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História A Cura - Realidade


Escrita por: Caahs

Notas do Autor


Olá pessoal!

Antes de mais nada, gostaria de agradecer aos favoritos e comentários. É chato, mas gosto de repetir para saberem a importância que cada reação de vocês tem. Por isso, obrigada pela atenção <3

Vamos às notas:
1. O capítulo é bem longo. Vamos ter tanto a introdução do Akaashi quanto um aprofundamento gradual na situação do Bokuto. Minha intenção é mostrar as rachaduras dele cada vez mais, até um ponto em que, bem, vocês vão ler.
2. Não se enganem, o capítulo ainda assim é extremamente fofo
3. Eu sei que originalmente o Bokuto é mais velho do que o Akaashi, mas pelo bem (moral) da história vamos considerar o seguinte: alunos do terceiro ano tem 19 anos e o Akaashi tem por volta de 23
4. Eu não sou formada em fisioterapia, mas sempre pesquiso bastante sobre os assuntos que escrevo. Ainda assim, se alguém tiver mais sabedoria e quiser opinar sobre os exercícios, à vontade

Capítulo 3 - Realidade


“E de quanto tempo estamos falando?” Kuroo perguntou enquanto dava curtos passos à frente.

“Depende de muitos fatores.” Iwaizumi descruzou os braços, tentando amenizar ao menos a seriedade de sua expressão. “Não sei como o corpo dele reagirá durante a recuperação, não sei como o fisioterapeuta vai trabalhar com ele. Não é só o meu trabalho que importa nessa questão, mas…” o médico pausou sua fala dramaticamente. “Infelizmente, eu acredito que menos do que um ano seja esperar por um milagre, considerando o estado atual dele.”

“Você só pode estar de brincadeira.” O tom de voz do central diminuiu alguns oitavos, escurecendo-se junto às feições de seu rosto. “Um ano!? Isso não pode ser verdade.” Sua fala já não era coesa e sim beirava o desespero.

“Eu entendo a situação-“ Iwaizumi foi cortado bruscamente pelo central.

“Você não entende porra nenhuma.” Tomado por uma súbita onda de adrenalina, o coração de Kuroo entrava em taquicardia e sua respiração acompanhava o ritmo descompassado. “O vôlei é tudo para aquele garoto. Esse é o último ano que ele tem pra jogar conosco e dar tudo de si para entrar em uma boa faculdade ou ser escolhido por um time profissional. Ele vai ficar arrasado.” Kuroo fechou as mãos com excesso de força, sentindo suas curtas unhas cravarem em sua pele alva. “Isso vai acabar com ele.” Lágrimas acumularam-se nas pálpebras inferiores do central, embaçando sua visão, mas não atrevendo-se a escorrer pelo seu rosto.

“Kuroo…” Oikawa tentou acalmá-lo, mas ao tentar alcançar o ombro do central, teve sua mão brutalmente afastada.

“Não. Só não.” Passado o ápice de sua raiva, Kuroo abaixou a cabeça. “Você também sabe, vocês todos sabem o quão destruído ele vai ficar.”

“Kuroo-san, nós estamos aqui para ajudá-lo e nós não vamos desistir até ele melhorar.” Yaku pronunciou-se, tentando ao máximo soar esperançoso.

Quando a situação pareceu ter atingido um suposto equilíbrio emocional, Iwaizumi retomou sua fala anterior.

“Eu já vi casos piores, Kuroo-san. Entenda que ele vai voltar a jogar como antes. Essa lesão não é irreparável.” Apesar da frieza por natureza da profissão, Iwaizumi demonstrava traços de compreensão. “Eu vou encaminhá-lo ao fisioterapeuta mais competente que conheço. Ele com certeza vai fazê-lo melhor no menor tempo possível. Eu lhe garanto.” 

Desolado, Kuroo somente assentiu. “Obrigado, Iwaizumi-san.” Ao sentar-se novamente, tornou a dirigir perguntas ao médico. “Quanto tempo até que a cirurgia termine?” 

“Não muito. A cirurgia em si deve demorar cerca de duas horas, mas gostaria de realizar mais alguns exames antes de liberá-lo.” Iwaizumi permitiu-se sorrir brevemente. “Sugiro que a fisioterapia comece o quanto antes, na próxima semana mesmo, depois do inchaço e a dor terem amenizado. Sugawara Kouchi é o médico responsável, sua clínica não é muito longe daqui.” Verificou o relógio de pulso. “Bokuto passará cerca de um mês caminhando com o auxílio de muletas e depois já poderá exercer algumas atividades do dia a dia por si só, visto que não haja dor.” 

“Se tiverem mais alguma pergunta, disponibilizo meu telefone pessoal. Podem conseguí-lo através do Oikawa.” Uma enfermeira aproximou-se do médico e sussurrou em seu ouvido, Iwaizumi assentiu em resposta.

“Certo. Se me dão licença, preciso atender um paciente. Assim que o Bokuto sair da cirurgia venho avisá-los.”

 

O pronto atendimento do hospital, embora populoso, contemplou-se em um silêncio aparentemente eterno àqueles quatro indivíduos presentes. Ninguém ousava pronunciar uma palavra sequer, tomados por uma angústia e ansiedade tão exorbitante que quase os asfixiava. Com cada tique do relógio, olhares desamparados percorriam pelas portas da sala na esperança da figura de Iwaizumi reaparecer. No entanto, a cada minuto percorrido pelos ponteiros, só se ouviam suspiros em desapontamento.

