ASSIM QUE SOUBE O QUANTO eu e minha mãe éramos parecidas, não tive mais sossego, pensava nisso dia e noite, observando-me em qualquer espelho que visse pela frente. Até que um dia pingou uma informação de um jeito tão inusitado que custei a entender. Ou custou para a ficha cair, como diz meu pai, que ainda é do tempo em que orelhão só funcionava à base de moeda.
Eu já tinha doze anos nessa época. Foi quando ouvi de um homem desconhecido:
- Os olhos dela eram assim, do mesmo mel que os da menina...
Uma frase dita para meu pai sobre mim diante de uma sorveteria, na simplicidade da tarde de domingo.
- Nunca mais tiveram notícias dela? - o homem perguntou.
- Não - meu pai respondeu lacônico e calou-se. Assim como eu, que guardei essa informação bem dentro de mim. E nas minhas conversas com o espelho. Nossos olhos, do mesmo mel... Meu pai brincava que meus olhos eram como tronco cortado, com todos aqueles sulcos desenhados. Então, teriam nossos olhos, os meus e os dela, brotado da mesma árvore?
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