramente.

Hades revirou os olhos segurando o cabo da espada com força.

- Como descobriu essas coisas? – perguntou ele já imaginando a resposta. Seus ajudantes imprestáveis e fofoqueiros tinham falado demais como sempre.

- Isso não interessa.

- Desça até aqui e vamos resolver isso - exigiu Hades apontando para o chão - Me devolva a brasa e deixo vocês irem embora.

- Até parece que agora precisamos de você para ir embora - Mal provocou.

Ela estava adiando o embate contra o pai enquanto estudava o terreno as margens do Flegetonte e pensava como o jogaria lá dentro. Talvez o pegasse pelos braços e simplesmente o soltasse no meio do rio, mas se houvesse centauros do lado de Hades eles poderiam flechá-la e derrubá-la no fogo também. Não se arriscaria.

- Eu já derrotei uma bruxa e um dragão. Não deve ser tão difícil acabar com um ex-Deus - Mal murmurou para si mesma descendo devagar.

Pânico e Agonia trocaram olhares e seguiram sua soberana. Assim que colocaram os pés no chão foram recebidos por uma saraivada de flechas disparadas por alguns dos centauros do outro lado da margem do rio. Rapidamente ela se agachou, abraçou os dois e protegeu seus corpos com suas grandes asas como um casulo. Como havia imaginado muitos deles ainda eram fieis ao pai e o defenderiam contra ela.

Mal fechou os olhos sentindo os dois demônios agarrados a ela tremendo de medo. Ela manteve os braços em volta deles e esperou pela dor, mas nada aconteceu. As flechas que entravam em contato com suas asas eram consumidas pelo fogo delas e desapareciam.

- Ainda estamos inteiros? – perguntou Pânico soltando Mal e passando as mãos pelo corpo.

- Sem nenhum buraquinho – completou Agonia rindo aliviado.

Mal riu para os dois e antes de abrir as asas lhes fez um pedido.

- Quero que se escondam até isso acabar, ok?

- Se esconder é nossa especialidade – zombou Pânico sorrindo – Boa sorte soberana.

- Obrigada, rapazes.

Os três se abraçaram rapidamente e Mal se ergueu devagar abrindo as asas de modo que eles ficassem escondidos enquanto fugiam. Hades não pareceu se importar com a fuga dos seus mini-capangas, sua ira e atenção estava toda concentrada em Mal e no colar no pescoço dela. Os dois se encararam e uma tensão cresceu entre eles, Mal percebeu os centauros cercando-os com seus cascos ruidosos e seus arcos prontos para disparar de novo.

- Fiquem fora disso! – ela praticamente rugiu para as criaturas os fazendo parar – Larguem esses arcos inúteis!

- Não obedecemos a você, criança – respondeu um dos centauros de cabelos encaracolados, peito nu e de aljava de couro nas costas.

Mal ouviu uma risada de Hades e ela própria começou a sorrir.

- Isso é uma pena – disse a menina ainda sorrindo e de repente o centauro foi devorado por uma chama azul que nasceu do chão o transformando em cinzas em questão de segundos – Alguém mais quer se rebelar?

As criaturas ficaram assustadas e deram passos para trás abaixando suas armas.

- Melhor assim.

- Golpe baixo – comentou Hades a observando com cuidado e fazendo movimentos com a espada velha que pegou pelo caminho.

- Aprendi com os piores pais que alguém poderia ter – retrucou a soberana.

Hades gargalhou sentindo a ironia da filha.

- Quanta magoa dos seus velhos.

- Você tinha tudo planejado antes de ir para a Ilha, não é mesmo? – indagou Mal puxando a espada da bainha presa na cintura – Encontrar uma idiota e ter um descendente, pegar a brasa e voltar para seu reino.

Cada passo que ela dava era calculado, afinal Hades poderia está sem os poderes, mas ali ainda era o território dele.

- Um bom líder é sempre precavido, Mal – respondeu Hades investindo contra ela.

- Não parece o seu caso – disse Mal se defendendo com facilidade.

- Eu só precisava de um filho e da brasa! Foi isso que as Parcas disseram! Por que tinha que ser tão difícil?