“Aqui.” Oikawa quebrou o momento de tensão, oferecendo chá gelado aos demais.

“Obrigada, Oikawa-san.” Kiyoko agradeceu.

“Agora podem parar com essas caras tristonhas, por favor?” O levantador disse quase em desgosto, ganhando em troca somente alguns olhares irritados e confusos.

“Vocês realmente pretendem entrar no quarto do Bokuto-chan com essas caras? Como esperam que ele fique bem sendo que estão todos a beira de uma crise de choro? Vocês acham que ele vai se sentir bem com isso?” Por mais que a divagação de Oikawa parecesse loucura, ele pôde observar pequenos gestos de concordância. Isso foi o suficiente para que continuasse. “Pensem um pouco. Não é só o Bokuto que precisa ser forte, nós também precisamos ser fortes por ele.” 

“Não importa, você sabe como ele vai reagir à notícia, Oikawa.” Kuroo murmurou contra a lata de chá em seus lábios.

“É claro que eu sei. Eu e você lidamos com as mudanças de humor dele constantemente.” Oikawa revirou os olhos em desdém. “Mas se isso nos influenciar e nos deixar pra baixo também, não há quem vá tirá-lo do buraco, entende? Só estou dizendo pra nos mantermos positivos e encorajá-lo a melhorar.” Gesticulando, Oikawa tentava ao máximo convencer os outros de sua ideia.

“Eu odeio admitir, mas o Oikawa tem toda a razão.” Iwaizumi, que escutava atenciosamente ao singelo discurso de seu namorado, sorriu abertamente.

As bochechas de Oikawa coraram ao notar-se na perspectiva de Iwaizumi. “Iwa-chan! Que susto você me deu. Isso foi pura maldade! Iwa-chan rude!” O levantador escondeu o rosto entre as mãos, virando-se somente para mostrar a ponta da língua na direção de Iwaizumi.

“Pare de fazer cena, Oikawa.” Reprimiu o médico.

“Ou o quê? Iwa-chan vai me punir?” O levantador respondeu em tom provocante, fitando Iwaizumi sedutoramente através de olhos semicerrados.

“Cale a boca, Shittykawa.” Envergonhado, Iwaizumi sentiu as maçãs do rosto ligeiramente acalentadas.

Oikawa ponderou em voz alta. “Me force mais tarde, Iwa-chan,” com uma última piscadela na direção do médico, Oikawa satisfez-se com o nítido incômodo de seu parceiro e cessou as brincadeiras.

Se antes Iwaizumi sentiu as bochechas um pouco elevadas em questão de temperatura, agora as sentia literalmente em chamas.

“Enfim,” Iwaizumi tentou ao máximo não focar nos murmúrios que se espalhavam na forma de discretas gargalhadas. “Precisam de um momento para recompor as energias ou querem ver o Bokuto agora?”

“Vamos lá.” Kuroo tomou controle da situação, levantando-se quase que de imediato e permitindo que Iwaizumi os guiasse pelos corredores do hospital.

Já era de se esperar que um lugar daquele porte não se resumiria somente a um pronto atendimento, mas ninguém poderia imaginar a imensidão de sala e corredores ocultos por pares de portas foscas. A sensação assemelhava-se a adentrar um distinto vilarejo; conversas fluindo, discussões em andamento, pessoas passando, utensílios carregados. Todos convergindo em um único sistema funcional que visava o bem daqueles ali presentes.

“Você já contou a ele, Iwaizumi-san?” Kiyoko perguntou receosa ao pararem em frente ao quarto 504.

“Ainda não,” Iwaizumi balançou a cabeça. “Preferi esperar pela presença de vocês, vai ajudá-lo a superar o impacto inicial da notícia.”

“Hey, hey, hey!” Bokuto exclamou lentamente ao ver seus colegas de time. “Já estava pensando que não viriam até aqui,” abriu ambos os braços como se estivesse a espera de um abraço.

O quarto no qual Bokuto se alojava era igual aos demais. As paredes brancas traziam uma certa paz ao local, que constituía-se de uma cama no centro, um criado-mudo de um lado e duas poltronas do outro. Além disso, um exuberante vaso ornamental destacava-se por ser a única fonte de cor do recinto.

O capitão estava sentado com os membros inferiores estendidos, sua perna direita estava elevada e nela localizava-se uma joelheira preta pós-cirurgica reforçada, ideal para o intuito de impedir com que haja movimentação do joelho naquele período de recuperação.

“Bokuto-san,” Iwaizumi chamou o olhar dourado para si no momento em que todos se aconchegaram. “Você passou por uma cirurgia bem sucedida de reconstituição do ligamento de seu joelho e menisco. Essa é uma lesão muito comum em atletas, principalmente de esportes que requerem bastante movimento da parte inferior do corpo com pulos, corridas, etc. Por enquanto sua recuperação vai se dar em casa, mantenha sempre que possível sua perna elevada para evitar o inchaço e vou prescrever um anti-inflamatório caso sinta dor. A partir da semana que vem você iniciará sessões de fisioterapia diárias para fortalecer sua musculatura e ajudá-lo no processo de movimentação da articulação,” o médico juntou um punhado de ar acompanhado de coragem para transmitir a mensagem mais difícil.

“Desculpe, Bokuto-san. Por conta dessa contusão, você não poderá jogar vôlei até sua total recuperação. É extremamente necessário que você siga minhas instruções e as do fisioterapeuta para poder voltar a jogar sem complicações.”

