História A Cold Secret - Imagine Kim taehyung - The Truth

Anos antes, quando o Príncipe Taehyung completara dezesseis anos e ganhara a regência da província de Montpitton, ele quis expandir suas fronteiras. Apesar de jovem, já se destacava por tamanho intelecto e visão. Queria fazer de Montpitton uma das maiores províncias do reino de Kinghago e, há anos, já traçava todo o caminho dessa missão. Começou a fazer breves viagens, algumas para ilhas do Sul, outras às Ilhas do Norte e seguia por quase todo o continente, apresentando-se à Reis e fazendo ofertas chamativas à reinos. E, embora fosse jovem, os Reis velhos – inclusive seu próprio pai- eram inteligentes o suficiente para ver naquele garoto milhares de oportunidades. Não foram poucas as ofertas sobre negociação de especiarias, expansão de mercado, trocas até mesmo armamentistas e militares. Se antes Kinghago já era um reino extremamente cobiçado – pela representação de força e riqueza-, agora estava sendo mais ainda. Anos antes, quando o príncipe Min Yoongi assumiu a regência da província de Arcadde, ele fizera algo parecido, mas limitara-se a negócios armamentistas. Agora, Taehyung arriscava-se de cabeça e apostava tudo o que pudesse. Os Reis ou rainhas que não podiam oferecer muito e queriam a qualquer custo se aliarem ao reino mais forte de todo o continente, ofereciam mão de suas filhas, enteadas ou sobrinhas. Às vezes, ofereciam até os meninos. Não se importavam se seus familiares gostariam do que quer que fosse, apenas queriam muito uma aliança.

E, foi numa dessas viagens, que Taehyung conheceu alguém que se encantara. Uma duquesa, residente no reino de Retrovia, que ficava numa ilha ao sul do continente. Coriane era um pouco mais velha que o príncipe, mas, a princípio também se encantara por ele. E, obviamente, ela já o conhecia. As viagens que ele estava fazendo estava dando muito o que falar. E ele, diferentemente, nunca havia sequer ouvido falar dela. Para ser sincero, ele mal ouvia falar de Retrovia. Era um daqueles reinos que não tinha muito a oferecer, mas ele jamais deixaria de ver com seus próprios olhos. Entretanto, o que era para ser uma viagem de negócios geográficos, políticos e econômicos, tornou-se uma espécie de “encontro”. Coriane era uma mulher muito bonita, tinha uma pele bronzeada, olhos verdes como esmeraldas e cabelo castanho longo e ondulado. Era alta e seu corpo esbanjava milhares de curvas. Tinha o sorriso mais belo de todas as aldeias, diziam as más línguas. E, ainda por cima, esbanjava um enorme carisma, era conhecida por ser uma mulher gentil e caridosa. Era praticamente impossível não a notar. Era impossível não se apaixonar por uma mulher como ela. E foi o que aconteceu com o príncipe.

A aproximação de ambos foi extremamente rápida, ela o levou à bailes, convidou-o para sua própria casa e o mostrou o talento que tinha com culinária. Especialmente com bolos. Victor Borgov, o homem que praticamente criara o príncipe Taehyung e quem o próprio príncipe depositava mais confiança, não gostou de como as coisas começaram a andar depois que Coriane entrou em cena. Foi tudo tão rápido. Coisas boas costumam levar tempo. As tempestuosas são as que aparecem mais rápido. Taehyung deveria ter confiado em seu conselheiro. Era para ele ter desconfiado que havia algo errado. Mas, infelizmente estava cego demais, inebriado demais por ela.

Com apenas algumas semanas de volta, Coriane já tinha acesso ilimitado à Kinghago e tudo o que Montpitton poderia oferecer. Tinha quarto no palácio – que não utilizava, porque suas noites eram em outro local-, vestidos e joias exportados de reinos distantes apenas para ela e uma autoridade que o próprio príncipe lhe dera. Ele já havia a aceitado como sua futura princesa. Rápido demais. Cedo demais.

Entretanto, quando o carisma da duquesa parecia cegar a todos, uma pessoa parecia imune. Victor Borgov alertava o príncipe sempre que podia, mas não era ouvido. Isso chegara até mesmo a irritar a própria duquesa, que, em milhares de tentativas, tentou fazer com que Taehyung enxergasse que Victor não era seu aliado.

