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História A Consciência Além do Tempo - (Reescrevendo) - Você é um monstro, Tom


Escrita por: Melousa

Capítulo 4 - Você é um monstro, Tom


Harry acordou suando. Ele mal conseguia acreditar que estava em um pesadelo.

O jovem passou a mão em seus cabelos suspirando fundo, já um pouco calmo. Ele teria que ser bem mais forte e não podia se dar o luxo de achar que tudo estava perdido.

Se bem que eu nem sei o que fazer para consertar isso tudo... pensou, mas tratou de afastar essa energia negativa de si. Ou ao menos escondê-la no mais fundo que podia em sua mente.

Embora quisesse ficar ali mais um pouco, afastado do restante do mundo com sua preguiça, Harry tratou de levantar sentindo a dor de ter adormecido de qualquer jeito. Pegou o mapa do maroto do bolso da calça emprestada por Riddle e pronunciou a tão dita frase:

– Eu juro solenemente não fazer nada de bom.

Por só haver quatro pessoas no castelo, contando com ele mesmo, Harry não teve dificuldade em localizar o nome dos professores e do futuro lorde das trevas. Ainda mais porque seu próprio nome não aparecia no mapa. Ele não queria responder nenhuma pergunta sobre onde esteve durante as últimas horas, preferia voltar para as masmorras onde Dumbledore pretendia mantê-lo até que o diretor do tempo atual chegasse.

Para o alívio e desespero de Harry, Riddle havia saído da sala comunal da sonserina. Ele só teria que evitar encontrar com o rapaz e chegar nas masmorras antes dele. Seria como uma brincadeira de gato e rato, mas Harry tinha uma vantagem. O problema era que Riddle subiu para o segundo andar.

– Merda, será que o idiota está vindo para cá? – E para onde mais ele poderia estar indo?

Para sorte do jovem Potter, Dumbledore vinha na direção oposta do rapaz. Ao julgar pelo fato de que Riddle parou de andar assim que o nome do outro homem apareceu a alguns centímentros de distância do dele, Harry deduziu que o velho professor o parou para conversar. Era a sua chance de sair dali.

Estando localizado um corredor a frente dos outros dois, o jovem precisava ser rápido. Ele tentou correr para deixar a sala com estátuas de cobras com mais rapidez, porém, todas aquelas pedras e túneis quase o fizeram se perder. Quando finalmente alcançou o buraco por onde entrara, pronto para lançar um feitiço que o faria flutuar e abandonar aquele local, Harry acabou tropeçando nas pedras e caiu por cima de seu braço cuja a mão estava machucada. Ele soltou um grito abafado e pequenos gemidos de dor. Sua mão começou a arder como se estivesse rasgada. Aquilo era quase insuportável. Além disso, por cair em cima de ossos e pedrinhas afiadas seu rosto acabou por ser ralar.

O garoto fez um tremendo esforço para se levantar e cambalear até a saída. Murmurou fracamente o feitiço que o levitou de volta para o banheiro feminino. Ele conferiu mais uma vez no mapa para ter a certeza de que Dumbledore e Tom continuavam conversando no mesmo local. O Outro professor permanecia em sua sala de poções. Rapidamente, Harry saiu correndo dali, tentando apagar qualquer vestígio de sangue que tivesse deixado no lugar acidentalmente.

Seu corpo protestou pelo esforço de correr, mas o rapaz continuou. Ele apoiava a mão contra o abdômen na tentativa de evitar mexê-la. O jovem garoto continuou correndo descendo as escadas e torcendo para que elas não se movessem, seguindo direto para a masmorra. Quando já estava no corredor certo, Harry olhou o mapa novamente só para conferir se ninguém vinha do outro lado.

– Que droga, Riddle... – Aparentemente o rapaz conseguiu se desvencilhar de Dumbledore pois estava apenas a alguns passos de virar no mesmo corredor.

Potter se adiantou e correu para dentro do salão comunal. Ele subiu apressado as escadas entrando em um dos últimos quartos que viu. Murmurou um feitiço que trancou o local e ficou deitado sobre uma das camas, a mais afastada da porta diga-se de passagem, esperando que Riddle entrasse na sala e fosse direto para o próprio dormitório.