- Elas disseram também que esse filho chutaria sua bunda? – provocou a menina atacando Hades e abrindo um rasgo em sua túnica.

Hades riu se distraindo então Mal o agarrou e tentou derrubá-lo com uma rasteira, mas sem sucesso. Ele tinha quase o triplo do seu tamanho.

- Posso não ter meu poderes no momento, mas ainda tenho o corpo de um Deus, pirralha e você é só metade Hades – disse o homem com deboche quase alcançando a brasa no colar dela.

- Tem razão, mas também sou metade Malévola! – exclamou Mal abrindo as asas em um movimento rápido jogando fogo em cima dele e o afastando antes que pudesse tocar a pedra.

- Ai! Mas que droga! – berrou Hades vendo sua túnica incendiar, sentindo o calor na pele e batendo a mão para apagar o fogo – Como você pode me queimar?

- Talvez por que você me uniu a filha de uma poderosa bruxa em um ritual maluco? – disse Mal o afrontando, mas no fundo estava tão surpresa quanto ele.

Hades deu passos para trás se aproximando da margem, ele estava distraído apagando as chamas da sua roupa para não se queimar, seria a oportunidade perfeita de jogá-lo do Flegetonte. Mal teria que agir rápido, não precisaria usar magia. Ela ainda estava se acostumando a se mover com as asas que atrapalhavam um pouco, então largou a espada e avançou sobre o pai. Como se soubesse dos planos de Mal Hades agarrou os braços da menina e a girou a jogando de costas no chão com violência. A garota arfou com a dor e sentiu o calor emanado do rio. Hades estava a segurando na beirada contra a lava fervente e Mal viu seus fios de cabelo quase tocarem o fogo.

- Você se acha muito esperta, mas é só uma garotinha que não sabe usar os poderes que tem! Eles são meus! – Hades berrou a empurrando contra a lava – Acha que uma coroa faz de você rainha de algo sua estúpida?

Mal não respondeu, ela usou sua força para libertar um dos braços e puxar a brasa do colar e arremessá-la no rio.

- Não! – Hades esbravejou vendo sua preciosa pedra afundar no meio do fogo.

Hades colocou as mãos em volta do pescoço de Mal a sufocando com ódio e a empurrando cada vez mais para perto da lava mesmo ela resistindo muito bem.

- Tem ideia do que você fez?

- Tenho – Mal sussurrou entre dentes segurando-o pela túnica, apoiando os pés no abdômen dele e usando as asas como impulso para girar no ar e o arremessar dentro do rio.

Hades caiu no fogo e começou a gritar quando as almas o cercaram. Ele tentou nadar a procurar da sua brava, mas não saia do lugar, começava a sentir o fogo lhe queimar.

- Parece que é você quem vai passar a eternidade tentando recuperar sua brasa – zombou Mal lembrando-se do pai ameaçando despedaçar a alma de Evie.

- Arrancarei esse sorriso da sua cara quando eu sair daqui!

- Boa sorte com isso – disse Mal fechando os olhos - O Deus caiu por sua brasa. Que a prisão de fogo seja sua eterna casa.

Ao recitar as palavras do pequeno feitiço, Mal e os centauros viram quando a lava se agitou remexendo e ganhou forma de longos braços se erguendo para o alto e abraçando Hades o levando para as profundezas daquele rio de fogo ao som de seus gritos e então tudo se acalmou. As almas voltaram a boiar e tentar sair do rio, mas os centauros estavam estáticos olhando para Mal que ofegante encarava o lugar onde seu pai havia sumido. Ela não podia confiar totalmente centauros por isso fez o feitiço para aprisionar o ex- Deus.

Pânico e Agonia voltaram correndo para perto dela e chamaram sua atenção saltando ao seu lado comemorando. Mal deu um passo para o lado e caminhou até as criaturas metade homem metade cavalo.

- Se algum dia ele retornar a superfície e um de vocês deixá-lo sair, voltarei aqui e os castigarei pessoalmente e será o sangue de vocês misturado a lava – disse Mal com uma pose ameaçadora de queixo erguido e brilhantes olhos verdes.

- Não o deixaremos sair, soberana – disse um dos centauros e os demais assentiram concordando quase sem encará-la nos olhos.