“Se ele não consegue aceitar uma pessoa que você ama, é possível que ele não o aceite também. Ouça, uma hora, ele ainda vai trair você” – ela dizia diversas vezes à Taehyung que, por sorte, achava aquelas palavras um absurdo imenso e não dava ouvidos a elas. E onde todos viam uma ovem bela e bondosa, Victor via uma mulher extremamente inteligente e oportunista.

Temendo sua influência sobre o príncipe e uma possível influência em Montpitton, o mordomo, sem que o príncipe soubesse, começou a investigar a vida da duquesa. Não demorou muito para que os podres aparecessem. Primeiro ele descobriu que Coriane era a única herdeira de uma linhagem antiga de duques que estava completamente falida, e segundo, a cereja do bolo, ela mantinha laços amorosos com um Visconde do mesmo reino. Eeron Herbet era o nome do sujeito. Possuía poucas terras e apenas um título. Era um mercador, porém, conhecido por ser um ótimo golpista. Era próximo do rei de Retrovia, mas só porque eles tinham alguma espécie de ligação familiar.

Aquilo, por enquanto, bastou para ele.

Quando Victor começara a organizar algumas provas concretas de que a duquesa não era merecedora da confiança de Taehyung, coisas estranhas começaram a acontecer no palácio. Conforme alguns pertences de Coriane eram trazidos de sua residência em Retrovia para Montpitton, acidentes ocorriam frequentemente. Empregados que tinham contato com algumas substâncias que a duquesa carregava na mala começaram a adoecer e morrer. Aquilo fez com que o mordomo surtasse de vez e, de novo, tentasse convencer Taehyung de que Coriane não deveria estar naquele lugar. Durante esses processos de descobertas, uns quatro meses já haviam se passado e Victor estava certo de que mês nenhum a mais deveria se passar. Para a sorte dele, o príncipe não era burro e, pelo visto, sua paixão não era tão cega assim. Quando o mordomo tentou a sorte novamente, o príncipe já tinha suas próprias desconfianças.

Taehyung já havia notado os acontecimentos estranhos no palácio e estava notando comportamentos estranhos vindos se sua mulher também. Havia semanas em que ela estava puro carisma e amor, e, quando Coriane aparentemente suspeitava de uma gravidez, as coisas entre os dois mudavam e o foco dela voltava-se para tudo, exceto ele. E ela falava muito sobre família. Sobre como o amava e sobre como queria que ele lhe desse um filho, e em como queria que o filho dela crescesse num castelo como aquele, e em como o filho dela seria um príncipe maravilhoso. Porém, ela o subestimava demais e já havia meses que Taehyung observava suas palavras e ações. Ele não era um idiota. Mas claramente estava deixando que ela pensasse que ele era.

Quando faltavam duas semanas para completar seis meses da estadia de Coriane em Montpitton, em um plano armado entre Taehyung e Victor, o mordomo conseguiu provas de que ela traía constantemente o príncipe com o tal Visconde, quem ela recebia dentro do reino - e em momento algum Taehyung havia dado liberdade para a entrada do Visconde de Retrovia em sua província. À medida que a traição foi descoberta, o príncipe conseguiu ter acesso às cartas que Coriane recebia constantemente mesmo sem ter um parente nobre vivo sequer.

- Vamos jogá-la para fora daqui imediatamente! – Victor sugeriu.

- Não. – respondeu o príncipe.

Taehyung gostava, desde muito jovem, de uma espécie de “caçada”. Ele queria ver como ela se comportava, ele mesmo a enxergava com outros olhos agora que sabia de tudo e queria ver a forma de como ela o olhava – como um idiota. Como quem não sabia nada. - e como seria falsa diante de tudo isso. Ele queria vê-la em ação, como se fosse a dona do mundo. Continuou tratando-a bem, fazendo com que ela não tivesse nenhum tipo de desconfiança. E ela, é claro, continuava com toda a sua rotina, acreditava que ele não sabia de nada e, em cartas, gabava-se para o Visconde sobre sua esperteza.

Quando as duas semanas se passaram e os seis meses de estadia foram completos, Taehyung estava certo de que a colocaria para fora da forma mais humilhante possível, mas as coisas começaram a ocorrer de forma diferente.

