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História A Destruição do Olimpo - Pacto com o Diabo.


Escrita por: MiniNicc

Notas do Autor


BOA LEITURA AMORES!!!!!!!!!! Alerta capítulo grande.

Edit1: Depois que vocês lerem tudo, voltem pra olhar essa fotinho do capítulo. Sério, recomendo!

Capítulo 28 - Pacto com o Diabo.


Fanfic / Fanfiction A Destruição do Olimpo - Pacto com o Diabo.

 

O homem à sua frente não era nenhum pouco parecido com os pesadelos que Nimuë tivera dele. Seu subconsciente imaginara um monstro, gigantesco e flamejante com almas e fogo pendurados em si, esbravejando ordens e terror. E quando estivera investido em sua forma humana e disfarçada, Nimuë havia sonhado com um homem cheio de cicatrizes no rosto. Cheio de queimaduras, adquiridas em batalhas contra seus inimigos. Mas o homem que estava ali na sua frente não era nada disso. Era apenas um homem. Obviamente com uma presença marcante, alto, forte e que em muito relembrava Kael, mas ainda sim normal. Se topasse com ele na rua jamais desconfiaria que estava falando com um dos Deuses mais perigosos e ameaçadores da história da Mitologia.

Ele possuía uma barba branca bem aparada e cortada, usava um blazer completamente preto e impecável, de tecido caro e refinado porque Nimuë sabia definir e perceber essas coisas. Os olhos eram iguais aos de Kael, ou os de Kael eram iguais aos olhos dele. O que era mais provável. E a expressão estava um tanto quanto surpresa, se é que podia ser descrito assim.

- Olá, minha sobrinha _a voz de Hades soou como um trovão, e preencheu completamente o ambiente. Nimuë teve a impressão de ouvir até a vibração das janelas ao redor. Ela se arrepiou completamente, mas não perdeu a compostura. O encarou olho no olho, de queixo erguido, embora algo internamente lhe gritasse para sair correndo e não voltar.

- Olá _Nimuë respondeu, torcendo para que sua voz saísse forte o suficiente. Automaticamente ela apertou a mão de Kael, que ainda lhe segurava. Ele retribuiu o toque, afagando seus dedos. 

- Achei que você não fosse vir. És uma menina muito corajosa, sabia? E eu admiro isso _Hades falou, revelando o motivo pela qual sua expressão parecia surpresa. Ele pensou que ela não teria coragem de vir lhe encarar, lhe conhecer. Nimuë sentiu seu peito encher-se de orgulho, de energia extra. Era o Deus do Mundo Inferior quem estava ali, lhe elogiando e dizendo que admirava sua coragem. Isso definitivamente não era pouca coisa.

Ele achou que eu não viria, Nimuë pensou consigo mesma. Mas ela viera sim. E agora só iria embora depois que ele explicasse direitinho que história era essa de querer lhe conhecer e conversar. Justo ela, filha de um dos seus maiores inimigos. Filha de Poseidon.

- Obrigada. Mas você não me chamou aqui para elogiar a minha coragem, chamou? _Nimuë foi o mais direta que pôde. Hades sorriu em resposta. A sereia percebeu que pelo menos algo nele lhe relembrava a figura que ela sonhara diversas vezes. Ou melhor, a figura com quem ela tinha pesadelos diversas vezes. Os dentes dele eram grandiosos e quase pontiagudos, como se fossem afiados para cortar algo. Lhe davam um aspecto demoníaco, obscuro.

- Não, definitivamente não foi pra isso _ele respondeu, virando-se em direção ao balcão e pegando uma chaleira de cima do cooktop.

- Café? Eu que fiz _ele falou de forma extremamente orgulhosa. Kael colocou uma xícara amarela na sua mão, e pegou outra para si.

- Não garanto que vai estar bom, lá em casa quem sempre faz é a Perséfone _Hades falou, dando de ombros como se fosse a coisa mais normal no mundo. O problema era que lá em casa significava um palácio no meio do fogo e das almas dos mortos. E Perséfone era a Rainha do Submundo, a soberana do Mundo Inferior. Filha de Zeus e de Deméter, Deusa da Agricultura, que foi raptada por Hades há milhares de anos atrás e eventualmente se apaixonou e se casou com ele. Isso é muita loucura pra minha cabeça, Nimuë pensou. Mas manteve a compostura, e tomou um gole do café que o Deus da Morte acabara de fazer. O quão insano era tudo isso?