– Harry, eu te vi entrar! Apareça, pirralho!

 A personificação da sorte me odeia... E Pirralho, sério...? Ele precisa aprender a xingar melhor... aparentemente, o meu repentino desaparecimento o deixou de mal humor.

– Dumbledore me deu um esporro por não te ver sair sabendo que você estava “machucado e fraco” – disse o mais velho frisando as últimas palavras com ironia.

Ah, bom saber que ficar tendo um pesadelo por horas serviu de alguma coisa...

Harry ouviu passos nas escadas e o barulho estridente das portas dos quartos serem abertas com violência. Riddle estava se aproximando. Potter percebeu o padrão com que o sonserino abria os dormitórios e ao notar que ele apareceria ali em questão de segundos, se jogou no vão entre a cama e a parede.

No mesmo instante, a porta foi escancarada. Tom adentrou o quarto e balançou sua varinha no ar fechando as janelas e voltando a trancar o cômodo. Ele havia notado a cama bagunçada:

– Sei que está aqui. Por favor não me deixe procurar por você e apareça por bem. – O tom de voz do sonserino não escondia sua irritação.

Harry percebeu que não havia nenhuma outra escolha razoável a não ser aparecer. Ele se levantou do chão e ficou de pé, segurando a própria mão e apoiando-se na parede. Riddle caminhou em sua direção furioso.

– Onde você se meteu?! Faz ideia de que o velho me obrigou a te procurar pelas últimas quatro horas por todo o castelo?!

Tom afastou a mão machucada de Harry de perto do abdômen do rapaz. Ele segurou o braço machucado com força, esquecendo-se que o menino havia levado uma surra.

– E qual era o tamanho da merda que tinha na sua cabeça – O sonserino segurou o pescoço do mais novo, que retraiu-se com toda a brutalidade e fechou os olhos – quando você jogou todo o meu trabalho no chão?!

A força excessiva de Tom fez com que Harry gemesse de dor.

– Me responda!

– Então me larga!

Tom soltou o pescoço do mais novo e aliviou o aperto no braço, porém manteve sua expressão séria e irritada. O jovem Potter tossiu antes de responder:

– Riddle, eu só queria ficar sozinho! Eu saí e fiquei rondando algumas salas. A gente deve ter se desencontrado, só isso! Ninguém me disse que eu deveria ficar trancado aqui!

– Ninguém disse porque se presumiu que você chegasse à essa conclusão sozinho! E não estou convencido de que esteja falando a verdade para mim.

– Bom, mas eu estou! Eu não queria ficar aqui pois você me disse coisas bem cruéis! Aliás, eu admito que baguncei suas anotações e frascos pelo chão! O motivo foi esse!

Tom finalmente soltou o garoto. Harry voltou a segurar sua mão e escorregou até o piso. A dor havia piorado com a violência de Riddle. O sonserino passou a mão na cabeça respirando fundo.

– Ah, olha, eu não quero te machucar... – não ainda. Tom precisava da ajuda do garoto. Por isso sua voz saiu mais amena – mas por favor não saia sem me avisar mais. E nunca mais desconte sua raiva nas minhas coisas!

– Não foi você que insinuou que eu deveria tomar as devidas providências sobre o tratamento que recebo? – disse Harry ofegante.

– Eu deixei bem claro que falava de seus tios.

– Ué, e daí? Qual foi a diferença entre o modo como eles me trataram e a crueldade das suas palavras? O que é diferente disso que acabou de fazer? – Harry indicou o braço insinuando o aperto de Riddle sobre seus hematomas.

Tom percebeu o jogo do mais novo. Harry estava se aproveitando de sua exaltação para tentar provar que ele estava errado, em uma tentativa de demonstrar que ele podia ser tão cruel quanto seus tios.

Que um bruxo podia se igualar a um trouxa.

– Bom, eu não vou culpá-lo. Apesar de eu ter dito tudo o que falei para o seu bem, é normal que você veja com maldade.

– Maldade? A palavra certa é realidade.