Dando uma última olhada para o rio, Mal virou-se para seus ajudantes que a esperavam mais a frente e se dirigiu até ele.

- Vamos embora – ela disse sorrindo.

- Soberana por que jogou a brasa no fogo? – questionou Pânico curioso.

- Quando se trata de magia nem tudo é o que parece – disse Mal movendo a mão e fazendo a brasa surgir brilhante e intacta.

- A brasa! – gritou Agonia surpreso – Como?

- Acha mesmo que eu a jogaria fora? – brincou Mal e eles riram fazendo o caminho de volta para o Palácio.

 

Evie deixou Mal lhe dando com o pai e saltou para o meio da horda de demônios abaixo delas que se atracavam e gritavam uns com os outros fazendo um enorme alvoroço. Ela sabia que Mal conseguiria acabar com Hades, mesmo assim ficaria em alerta total para o menor sinal de pedido de ajuda da menina. Ela nem sabia quem estava do lado de quem na bagunça que tudo virou até que Baudeir apareceu ao seu lado lhe mostrando o rumo a tomar.

- Devo comentar que sua coroa é digna de uma rainha – disse ele usando sua lança para derrubar um demônio agitado.

- Obrigada – Evie respondeu sorrindo ponderando se usaria magia para parar todos ali ou se a pouparia caso Mal precisasse de ajuda – São muitos!

- Só precisamos distraí-los até a soberana voltar e colocar ordem.

- Acha que vão obedecê-la? Estão enfurecidos!

- Eles não têm outra escolha – disse Baudeir.

Evie concluiu que não precisaria usar magia para conter os demônios, ela apenas esperou pela volta de Mal os mantendo ocupados o bastante para não irem atrás dela e de Hades. Felizmente a espera não demorou muito e um tempo depois todos viram quando Mal pousou no centro da confusão com suas enormes asas abertas os fazendo se afastar e parar instantaneamente. Evie não escondeu o sorriso ao vê-la aparentemente bem com seus dois ajudantes ao seu lado.

- Basta! – ela gritou para a multidão.

- Não reconhecemos você como soberana! – gritou um demônio com o rosto repleto de espinhos de ferro.

Mal correu o olhar por todos e se demorou em Evie.

- Você é só uma criança! – exclamou outro e Evie o reconheceu como o que a jogou na prisão quando ela chegou ao Submundo.

Os demônios se agitaram de novo deixando Mal irritada.

- Eu disse que basta! – ela esbravejou batendo as asas e quase os derrubando com uma lufada de vento.

Fez-se silêncio de novo e ela continuou com expressão séria.

- Não preciso da aprovação de nenhum de vocês! Sou herdeira de Hades e este reino é meu! Ele não vai voltar nunca mais – disse Mal olhando para Evie de novo - E apesar daquele trono ser meu por direito – continuou a menina apontando na direção do acento feito de caveiras e ferro – Não o ocuparei. Não agora.

Evie sentiu orgulho da coragem de Mal para enfrentar a horda a sua frente. Os demônios se olharam confusos com a declaração da menina.

- Tudo vai continuar como estava antes de Hades voltar. As Parcas, os julgamentos, os castigos, tudo! Então parem com essa briga idiota por que não há lados para escolher! Somos todos do Submundo e vamos zelar por manter a ordem.

Mal se dirigiu para Baudeir e Evie que estavam mais a sua esquerda e parou na frente deles.

- Baudeir será meus olhos e ouvidos a partir de agora e terá permissão para ir ao mundo dos vivos sempre que precisar de mim, por que eu não darei as costas a Morada dos Mortos.

O demônio sorriu para ela e lhe fez uma reverência.

- Como quiser, soberana.

- Ótimo. O resto de vocês dê o fora daqui! O show acabou! – ordenou Mal já sem paciência e esperando soar como uma regente.

Ainda meio relutantes por estarem recebendo ordens de uma adolescente os demônios demoraram a começar se mover.

- Agora! Vão! – Mal gritou com eles e só então eles se mexeram – Fui muito dura? Precisava mostrar quem manda agora – sussurrou para seus amigos.

Evie jogou os braços em volta dela e a beijou.

- Sabia que conseguiria. Você está bem? – disse a menina de cabelos azuis pouco se importando com os demônios que ainda estavam saindo.