- Tá ótimo, obrigada _ela agradeceu, e mexeu no cabelo de forma nervosa. Trocou o apoio de pé, largando seu peso na perna esquerda. Hades sorriu, e andou até ficar atrás da bancada novamente. Ele tinha a expressão indecifrável as vezes, ou quase sempre. De forma que era impossível pra Nimuë distinguir o que ele estava pensava ou sentia. Se é que sentia algo. Parecia ser uma pessoa, ou um Deus obviamente, meio impenetrável. Meio duro, calcificado pelos milhares de anos.

- Você tem os olhos do seu pai, sabia? _Hades falou, lhe observando profundamente. Nimuë sabia disso. Embora nunca tivesse visto seu pai pessoalmente, Poseidon costumava lhe visitar durante seus sonhos. Era um homem bonito, de meia idade, com lindíssimos olhos verde-claros. Iguais aos seus. Iguais aos de Percy.

- Mas o resto...é a sua mãe reescrita _ele concluiu. A sereia franziu as sobrancelhas, e não pode evitar o traço de surpresa que atravessou suas feições. Ele estava falando da sua mãe biológica?

- Minha mãe? Você a conheceu? _a sereia perguntou, dando um passo em frente como se não pudesse se controlar. Kael passou um braço pela sua cintura, percebendo seu nervosismo. Nimuë deixou sua pele entrar em contato com a dele, e sentiu imediatamente uma paz e uma tranquilidade indescritível lhe inundando. As vezes é até bizarro o quanto os sentimentos que sentimos por alguém podem refletir fisicamente no nosso corpo. É como se a biologia humana trabalhasse diretamente com o psicológico.

- Naomi? É claro. Tivemos a oportunidade de conversar algumas vezes. Não que ela soubesse quem eu era, obviamente _Hades deu de ombros, servindo-se com mais uma xícara de café. Ele parecia pensativo. Nimuë refletiu sobre suas palavras. Ela sabia que Deuses podiam andar na terra de forma camuflada quando queriam, mas nunca imaginou que Hades teria interesse nisso. Ele parecia bem confortável no mundo lá embaixo. E a sereia também nunca teria imaginado que, num desses passeios, ele teria conhecido sua genitora. Sua mãe de sangue. A pessoa que lhe colocou no mundo.

- Ninguém nunca me contou nada sobre ela antes _a filha de Poseidon falou, numa tentativa desesperada de tentar arrancar algo do Deus da Morte. Um detalhe que fosse. A sereia realmente não sabia absolutamente nada sobre sua mãe, além do nome. Naomi Lee. O nome Nimuë inclusive era uma variação do dela. Seu pai lhe dissera que fora ela quem escolhera. Que ela lhe amava muito. Mas só. Nimuë nunca ouvira nada além disso. Não sabia como ela era, nem mesmo suas feições. Cor dos olhos, do cabelo, não sabia sua idade, se tinha família. Sua personalidade. Nada. Hades pareceu perceber seu dilema interno, e suspirou fundo. Trazendo lembranças para dentro da sua mente milenar.

- Sua mãe era uma mulher mortal. Uma humana entre tantas outras. Provavelmente não teria se destacado muito em vida, se não fosse a sua beleza excepcional. Eu lembro da primeira coisa que pensei quando eu a vi, atravessando a rua ao lado do meu irmão. Uma humana, com a beleza de uma Deusa _Hades continuou, perdido em pensamentos. Nimuë deixou escorrer uma lágrima, involuntariamente. Tamanho era o poder daquele momento, daquelas palavras. Era a primeira vez que visualizava verdadeiramente sua mãe. Uma humana, com a beleza de uma Deusa. A sereia sorriu, e encarou o Deus da Morte à sua frente.

- Ela realmente era excepcional, capaz de hipnotizar qualquer homem. Capaz de fazer qualquer um se apaixonar. E você é igualzinha a ela _Hades falou, lançando um olhar de canto de olho para o seu filho. Um olhar que Nimuë, se estivesse mais concentrada, teria percebido. Kael encarou o pai, que obviamente estava fazendo uma analogia, e revirou os olhos. Seu progenitor tinha lhe feito admitir, há horas atrás durante sua conversa a sós, que estava apaixonado por Nimuë. Di Maggio tentara negar num primeiro momento, mas então Hades de forma esperta ameaçou matar a garota e o filho saiu em defesa dela automaticamente. Oferecendo-se para morrer no lugar dela. Você só vai matá-la se me matar também, Kael tinha dito ao pai. E depois você ainda tem a coragem de negar que a ama, Hades lhe respondera. Era obvio que ele a amava. Ninguém da a vida para proteger alguém se não possuir sentimentos fortes por ela.  

- Se você a conhecia, e sabia do envolvimento de Poseidon com ela, então o senhor tinha conhecimento da minha existência. Sempre teve _Nimuë, distraída em pensamentos, fez a conclusão mais obvia daquela história toda. Hades balançou a cabeça negativamente, e cruzou o balcão para ficar na sua frente.