Os olhos amarelados de Bokuto arregalaram-se, fosse por surpresa ou medo, e perdiam gradualmente o brilho característico. Seus dentes estavam à mostra, mas sua expressão permaneceu intacta. “É mesmo? Pelo menos vou poder voltar a jogar, não é?” Perguntou como quem gostaria de sanar suas dúvidas, em tom parte afirmativo e parcialmente receoso.

“Com certeza. Pode demorar um pouco, mas vai conseguir voltar a jogar. Esse é o nosso objetivo.” Iwaizumi disse com firmeza.

“Demorar um pouco? Quanto tempo é esse pouco? Sabe doutor, eu tenho um campeonato importante para ganhar com o meu time aqui e seria realmente horrível se essa lesão aqui me impedisse de jogar, porque eu realmente quero participar e marcar vários pontos e poder comemorar com todo mundo quando nós formos nomeados campeões.” Bokuto destrambelhou, soando levemente desafinado.

“Minha estimativa é de um ano, mas pode ser que em menos tempo seu corpo já tenha se recuperado.”

Iwaizumi preparou-se internamente para a crise de raiva, o choro e as discussões que viriam a seguir, sendo essa a reação da maioria dos pacientes ao receberam uma notícia de tamanho impacto. No entanto, o médico deparou-se com o completo silêncio de um Bokuto cabisbaixo, aparentemente abstendo-se do quarto por alguns segundos antes de retomar a capacidade de falar.

“Um ano inteiro, é?” Sussurrou o capitão em voz alta, mas para si mesmo. “Eu aposto que vão sentir falta das minhas jogadas.” Bokuto coçou a nuca descontraidamente e um sorriso fraco estabeleceu-se em seu rosto. 

“É claro que vamos, Bo.” Kuroo ofereceu um gesto amigo ao abraçar o pescoço do capitão.

“É bom sentirem mesmo! Afinal, daqui um ano eu nem vou estar com vocês mais.” Sua voz desapareceu de maneira quase imperceptível ao longo da fala.

Oikawa esbofeteou a cabeça de Bokuto. “Se acha que não vamos mais jogar juntos só por não estarmos mais no mesmo time, você é um idiota, Bokuto-chan.” 

“Eu não sou um idiota!” Bokuto retrucou de forma manhosa.

“Então pare de agir como um.” Oikawa revirou os olhos e encostou sua cabeça no ombro de Iwaizumi; a ligeira diferença de altura entre os dois facilitava as ações do levantador. “Ei Iwa-chan, podemos levar o idiota pra casa?”

“É…” O gesto desconcertou a postura de Iwaizumi, que frisou as sobrancelhas e virou o rosto no momento em que deparou-se com os olhos castanhos de Oikawa. “Podem sim,” sentiu as maçãs do rosto esquentarem ao sentir os lábios do levantador resvalarem em seu pescoço. 

“Obrigado, Iwa-chan,” sussurrou Oikawa.

Bokuto deixou o hospital com o auxílio de um par de muletas e uma promessa de que seguiria as instruções de Iwaizumi à risca. Ele acenou para o médico animadamente, apesar das pontadas sentidas, que se davam não só por conta da dor, mas também pela excruciante angústia que lentamente o consumia por não poder mais dedicar-se àquilo que mais amava, o vôlei. Bokuto não era considerado um aluno muito exemplar, de forma que seu único destaque se dava na forma do esporte praticado. Era sua maior chance de sair do colégio e conseguir uma bolsa na faculdade ou ingressar diretamente em um time profissional. Porém, os sonhos de Bokuto foram tomados cruelmente e deteriorados pelo seu próprio corpo. O delicado fio de esperança ainda existente e sua tesoura estavam sob controle de mãos alheias, mãos que Bokuto até então desconhecia.

“Tem certeza de que não quer que eu fique na sua casa hoje?” Kuroo questionou, relutante em deixar Bokuto sozinho naquele estado quase deplorável.

“É claro, Bro. Eu estou bem, olha,” deu uma pequena volta estabanada com o par de muletas para provar seu bem estar. “Não se preocupe.”

“Tudo bem, mas se precisar de qualquer coisa me ligue ou mande uma mensagem. Lembre-se de tomar seus remédios também.” Kuroo apontou para a sacola pendurada no braço de Bokuto. “Semana que vem venho te buscar para a fisioterapia.”

“Sim senhor. Sabe, acho que você está passando tempo demais com o Oikawa, porque está soando como se fosse minha mãe.” O capitão gargalhou da própria piada, mas interrompeu o ato e arregalou os olhos. “Merda, preciso ligar para a minha mãe, ela vai ficar arrasada,” sua voz entristeceu-se.

“Ela vai superar.” Kuroo comentou da janela do carro. “Lembre-se de me ligar e use o elevador!” Vociferou em um último lembrete antes de dar a partida no carro e seguir para sua residência.

Bokuto destrancou a porta da frente de seu pequeno apartamento e adentrou no recinto ao mesmo tempo em que exalava um punhado de ar repleto de peso. Sua moradia era singela, porém continha elementos característicos da personalidade de Bokuto. A porta de entrada oferecia de antemão uma vista da cozinha e sala, cômodos que destacavam-se, respectivamente, pelas pastilhas magentas e sofá bordô. As cores refletiam perfeitamente a personalidade ora entusiástica, ora melancólica de Bokuto; um equilíbrio entre o quente e o frio. Em volta do painel pertencente ao rack preto na sala, fotos de familiares, amigos e da infância de Bokuto podiam ser visualizadas, junto de delicadas estatuetas amadeiradas de corujas de diversos tamanhos. O jogador da Fukurodani não tinha receio de mostrar a todos sua fixação pessoal pelo pequeno animal.

