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História A Busca Pelos Imunes - Um Fio de Esperança


Escrita por: nasamilly

Capítulo 1 - Um Fio de Esperança


Helena abriu os olhos e sentiu uma dor lancinante na cabeça. Ela estava deitada em uma cama desconhecida, em um quarto escuro e sujo. Ela tentou se lembrar do que tinha acontecido, mas sua memória estava confusa. Ela se lembrou de estar no hospital, trabalhando como médica, atendendo os feridos da guerra que assolava o país. Ela se lembrou de ouvir uma explosão e de sentir um impacto forte no peito. Depois disso, tudo ficou escuro.

Ela se sentou na cama e olhou em volta. Havia uma janela pequena e suja, por onde entrava uma luz fraca. Ela viu algumas roupas rasgadas e sujas penduradas em um cabide, um espelho rachado na parede e uma bacia com água suja no chão. Ela não reconheceu nada daquele lugar. Ela se levantou e foi até a janela. Ela olhou para fora e sentiu um choque.

Ela viu uma cidade em ruínas, cercada por muralhas altas e grossas. Ela viu casas queimadas, ruas cheias de entulho e cadáveres, pessoas famintas e feridas vagando sem rumo. Ela viu fumaça negra subindo ao céu e ouviu o som distante de gritos e tilintar de espadas. Ela não podia acreditar no que estava vendo. Aquela não era a sua cidade, nem o seu tempo.

Ela se afastou da janela e correu até o espelho. Ela olhou para o seu reflexo e sentiu outro choque. Ela não se reconheceu. Ela viu uma mulher linda, com longos cabelos loiros, olhos azuis e lábios vermelhos. Ela viu uma mulher com traços delicados e perfeitos, com uma pele clara e macia, sem nenhuma cicatriz ou marca. Ela viu uma mulher com um vestido branco simples, mas elegante, que realçava suas curvas e sua beleza.

Ela tocou o seu rosto e sentiu que era real. Ela não entendia como aquilo era possível. Ela não era aquela mulher. Ela era Sara, uma médica morena, de olhos castanhos e cabelos curtos. Ela era Sara, uma mulher inteligente, corajosa e independente. Ela era Sara, uma mulher que tinha um marido, um filho e uma vida.

Ela ouviu alguém bater na porta e se assustou. Ela se virou e viu um homem entrando no quarto. Ele era alto e forte, com cabelos negros e barba por fazer. Ele usava uma armadura de metal, uma espada na cintura e um escudo nas costas. Ele tinha um olhar sério e autoritário, mas também curioso e admirado.

Ele se aproximou dela e disse:

- Olá, minha bela Helena. Eu sou Menelau, o rei de Esparta. Eu vim te buscar para te levar ao meu palácio.

Ele estendeu a mão para ela e sorriu.

- Não tenha medo, minha querida. Eu sou o seu marido.

Helena ficou paralisada, sem saber o que fazer ou dizer. Ela não podia acreditar que aquele homem era o seu marido. Ela não o conhecia, nem o amava. Ela queria voltar para o seu tempo, para o seu corpo, para a sua vida.

Ela olhou para ele com medo e confusão. Ela tentou falar, mas não saiu nenhuma palavra. Ela sentiu uma vontade de chorar, mas se conteve. Ela sabia que tinha que ser forte e inteligente. Ela sabia que tinha que encontrar uma forma de escapar daquela situação.

Menelau percebeu a hesitação dela e se aproximou mais. Ele pegou a mão dela e a levou até os lábios. Ele beijou a mão dela com suavidade e disse:

- Não se preocupe, minha linda Helena. Eu sei que você está assustada e confusa. Eu sei que você não se lembra de mim, nem do nosso amor. Mas eu vou te ajudar a recuperar a sua memória. Eu vou te mostrar como eu te amo e como você me ama.

