O Anfiteatro parecia um coliseu romano ou grego antigo. Com arquibancadas de rocha pura, fechando-se ao redor de uma arena redonda. No meio, a disposição da estrutura de madeira era basicamente a mesma que Nimuë havia visto no mês passado. Possuía quase 20 metros de altura, com uma parede instável para escalar, cheia de obstáculos no meio como lanças pontudas e pregos. Ainda tinham vigas grossas de madeira que giravam ao redor da estrutura inteira, provavelmente para derrubar quem estivesse tentando subir. No topo, há quase vinte metros do chão, existia um anel dourado simbólico preso a um Elmo de Guerreiro. O primeiro a subir e retirar o anel era o vencedor. O problema é que só subir naquilo sem a interferência de ninguém já parecia muito difícil, imagina lutando com outros dos 9 semideuses mais poderosos do Acampamento tentando lhe derrubar e lhe atacar. A filha de Poseidon respirou fundo, e concentrou-se. Lembrou do que seu pai lhe falara. Abrace a grandiosidade que existe dentro de você. Você é poderosa, você é poderosa, você é poderosa. A sereia ficou reafirmando esse pensamento na sua cabeça, até que escutou a buzina soar. A buzina que anunciava o início do Campeonato.
A música estava extremamente alta, os semideuses estavam vibrando e gritando nas arquibancadas ao redor, e o sentimento de pertencimento atingiu em cheio o seu eu interior. Nimuë sabia que pertencia aquele lugar, aquela loucura toda. Amava viver ali, e amava esses eventos perigosos em que a adrenalina disparava no sangue. Quando a filha de Poseidon correu para dentro da Estrutura de Madeira, a magia começou. Ela não soube descrever de outra forma. Parecia uma cena de filme, com uma trilha sonora fodástica e pessoas enlouquecidas gritando por todos os lados. Os semideuses não se aguentavam sentados, levantavam para berrar, para jogar pipoca para o alto, torcer para seus favoritos. Nimuë olhou para os lados e teve a impressão de ver a cena em câmera lenta. Sem acreditar que um ambiente como esse realmente existisse, e que pessoas tão poderosas e indestrutíveis como Percy Jackson e Kael di Maggio realmente fossem de verdade. Os dois semideuses atracaram-se no primeiro andar da estrutura, e a filha de Poseidon não perdeu tempo em se meter na briga deles. Subiu pela lateral da parede de escalada, e deu um chute no peito de Clarisse La Rue, que tentara se atirar na sua direção. Ela caiu de costas no chão, e logo se reergueu novamente. A regra era clara: só é eliminado por queda quem cai de um dos andares da estruturas. Ali, elas ainda não tinha ultrapassado o primeiro andar, então a filha de Ares tecnicamente não estava desclassificada.
Ela tornou a subir atrás da filha de Poseidon, perseguindo-a. Quando chegou ao segundo andar, Nimuë fez algo que vira Kael fazer na primeira vez em que assistira ao Campeonato. Usou de força exacerbada para quebrar um pedaço de madeira da Estrutura, fazendo um bastão de madeira para se proteger. Para usar como arma. E lhe foi extremamente útil, porque em menos de 4 segundos Nimuë sentiu a aproximação de Julius nas suas costas. Um dos filhos de Ares. A sereia abaixou-se rapidamente, desviando do primeiro golpe dele e lhe deu uma pancada forte na canela com o bastão. Forte mesmo, porque o que Kael mais havia lhe ensinado em seus treinos particulares era que ela precisava empregar o máximo de força possível em seus golpes. Um ataque de nada vale se não for efetuado com toda a força que você possuir nos braços. Julius urrou de dor, e se curvou para levar as mãos a canela. A sereia aproveitou para se apoiar em um dos postes de sustentação da estrutura, girou seu corpo e chutou o filho de Ares com os dois pés na altura da barriga. Ele cambaleou para trás e despencou do segundo andar, tornando-se o primeiro desclassificado do Campeonato.
