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História A Busca pelos Presentes - Conversas


Escrita por: Anna_Itako

Capítulo 8 - Conversas


- Eu estava pensando. Há um poema para chegar ao tesouro de Lúcia também, certo? - perguntou Edmundo depois de horas em um silêncio bem desconfortável com Nina.

- Sim - ela então limpou a garganta e recitou:

 

Destemido deve ser

Quem este presente deseja obter

Pois um sacrifício tão vil

Nunca antes existiu

Os antigos reis e rainhas deve honrar

Para o último obstáculo atravessar

 

- Sacrifício?

- Não se sabe se isso é literal ou não.

- De qualquer forma, não diz uma localização.

- Os reis que vieram depois de Caspian, que costumavam buscar esses tesouros de forma mais árdua, acreditavam que haja uma lógica nos esconderijos.

 

Edmundo pensou um pouco.

 

- Então assim como o de Pedro estava no lugar mais ao Norte, o de Lúcia deve estar ao Leste.

 

Nina, que cavalgava ao seu lado, concordou com a cabeça.

 

- Ok, mas temos que diminuir nossa área de busca, não acha?

- A Rainha Lúcia têm seu título pelos “brilhantes mares do leste” se não estou enganada.

- Sim, mas isso não nos ajuda muito. Toda o território leste de Nárnia é banhado pelo oceano.

- Então sabemos para onde ir.

- E sabemos que demorará no mínimo uns vinte dias para atravessar toda essa área.

- Tente pensar positivo, temos esses dias para pensar onde ir exatamente.

 

Edmundo não estava muito animado. Percorrer uma distância enorme e sem um ponto exato de destino não era divertido.

 

- Será mais fácil do que pegar o Veado Branco.

 

E nesse momento Edmundo sentiu um tom de tiração de sarro vindo de Nina.

 

- Ei! Eu quase consegui uma vez!

- Muito bem dito. Quase.

- Assim como você QUASE pegou aquela maçã roxa.

- Você me atrapalhou!

 

Os dois trocaram olhares afrontosos e em seguida caíram na risada.

 

- Não te escuto falar assim desde aquele dia - falou Edmundo - Eu jamais adivinharia que aquela garota nervosa seria a atual rainha de Nárnia.

- Eu também jamais pensaria que aquele garoto bobo seria o Rei Edmundo da Era de Ouro.

- Bobo?

- Você estava com duas camisas, lembra?

 

Edmundo abriu a boca para responder para não conseguiu impedir o riso.

 

- Naquele dia - começou ele depois que andaram mais um pouco - teve uma coisa que me surpreendeu.

- Eu ser a rainha.

- Também, mas primeiro achei estranho quando subiu nas costas de Quírion. Centauros são incríveis, mas orgulhosos também. Em todos os meus anos em Nárnia só vi um centauro levando alguém em suas costas se estivessem feridos.

- Quírion é como um pai para mim - falou ela - cuidou de mim desde pequena. Mas você têm razão, mesmo entre eu e ele aquela não é uma cena comum. Acho que o choque de te conhecer e a pressa de me levar de volta para o castelo falaram mais alto.

- Por que ele estava com tanta pressa, afinal? Nem estávamos longe.

- Desde que me tornei rainha Quírion insiste que eu deixe de lado qualquer coisa que não… como posso dizer… que não combine com a imagem de uma soberana.

 

Nina viu Edmundo revirar os olhos e sorriu.

 

- Que cara foi essa?

- Nada, desculpe, é só que… Quírion teria brigado muito comigo e meus irmãos se estivesse conosco.

- Com vocês? Por quê? Sempre escutamos como eram sábios, astutos e corajosos.

- Sim, claro. No final de nosso reinado gosto de pensar que éramos tudo isso! Mas no começo… - Edmundo não conseguiu conter a nostalgia - Pedro e eu brigávamos direto. Susana tinha que ser a mais racional sempre e isso era muito chato. E para Lúcia tudo era como um conto de fadas.

- Mesmo depois de virarem reis?

- Sem dúvida! Eu estava sempre tentando mostrar que era tão importante quanto Pedro, ou tão esperto quanto Su, ou até tão corajoso e imaginativo quando Lú. Brigávamos como irmãos fazem, as coroas que usávamos não mudaram isso.

- E agora?

- Agora sei separar emoções de tarefas, então consigo pensar mais claramente.

- Ah, eu quis dizer: Qual a relação entre vocês agora?

 

Edmundo pensou um pouco e Nina percebeu os ombros do garoto baixarem.

 

- Não precisa me dizer se trouxer memórias ruins.

- Não é isso, nos damos muito bem atualmente, o problema é que quase nunca nos vemos. Bom, pensando bem, talvez seja por isso que não brigamos mais, não temos nem tempo para isso.

- Não vivem juntos?