- Seu pai era extremamente apaixonado por Naomi, tão apaixonado que teria morrido em seu lugar se pudesse. Teria morrido no seu lugar se não fosse uma criatura imortal e eterna. Quando ela se foi, choveu e trovejou ininterruptamente por dias a fio. Terremotos, e tsunamis foram registrados em milhares de países ao longo do globo terrestre. Tudo fruto da dor e do luto do grandioso Deus dos Mares. Até que, quatro dias depois, tudo cessou. Como se nada tivesse acontecido _Hades explicou, e Nimuë arrepiou-se completamente. Lembrava-se perfeitamente das histórias que Mayda, sua sereia-tutora e a mulher que lhe criou, lhe contava antes de dormir. Você chegou para mim com apenas quatro dias de idade, ela cantarolava. Com apenas quatro dias de vida.

- Eu mandei uma das minhas Fúrias localizarem os registros hospitalares ou até mesmo a cripta no cemitério _o Deus da Morte falou, dando de ombros. Obvio que esqueletos, cripta, cemitério, corpos e a morte em si eram algo normal e corriqueiro para ele. Mas para Nimuë, era aterrorizante. Ainda mais quando se tratava da sua mãe. Sua falecida mãe.

- Tudo o que encontramos foi que ela sucumbiu devido a uma hemorragia interna aguda, seguida de falência múltipla de órgãos. Nenhum registro sobre gravidez, sobre parto, ou sobre uma criança desaparecida. Eu jamais desconfiei. Seu pai conseguiu encobrir e esconder você, durante todos esses anos, de uma forma que eu consideraria até mesmo magistral _Hades parecia impressionado, e os olhos negros estavam mais ainda mais profundos. Como se ele realmente invejasse a habilidade de Poseidon ter conseguido esconder uma criança do mundo.

- Depois disso, eu acabei enterrando o assunto _ele finalizou, tomando outro gole de café. A sereia restou silente por alguns minutos.

- Mas aqui estamos _Nimuë concluiu, erguendo o queixo e o encarando olho no olho. Hades arqueou as sobrancelhas, e coçou a barba branca. O ambiente ao redor pareceu escurecer, tornando-se mais perigoso. Mais ameaçador. Nimuë percebeu que Hades lhe observava tão profundamente que parecia enxergar seu esqueleto e seu cadáver por trás da pele. Ele estava calculando e analisando as opções que possuía para consigo. A sereia sabia disso.

- Mas aqui estamos _ele resmungou, mais para si do que para qualquer outra pessoa.

- Você vai me matar? _Nimuë perguntou para o Deus do Submundo, a tempo de ver uma careta se formar no rosto de Kael di Maggio. A ideia parecia incomodá-lo demais, só mesmo de ouvir.

- Depois de lhe convidar ao meu Chalé, e lhe oferecer café? Que tipo de pessoa você acha que eu sou? _Hades perguntou de uma forma indignada, mas Nimuë percebeu o tom de sarcasmo e ironia por trás daquilo. Que tipo de pessoa você acha que eu sou. Só um Deus cruel e sanguinário assim como todos os outros. Que, há pouquíssimos anos atrás, assassinou uma garotinha de 12 anos chamada Thalia. Que, inclusive, era sua sobrinha. Exatamente como Nimuë. A sereia notou que o Deus das Sombras leu o medo no seu olhar, e cresceu diante de si. Sua aura se expandiu, e Nimuë viu-se completamente dominada por ele. Completamente paralisada. Se ele quisesse arrancar a sua cabeça ali, exatamente naquele momento, ela não conseguiria nem se mexer para se defender. Era como se ele se alimentasse do medo das pessoas, e pudesse hipnotizá-las através disso.

- Para com isso, pai _Di Maggio se manifestou, dando um passo ameaçadoramente em direção ao Deus da Morte. Hades sorriu, e levantou as mãos como quem diz ser inocente. Seu filho possuía quase todos os seus poderes, no mínimo uma derivação deles. E obviamente conseguia pressentir quando ele os usava para cima de alguma pessoa, como estava fazendo agora.

- Só estou me divertindo um pouco. Faz muito tempo que não converso com pessoas vivas _Hades resmungou, dando um tapinha camarada no seu ombro. Kael revirou os olhos, e virou-se para Nimuë. Sua loirinha parecia aterrorizada, e quieta. Com os olhos verdes arregalados. Tadinha, Kael pensou. Ele a abraçou, deitando a cabeça pequeninha dela no seu próprio ombro. A sereia voltou a reagir ao seu toque, e lhe abraçou em retorno. Respirando fundo e puxando o ar como se seus pulmões tivessem voltado a funcionar somente agora.