Ele puxou a mão dela e a levou até a porta. Ele abriu a porta e disse:

- Venha comigo, minha rainha. Eu vou te levar ao meu palácio, onde você vai ter todo o conforto e segurança que merece. Eu vou te proteger de todos os perigos e inimigos que querem te roubar de mim.

Ele saiu do quarto e esperou que ela o seguisse. Ele olhou para ela com um sorriso confiante e carinhoso.

Helena sentiu um arrepio na espinha. Ela não queria ir com ele, mas também não sabia como recusar. Ela pensou em fugir, mas não sabia para onde ir. Ela pensou em gritar, mas não sabia se alguém iria ouvir.

Ela olhou para ele com dúvida e angústia. Ela se perguntou o que ele faria com ela, se seria gentil ou cruel, como agiria.

Ela respirou fundo e tomou uma decisão.

Ela foi com ele, mas ficou receosa. Ela não tinha outra escolha, a não ser segui-lo. Ela esperava que ele fosse sincero e bondoso, mas ela não tinha certeza. Ela tinha medo do que ele poderia fazer com ela, se ele descobrisse a verdade.

Eles saíram do quarto e entraram em um corredor escuro e estreito. Eles passaram por vários guardas armados, que se curvaram diante de Menelau e olharam para Helena com admiração e inveja. Eles chegaram até um pátio aberto, onde havia um cavalo branco esperando por eles.

Menelau ajudou Helena a montar no cavalo e subiu atrás dela. Ele envolveu os braços em volta dela e segurou as rédeas. Ele saiu do pátio em direção à saída da cidade.

Helena se perguntou quem era aquele homem, que dizia ser o seu marido. Ela se perguntou como era a sua vida com ele, antes de perder a memória. Ela se perguntou se ele era um bom rei, um bom guerreiro.

Ela olhou para o rosto dele e viu que ele estava sorrindo. Ele parecia feliz e orgulhoso. Ele parecia amá-la de verdade. Ele disse:

- Estamos quase chegando, minha bela Helena. Logo você vai ver o meu palácio, o seu lar. É o lugar mais bonito e seguro de toda a Grécia. Lá você vai ter tudo o que quiser e precisar. Lá você vai ser feliz comigo.

Ele sorriu alegremente para ela.

Helena não sabia se queria ver o palácio dele, se queria viver com ele, se queria ser feliz com ele.

Ela pensou em Sara, a médica que ela era. Pensou em como “Sara” estava, onde estava, o que estava fazendo, já que agora era Helena.

Ela pensou em como voltar para o seu tempo, para o seu corpo, para a sua vida.

Ela pensou em como escapar daquele homem, daquele mundo, daquele destino.

Ela...

Eu fecho o livro e suspiro. Eu adoro essa história, mas sei que é apenas uma fantasia. Eu nunca vou viver um amor como o de Helena e Menelau, nem viajar no tempo como Sara. Eu estou presa nessa cidade, nessa vida, nessa doença.

Eu me chamo Lara e tenho 21 anos. Eu sou uma das poucas sobreviventes de uma epidemia que matou todos os adultos acima de 22 anos. Eu vivo em uma zona de quarentena, isolada do resto do mundo, sem esperança de cura ou salvação.

A doença se chama “Necrotic Insomnia”, e é uma doença que impede as pessoas de dormir. Ela causa uma insônia crônica e progressiva, que leva à deterioração física e mental. Ela causa alucinações, paranoia, agressividade e perda de memória. Ela causa necrose dos tecidos, que resulta em feridas abertas e infecções. Ela causa a morte em poucas semanas para quem tem mais de 30 anos, e mata de imediato após a meia noite do dia anterior ao aniversário da pessoa que irá completar 22 anos.

Necrotic Insomnia é uma doença que afeta apenas os adultos acima de 22 anos. Não se sabe como ela é transmitida, mas ela é incurável. Ela é a maior causa de morte no mundo, desde que surgiu há dez anos.