A sacola de medicamentos junto das indicações médicas foram lançadas na direção da mesa de Bokuto assim que ele pisou em seu quarto. O par de muletas foi cuidadosamente deixado ao lado da cama para que enfim o jogador pudesse afundar-se no conforto de seu colchão.

“Essa não, preciso deixar a perna pra cima,” sussurrou e esticou-se para ajeitar algumas almofadas.

A tarefa custosa era realizar todas as ações requeridas sem movimentar o joelho contundido. Bokuto estremeceu ao sentir uma pontada transformar-se em dor latejante, alastrando-se pelos arredores da articulação recém reconstruída. 

Conforme deitou-se, Bokuto encarou o teto, permitindo que sua mente divagasse sobre os acontecimentos recentes. Ele ponderou sobre o vôlei com uma certa tristeza no olhar, pois compreendia que poderia nunca mais voltar a praticar o esporte em que tanto se empenhava. A princípio, sua relação com o vôlei resumia-se a uma obrigação, mas no momento em que Bokuto aprendeu a amar o esporte e aceitá-lo como uma parte íntegra de si, soube que queria adentrar e participar daquele particular universo pelo resto de sua vida; não só por ser bom no que fazia, mas também pela satisfação e orgulho de exibir um sorriso de aprendizado ao final de cada partida.

Naquele momento, enquanto fitava o vazio e abria-se para o convidativo silêncio, Bokuto encontrou-se perdido pela primeira vez em sua vida.

“Vai ficar tudo bem, não é? Eu sei que vai,” inconsciente das lágrimas marejadas pelos contornos de seu rosto, Bokuto murmurou uma última vez antes de fechar os olhos e entregar-se à exaustão.

 

“Como está se sentindo?” Kuroo perguntou no instante em que Bokuto entrou no carro.

“Me sinto ótimo!” Bokuto exibiu um largo sorriso junto de um gesto positivo com o dedão.

“E está animado?”

“Para quê?” Bokuto mal parecia entender o motivo de estar recebendo uma carona de seu melhor amigo naquela ocasião.

“Para sua primeira consulta com o fisioterapeuta,” disse o central como se a resposta fosse evidente.

“Ah, isso.” Bokuto inclinou-se na janela por um breve instante antes de reagir positivamente. “É claro! Mal posso esperar para me livrar dessas muletas e dessa joelheira. Meu Deus como eu sinto falta das minhas joelheiras tradicionais. Eu quero tanto usá-las de novo!” Lamentou o jogador.

“Esse é o meu bom e velho Bo.” Kuroo bateu levemente a palma da mão contra o antebraço de Bokuto antes de iniciar o caminho até a clínica.

“Eu não sou velho!” Bokuto cruzou os braços e entreabriu os lábios em surpresa. “Bro, a cor do meu cabelo me deixa mais velho? Não pode ser, meu cabelo sensacional está se voltando contra mim!” Agarrou as próprias endurecidas madeixas preta e brancas e puxou-as, mas não o suficiente para arruinar seu penteado característico.

Durante o curto caminho até o destino, embora a conversa entre os dois fluísse como de costume, Kuroo não deixou de notar algumas peculiaridades nas expressão e gestos de Bokuto; a fala mais dispersa do que o normal, o olhar às vezes absorto no vazio ou na paisagem urbana, e principalmente o sorriso, que perdia progressivamente sua vivacidade tão majestosa e contagiante.

“Tem certeza que não quer que eu vá com você?” Perguntou o central pela quinta vez.

“Bro, eu sei que você me ama muito, mas acho que consegue ficar sem mim por uma hora.” Bokuto aproximou seu rosto com o de Kuroo. “Eu acredito em você.”

“Tudo bem, já entendi.” O central disse em desistência, afastando Bokuto e empurrando-o em direção à porta. “Me liga quando terminar que eu venho te buscar.”

“Até que essa ideia de motorista particular não está sendo tão ruim,” gargalhou o capitão enquanto descia do carro para pegar seu par de muletas no banco de trás. “Até mais tarde!” Acenou e deu as costas para a rua pacata.

Ao atravessar a entrada da clínica, um odor circulou pelas narinas de Bokuto, forçando-o instintivamente a fechar os olhos e apreciar o cheiro adocicado e natural que permeava-se pelos corredores do local. 

A recepcionista logo percebeu a reação de Bokuto, soltando um leve riso em resposta. 

“Gostou? É erva-doce.” Sua fala assustou o jogador, desequilibrando-o ligeiramente.

“Me desculpe!” A recepcionista se levantou rapidamente, respirando aliviada ao ver que o paciente havia se re-estabilizado. “Não quis te assustar. É que você me pareceu gostar do cheiro.”

“É incrível! Me faz querer deitar e nunca mais levantar.” Bokuto inclinou a cabeça para trás, buscando por mais daquele aroma intoxicante e relaxante. “Eu até esqueci da minha dor, quão engraçado é isso, não é?” Ele riu em alto som.

“Esse é o intuito,” disse uma nova voz masculina, serena e cautelosa, como uma sentença angelical.

Bokuto abriu os olhos e deparou-se com um rosto deveras compatível com a voz recém escutada. Os cabelos acinzentados e face arredondada do homem de jaleco na sua direita expressavam ainda mais tranquilidade, em complemento perfeito ao tom de voz harmonioso.