- Você vai dizer o que quer, afinal? Ou vai nos enrolar até morrermos de tédio? _Kael perguntou diretamente ao Deus da Morte, virando-se em direção a ele e postando seu corpo protetoramente na frente da sereia. Nimuë encarou Hades por cima do ombro de Kael, e a sensação de escuridão e trevas foi se dissipando aos poucos. Devagar e lentamente, até restar somente o sol entrando pelas janelas do Chalé.

- Eu quero fazer um acordo. Um pacto _o soberano do Mundo Inferior falou, por fim. Abrindo os braços teatralmente, como quem espera receber um abraço.

- Um pacto? _Kael perguntou, arqueando as sobrancelhas. Nimuë parecia tão confusa quanto. Hades sorriu da expressão embasbacada dos dois meio-sangues a sua frente.

- Exatamente. Do latim pactum. Etimologia desconhecida, substantivo masculino. O conceito consiste em um tratado, acordo ou convenção entre duas partes sobre um determinado assunt... _o Deus da Morte começou a debochar, e Nimuë sacou na hora de onde Di Maggio havia puxado o sarcasmo constante. Havia puxado do seu pai, definitivamente. Kael revirou os olhos, e o interrompeu.

- Eu sei o que significa um pacto, o que eu não sei é que tipo de acordo você acha que pode fazer conosco _Di Maggio bradou, alterando o tom de voz. Soando mais rígido, mais ameaçador, mais adulto e respeitável.

- Vocês irão me oferecer algo que eu quero. E eu irei lhe oferecer algo em troca. Dessa forma, todos sairemos ganhando _Hades falou, como se fosse a coisa mais simples do mundo. Nimuë se interessou. Era uma garota muito curiosa, mas também era intuitiva. Sentia que aquilo que ele estava oferecendo seria algo bom, de certa forma. E como o ambiente ao redor estava menos ameaçador, ela saiu da trás das costas de Kael e deu alguns passos em direção ao Deus do Mundo Inferior.

- Estou ouvindo _a sereia falou, incentivando-o a continuar. Hades sentou-se no sofá da sala, abriu os braços sobre a guarda para se espreguiçar, e cruzou as pernas como se fosse um homem de negócios em um restaurante caro e refinado.

- Pela breve conversa que eu tive com o meu filho há algumas horas atrás, eu pude tomar conhecimento de que vocês dois não acreditam na Profecia. Correto? Se acreditassem não teriam protagonizado aquela cena bonita durante a madrugada _ele falou, apontando levemente para a cama do Chalé de Hades. Nimuë sentiu o rosto corar e esquentar. A cena que ele estava se referindo era o fato deles terem transado durante a noite inteira. Meu deus.

- Você estava assistindo dois adolescentes fazendo sexo?_ Kael di Maggio questionou seu pai com certo sarcasmo na voz. Um Deus não tem absolutamente nada de interessante e útil pra fazer na vida além de assistir, escondido e de forma invisível, uma cena de sexo entre seu filho e uma garota? Nimuë teve que olhar pro chão pra não virar um pimentão de tanta vergonha. Merda. Merda. Merda.

- Eu já assisti coisa bem pior durante a minha longa existência, filho. Acredite _Hades deu de ombros, descruzando as pernas e cruzando-as novamente para o outro lado. Kael bufou, e revirou os olhos. Nimuë encarou Hades.

- Correto. Não acreditamos na Profecia _ela respondeu à pergunta dele, tentando desesperadamente pular e ignorar a temática pornográfica.   

- Mas, precisamos trabalhar com hipóteses _Hades pegou o gancho e retornou para o assunto principal.

- A primeira hipótese é a de que a Profecia não vai se concretizar. Aquela em que vocês estão confortáveis, fazem o que querem sem medo das consequências porque não existirão consequências. E o outro lado da moeda, a outra hipótese, é que a Profecia vai se concretizar. Temos que pensar pelos dois lados, é claro _o Deus da Morte gesticulou com as mãos, e fez uma pausa dramática.

- Até porque, pelo que eu vi, vocês dois estão bem comprometidos em tentar fazer um filh... _ele sorriu de forma debochada, mas foi interrompido por Kael.

- Da pra parar com as insinuações sujas? _Di Maggio questionou o pai, enquanto revirava os olhos. Nimuë desviou o olhar novamente, focalizando o chão. Se fosse morrer de vergonha hoje não morreria nunca mais. Hades manteve o sorriso irônico no rosto, mas deu uma trégua para o filho.

- E, se a Profecia se concretizar, você vai deixar de ser magrinha bonitinha e vai ficar buchuda que nem as humanas ficam, e você senhor Kael di Maggiio vai se tornar pa... _ele continuando, apontando para o filho. Mas foi interrompido.