Lá fora, nas arquibancadas, os semideuses gritavam enlouquecidamente, dançavam e vibravam ao menor sinal de conflito direto. Ao menor indício de combate direto entre os dez semideuses. Eles adoravam isso, era seu combustível diário. Alguns campistas estavam até mesmo com instrumentos como bumbos, caixas de percussão, tambores para fazer ainda mais barulho e torcida. A filha de Poseidon percebeu que Clarisse La Rue havia chegado ao seu andar, e então rapidamente içou-se para fora da Estrutura. Agarrando-se em uma das cordas que fixavam a madeira ao chão. A sereia desejou ardentemente estar com alguma faca naquele momento, pois poderia cortar a corda e impedir que a filha de Ares pulasse atrás de si. Mas não possuía nenhuma arma cortante consigo, inclusive essa era uma das regras da Competição. Sem armas externas, apenas as que você conseguisse extrair da Estrutura do campeonato. Como seu bastão por exemplo, Nimuë pensou. Então assim que a filha de Ares pulou ao seu encontro, agarrando-se a corda e aos seus pés, a filha de Poseidon lhe golpeou na cabeça. Por ser treinada e muito forte, ela não cedeu. Apenas caiu alguns centímetros na corda.
Nimuë tornou a subir o mais rápido possível, rastejando como uma cobra entranhada à corda. Deu uma olhada para a estrutura ao seu lado, para ter um panorama geral. Kael di Maggio e Percy Jackson ainda lutavam entre o 5° ou 6° andar, enquanto vários outros filhos de Ares, Reyna e Annabeth já estavam muito mais avançados na escalada. Annie era a que estava mais a frente, chegando praticamente ao 14° andar já. Ela escalava pela parede lateral, e desviava dos obstáculos com uma facilidade absurda. A filha de Poseidon estranhou o fato de Percy e Kael, justamente os dois semideuses mais poderosos, terem ficado tão para trás. Normalmente eles deixavam para se enfrentar nos últimos andares, próximos ao andar do vencedor. Próximos ao anel dourado. Mas agora, aparentemente, haviam se atracado antes. De forma que ambos se prejudicaram, atrasando sua corrida pela vitória. Era sua chance, Nimuë pensou. Se eles estavam fora de combate, era sua chance de vencer.
A filha de Poseidon apressou o passo, subindo a corda mais rápido do que um semideus normal subiria. Não porque possuía mais treinamento ou preparo físico do que os outros, mas sim porque era filha de um dos Três Grandes Deuses. O poder corria nas suas veias, e quando ela usava-o da forma correta, era tão perigosa e ameaçadora quanto Kael ou Percy. Abrace a grandiosidade que existe dentro de você, a lembrança da voz de seu pai ecoou novamente na sua cabeça. Nimuë respirou fundo, e preparou-se. Saltou da corda em direção ao 15° andar da Estrutura de madeira, e por pouco não caiu. A distância da corda em que estava até o piso firme do andar era relativamente grande, e o seu salto precisou ser meticulosamente calculado. Tanto é que a filha de Ares tentou lhe imitar, pulando para o 13° andar mas não conseguiu. Ela esbarrou na parede de escalada e começou a despencar. Durante a queda, seus gritos misturaram-se ao seu desespero de tentar segurar em qualquer obstáculo da parede de escalada como um buraco ou uma das vigas, mas não obteve sucesso. A sereia sorriu, satisfeita por ter se livrado de uma das competidores mais capacitadas e fortes do Campeonato. Estava indo bem, pensou consigo mesma.