“Você deve ser o Bokuto Koutarou, é um prazer,” o homem estendeu uma das mãos. “Meu nome é Sugawara Koushi, recebi seu encaminhamento do doutor Iwaizumi.” 

Bokuto apoiou-se na perna esquerda para poder cumprimentar o médico. “O prazer é todo meu, Sugawara-san.”

“Ah, por favor, sem formalidades. Só Sugawara já está bom,” gesticulou o médico com desdém. “Me acompanhe até minha sala, por favor.”

Sugawara abriu caminho pelos estreitos corredores da clínica até entrarem em uma extensa sala repleta de aparelhos. Os curiosos olhos de Bokuto pairavam por cada um dos equipamentos com atenção, expressando toda a sua admiração; hipnotizado pela variedade de instrumentos disponíveis. No instante em que seu olhar encontrou uma figura de cabelos negros levemente ondulados, seu corpo paralisou-se por inteiro e sua surpresa estampou-se por todo o seu rosto, particularmente nos olhos amarelados e na sutil curvatura de seus lábios. O homem deveria ter quase a mesma altura de Bokuto, se não alguns míseros centímetros a menos, seu corpo era magro, mas ainda assim definido. A atenção de Bokuto, no entanto, se viu enclausurada pela coloração azul petróleo dos olhos alheios; foi como aprofundar-se no oceano e sentir o ar sendo levemente tomado de seus pulmões e disperso pelas profundezas.

“Bokuto-san, esse é meu residente, Akaashi Keiji.”

Akaashi curvou-se educadamente. “É um prazer conhecê-lo, Bokuto-san.”

Ainda em completo estado entorpecente, Bokuto sentiu um par de mãos encostar em seus ombros. “Vamos, sente-se.” Sugawara o auxiliou até a cadeira ao lado de Akaashi. “O Akaashi-kun é um dos melhores profissionais com quem já tive a honra de trabalhar e ensinar, e é ele quem vai estar encarregado da sua recuperação, Bokuto-san.” Ao deparar-se novamente de cara com o silêncio do jogador, Sugawara preocupou-se. “Ou se preferir eu posso assumir o caso sem problemas,” sorriu desajeitado.

“Não!” Exclamou Bokuto. “Quer dizer, tenho certeza de que vocês dois são ótimos profissionais, ou o doutor Iwaizumi não teria indicado sua clínica tão rapidamente. Então eu ficaria muito agradecido com a terapia de qualquer um. E se você, Sugawara-san, diz que o Akaashi-san tem plena capacidade de me ajudar, então vamos nessa! Estou animado para começarmos os exercícios.” Com ambas as mãos segurando firmemente nas pontas basais da cadeira, Bokuto balançava seu corpo para frente e para trás, tentando ao máximo conter sua energia em forma de ansiedade, mas sem sucesso.

“E eu também estou bem feliz em te conhecer, Akaashi!” Sorriu abertamente na direção do fisioterapeuta encarregado.

“Que ótimo!” Sugawara comemorou. “Eu já deixei todos os seus resultados de exames com o Akaashi-kun,” ele levantou-se, virando-se para o recém-formado. “Dê uma examinada no joelho dele, talvez seja melhor começar com Maitland e uma compressão e ir observando como ele reage.” Akaashi assentiu. “Bom, se precisar de mim, vou estar na minha sala. Se não me encontrar, pergunte para a Yachi-chan.”

“Eu tenho certeza que você vai melhorar logo, Bokuto-san.” 

Assim que Sugawara deixou o local, Akaashi pigarreou.

“Posso te ajudar a deitar ali, Bokuto-san? Acho que se sentirá mais confortável por enquanto.” O médico apontou na direção de uma maca próxima com aparatos adequados para elevar a perna lesionada do jogador, caso fosse necessário.

Akaashi o ajudou a levantar-se, abraçando a cintura de Bokuto e permitindo com que ele apoiasse seu peso na hora de andar sem encostar o pé direito no chão. O caminho, apesar de curto, exigia um esforço adicional do jogador, que apresentava claros sinais de desconforto.

“Obrigado, Akaashi!” Bokuto sorriu com os olhos cerrados. “Tudo bem se eu te chamar só de Akaashi? Quer dizer, nós provavelmente vamos passar bastante tempo juntos então achei que não tivesse problema em te chamar assim. E eu também não costumo ser tão formal com as pessoas.” Com um olhar neutro e um discreto sorriso desabrochando em seu rosto, Akaashi assentiu novamente.

“Como preferir, Bokuto-san.”

Apossando-se de uma pequena prancheta ligada a uma ficha de consulta, Akaashi tornou a falar. “Se importa se eu fizer algumas perguntas?”

“Pode perguntar! Estou sempre pronto para qualquer pergunta.” Bokuto sinalizou para si mesmo de maneira confiante.

“Como foi sua primeira semana após a cirurgia?”

Bokuto não poupou detalhes ao apresentar toda a sua casuística da semana anterior, principalmente sobre as crises de dor que mal o deixava dormir e as dificuldades em realizar atividades consideradas simples do dia a dia, como tomar banho e refazer o curativo. A rotina de Bokuto havia virado de cabeça para baixo; o tempo que antes era ocupado pelos treinamentos, agora transformou-se em um mero espaço vazio em sua agenda. Espaço esse que abria portas para os pensamentos a milhão do jogador, os quais revelavam gradualmente a escuridão que habitava em Bokuto.