Neste mês, o sexto do ano, Montpitton daria vários bailes e festas populares, comemoravam o aniversário da província e os seis meses de prosperidade ampla desde que o novo regente havia chegado. Foi neste mesmo mês que Victor Borgov teve problemas familiares e teve que viajar para Mónea, ausentando-se do palácio para lidar com problemas de sua família. Taehyung não o impediu, é claro.

No entanto, foi o mês em que o príncipe mais sofreu em toda a sua existência. Os bailes e festas – os quais ele tinha a obrigação de participar- pareciam estar repletos de pessoas que queriam sua morte. Ele livrara-se por pouco de muitos e muitos ataques. Pessoas tentavam envenenar sua bebida, ou tentavam esfaqueá-lo quando ele parecia distraído. Felizmente nenhuma teve êxito. Durante este mesmo mês, Coriane noticiou ao príncipe que estava grávida e sugeriu com que eles se casassem.

Foi a partir desta notícia que tudo mudou fora dos bailes também, e o príncipe precisou ficar mais atento do que nunca. Todos os dias, no dia seguinte das comemorações, Coriane insistia em cozinhar para ele, insistia em agradá-lo. Felizmente, ser um príncipe novato demanda muitas tarefas e ele as utilizou como forma de esquivar-se das guloseimas da duquesa. Sempre que ela apresentava uma receita a ele – geralmente bolos que carregavam cobertura vermelha-, o príncipe esquivava-se e corria diretamente para os trabalhos que precisava executar. Todas as vezes que as receitas da duquesa voltavam para a cozinha, alguém misteriosamente morria depois de “supostamente” provar a tal receita.

Desconfiando das atitudes do príncipe às suas tentativas, Coriane e Eeron trocaram mais cartas, dessa vez, eles deixaram extremamente claro tudo o que pretendiam e marcavam o momento exato em que iriam matar o príncipe. Com um herdeiro que seria apresentado ao rei, independentemente de ter se casado ou não com o príncipe, após a morte dele, Coriane e seu filho tornar-se-iam herdeiros legítimos da regência de Montpitton. Não se sabe se ela também pretendia enganar o Visconde Eeron, mas ela prometera casar-se com ele depois e torná-lo príncipe regente até que a criança tivesse idade suficiente para assumir o trono. No fim, garantiriam para sempre a vida que nunca conseguiriam ter em Retrovia.

Taehyung com certeza teve acesso à essa carta. E em uma rápida medida, enviou uma carta com urgência à Mónea, para Victor Borgov:

“Victor, exijo com urgência o seu retorno à Montpitton.

Eu estava certo em todas as minhas teorias.

Tive a prova que faltava hoje, quando mais uma carta saíra de meu palácio. Coriane e Eeron pretendem agir daqui há três dias e eu já tenho uma estratégia para pegá-los, mas precisarei de sua ajuda.

Sei que o momento em que está passando é delicado e lamento por ter que pedir seu retorno agora, mas dou minha palavra de que será recompensado.

Kim Taehyung”

Obviamente, Victor não hesitou em voltar o mais rápido que podia para o castelo.

O plano de Eeron e Coriane era assassiná-lo dentro do seu próprio palácio, antes da presença dele na última comemoração de mês, que seria feita pela manhã e seria dentro do próprio palácio. Com a movimentação extrema, os guardas não perceberiam quando Eeron entrasse e assassinasse o príncipe em seus aposentos.

No entanto, é óbvio que Taehyung e Victor fariam tudo aquilo dar errado. Primeiro, o Visconde de Retrovia fora capturado um dia antes do ataque. Taehyung ainda fez uma visitinha à ele nos calabouços reais onde ele fora jogado sem o conhecimento de Coriane. E, quanto à Duquesa, o príncipe se divertiu ao ver seu desespero ao ver que seu cúmplice não comparecera na última festa da província.

- Você parece agitada, está tudo bem? – Taehyung perguntara à ela várias vezes diante de sua face de aflição.

- É apenas o bebê. – Respondia ela todas as vezes.

E, com o passar do tempo, ela foi parecendo irritada. Parecia que ela mesma teria de resolver tudo àquilo. À noite, durante o jantar, ela chegou com outra especiaria, um bolo de frutas vermelhas gigantesco, bonito e decorado. Dessa vez, Taehyung não fingiu compromisso algum. Ela também deixara claro que não o deixaria escapar.

Só havia os três presentes na enorme sala de jantar, ao fim da noite. Victor Borgov, o príncipe e Coriane.