- Não. Eu estudo Direito em Londres, Pedro e Susana moram na América há algum tempo, e Lúcia está morando com nossa mãe e estudando em Paris - Edmundo viu o olhar um tanto perdido de Nina e lembrou-se que a garota não conhecia seu mundo - São lugares, Londres, América e París, lugares um tanto longes um do outro.

- Entendo. Deve sentir falta da presença deles.

- Mais do que gosto de admitir - respondeu Ed sorrindo mais para si mesmo do que para a ruiva.

 

Os dois cavalgaram por horas e assim como na ida até o primeiro presente, paravam em alguns vilarejos para passar a noite, sempre saindo ao nascer do sol do dia seguinte.

Os dias foram passando e a distância entre Edmundo e Nina foi diminuindo. Suas conversas iam dos temas mais superficiais até os mais profundos, e sem perceberem, ambos estavam se abrindo mais que o esperado ou planejado.

 

- Que tipo de rainha é tão fresca para comida?

- Eu consigo comer de tudo, apenas prefiro evitar algumas coisas quando tenho a opção!

- Tá, mas amoras são uma delícia!

- Não são não! A maioria é azeda e aqueles pelinhos… não consigo entender quem achou que comê-las era uma boa ideia.

 

--

 

- Não é bem assim, foi uma guerra muito grande, durou anos.

- Como é possível que existam reis que deixam seus súditos morrerem por anos antes de tentarem um acordo?

- Reis que não vão ao campo de batalha - explicou Edmundo.

- Que absurdo! Covardia!

- Não discordo. Mas no meu mundo, os reis não costumam estar nas linhas de frente.

 

--

 

- Então você foi casado? - perguntou Nina uma noite depois que Edmundo comentou sobre sua ex.

- Casado? Não!

- Então eram prometidos?

 

Edmundo pensou um pouco e não conseguiu pensar em modo melhor de explicar naquele momento.

 

- Algo assim.

- E você a deixou?

- Na verdade, ela me traiu.

- O quê?? - Nina parecia ultrajada com tal possibilidade, fazendo a autoestima de Edmundo melhorar.

- Ela não estava apenas comigo. Ela e um garoto que eu julgava ser meu amigo ficavam juntos pelas minhas costas. Devo ser muito idiota para ser traído por duas pessoas próximas a mim.

- Não é idiota, Ed - falou Nina, que agora tinha concordado em tirar os honoríficos - Você confiou naqueles para quem abriu seu coração. Isso requer muita coragem.

 

Naquela noite, enquanto conversavam em um estábulo que haviam pedido a alguns narnianos para passar a noite, Nina se aproximou pela primeira vez de uma forma diferente de Edmundo. Ela colocou a mão em sua bochecha e a acariciou ao ver a tristeza nos olhos do rapaz.

 

- Você a amava?

- Eu… - e perdido nos olhos quase pretos da garota ele, sem perceber, acabara de descobrir a resposta para aquela pergunta - não. Acho que nos aproximamos porque eu queria sentir que era importante para alguém.

- Você tinha dúvidas de sua importância? - perguntou Nina sem entender como aquilo era possível.

- Você não entende - disse ele pegando a mão que Nina ainda tinha em seu rosto e a segurando - no meu mundo eu não sou rei. Meus conhecimentos e minhas habilidades não têm serventia já que durante a guerra eu era jovem demais para lutar. Eu não… sou nada.

 

Nina então soltou a mão do garoto e se levantou.

 

- Então deixe-me ver se entendi. Em seu mundo, seu nome não é Edmundo?

 

Edmundo estranhou a pergunta.

 

- Claro que é.

- Mas você não é irmão de Pedro, Susana e Lúcia?

- Sou sim.

- Não entendo. Você disse que não era nada.

- Nada importante.

- Todos os seres são importantes. Essa é uma das primeiras lições que um rei ou rainha deve aprender. Se esqueceu?

 

Edmundo gostava das aulas de Direito. Mas tinha uma coisa que ele já tinha percebido e que o assustava há algum tempo. Toda vez que ele aprendia algo novo na faculdade, parecia que estava esquecendo dos ensinamentos que obteve em Nárnia. E notando aquilo novamente naquele momento, Ed sentiu seus olhos marejados.

 

- O que foi? - perguntou Nina se aproximando dele novamente.

- Eu me esqueci. Me esqueci de algo tão básico quanto a importância da vida.

- Não se preocupe, todos temos momentos em que…

- Não, o problema é que a cada momento em que passo no meu mundo, sinto que estou esquecendo de algo sobre Nárnia. Isso… me assusta, Nina. Sempre que eu e meus irmãos nos vemos, nós conversamos sobre Nárnia, mas às vezes eu percebo que Pedro e Susana não se recordam de boa parte das coisas. Enquanto Lúcia lembra de mais coisas do que eu. Você entende? E-eu estou esquecendo.

- Esquecer significa que coisas mais importantes estão aparecendo.

- Mas…

- Enquanto Nárnia for importante para você, não precisa se preocupar, vai se lembrar daqui.

