PASSEI MUITAS MANHÃS na sala da nossa casa, tentando ganhar coragem de perguntar. O livro aberto sempre na mesma página, o sol batendo no rosto, meus olhos meio que fotografando a alma do meu pai enquanto ele se perdia, distante, com o jornal nas mãos. Eu o observava, tentando adivinhar como estaria naquele dia. Queria ter certeza do melhor momento.
"O momento certo não existe", me dizia a Yuna. - Vai e pergunta. Pronto! Qual o mistério? - ela insistia.
Mas, dessa vez, a Yuna estava enganada. Havia o momento certo, só não era aquele.
Tive que esperar mais de um ano para a ocasião se apresentar. Foi no dia em que meu pai entrou em casa, assobiando, com uma samambaia nos braços. Estacionada diante do portão, havia uma Kombi, de onde foi retirada a antiga cadeira de balanço que era da minha mãe. Parte da Taeyeon estava de volta e pelas mãos do meu pai! Então que mal haveria em perguntar sobre o passado?
- Pai, quem é a Yuri?
A pergunta saiu com o primeiro balanço da cadeira. A resposta veio em forma de surpresa, silêncio, desconcerto.
"Seria Yuri mesmo o nome dela?", pensei.
À noite, meu pai veio ao meu quarto, sentou-se na beira da minha cama e pôs as mãos sobre meus joelhos.
- A Yuri era amiga da sua mãe. Nunca mais falei com as duas. Quem te falou dela?
- Ouvi alguém falar pra vovó. Faz um tempão. Meu pai me estendeu um papel. Nele havia um nome e um endereço, uma rua em outro bairro.
- Era onde a Yuri morava - disse meu pai, e sua voz me soou generosa.
Naquela noite não dormi direito. No dia seguinte, faltei à escola.
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