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História A Coleção de Universos - Deixe Desbravar


Escrita por: Ertam

Capítulo 7 - Deixe Desbravar


Há muito tempo tenho medo do escuro; não dele em si, mas do que ali se esconde. Eu sempre peço para a minha mãe apagar a luz do quarto, e é neste momento que eu fecho os olhos e não os abro por nada neste mundo.

Sei que tudo isso é loucura. Na verdade, uma paranoia, mas afinal nunca se sabe: jamais vaguei na escuridão e o cobertor sempre foi o meu fiel escudeiro.

Porém, chegou um dia em que a minha mãe não estava comigo, deixando-me à mercê do inusitado. Eu mesmo tive que fazer o sacrifício de apagar a luz, e para isso teria de ser ágil.

Coloco-me em frente ao interruptor, penso por alguns segundos e o deslizo velozmente . Sinto no mesmo instante um calafrio que me percorreu de cima a baixo.

Pulo com toda a vontade para a cama e me enrolo no cobertor. Fecho os olhos e rezo, então, para que nada de ruim aconteça.

Grande engano, pois as forças divinas não interpretaram corretamente as minhas preces.

O vento parece mais forte, adentrando pelas brechas dos móveis e fissuras na porta, com um fino assovio.

...

Ouço algo sussurrando a se deslizar no teto. Sinto este ser chegar ainda mais perto. Contudo, eu continuo com os olhos cerrados - como se os meus cílios estivessem prendendo o meu olhar em uma jaula.

O ser escorrega a sua gélida mão sobre o meu cobertor e logo depois começa a puxá-lo lentamente. Posteriormente, fico apreensivo e com o coração frenético, pois a misteriosa criatura abre os meus olhos com um simples gesto de pinça.

O que vejo é assustador; uma caveira feminina com dois diferenciais:

1º - O seu cabelo ruivo continua "vívido";

2º - Há um colar rodeado de joias raras em seu pescoço. Todas elas são de distintas cores, umas esverdeadas e outras alaranjadas.

Ela segura a minha mão e tudo se altera. Já não estou mais em meu quarto, mas dentro de um imenso cubo de bordas arredondadas. A caveira me puxa e magicamente estamos pairando no ar. Mais à frente ela põe um óculos grande que protege os olhos do sol em meu rosto. Agora eu vejo através de suas escuras lentes o universo (sim, o próprio) e suas pequenas-grandes estrelas ao meu alcance.

Olho para os lados e a cadáver ambulante já não está mais ali.

Permaneço vagando pelo vácuo e noto que consigo respirar - como é possível?

Tomo um susto, pois logo à minha frente há um buraco negro que começa a me sugar cada vez mais forte. Ele é de um roxo único, pelo qual nunca vi antes, e mais parece uma ilusão de ótica. Estou desorientado, mais precisamente impressionado com tudo o que está acontecendo ao meu redor. Sei que não estou em um sonho, pois me lembro de quando e como tudo começou. Não sei para qual direção estou indo. Fico tonto em tal lugar. Perco-me com os meus rodopios.

Passam-se duas horas e finalmente sou regurgitado para fora: o buraco-negro havia finalmente chegado ao fim. Para o meu espanto, as duas horas que eu havia contado se transformaram em simples dois minutos.

Estou no ar, sobre um espelho que sobrevoa a cidade cinzenta e em ruínas como se fosse um jato. Ele reflete a cidade com exatidão. No centro dela, enxergo um parque exuberantemente rico com uma pequena e delicada cerca dourada que o rodeia. Era o ponto vivo da cidade; o seu destaque. O contraste entre o cinzento conjunto de edifícios e o profuso verde do vergel deixa-me boquiaberto.

O espelho voador continuava a me levar para lá, refletindo os sonhos que rondam as mentes das pessoas que vivem naqueles edifícios em ruínas. É como se eu estivesse preso a esses sonhos, atravancado pelos pés sobre um refletor. É tudo muito confuso, mas é realmente belo.

Começo a descer mais e mais, até o espelho pousar na maravilhosa grama com alguns respingos de chuva ainda visíveis. O jardim mais se parece com uma mini floresta: a sua diversidade conta com palmeiras de todos os tamanhos, coqueiros carregados com os seus frutos tropicais e mangueiras carregadas. É possível ver mais à frente um campo com flores de todos os tipos e abelhas que "pulam" de flor em flor em busca de néctar. Atrás do campo, o vento sopra em uma mata-atlântica um pouco menor que a minha casa, além de uma micro área de seca.