– Não Harry, você quer me comparar com seus tios abusivos porque está magoado comigo. Quer dizer que sou repugnante igual a eles.

– Meu braço agradece o tratamento.

Tom encarava o rapaz que permaneceu de olhos fechados por conta da dor:

– Eu não sou igual ao seu tio, Harry.

Harry abriu os olhos pronto para responder quando Riddle ergueu seu rosto com os dedos e apoiou seu braço machucado no seu próprio para deixa-lo mais confortável:

– Me desculpa, Harry. Eu não tinha o direito de piorar seu estado psicológico. Realmente, eu pensava no seu bem, me dói saber que uma criança como você já sofreu tanto na mão de trouxas e mesmo assim insiste em defendê-los. Eu também não tinha o direito de te assustar e ser tão abusivo... às vezes eu me exalto desnecessariamente. Eu não queria te machucar...

O olhar e o tom suave do sonserino demonstravam carinho, empatia e arrependimento. Todas as coisas que Harry sabia que Voldemort não tinha. Tom estava mentindo, é claro que estava. E Harry tinha total consciência disso. Porém o menino de óculos também sabia que se não tivesse vindo do futuro, não haveria a mínima chance de perceber aquilo. E apesar de entender que era tudo um jogo de ilusão, a sensação que Riddle lhe estava causando era de tranquilidade e proteção.

O jovem Potter nunca vai admitir mais sentiu uma enorme admiração do futuro lorde. Toda aquela capacidade de manipulação, desde os gestos até a escolha de palavras, demonstravam o tamanho do poder e da inteligência de Riddle. Só o fato do rapaz ter admitido estar errado e se desculpar já anulavam as comparações de Harry entre ele e Válter Dursley. Tom sabia exatamente o que dizer para ganhar uma discussão e virar o jogo a seu favor. E foi pensando nisso, que Harry percebeu que apenas alguém que tinha aquelas habilidades seria capaz de descobrir um meio de fazê-lo voltar para seu tempo.

– Harry eu realmente sinto muito... não vou pedir que me perdoe pelo meu comportamento agressivo, mas me escute quando peço para que não saia andando pelo castelo... pode ser?

Toda aquela tranquilidade devastadora... Harry sabia o quão brilhante era quando apesar de saber toda a manipulação, não conseguia contradizer o sonserino em voz alta. O mais irônico era que anos atrás o próprio Riddle o alertara contra aquilo.

"Você nem imagina o meu poder... de persuasão..."

– Tom.

Aquela fora a primeira vez que Harry chamou Tom pelo primeiro nome e ele percebeu. O sonserino estava sorrindo vitorioso por dentro, sabendo que havia vencido mais uma vez.

– O quê, Harry?

Potter endireitou-se apoiando melhor suas costas na parede antes de falar:

– Eu tinha voltado para cá com uma resposta para a sua proposta. Mas depois de toda essa situação, eu a repensei internamente várias vezes.

Tom queria sair comemorando do quarto. Ele foi tomado por uma onda imensa de alegria. Entretando, ele forçou uma cara triste e desviou o olhar:

– Se eu fosse você pensava mais um pouco e...

Não completou a frase, sendo interrompido pelo mais novo:

– Eu aceito. Vamos tentar do seu jeito.

Ao ouvir as palavras de Harry, Tom finalmente abriu um sorriso sincero. Poderia gritar saltitante pelo Salão Comunal quando ficasse sozinho. Entretanto, o que saiu de sua boca foi somente:

– Sabia que tomaria a decisão certa – pôs a mão no ombro do mais novo.

– Não se anima tanto, tem condições.

Riddle retomou sua postura séria. Ele já esperava por isso. Se Harry não fosse impor algumas condições, seria fácil demais.

– Pode falar.

Tom encarou Harry prestando atenção em cada palavra que saía da boca do garoto:

–  Primeiro: nada de mortes. Você não pode me pedir para matar ninguém. Segundo: você não pode me fazer perguntas sobre o futuro. Vai ter que se contentar com o que eu disser. Também não vale ler a minha mente outra vez.