- Eu não to gostando desse assunto _Kael o cortou, cruzando os braços.

- Nem eu _Nimuë completou, se arrepiando só se pensar em si mesma buchuda como o Deus da Morte acabara de sugerir. Era uma adolescente de apenas 17 anos. Não podia engravidar. Não tinha nem condições psicológicas para isso. 

- A questão é: o que vocês vão fazer? Qual é o plano? _Hades perguntou por fim, levantando-se do sofá onde estava. Um silêncio ensurdecedor reinou dentro do Chalé por alguns segundos. Nimuë teve a impressão de que conseguia ouvir o som do próprio sangue circulando dentro das suas veias. O som do seu coração, aumentando de ritmo junto com seu nervosismo.

- Eu não sei... _a sereia respondeu quando sua voz retornou a si. Vacilante, e baixinha. Mas Hades ouviu, e rebateu de prontidão.

- Eu não sei não é bom o suficiente. Vocês precisam de um plano, de uma saída. Você vai ter um filho, que será procurado e ameaçado por praticamente todos os Deuses do Olimpo. Inclusive pelo velhote do raio _Hades, lhe apontando o dedo, falava de forma acusatória e com um tom que imporia respeito em qualquer um. Ainda mais nela, uma garota simples e aterrorizada. Espera aí, ele tinha dito velhote do raio? Velhote do raio era Zeus, por acaso?

- E aí? Vai fazer o que? Criar a criança aqui, num Acampamento? _ele finalizou sua linha de raciocínio, cruzando os braços para esperar pela resposta. Nimuë olhou desesperada para Kael di Maggio, que estava do outro lado do Chalé caminhando de um lado para o outro sem nem lhe olhar direito. Teve vontade de gritar pra ele reagir. Seu próprio pai estava ali lhe bombardeando com questões de vida e morte e Kael nem pra lhe ajudar.

- Eu não tenho nenhuma outra opção. Não tenho nenhum outro lugar para ir sem correr perigo e ser ameaçada de morte em cada esquina _a sereia respondeu, depois de pensar por alguns segundos e considerar absolutamente todas as variáveis.

- Exceto, é claro, o Mundo Inferior _Di Maggio falou de supetão, congelando no lugar em que estava e olhando para o seu progenitor. O Deus da Morte sorriu, satisfeito que seu filho tinha seguido sua linha de raciocínio. Kael caminhou na sua direção, parando há poucos passos de distância. Encarava seu pai de igual para igual. Da mesma altura para a mesma altura, dos mesmos olhos pretos para outro par de olhos pretos enegrecidos.

- Porque você tá interessado? _Di Maggio questionou o Deus da Morte, por fim. Analisando-o com os olhos semicerrados de desconfiança.

- Ora, vai ser meu neto não vai? _Hades lhe perguntou de volta, lutando contra uma careta ao pronunciar a palavra neto. Não gostava da ideia de um pedaço de gente correndo por aí lhe chamando de vovô. Jogaria seu mini corpinho através do portão das armas se ele fizesse isso.

- Seu filho está destinado a destruir Zeus e o Olimpo inteiro. Vai ser um Meio-Sangue extremamente poderoso. Seria muita burrice da minha parte ficar contra ele. Porque fazer isso se eu posso...criá-lo? Prepará-lo e treiná-lo da mesma forma que eu fiz com você? _o governante do Submundo questionou Di Maggio, que estava parado na sua frente. 

- Você vai usar a criança! _Kael di Maggio concluiu, fechando os olhos e balançando a cabeça em negação e frustração.

- Se você considera que dar um lar seguro, dar poder, uma criação digna de um príncipe, e uma família é usar alguém então sim _Hades levantou a voz, soando mais ameaçador e feroz. Do lado direito, a sereia estava completamente chocada e perdida com o diálogo entre o Filho de Hades e o Próprio. Estava tonta, sentia que podia cair a qualquer momento.

- Eu não to conseguindo entender direito... _a Filha de Poseidon falou depois de respirar por alguns segundos e se recompor do susto.

- Ele quer levar o nosso filho para o Mundo Inferior. Quer criá-lo lá, prepará-lo para a guerra. E quando a hora chegar, ele vai lhe guiar e lhe ajudar a tomar o Olimpo. Não é isso, pai? _Kael o acusou, cruzando os braços sobre o peito. Hades o ignorou, e virou-se diretamente para Nimuë. Chegando mais perto, como se quisesse convencê-la ou implorá-la por algo.