“Certo,” Akaashi fez algumas anotações. “E se você pudesse classificar de zero até dez o nível da sua dor nesse momento, qual seria?”

O rosto de Bokuto contraiu-se, ponderando sobre o nível de sinceridade com o qual responderia ao questionamento.

“Sete.” Optou pela verdade.

A caneta de Akaashi pausou no papel. “Você quer tomar um anti-inflamatório?” Seu olhar esbanjava preocupação com demasiada sutileza, quase imperceptível.

“Provavelmente não seria uma boa ideia.” Bokuto coçou sua nuca, nitidamente desconfortável. “Eu não deveria tomar tantos assim e eu já engoli uns três comprimidos hoje de manhã. Eu não vou morrer por conta disso, né?”

As sobrancelhas de Akaashi ergueram-se. “São muitos comprimidos, Bokuto-san. Você vai ficar bem, mas talvez seja melhor aguardar mais algumas horas para tomar uma outra dose,” ele se levantou logo em seguida. “Vou buscar uma compressa de gelo para colocarmos no seu joelho e depois vou fazer uma leve massagem para amenizar sua dor.”

“Obrigado, Akaashi!” Bokuto agradeceu com um sorriso exagerado.

Eram infinitamente discretos os sinais demonstrados por Bokuto com relação a sua dor. Embora não aparente, o jogador escondia dentro de si a maior parte do desconforto, deixando à mostra somente uma fachada de dentes brancos e canto de olhos enrugados. Akaashi não tinha certeza, mas observou atenciosamente alguns sinais, como o jeito com que Bokuto retraía a perna lesionada mais do que o normal, a força com que suas mãos fechavam contra sua outra perna ou uma superfície mais próxima. Ele sabia sobre a dor de Bokuto, contudo surpreendeu-se, tanto com seu nível elevado como com a honestidade do jogador ao relatá-la.

Ao retornar, Akaashi examinou superficialmente o joelho direito de Bokuto e delicadamente repousou a bolsa de gelo sobre a lesão. “Se ficar muito frio, me avise, por favor. Vamos esperar sua perna ficar um pouco mais dormente para ter certeza de que não vou te machucar durante a massagem.”

“Akaashi, não se preocupe, eu sou bem forte!” Bokuto inflou seu peitoral. “Aguento um pouco de dor.”

O fisioterapeuta soltou um punhado de ar pelo nariz. “Eu acho que você aguenta até mais do que deveria, Bokuto-san.”

Não mais do que dez minutos se passaram até que Akaashi escutou pequenos murmúrios de Bokuto junto de uma movimentação excessiva do jogador. 

“Akaashi, acha que podemos começar aquela massagem? Estou sentindo minha pele queimar de frio.” 

“Certo.” O fisioterapeuta retirou a compressa e pressionou o local cuidadosamente com a ponta dos dedos. “Sente algo?” Aguardou pela negativa de Bokuto para continuar. “Me fale se sentir dor, por favor.”

Os dedos de Akaashi circularam pelo centro do joelho lesionado, sentindo a musculatura e os ossos que compunham o interior do membro até repousarem na direção periférica. Seus movimentos eram concisos e lentos, porém cuidadosos e bem articulados. O fisioterapeuta deslizava os dados na lateral do joelho de Bokuto como se estivesse empurrando sua articulação e lentamente forçando-a a se movimentar para um dos lados.

“Uau,” Bokuto observava as manobras de Akaashi com um teor de surpresa. “Isso é incrível! É como se a dor estivesse se espalhando devagar para as outras partes do meu joelho e desaparecendo,” soltou um grunhido de satisfação. “Isso é mil vezes melhor do que qualquer remédio. Você é incrível, Akaashi!”

Apesar de manter a compostura, Akaashi não conseguiu evitar o rubor que tomou conta de suas bochechas. “Obrigado, Bokuto-san.”

“Eu estou falando sério! Como é o nome disso que você tá fazendo? Essa coisa com as mãos.” O jogador pendia o pescoço para frente afim de apreciar o trabalho de Akaashi mais de perto. 

“Faz parte de um ramo chamado de terapia manual, como se literalmente usássemos as mãos para curar. E essa aqui é uma mobilização do joelho, ou manobra de Maitland. É utilizada justamente para irradiar a dor e dissipá-la ao mesmo tempo em que trabalho no fortalecimento da sua articulação.” Akaashi olhava discretamente para Bokuto enquanto explicava sobre sua técnica de trabalho e via seus olhos amarelados brilharem com o mais puro e inocente interesse. As reações de Bokuto eram sinceras e terrivelmente assemelhavam-se as de uma criança.

“Eu confesso que não entendi praticamente nada do que você acabou de dizer, mas tudo isso parece realmente incrível.” Bokuto balbuciou quase de forma incoerente, ainda encantado com cada movimentos dos longos dedos de Akaashi. “É como se suas mãos realmente tivessem o poder de curar,” ele inclinou a cabeça para o lado, um esboço de sorriso se formando em seus lábios. “Suas mãos são muito bonitas, Akaashi.”

Dessa vez o elogio proferido foi suficiente para desestabilizar Akaashi, que aliviou a pressão no joelho de Bokuto e sentiu seu rosto ainda mais quente. Seus pacientes sempre enalteciam a diligência de Akaashi e suas mãos, agradecendo pela terapia de excelente qualidade e dizendo o quão habilidoso o médico era.