- Eu não queria ter que ir embora.

 

Essa última frase de Edmundo foi dita olhando diretamente nos olhos de Nina, e apesar de querer ficar desde sua primeira visita, ele tinha certeza que estava olhando para o principal motivo de seu desejo de viver em Nárnia.

 

Naquela noite, ambos foram dormir sentindo o que achavam que não podiam dizer e imaginando o que achavam que jamais fariam.

 

--

 

Dias se passaram e Nina pareceu ter aumentado, propositalmente, a distância entre si e Edmundo.

Foi então que ele decidiu criar coragem e fazer as perguntas que apareciam em sua cabeça desde a primeira vez em que botou os olhos na ruiva.

 

- Você já sabe muito sobre mim. Aliás, já sabia mesmo antes de nos conhecermos.

- A culpa não é minha que você viveu antes de mim.

- Mas é culpa sua eu não te conhecer. Até perguntei para o Ravi, mas…

- O que ele contou? - perguntou Nina tentando não deixar um certo nervosismo transpassar por sua voz.

- Que você o salvou quando adoeceu, e que são inseparáveis desde então.

- Ravi exagera. Eu não salvei a vida dele, apenas cuidei dele por alguns dias.

- Foi importante para ele.

- Para mim também, ganhei um ótimo amigo - ela disse sorrindo.

- Só isso? Só um amigo?

 

Edmundo já imaginava a resposta para a pergunta que acabara de fazer, mas se ele estava mesmo decidido a fazer algo com relação aos seus sentimentos, que pareciam aumentar a cada dia, ele tinha que ter certeza que Ravi não ocupava uma posição maior do que a de amigo no coração de Nina.

A ruiva o olhou como se quisesse ver cada micro reação de Edmundo à sua resposta.

 

- Sim, um amigo apenas.

 

Edmundo sabia que não deveria dar o grande sorriso que tentava conter, ficaria muito na cara e ele não queria que Nina aumentasse a distância entre eles novamente. Ele então fingiu uma leve tosse e disse “Entendo” em um tom neutro. Mas a ruiva não deixou de notar o rosado nas bochechas do garoto.

 

- Se têm perguntas sobre mim, deveria fazê-las diretamente à mim, não acha?

- Acho! Mas já fiz algumas antes e você nunca as respondeu. Por isso acho que você não confia o suficiente em mim para me contar sobre você.

- Nossas conversas sempre foram interrompidas. Faça-as. Responderei tudo que puder para sanar sua curiosidade.

 

Apesar de estarem falando de uma forma levemente formal, dava para perceber o tom de brincadeira em cada palavra.

Sem perder tempo, e aproveitando que estavam sozinhos naquela longa estrada de terra, Edmundo pensou na primeira coisa que teve curiosidade de perguntar.

 

- Como se tornou rainha?

- Essa é a primeira coisa que quer saber?

- Não, eu já tenho a resposta do que eu mais queria saber.

- Já? - e assim que perguntou Nina lembrou que tinha acabado de dizer que ela e Ravi eram apenas amigos - Ah, certo - continuou ela sentindo seu rosto esquentar - Não é tão interessante quanto a sua história.

- A minha história deve ter sido muito enfeitada com o passar dos anos.

 

Nina respirou fundo e pensou em como nunca tinha contado aquela história para ninguém. Ravi e Quírion estavam lá com ela, e nunca ninguém em quem ela confiasse para se abrir tinha aparecido. Até aquele momento.

 

- Eu nasci em um vilarejo pequeno ao Leste de Cair Paravel, motivo pelo qual eu escolhi ficar na torre de Lúcia.

 

Edmundo fez um som de “ah” como quem entendia e Nina continuou.

 

- Eu não tenho muitas memórias dos meus pais, eles morreram quando eu era muito pequena. Mas me lembro que papai adorava música, então mamãe e eu costumávamos cantar pela casa.

- Por isso Ravi queria que você cantasse a canção do primeiro presente?

- Sim, mas eu não canto há anos.

- Por quê?

- Não gosto de como me sinto quando canto.

 

- Às vezes é melhor evitar certas memórias - disse Edmundo entendendo que cantar devia fazê-la lembrar dos pais, e devia ser doloroso.

- É… - concordou Nina sem olhar para Edmundo - De qualquer forma, acho que o que vou contar agora é a parte que vai achar mais interessante.

 

Edmundo pareceu animado.

 

- Meus pais morreram de uma doença que escalou muito rápido, um dia estavam tossindo e com um pouco de febre, e na outra noite tinham falecido.

- Eu sinto muito.

- Já faz muitos anos, mas obrigada. O vilarejo no qual eu vivia era povoado principalmente por humanos, então eu quase nunca tinha encontrado narnianos antes. Até que meus novos guardiões foram apresentados a mim por Aslan.


Notas Finais


E ai?? Estão curtindo?? Obrigada a todos que tem comentado!


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