-O Mundo Inferior é o único lugar onde nenhum Deus tem poder e acesso. Nenhum além de mim. Nem mesmo Zeus. É o único lugar onde seu filho poderá viver seguro _ele falou, encarando-lhe com seus olhos pretos hipnotizantes. Nimuë teve a impressão de que o Deus da Morte estava mais alto do que o normal. Mais poderoso a cada segundo que passava.

-A criança nem nasceu e você já quer tomá-lo de mim? _a sereia perguntou, mas logo arrependeu-se. Não podia irritá-lo mais ainda. Ela estava em desvantagem ali. Hades poderia lhe matar a qualquer momento se quisesse. Poderia ter um surto de raiva ou algo do tipo. Porém, para sua surpresa, ele sorriu e deu um passo para trás.

- Você está convidada pra ir junto, se quiser. Serás bem-vinda. Perséfone adora companhias _ele deu de ombros, e virou-se para se servir mais uma xícara de café. Nimuë só faltava gritar de tanta frustração. Mas que absurdo era esse. Será que ele queria lhe enlouquecer?

- Peraí peraí. O Senhor não pode vir aqui assim e fazer uma proposta dessas como se fosse a coisa mais normal do mundo. Você quer levar meu filho embora, quer que eu vá junto. Como assim? _ela desabafou, procurando conforto no olhar de Di Maggio. Procurando ajuda. Porém, para o seu azar, Kael parecia tão perdido quanto. Tão frustrado e pensativo quanto. 

- Bom, vejamos...eu vou recapitular pra você já que a sua cabecinha bonitinha parece estar meio confusa _Hades voltou a sentar-se no sofá, cruzando as pernas com sua calça preta de tecido que jazia bem passada e frisada.

- Você tem a opção número 1, que eu acabei de lhe dizer. Já a opção número 2 é você ter o seu filho aqui no Acampamento, até porque disseste que não tens outro lugar para ir, correto? No milésimo de segundo que essa criança nascer, Zeus vai desfazer a barreira de Thalia. Depois, conhecendo meu irmão como eu o conheço, ele vai descer do Olimpo com toda sua fúria e sede de sangue. Vai assassinar Kael e o filho de vocês na sua frente, e após isso torturar e assassinar você na frente do seu irmão. Já o que ele vai fazer com Percy não tenho certeza, mas com certeza será algo criativo _Hades concluiu, deixando a sereia de boca aberta. Tamanho fora o impacto que aquelas palavras causaram em si. Nimuë sabia que os Deuses eram capazes de fazer coisas cruéis, mas isso era demais para a sua cabeça. Isso era realmente demais. Chegava a dar enjoo somente de pensar. A filha de Poseidon sentiu as lágrimas inundarem os seus olhos, e não conseguiu contê-las. Kael di Maggio viu sua loirinha assumir uma expressão de choro, e adiantou-se para abraça-la. Se tinha uma coisa que ele não conseguia ver, essa coisa eram garotas chorando. No caso de Nimuë, seus olhos outrora sempre tão verdes, ficaram vermelhos e brilhantes através das lágrimas cristalinas. De forma que lhe deixava atordoado e frustrado. Kael a puxou de encontro ao seu ombro e afagou seu lindos cabelos aloirados. Ela estava tremendo. Merda pai, Kael pensou.

- Ao meu ver, é bem fácil de decidir. Ou você salva o seu filho e ainda tem a chance de se salvar se for com ele. Ou morre todo mundo _Hades continuou a destilar as verdades nuas e cruas, e Nimuë soluçou outra vez. Enterrando o rosto no seu peito e tremendo. Kael a segurou, e encarou seu pai de forma zangada.

- Dá pra pegar mais leve? _ordenou, praticamente. Hades deu de ombros, e voltou a tomar seu café como se não tivesse acabado de sugerir que seu irmão Todo-Poderoso iria assassinar seu próprio filho, seu neto ainda não-nascido e seus sobrinhos.

Nesse meio tempo enquanto Nimuë se recuperava de tudo o que ouvira, Kael não a soltou por momento algum. Ficou ao seu lado, garantindo que ela conseguisse respirar e pensar claramente de novo. Mantendo-a longe da escuridão e da influência pesada e macabra que o Deus da Morte proporcionava.

- O que você acha de tudo isso? _a sereia o perguntou quando finalmente achou as palavras perdidas dentro de si. Kael a encarou. Ele carregava um aspecto doloroso no rosto, e a filha de Poseidon soube o que ele iria dizer. Pressentiu.

- Eu acho que, dessa vez, meu pai tem razão. Zeus é o Deus que criou o feitiço da barreira de Thalia. E, assim sendo, ele é o único que pode desfazê-lo. Se ele descobrir que uma criança destinada a derrotá-lo vive aqui dentro, ele vai vir atrás de nós. Vai vir atrás de todos nós, até mesmo do seu irmão _Di Maggio falou da forma mais delicada que pôde encontrar. Não queria machucá-la e torturá-la mais ainda com as palavras. A sereia suspirou fundo, e abandonou o colo de Kael para andar pelo Chalé. Era sua vez de ser pensativa, de ser inquieta.