Tom ficou incomodado com a segunda exigência. Sabia que o garoto estava preocupado com a linha temporal, mas só o fato dele estar ali já causava uma desordem no espaço-tempo terrível.

Se já está tudo perdido, tire proveito... pensava Riddle. O que poderia acontecer de pior só por saber alguns fatos específicos futuro?

– Terceiro: nós vamos começar a elaborar um plano para me fazer voltar ao meu tempo original antes de qualquer outra coisa. E se for possível, vamos descobrir um jeito para que eu volte ao meu tempo original intacto. Sem alterações apesar do que aconteceu e o que vai acontecer aqui.

Tom abriu a boca, surpreso. Ele não esperava ter que dar um jeito de consertar toda uma linha temporal arruinada também. O trato era ajudá-lo a voltar para o futuro, mas ele nunca disse que seria o futuro que o garoto conhecia.

– Não creio que seja possível consertar a linha do tempo. Mesmo que eu não tivesse lido a sua mente, só o fato de você ter sido visto é o suficiente para causar modificações no futuro. Claro, há algumas teorias de linhas paralelas, mas nada muito concreto...

Harry suspirou. Ele não podia perder suas esperanças. Engoliu seu orgulho com muita dificuldade e disse em voz alta:

– Se tem alguém que pode me ajudar a consertar tudo isso, é você. Eu não gosto de admitir mas sozinho eu não sou capaz. Você é minha última esperança.

Harry colocou tanta súplica falsa na última frase e tomou muito cuidado com as palavras, se certificando em enaltecer a inteligência de Tom e inferiorizar a si próprio, na tentativa de conseguir ser tão persuasivo quanto Riddle fora com ele, que não ficou surpreso com a reação do mais velho:

– Eu farei o que for possível.

Harry teve que segurar um sorriso por finalmente conseguir convencer Riddle de alguma coisa. Sabia que o ego do sonserino era a chave pra isso.

– Ótimo, então estamos conversados.

E com aquilo, Tom sorriu para o garoto ainda apoiando o braço dele sobre si:

– Você verá Harry. Esse pode ser o começo de uma bela amizade. – Tom usou uma voz ensaiada e ia falar mais alguma coisa em relação ao novo acordo, no entanto acabou reparando nos machucados na face do rapaz – O que aconteceu com o seu rosto?

Harry levou sua mão livre a face instanteneamente. Seus dedos ficaram manchados de sangue.

– Ah, eu... caí. Sobre algumas carteiras em uma das salas que estive...

Riddle balançou a cabeça em um tom de reprovação:

– Você não vai mesmo me dizer onde estava?

– Já estou dizendo – insistiu.

Tom deixou o assunto de lado percebendo que não conseguiria arrancar a verdade do garoto naquele momento. Ele levantou as mãos em sinal de desistência e focou no assunto dos arranhões.

– Isso está feio. Como você caiu?

– Eu estava correndo e tropecei.

Tom estreitou os olhos e virou um pouco o rosto do rapaz para que pudesse ver melhor os machucados. Harry retraiu ao toque gelado do mais velho em seu rosto.

– Sendo que você está cheio de hematomas. Porque estava correndo afinal?

O jovem Potter arqueou uma sobrancelha com a indireta de Riddle para chamá-lo de burro. Sua voz estava carregada de sarcasmo:

– Eu queria voltar rápido para cá, porque sabe, você como a pessoa bondosa que é, sem dúvida nenhuma devia estar muitíssimo preocupado.

Tom advertiu Harry com o olhar. Entretanto, voltou a prestar atenção aos arranhões e respondeu a ironia do mais novo sem encará-lo:

– Apesar da minha raiva eu fiquei preocupado sim.

Eu sei que ficou. Não ia querer que nada acontecesse à sua preciosa fonte de informações. Pensou o jovem Potter com desgosto.

– Sabe, o estado do seu corpo ainda é delicado. Seus pontos poderiam ter se aberto.

– P-pontos?

Harry ficou apavorado. Tio Válter não chegou a cortar sua pele. Não fazia ideia do que Riddle falava.