No início do jardim, com letras em caixa alta, escrito em uma placa dourada, cintilava o seguinte nome: "Biodim".

As borboletas de repente começaram a me rondar como se estivessem chamando-me a alguma "bio-área". Imediatamente eu as sigo. Elas voam delicadamente ao campo com flores e, depois, divertem-se sobrevoando a colina em miniatura.

Ao longe, vejo um homem vestindo uma capa estampada com desenhos de chaves e estrelas com o símbolo de um portal no centro, além de uma estilosa cartola que combina perfeitamente com o seu cetro de rei.

Ele é totalmente desengonçado e estranhamente jovem, mas eu não me atrevo a dizer uma palavra. É o próprio que fala em tom apreensivo:

- Vamos logo, todos lhe esperam e será necessário um empurrão para te levar ao novo mundo.

Ele segura a minha mão. É quando, quase instantaneamente, nos tele transportamos para o imenso cubo ao qual eu havia estado antes. O rei me fornece um novo óculos.

Quando eu o coloco, tudo se transforma. Desta vez estou em um imenso salão. É possível reparar imensas esculturas de mármore imprensadas na parede. São pessoas. Há também objetos que literalmente voam de norte a sul por cima da minha cabeça.

Como em um show de mágica, cristais atravessam o salão tal como facas, sempre mudando de parede - levitando. São vários os que saem de uma parede e vão em direção à outra, alternando-se entre si. Estou em cima de um estreito caminho de vidro, algo como uma passarela. Sob ele eu vejo apenas lava. No centro do salão há uma fonte; não sei o que dizer. Olho para trás e um cão está acorrentado, nervoso, e a única coisa que segura a sua coleira é um cristal entalhado na parede. O que acontece em seguida pode ser facilmente previsto.

O cristal começa a se movimentar, parecendo estar sendo manipulado mentalmente por alguém. O meu coração bate como um tambor, minhas mãos esquentam e me sinto como uma bomba prestes a explodir. Corro sobre uma passarela estreita de vidro em direção à fonte, com medo de cair na lava debaixo dela. O cristal está cada vez mais frenético e quase saindo da parede. O cão me olha vorazmente. Vejo que não há água na fonte, apenas cristais pontiagudos esperando a minha trágica morte. Não tenho escolha. Para onde correr? Talvez se eu me segurasse nas paredes da fonte poderia escapar ileso.

Assim faço e pulo. Mas, para o meu pânico, as paredes caem. É como se eu abrisse uma caixa de surpresas. Estou indo em direção aos cristais.

Subitamente sou surpreendido por outro tele transporte emergencial. Eu estou em alta altitude, pulando de nuvem em nuvem, desbravando novos mundos. Perplexo, curioso. Com uma euforia que toma conta de mim.

Quando novamente começo a cair mais e mais rápido em direção ao jardim vívido. Agora eu consigo ver o seu formato de uma maneira melhor. As regiões do Brasil estão muito bem representadas ali, era na verdade um mapa de vegetação do nosso país. Com o seu formato idêntico ao do nosso território.

Continuo rasgando o céu, mas não pareço ter avançado muito. O chão continua distante, e o ar da mesma forma continua a deformar o meu rosto. Olho para o relógio e o tempo regride, até ele se transformar em uma verdadeira mini televisão e mostrar de trás para frente tudo aquilo que eu fiz desde que essa aventura começou.

As nuvens agora somem, estou realmente caindo, o ar se torna intocável e eu não o sinto mais. A cidade no solo se transmuta em areia e se esfarela até se converter em uma praia, o jardim agora já não existe mais.

Por fim, a areia começa a elevar-se, vindo em minha direção. Agora a situação se inverte pois eu não estou mais caindo e sim a me erguer. A tempestade de areia está prestes a me atingir, contudo se desvia no formato exato do meu corpo. Eu elevo-me ainda mais rápido, batendo de vez na cama em meu quarto, onde tudo começara. Já amanheceu e o mundo voltou a ser como antes. Agora eu poderia estar caindo mas não, permaneço deitado sob o cobertor.

Olho para cima e não vejo o teto, apenas a areia a levantar-se aos céus. Além de flores que a seguem e tudo aquilo que eu havia visto.

Tudo faz sentido agora: eu estava submergido em meu mundo imaginário. Sonhando acordado e tentando dormir.



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