Ela partiu o primeiro pedaço de bolo, que entregou à Victor, querendo parecer bondosa. “Uma oferta de paz”, disse a ele. O mordomo aceitou, mas sequer tocou o bolo. Até porque, havia uma regra clara de que ninguém poderia comer antes que o monarca de maior autoridade na mesa. Partiu o segundo pedaço e o entregou ao príncipe.

“Eu espero que gostem!” – falou com o carisma e entusiasmo pelo qual era conhecida.

Taehyung pegou o garfo e partiu um pedaço de bolo. Ela o observou atentamente. Ele parou o garfo na metade do caminho da boca. Taehyung a olhou com um brilho diferente nos olhos. Ele abriu um imenso sorriso, devolveu o garfo ao prato e arrastou a cadeira, levantando-se e indo em direção a ela, carregando o pequeno prato com a fatia que ela mesma havia partido.

- Espere Victor, espere! – falou. Victor parou de fingir que ia comer aquela porcaria. Parou em frente a Coriane e continuou sorrindo enquanto falava – Você já deve saber que vamos nos casar, não é?

- Claramente, alteza. – Victor assentiu, embora não soubesse de nada que o príncipe estava fazendo.

- E, mesmo antes de nos casarmos, eu quero deixar extremamente claro que minha esposa deverá ser tão respeitada quanto eu dentro deste palácio! – Coriane sorriu, mas pareceu desconfiada – Então, acho justo que quem inicie a nossa sobremesa esta noite, seja você, minha queria e amada futura esposa.  

O sorriso da duquesa sumiu instantaneamente.

- Perdão? – ela disse, olhando de Victor para Taehyung, com os olhos arregalados de incredulidade.

Taehyung sorriu de novo e pegou o garfo com um pedaço de bolo preso e virou para ela, como se fosse dar em sua boca.

- Só um pedacinho, meu amor. Para inaugurarmos a nossa noite!

O olhar dela estremeceu diante do dele.

- Por que hesita? – perguntou o príncipe, estreitando os olhos e fingindo uma cara de preocupado.

- Oh, querido – riu, sem graça – é que estou tão enjoada, sabe... Por que não experimenta? Você vai gostar!

- Ah, não. Não, não, não, amor. Eu quero que coma primeiro. Significaria muito para mim! – colocou a mão no peito.

- É que eu estou tão enjoada!

- É só um pedacinho! Não vai fazer mal algum!

Os olhos dela começaram a se encher de lágrimas.

- Taehyung... – sua voz começara a falhar enquanto suplicava.

- Meu amor, é só um pedaço!

- Taehyung, por favor...

- Você mesma o fez, o que há de errado? É um bolo tão bonito! Não lhe parece apetitoso?

- Alteza, por favor... eu não estou com fome...

Ele perdeu todo seu equilíbrio e paciência. Os olhos dele esfriaram de uma forma jamais vista antes. Nem Victor, que praticamente o criara, jamais vira o príncipe com tanta raiva como estava naquele momento.

- Coma...o... bolo – disse devagar e quase em sussurro. Enquanto olhava para ela friamente.

Soluçando e com lágrimas escorrendo de seus olhos. Coriane abocanhou receosamente o garfo. Manteve a boca cheia, não ousou engolir.

- Isso... agora mastigue – Taehyung falava calmamente enquanto estava bem próximo dela – mastigue... Não está gostoso?

Coriane começou a mastigar o bolo lentamente, mas sequer terminara. Pouco tempo depois, vomitou tudo no chão do salão. Taehyung afastou-se e começou a observar de longe. Deu a volta na mesa e ficou ao lado de Victor.

A duquesa começou a vomitar sem parar, até que de sua boca e seu nariz começassem a sangrar. Ela olhava para ele diversas vezes enquanto morria lentamente em sua frente. E aos poucos, mais ela tossia, mais vomitava e mais sangue jorrava para fora de seu corpo. Por fim, Coriane emitiu um som de engasgo e caiu no chão do salão, bem em toda aquela poça de sangue e não se mexeu mais.

Não se sabe quanto e qual o veneno que ela utilizara em sua última receita, mas ele com certeza não falhava na eficiência.

E, então, Coriane morreu ali, bem no chão do grande salão de jantar, engasgada com seu próprio veneno, afogada em suas próprias amarguras, consumida por seus próprios desejos e vítima de sua própria ganância.