Eu olho para o relógio e vejo que faltam poucos minutos para a meia-noite. Eu sinto um frio na barriga. Eu sei que essa é a a minha última noite. Eu sei que quando o relógio marcar 00:00, eu vou morrer.

Eu me levanto da cama e vou até a janela. Eu olho para a cidade em ruínas, iluminada pela lua cheia. Eu vejo as ruas vazias, as casas abandonadas, os carros enferrujados. Eu vejo os muros altos e eletrificados que cercam a zona de quarentena, impedindo qualquer entrada ou saída.

Eu penso em tudo o que perdi: meus pais, meus amigos, meus sonhos. Eu penso em tudo o que nunca fiz: viajar, estudar, me apaixonar. Eu penso em tudo o que nunca vou fazer: casar, ter filhos, envelhecer.

Eu sinto uma lágrima escorrer pelo meu rosto e limpo com a mão. Eu não quero morrer chorando. Eu quero morrer sorrindo. Eu quero morrer feliz.

Eu pego o livro e o abraço contra meu peito. Eu sorrio e digo:

- Obrigada por me fazer sonhar.

Eu volto para a cama e me deito. Eu fecho os olhos e tento dormir. Eu tento imaginar que estou em outro lugar, em outra época, em outra vida.

Eu tento imaginar que era Helena.

Mas eu não consigo dormir. Então fico acordada, ouvindo os sons da noite. Eu ouço o vento uivando, os cães latindo, os ratos roendo. Eu ouço o tic-tac do relógio, cada vez mais perto da meia-noite.

Eu sinto um aperto no peito, uma falta de ar, uma dor no coração. Eu sei que é a doença se manifestando, se preparando para me matar.

Eu quero gritar, pedir ajuda, implorar por um milagre.

Mas não faço nada disso.

Eu apenas pego o livro novamente e o abro na última página.

E leio as últimas palavras da história:

“E assim eles viveram felizes para sempre.”

Eu sorrio e fecho o livro. Eu penso que essa é uma bela forma de terminar uma história, mas que não é a minha história. Eu sei que a minha história não terá um final feliz, nem um final.

Eu olho para o relógio novamente, e vejo que faltam poucos segundos para a meia-noite. Eu sinto o meu coração bater mais forte, a respiração ficar mais difícil, a visão ficar mais turva. Eu sei que era o fim.

Eu fecho os olhos e espero pela morte.

Mas... Afinal, eu morri? Não.

Eu sinto uma cutucada e abro os olhos. É um jovem aparentemente da mesma faixa etária que eu, que fala:

- Você tá bem?

- Quem é você? E... São que horas?

Ele olha no relógio e diz:

- Meia noite e dois.

- Como assim? Era pra eu estar morta...

- Eu acho que assim como eu, você é imune à Necrotic Insomnia. Deve ter algo no seu sangue que te impede de contrair a doença.

Olhei para o jovem em descrença, meu coração batendo forte no meu peito.  Imune a Necrotic Insomnia?  Parece impossível.  Mas quando olho em seus olhos, vejo sinceridade e esperança. Talvez, apenas talvez, houvesse uma chance de eu sobreviver a esse pesadelo.

Lágrimas brotaram em meus olhos, desta vez não de tristeza, mas de um vislumbre de esperança. Eu não podia acreditar que eu escapei das garras dessa doença impiedosa.

- Obrigada.

Eu sussurro, e minha voz sai embargada pela emoção.

- Obrigada por me encontrar. Eu pensei que estava sozinha.

Ele sorriu, um sorriso genuíno que alcançou seus olhos.

- Podemos ser poucos, mas não estamos sozinhos. Existem outros como nós por aí. Só precisamos encontrá-los.

Uma onda de determinação percorreu minhas veias. Eu havia me resignado ao meu destino, pronta para abraçar a morte com um sorriso agridoce.  Mas agora, uma lasca de esperança acendeu um fogo dentro de mim. Eu não estava mais pronta para aceitar meu destino sem lutar.



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