História A Casa de Praia - Capítulo 2

Elisa.

— Minha mãe viu você saindo de um carro. Pensei que ela estava ficando maluca.

Sorri de canto, sentindo as bochechas queimarem.

— Era o carro da Camila, uma amiga que fiz no caminho.

— Por que não pediu para eu te buscar? Você ainda tem meu número, sei disso. Ele nunca mudou. – Shawn deu um passo para frente e eu, para trás.

— Não queria incomodar você e sua família.

Sento na toalha novamente e Shawn senta ao meu lado, na areia. Sentia uma onda de calor, nervosismo.

— Você sumiu depois do ano novo. Seus pais sempre voltavam e você sempre dava uma desculpa diferente para não vir. Também sei que a culpa disso tudo foi minha.

— Podemos não conversar sobre isso? É passado.

Um suspiro triste escapou dos lábios de Shawn. Um vento frio soprou contra meu rosto e aproveitei para respirar fundo e tentar parar de soar tanto.

— Minha mãe me contou sobre seus pais. Sinto muito. Na verdade, ela me contou sobre tudo... ficou sabendo através do seu tio.

— É por isso que eu estou aqui, Shawn. Passei dois anos viajando – engulo seco, odeio mentir. — mas decidi que aqui era o único lugar que eu conseguiria recomeçar. Se quer me perguntar algo mais sobre qualquer coisa, pergunte agora, pois depois de hoje minha vida é outra e quero deixar a fase de luto para trás. Sei que meus pais iriam preferir assim.

Shawn assente.
Ele sempre foi muito compreensivo comigo, sempre me entendeu quando nem eu era capaz de fazer isso, sempre me tratou como sua irmã menor. Talvez por isso não tenha dado certo.

— O que quero perguntar não tem nada relacionado com seus pais. Quero saber se podemos recomeçar, se você é capaz de me perdoar pelo que fiz.

Havia passado meus últimos cinco anos longe de Shawn, meu melhor amigo. Dois desses anos permaneci presa em uma reabilitação onde a maior parte do tempo era tratada como uma maluca. Sozinha durante todo esse tempo. Perdoar Shawn e tê–lo por perto era mais como um presente para mim do que para ele.

— Passei meus últimos cinco anos longe de você, Shawn Mendes. É óbvio que já perdoei você.

Um grande sorriso se formou em seu rosto. Foi quando descobri que o mesmo ainda causava um grande efeito em mim. Abri os braços de bom grado e Shawn me abraçou, não um abraço qualquer, mas um abraço apertado. Fecho os olhos, segurando as lágrimas, e assim que nossos corpos se afastam, levanto e pego minha toalha.

— Agora preciso ir. Amanhã vou acordar cedo para me matricular na faculdade, arrumar a casa que está só na poeira.

— Posso te ajudar com isso tudo, se quiser, claro.

Hesitante, faço que sim.
Dou um beijo em sua bochecha e caminho de volta para casa. Meu coração continuou a bater rápido até ver Shawn desaparecer dentro de sua casa. Foi quando, também, voltei a respirar com mais calma. Não sabia como era possível, depois de todos esses anos, ainda nutrir tantos sentimentos por alguém. Mas não podia afastá–lo, pois ele era a única pessoa que eu tinha agora.

Tomo uma ducha e visto uma camisa grande do meu pai, que estava dentro de uma das caixas perto do armário. Ligo a TV e apago todas as luzes da casa antes de, finalmente, deitar na cama. Fecho os olhos e facilmente durmo.

***

Os clarões que os fogos produziam no céu faziam meu peito se encher de esperança. Viro meu rosto para o lado e Shawn olha para mim, sorrindo. Era final de 2012 e eu tinha comprovado durante todo o ano que Shawn, assim como eu, também sentia algo que ia além de uma simples amizade.

— Preciso confessar uma coisa. – sussurro perto do seu ouvido.

— Você sabe que pode me contar qualquer coisa.

Assinto com leveza. Em minha cabeça tudo daria certo.

— Shawn, eu amo você, mas não como amigo. E desde o começo do ano venho tendo experiências que me dizem que você também sente o mesmo por mim.

Seu rosto se tornou pálido. Sua cabeça começou a negar, para o meu desespero. Eu estava enganada. Muito.

— Elisa, eu não... eu não te vejo assim. Na verdade, também queria confessar uma coisa. Eu estou namorando a...

O alarme do telefone faz eu saltar para fora da cama. Olho para o lado e vejo o sol se erguendo no céu. Parece que dormi por cinco minutos. Os piores cinco minutos da minha vida.
Caminho até a cozinha sentindo a cabeça pesar e o estômago roncar de fome. Para meu azar, não havia me lembrado de comprar nada.
Tomo banho e caminho até um pouco depois da casa de Shawn, onde havia um restaurante na praia que servia café da manhã.

— Um café com leite e dois mistos quente, por favor. – pedi ao menino que veio me atender. No seu crachá tinha seu nome. Cameron Dallas.

— Cam, anota na minha conta e acrescenta um suco de laranja, amigo.

— Pode deixar, Mendes. – ele respondeu, com um sorriso.

Enquanto Shawn sentava na mesma mesa que eu, observei Cameron deixar o pedido na cozinha e se virar para atender uma menina de olhos azuis celestiais. Ele sentou na beira da cadeira e conversou um pouco com ela antes de levantar e ir atender outras pessoas.

— Aquela é a Hanna. Cameron e ela terminaram tem alguns dias, mas ele não quer deixá–la ir. Está fazendo de tudo por ela.

— E ela? – olhei para Shawn.

— Usando ele feito um cachorrinho adestrado.

— Isso é mal.

Shawn assente, suspirando.

— Ele não ouve ninguém. Nem eu que sou seu melhor amigo. Está completamente cego!

— Sei bem como é isso. – solto, sem perceber.

Antes que pudesse dizer algo, Cameron traz tudo para nossa mesa e decido abrir a boca apenas para engolir o café e comer. Ao passo que mastigava, Shawn me encarava com um sorriso divertido no rosto.

— O que é?

— Nada, nada. – ele riu. — Senti sua falta, Snow. Fico feliz que está me dando essa chance de sermos amigos novamente.

Amigos. A friendzone realmente tem algo comigo.

— Claro. É o que amigos fazem, certo? Perdoar e tal.

Ele assente, sorrindo.

— Sugiro que coma tudo, hoje o dia vai ser cheio, mocinha!