- Eu posso escondê-lo no Mundo Inferior assim como o seu pai escondeu você. Por tempo o suficiente pra ele crescer, chegar aos 18 e ser capaz de defender a si próprio. Zeus não vai saber da sua existência. E quando souber... _Hades continuou a falar, mas foi interrompido pelos gritos de uma semideusa loira bem indignada.

- Quando souber haverá guerra. Você está falando de guerra. Milhares de mortos, pessoas inocentes _a sereia falou, gesticulando com os braços para dar mais credibilidade a sua frustração.

- Eu já estive em outras guerras antes. Eu sou o soberano da Morte. Não temo nada e nem ninguém _Hades a respondeu, de forma confiante e tranquila. Nimuë revirou os olhos, e estava prestes a explodir de novo quando Di Maggio veio ao seu encontro e colocou ambas as mãos no seu pescoço. Forçando-a a lhe encarar.

- Não sabemos se a Profecia vai se cumprir. Não sabemos de nada. Mas é bom ter um plano caso algo aconteça. É bom termos um norte, no fundo você sabe disso _ele falou, e logo emendou o resto.

- Escuta, princesa. Eu não gosto disso tudo tanto quanto você. Sei que o assunto é complexo demais. E demandaria muito tempo para pensar e refletir sobre o que é melhor ou não é. Mas, apesar de tudo, eu confio no meu pai. Confio na forma que ele me criou, e criou minha irmã Grace. Perséfone foi quase uma mãe para nós também, e nunca nos deixou faltar nada. Se tem um lugar que essa criança ficaria bem, se tem um lugar onde ele poderia viver escondido e seguro, esse lugar é lá _Kael finalizou, e pôde ver de canto de olho que seu pai sorria orgulhoso. Orgulhoso e satisfeito.

- Tudo bem. Tudo bem _a filha de Poseidon respondeu, e desvencilhou-se novamente de Kael para caminhar pelo Chalé e pensar. O Deus da Morte e seu filho respeitaram o momento dela, e deixaram que ela refletisse à sua maneira e ao seu tempo. A sereia andou e andou, de um lado para o outro, até que estacou na frente do Soberano dos Mortos. E o encarou.

- Se eu fechar esse acordo, vou querer que o senhor me dê uma garantia de que eu poderei ir e voltar ao Mundo Inferior para ver meu filho o quanto eu quiser. Quero uma garantia de que você não vai sequestrá-lo e nunca mais me deixar ter acesso a ele _falou exatamente o que estivera ensaiando mentalmente nos últimos minutos. Hades arqueou as sobrancelhas em forma de deboche, e dirigiu-se à Kael.

- Ela realmente pensa que eu sou um monstro né? _perguntou ao seu filho, com o sarcasmo carregado na voz.

- Ela tem direito a fazer o pré-julgamento que quiser. Você já fez muita coisa questionável _seu Meio-Sangue lhe respondeu, e Hades se apressou em responder.

- Tudo o que eu fiz foi para me proteger e proteger meus filhos _falou, projetando a voz como um trovão através do recinto.

- Como eu disse, questionável _Kael concluiu, lhe devolvendo a ironia na mesma moeda. Hades não pode deixar de compará-lo a si próprio. Aquele garoto era uma cópia esculpida de si mesmo.

- Tudo bem. Tudo bem _o Deus da Morte cedeu, levantando as mãos como quem diz ser inocente.

- O que você quer de garantia, princesa? _Hades se referiu a si pelo mesmo apelido que Di Maggio lhe chamava. Nimuë teve a impressão de estar falando com uma versão mais velha de Kael, de tão parecidos que eles eram. Até mesmo fisicamente. Os braços musculosos, a mesma altura, mesma cor dos olhos e o mesmo maxilar marcado e quadrado.

- Um talismã. Igual aquele _a sereia respondeu, apontando para o talismã que jazia no pescoço de Kael. Aquele que ele usava como colar, e lhe permitia livre acesso ao Mundo Inferior. Hades pareceu refletir por alguns minutos, e Kael franziu as sobrancelhas. Onde ela queria chegar?

- O talismã só funciona se você consegue viajar pelas sombras. Até onde eu sei, não creio que esse seja um dos seus poderes _o Deus da Morte rebateu, tendo plena consciência de que o poder de Umbracinese, ou seja, o controle total da sombras e da escuridão, era algo restrito a si e aos seus filhos. Ou melhor, restrito aos seus descendentes diret...