– É, como Dumbledore teve que solidificar sua mão por algum tempo até que a poção ficasse pronta, ela acabou rachando. Nós usamos o corte que se abriu para injetar essa mesma poção posteriormente. Mas como já estávamos colocando substâncias demais no seu corpo, achamos melhor fechá-la com agulha e linha do que com mais medicamentos bruxos.

– E não existe feitiço para isso não?

– Claro que existe, mas costurar a pele com magia significa que ela iria repuxá-la. Com seus hematomas era melhor não. E porque essa cara? Você estava desmaiado, não sentiu nada.

Harry logo lembrou da dor agonizante assim que tropeçou sobre as pedras e ossos na câmara secreta. Sua mão ainda doía severamente e lembrou-se que quando caiu sentiu também a sensação de um rasgo. Automaticamente, ele olhou para a mão enfaixada assustando-se com a mancha avermelhada que começava a se formar.

– Merda... – sussurrou o mais novo.

Riddle seguiu o olhar de Harry, também espantando-se com o sangue. Ele se levantou apoiando cuidadosamente a mão do outro garoto no chão. Foi até a cama mais próxima e pegou um travesseiro. Voltou a se sentar e colocou a mão do mais novo sobre ele. Tom cruzou as pernas e com calma retirou as bandagens que cobriam o rapaz.

Harry quis chorar quando viu. Assim que sua mão estava descoberta, ele pôde visualisar os hematomas arroxeados que estendiam-se por suas juntas e os vergões inchados sobre a ponta de seus dedos. Seu pulso também estava roxo e mal enxergava suas veias. Na parte de cima de sua mão, bem no meio, havia um outro curativo feito de gazes e esparadrapos. Apesar de Harry enxergar a branquidão original deles, o que mais se via era o vermelho do sangue tomando conta do curativo.

Tom tirou as gazes também, tomando o cuidado de não pressionar o machucado. Ele bufou ao perceber que a linha saiu junto e constatou o óbvio: A pele do menino rasgou ainda mais com tombo, inutilizando os pontos.

– Por que não disse que estava sentindo dor logo de cara? – sussurrou o sonserino, mirando o ferimento.

– Você entrou aqui pronto para me matar, lembra?! – gritou o mais novo bem nervoso.

Tom não respondeu. Ele começou a conjurar utensílios medibruxos e poções. Além de agulha e mais linha. Riddle também fez aparecer um par de luvas descartáveis para que pudesse mexer no garoto melhor.

– Espera, Riddle, o que vai fazer?

– Consertar isso.

Tom pegou um dos frascos que conjurou e o entornou em um pedaço de gaze, passado ao redor do corte e limpando o sangue que se espalhava. Harry estava tremendo, com medo da dor, mas não recuou a mão. Ele ficou surpreso com a delicadeza de Riddle em tratar de sua mão. Nunca pensou que Voldemort pudesse ser tão cuidadoso. Ele poderia ter se tornado um excelente medibruxo, pensou. Ao invés de lorde das trevas.

 Tom pegou uma seringa e a mergulhou em outro frasco. Ele ergueu a mão do outro para que pudesse injetar o líquido, mas Harry protestou:

– Calma aí! Pra que a injeção?

– É uma poção anestésica, para que você não sinta os pontos.

– E eu não posso tomá-la? E por que eu já posso ter essa substância no meu corpo mas não uma poção que feche esse corte?

Tom revirou os olhos. Mas é claro que Harry tinha que ter medo de agulhas. O garoto estava se tremendo mais que os primeiranistas que Slughorn o obrigava a cuidar de tempos em tempos.

– Se eu te desse por via oral, demoraria mais para fazer efeito. Essa poção não é tão forte então não há problema. Diferente de uma capaz de curar isso sozinha.

Riddle aproximou a seringa novamente. Harry tentou não tirar a mão, mas, por estar tremendo, o sonserino continuava com dificuldade de fazer qualquer coisa.

– Pode, por favor, parar de tremer? – pediu Tom tentando não ficar impaciente.

– Não acha que eu já teria parado se pudesse?

Tom manteve a seringa perto da mão do garoto, mas passou a encará-lo e manteve o olhar de Harry ocupado.