Mas aquela havia sido a primeira vez que alguém referiu-se as suas mãos como bonitas

“É muita gentileza sua, Bokuto-san. Só estou fazendo meu trabalho.”

Bokuto ponderou em voz alta. “Então posso dizer com toda certeza que você está fazendo um ótimo trabalho.” O fisioterapeuta agradeceu internamente pelo prestígio tão sincero, preferindo não expressar-se verbalmente.

Akaashi refez o curativo de Bokuto no momento em que o tempo de sua sessão havia chegado ao fim e despediu-se do jogador após ter acompanhado-o até a entrada da clínica, onde um homem de cabelos escuros e tremendamente bagunçados estava aguardando pelo jogador.

“Até amanhã, Akaashi!” Bokuto acenou antes de ser recebido por um abraço apertado de Kuroo.

 

“E então?” Sugawara ergueu os olhos, antes focados em seu computador, na expectativa da resposta. “Como foi sua primeira consulta oficial?

“Foi bem. Bokuto-san é um bom paciente.” Akaashi recusou-se a encontrar o olhar de Sugawara, fitando suas anotações e encarando suas próprias mãos. “Ele disse que minhas mãos são muito bonitas,” comentou de forma imparcial.

Sugawara expressou uma surpresa genuína, agora inteiramente interessado no que havia acontecido durante a sessão. “E o que mais ele disse, Akaashi-kun?” Seu sorriso perverso deturpava sua aparência angelical.

“Nada,” respondeu o residente na ausência de qualquer emoção. “Eu só estava aplicando Maitland e ele começou a falar sobre a dor indo embora e o poder de cura das minhas mãos. E então disse que elas são bonitas,” Akaashi não era capaz de perceber o impacto que aquele simples elogio causou em si mesmo.

“Bem…” Sugawara procurou pelas mãos de Akaashi a fim de obervá-las mais de perto. “Seus dedos são bem alongados e você sabe bem o que fazer com eles. Então eu também diria que suas mãos são bem bonitas.” Akaashi tomou uma das mãos de volta, escondendo-a sob a mesa.

“O jeito que ele disse foi muito... sincero,” houve uma pausa na frase de Akaashi, como se estivesse procurando o melhor adjetivo para caracterizar as ações do jogador.

“O Bokuto-kun realmente parece ser bem direto, não é mesmo?” Sugawara riu, forçando Akaashi a acompanhá-lo no momento de descontração. “Vamos, agora me diga sobre o estado dele e o que pretende fazer durante as próximas sessões.”
 

Durante o restante da semana e na posterior, Akaashi continuou a trabalhar com as mesmas técnicas da primeira sessão, adicionando pequenos exercícios extras e examinando as reações e o progresso de Bokuto como um todo. De forma gradual, Akaashi encorajava o jogador a soltar parte de seu peso na hora de caminhar e trabalhava arduamente para re-estabelecer o movimento articular e retirar de Bokuto a incessante dor que tanto o trazia desconforto. Apesar do curto período de tempo, o fisioterapeuta notava um progresso significativo no joelho de Bokuto, o que o fazia respirar aliviado por estar fazendo seu trabalho da maneira certa, assim como lhe fora ensinado.

“Akaashi, você gosta de vôlei?” Perguntou Bokuto enquanto o fisioterapeuta dobrava e estendia sua perna direita.

“Sim, eu gosto,” respondeu sem virar na direção de Bokuto.

“Sério mesmo? Você sabia que eu sou, bem, eu era um jogador de vôlei? Eu era o capitão do time da Fukurodani.” A fala desequilibrada ecoou pelas paredes da sala, mas ainda era repleta de confiança e uma pitada de orgulho.

“Você é mais famoso do que pensa, Bokuto-san. E tecnicamente ainda é um jogador, só está lesionado.” Akaashi constatou.

“Faz sentido. Você é um cara muito inteligente, Akaashi. Gosto do jeito que você pensa.” Bokuto ergueu o tronco da cama. “Qual era sua posição favorita?” 

“Como eu era um levantador no colégio e na faculdade, não poderia ter uma opinião diferente.” 

Akaashi esperava por um surto de Bokuto, mas foi recebido pelo silêncio. Quando virou-se para verificar o ocorrido, encontrou Bokuto boquiaberto com os olhos brilhando de excitação.

“Eu não acredito que você jogava vôlei também! Eu aposto que você era o melhor jogador do time! Nossa, como eu queria te ver jogar, não, como eu queria poder jogar com você. Eu aposto que você seria melhor do que o Oikawa! Ele não é um jogador ruim, mas às vezes ele não me deixa cortar e eu acabo ficando chateado.” Bokuto exalou desesperadamente, encontrando-se ligeiramente sem ar ao terminar. Suas mãos agarraram seu cabelo, puxando-o com força.

“Por que você parou de jogar?” Questionou, não permitindo com que Akaashi voltasse a falar.

“Meu pai não gostava muito da ideia. Para ele, a fisioterapia deveria ser meu único foco e o vôlei só me atrapalharia,” ele diminuiu o tom de voz, claramente descontente com o assunto em pauta. “Abandonei o time no segundo ano da faculdade e nunca mais senti uma bola de vôlei entre meus dedos, só pele, músculo e ossos,” tentou amenizar o clima com uma pobre piada, mas os olhos de Bokuto demonstravam que havia falhado.

“Se pudesse escolher agora, voltaria pro vôlei?” O jogador deixou os sorrisos de lado e adquiriu uma expressão séria, rara de se ver.