- E não é. Mas será um dos poderes do meu filho. Você mesmo falou que ele será um Meio-Sangue extremamente poderoso. Então o senhor pode conectar a joia a ele, garantindo que eu tenha livre acesso ao Submundo ou livre acesso aonde quer que ele esteja _Nimuë concluiu, orgulhosa da sua linha de raciocínio. Hades semicerrou os olhos por uns instantes, lhe observando. E depois abriu um sorriso sarcástico.

- Você é bem mais esperta do que eu pensava que fosse _comentou, aproximando-se dela.

- Eu acho que foi o senhor quem me subestimou desde que eu entrei por aquela porta _a sereia falou, peitando-o. Kael se aproximou deles, postando-se discretamente entre Hades e Nimuë. Apenas por precaução.

- Então está feito. Você terá seu talismã e o filho de vocês terá proteção _o Deus da Morte, sem mais delongas, estendeu a mão para selar o trato. Nimuë deu um passo em frente, e apertou o punho forte e poderoso do seu mais novo aliado. Por mais bizarro, estranho e aterrorizante que isso soasse.

- E você terá sua guerra _Kael comentou com seu pai, por fim. Hades sorriu. Sim, teria sua guerra. 

 

-#-

 

Já na porta de saída do Chalé de Hades, Nimuë virou-se uma última vez para o Deus da Morte.

- Você foi bem longe para quem não acredita na Profecia _ele comentou, dando de ombros. Nimuë sorriu.

- Como o senhor disse, existem dois lados de uma mesma moeda. O lado A eu já conheço bem e estou confortável nele, mas no lado B eu estava perdida. Sem rumo, sem plano. É bom ter um. Posso respirar mais aliviada _a sereia desabafou, ajustando melhor sua bolsa de tiracolo no ombro. Queria deixar Kael e o seu pai sozinhos por mais um tempo. Eles tinham muito o que conversar ainda.

- Você é realmente muito parecida com a sua mãe. Ela também era determinada, de personalidade e gênio forte. Uma mulher independente, e inteligente _o governante do Submundo falou de forma terna e até mesmo afável. Nimuë chegou até a pensar que Hades tinha um carinho pela sua mãe. Talvez eles tivessem desenvolvido alguma amizade no período em que ele frequentou o mundo mortal. E se ela era tão encantadora quanto ele sugerira, então não seria difícil de imaginar que ela teria conquistado seu respeito e sua admiração.

- Obrigada. De verdade _Nimuë agradeceu. Deu uma última piscadinha para Di Maggio, e virou-se para descer as escadas do Chalé de Hades e sumir pela Floresta. Porém, no final da escada, o Deus da Morte lhe chamou de novo. 

- Foi meu filho que fez isso em você? _ele perguntou, gesticulando para os hematomas arroxeados e esverdeados ao longo dos seus braços. A sereia, mesmo constrangida, fez que sim com a cabeça. E Hades se virou dramaticamente para Di Maggio. 

- Que tipo de monstro você é? _debochou, fazendo Kael revirar os olhos. A filha de Poseidon riu e se deu conta de que Kael, mesmo tendo seu sarcasmo e sua aura de deboche como característica marcante, ainda sim não era nada comparado ao próprio pai. Hades conseguia ser mil vezes pior.

A sereia sorriu, deu um tchauzinho para o garoto extremamente lindo e atraente que jazia na porta do Chalé de Hades, e adentrou a Floresta Norte. 

Rumava o lago localizado atrás do Chalé de Poseidon. Precisava nadar. Depois de tudo o que tinha acontecido, Nimuë definitivamente precisava pensar e colocar a cabeça no lugar. 

 

Era muita responsabilidade, muita emoção e muita informação para uma garota só. 

 


Notas Finais


Eu odeio o fato de que, na Mitologia contada pela Disney, Hades é sempre o vilão. O Deus cruel, maldoso, egoísta e odioso. Bem como, inversamente proporcional, eles ditam Zeus como o bonzinho. O pai de todos, bom marido, a representação do bem como entidade. Só que quem conhece a mitologia de verdade sabe que Hades é o menos cruel dos Três Grandes Deuses. A única coisa questionável que ele fez foi com relação ao fato de ter tirado Perséfone da mãe dela, mas ainda assim ele a amava e nunca a traiu. Sempre lhe dava tudo do bom e do melhor, tentando ser bom marido e bom pai com verdadeiras intenções. Já Zeus, o grandioso e tão admirado, é um fanfarrão galinha que transa com todo mundo, que transformou sua esposa na Deusa dos Cornos e tá sempre ameaçando fazer guerra.

Uiiii desabafei heheh

MAS ENFIM, GOSTARAM DO CAPÍTULO AMORES?????


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