– Achei que os grifinórios fossem mais corajosos.

– Nós somos corajosos! Mas agulhas doem, merda!

– Você aguenta uma surra, mas não uma agulha?

Harry sabia que não tinha como discutir com a lógica de Riddle. Mas coisas pontudas lhe traziam más lembranças.

– Vamos ver se você entende... quando eu era pequeno... – falava sem desviar o olhar do sonserino, porém, por se perder em suas memórias, não prestava mais atenção às coisas ao seu redor. Tom aproveitou a distração do menino para aproximar mais a seringa, tocando a ponta dela de leve na mão dele. – Eu e meu primo estávamos no parque e acabei ajudando uma senhora a atravessar a rua. Ela estava cheia de sacolas. Meu primo ficou parado sem fazer nada... no fim ela me agradeceu me entregando um saco de balas de uma das bolsas.

– E o que aconteceu? – Riddle não estava exatamente interessado na história. Queria informações sobre o seu futuro, não sobre a vida pessoal do menino. Mas enquanto Harry se mantivesse distraído falando, o sonserino poderia pressionar a agulha contra a mão do rapaz sorrateiramente.

– Meu primo começou a me encher dizendo que queria ficar com os doces. Eu falei que podia dividir, mas ele queria ficar com tudo. Fui comendo as balas no caminho de volta para casa, sabendo que meus tios tomariam o saco de mim e o dariam para meu primo se o vissem...

– Seu primo deve ter ficado furioso... – E com isso Tom conseguiu injetar o líquido na mão do mais novo. Ele rapidamente tirou a seringa da pele do menino e continuou a ouvir a história.

– Quando chegamos em casa, ele contou para o meu tio que decidiu me trancar no armário debaixo da escada sem jantar. Só que aquilo não era o suficiente para o Duda – Harry finalmente voltou a prestar atenção ao que acontecia – Ele pegou um garfo da cozinha e o enfiou no meu braço. Desde então eu tenho aversão a qualquer coisa me furando.

Sério pirralho, como você ainda consegue defender os trouxas...? Pensou Tom, balançando a cabeça.

– E você não fez nada para se vingar?

– Não.

Tom encarou os grandes olhos verdes de Harry. Por um momento pensou em quanta tristeza eles já haviam visto, o quanto choraram. Era justamente por isso que ele não conseguia entendê-lo.

– Bom, que seja, Harry. Eu tenho que terminar isso e voltar para os meus afazeres.

Tom deu o assunto por encerrado e pegou agulha e a linha. Harry finalmente percebeu que a seringa estava ao lado de Riddle e vazia. Ele examinou rapidamente a sua mão e encontrou um pequeno furo próximo ao corte aberto.

Harry ia perguntar quando foi que Tom o furou, contudo, o sonserino aproximou a linha de si. No mesmo instante  em que Potter afastou a mão machucada do travesseiro.

E lá vamos nós de novo... pensou Riddle.

– Por acaso você ouviu alguma coisa do que eu disse?

– Ouvi cada palavra. Mas você não pode simplesmente ficar com um corte aberto. Eu já fiz isso antes, é só confiar em mim. Sem contar que não vai doer nada.

Como em sã consciência eu poderia confiar em Voldemort...?

Harry esticou seu braço de volta, mas de repente seus olhos trêmulos por causa da agulha tornaram-se opacos e sem vida. Tom sorriu ao ver o garoto apoiar a mão no travesseiro outra vez. Ele ia abrir a boca para falar algo, porém Harry sussurrou:

– Não... eu nunca vou ser... capaz de confiar em um monstro como você...

Tom ficou surpreso e seus movimentos se paralisaram. Harry já não o encarava, seus olhos iam de encontro ao chão. Ele não parecia ter consciência do que dissera e por estar tão quieto, parecia assemelhar-se como uma marionete sem vida. O tom sombrio e firme de suas palavras estremeceu os ouvidos de Riddle.

Tom começou a costurar a mão do rapaz, um pouco desconcertado pelo peso das palavras de Harry. O silêncio que se instalou no local não era nada reconfortante.

"Monstro...?"



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