- Sim. Está tudo bem – Mal respondeu passando o braço em volta da cintura dela – Só quero ir para casa e ver os garotos.

- Eu também – Evie disse em acordo entendendo que elas não conversariam sobre Hades ali.

- Obrigado, soberana – disse Baudeir feliz – Farei o meu melhor.

- Sei que fará. Bom... Acho que vou ter que voltar para casa com isso – disse Mal apontando para os chifres em sua cabeça – Não faço ideia de como escondê-los.

- Eu faço – disse Morrigan se aproximando do pequeno grupo.

Pânico e Agonia deram passagem para a velha e a observaram com atenção.

- Eles fazem parte do que você é. Como se fossem uma extensão sua – disse a velha com sabedoria – Só precisa querer que eles sumam, mas saiba que sempre que precisar eles estarão dentro de você.

- Tente soberana – disse Agonia ansioso.

- Tudo bem – disse Mal fechando os olhos para se concentrar. Ela tentou limpar a mente, mas a imagem de Hades furioso a sufocando povoava sua mente a atrapalhando – Não consigo!

Com toda calma que só ela tinha, Evie estendeu a mão para sua rainha com um sorriso doce nos lábios. Mal não a questionou, apenas aceitou vendo Evie colocar sua outra mão por cima e fechar os olhos. Ela fez o mesmo e de olhos fechados sentiu a serenidade da sua conserte tomar conta de si e lhe acalmar afastando qualquer pensamento ou sentimento ruim que havia em seu ser.

Baudeir viu quando os símbolos da armadura que Evie usava começaram a brilhar de forma singela no mesmo tom de azul que as asas e os chifres de Mal e então eles sumiram lentamente junto com as coroas das duas. Quando elas abriram os olhos Mal estava normal de novo. A menina pulou no pescoço de Evie e a abraçou forte.

- O que eu faria sem você? - Mal exclamou feliz.

Evie gargalhou e se olhou sentindo falta do peso da armadura, tudo havia sumido. A única coisa que restou foi a brasa pendurada no colar que Mal usava.

- Podemos finalmente ir embora – disse Evie sentindo os olhos queimarem emocionada por tudo ter dado certo.

- Sim – Mal respondeu olhando para todos os cantos daquele lugar – Bom... Foi bom conhecer vocês.

- Tenham um bom retorno, soberanas. Até breve – disse Morrigan se afastando.

- Nos vemos em breve então – disse Baudeir sorrindo.

- Obrigada por nos ajudar – pediu Mal ao seu servo pessoal.

- Foi uma honra.

Evie abriu a boca para agradecer ao demônio quando todos ouviram Pânico e Agonia chorando.

- Ei rapazes. Não chorem – disse Mal se agachando na altura deles.

- Vamos sentir sua falta – admitiu Pânico enxugando o nariz.

- Nós também – disse Evie se agachando ao lado de Mal.

- Evie?

- Sim?

- Queria que houvesse um modo de levá-los com a gente – disse Mal surpreendendo os quatro.

Evie encarou os demônios chorões com olhos cheios de lágrimas e esperança e pensou em algo para responder. Aquilo era loucura, eles eram demônios e pertenciam ao Submundo, mas talvez tivesse um jeito.

- Bem... Nós podemos mudar a aparência deles – sugeriu por fim.

Mal sorriu adorando a ideia.

- O que me dizem rapazes? Estão prontos para viver entre os humanos?

- Nós poderemos tomar sorvete? – perguntou Agonia.

- Claro – Evie disse dando de ombros.

Os demônios as abraçaram quase as derrubando e gargalharam de felicidade.

- Nós estamos prontos! – exclamou Pânico quase não contendo a alegria de sair daquele lugar.

- Ben vai nos matar – Mal sussurrou para Evie fazendo a menina rir.

- Daremos um jeito – Evie respondeu se erguendo do chão.

Os quatro deram as mãos e sorriram para Baudeir em despedida.

- De volta para Auradon – disse Mal em uma ordem que ela esperava ser entendida pela brasa e por sua magia.

Então o pequeno redemoinho de fogo azul os envolveu e os fez desaparecer.



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