“Não,” Akaashi disse rapidamente, sem dúvidas de sua resposta. “Eu não gostava da fisioterapia no começo, mas aprendi a amá-la com a mesma intensidade que amava o vôlei. Quando percebi as coisas que poderia fazer para as pessoas com as próprias mãos, senti a mesma sensação de quando vencia uma partida,” cabisbaixo, o fisioterapeuta contou parte de sua história.

“Nós somos iguais!” Bokuto empolgou-se. “Eu também não gostava de jogar vôlei, sabia? Meus pais me colocaram pra praticar contra a minha vontade e eu não entendia a graça naquilo, jogava simplesmente pra vencer sem me importar com nada. Mas aí eu presenciei aquele momento, aquela sensação única de vitória. E desde então tudo ficou diferente, foi como se eu enxergasse o esporte com outros olhos.” O capitão respirou fundo, olhando para cima esperançosamente, desejando poder reviver aquele momento novamente. Seus dedos ansiavam todos os dias por sentir a textura de uma bola de vôlei novamente, a musculatura de seus braços contraía-se e definhava a cada dia pela falta de estímulo, assim como a de sua perna esquerda. O vôlei tornou-se uma miragem reservada para os sonhos de Bokuto, somente; por mais que insistisse em alcançá-lo, nunca era possível. A cada menção do esporte, Bokuto sentia seu peito e olhos arderem em dor e não havia nada que pudesse ser feito para amenizar aquela sensação excruciante.

As mãos de Bokuto abraçaram o fino tecido que recobria a maca e sua visão embaçou subitamente, sentiu a visão turvar pelas lágrimas preenchendo suas pálpebras inferiores momentos antes de uma única escorrer pelo seu rosto.

“Bokuto-san…” Akaashi interrompeu o movimento para dedicar sua atenção ao jogador que se expunha tão abertamente.

“Ei, Akaashi. Posso te perguntar uma coisa?”

Akaashi piscou duas vezes. “É claro.”

“É normal sentir dor?” A respiração entrecortada de Bokuto chamou a atenção de Akaashi.

“Desculpe, você quer encerrar por hoje?” O fisioterapeuta colocou a perna de Bokuto em repouso e afastou-se.

“Não, não esse tipo de dor. Estou falando de uma dor aqui,” apontou para o próprio lado esquerdo do peito. “Eu sinto o tempo inteiro. É uma dor que vem aos poucos e quando me dou conta já mal consigo respirar, como se minha garganta fechasse e me faltasse ar.” Bokuto contraiu seu corpo protetoramente, como se quisesse enjaular-se para que nada nem ninguém pudesse atingí-lo.

O jogador arfou em meio a resposta trêmula de seu corpo. Seus emoções estavam lentamente colapsando sobre ele, desmoronando sem aviso prévio e carregando consigo uma carga não passível de ser suportada por Bokuto naquele estado de espírito. Relutante, o jogador via como única alternativa libertar-se daqueles sentimentos os extravasando para o exterior.

Bokuto sentiu as mãos de Akaashi em seus ombros e lentamente aquele turbilhão de sensações dispersava-se, como se o fisioterapeuta fosse capaz de atrair toda a carga negativa para si mesmo, livrando o jogador do mal que suportava sozinho. 

O toque fez com que o rosto já avermelhado de Bokuto deixasse seu casulo.

“Mas de alguma forma, quando estou aqui com você a dor não é tão forte,” 

Akaashi nunca havia notado uma mudança de humor tão brutal; cinco minutos atrás Bokuto parecia exaltado em compartilhar sua vivência, e agora o jogador expunha-se como carne viva, com sentimentos tão crus e reais que tornavam-se quase palpáveis.

O processo deu-se de forma gradual. Akaashi fitou aqueles olhos, ora amarelados ora dourados, e a forma como começavam a expressar alegria, demonstrada pelas pequenas dobras de pele em torno de orbes tão exuberantes. Os olhos se fechavam ao mesmo tempo em que o sorriso tomava conta do rosto de Bokuto, a curvatura de seus lábios parecia nunca chegar ao seu limite, expandindo-se até deixar a mandíbula do jogador dolorida. Uma lacuna separava seus dentes, permitindo com que o ar comprimido em seus alvéolos deixasse seu corpo, sopro por sopro. 

Ali, Akaashi verdadeiramente conheceu a felicidade mais pura e genuína de Bokuto

“Provavelmente porque você é demais, Akaashi!” Com todas as energias que lhe restavam, Bokuto sorriu para a pessoa capaz de fazer o jogador esquecer dos seus pensamentos hediondos.


Notas Finais


Curiosidade sobre o tempo em Haikyuu!!
Fui atrás para entender a data desses eventos e descobri algumas coisas
- O treinamento da primavera se passa em Julho mesmo e os times da província de Tóquio (Nekoma e Fukurodani) tem sua eliminatória para o nacional (que acontece em Janeiro) em Novembro. Sendo assim, para os terceiranistas, é a última chance de conquistar algum campeonato com o colegial.
- Com os times da província de Miyagi (Karasuno e Shiratorizawa), a eliminatória se dá em Setembro (?), que é aquela da 2a e 3a temporada do anime

O BOKUTO É MEU NENÉM, TÁ BEM?
Grrr, esse final me fez querer amassar a carinha dele entre as minhas mãos

O capítulo da semana que vem está quase pronto! Vamos ter um pouco mais de Iwaoi, talvez uma pitada de Kurotsukki e mais Bokuaka. Espero por vocês!


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