Mas foi só terminar de formular o seu pensamento, que algo lhe atingiu por trás. Bem na altura dos joelhos. Nimuë foi ao chão, protegendo seu rosto de uma pancada forte de bastão. Era Annabeth Chase, sua cunhada. Aparentemente ela havia tido sua mesma linha de raciocínio, e feito para si um bastão de madeira grosso que servia como porrete. Nimuë girou rapidamente o corpo para o lado quando viu a filha de Atena descer novamente o bastão em direção ao seu rosto, e chutou seus joelhos. Tentando fazê-la ir ao chão. Annabeth, experiente como era, desviou e contra-atacou de forma maestral novamente. A luta que as duas semideusas estavam prestes a protagonizar deixaria os semideuses de boca aberta. Fariam todos respeitá-las e admirá-las como verdadeiras guerreiras. Como deusas.
A filha de Poseidon levantou-se rapidamente do chão, e se defendeu de uma série de socos laterais, na altura das suas costelas. Mas, apesar disso, conseguiu chutar o bastão da filha de Atena para o canto da estrutura. Afastando-o dela, visto que o seu tinha caído quando cruzou o ar da corda para a estrutura. Havia o derrubado, na hora de se equilibrar. Annabeth, de repente, lhe deu um tapa tão forte no rosto que Nimuë tonteou. Caiu com um joelho no chão, e cuspiu sangue. A filha de Atena colocou a mão na sua nuca, provavelmente para torcer o seu pescoço ou algum golpe genial que lhe tiraria de combate, mas Nimuë cobriu a sua mão e virou seu corpo para dentro, habilidosamente. Conseguiu prender o braço da Filha de Atena atrás das suas costas, e levou a cabeça dela em direção ao seu joelho. Ela gritou com a joelhada, e cuspiu sangue.
— Dói né? — a sereia perguntou em um tom debochado, referindo-se ao tapa forte que Annabeth tinha lhe dado há segundos atrás. Ao redor da estrutura de madeira, a música parecia cada vez mais alta, assim como os gritos dos semideuses. Assim como sua torcida, seus instrumentos. Annie deu um grito de raiva, tentando se soltar.
— Você tá ferrada demais, cunhadinha! — ela rugiu entredentes, já se livrando do aperto de Nimuë. Esta, por sua vez, aproveitou para empurrar a cabeça de Annabeth contra um poste de madeira de sustentação, à sua esquerda. O estalo alto poderia ter feito a sereia se arrepiar inteira de pavor se não estivesse com o corpo tomado por adrenalina. Bateu a cabeça da filha de Atena mais uma vez contra o poste, e então ela ergueu o pé esquerdo para trás violentamente. Como se fosse um cavalo dando coice. Por sorte, ela atingiu bem a virilha de Nimuë. Na parte interna da coxa.
A dor foi tão grande, que ela recuou, soltando o braço e a cabeça de Annabeth. A loira, filha de Atena, se virou com os olhos injetados de um vermelho raivoso e assassino. Seu rosto inteiro sangrava. Nariz. Boca. Se duvidar até os ouvidos. Nimuë percebeu o quanto ela estava irritada e possessa quando ela se abaixou no canto da estrutura, juntou seu bastão de madeira, e partiu para cima de si. O movimento foi tão rápido que a sereia não conseguiu nem desviar. Ela ergueu o bastão na direção do rosto de Nimuë, e a acertou bem na altura do maxilar. Dessa vez, a dor foi tão imensa que a filha de Poseidon pensou que fosse desmaiar. Principalmente porque já sentia dor na altura da virilha e da coxa, no rosto inteiro, nas costelas onde tinha levado socos violentos. Estava no chão, rendida, sem forças. A filha de Atena iria vencer o Campeonato. Elas eram as únicas que estavam no andar mais elevado da Estrutura, e Annabeth ainda era a única de pé. A única entre as duas que tinha condições de continuar subindo até o 20° andar. No fundo, Nimuë quis deixar. Quis permitir que a filha de Atena lhe nocauteasse para acabar logo com aquilo. Mas então pensou em seu pai. Pensou na força que ele tinha lhe dado, no quanto suas amigas estavam apostando e acreditando em si. Pensou no esforço que fez durante as últimas semanas para treinar com seu namorado, com as Caçadoras, com Quíron. Se quisesse ser uma guerreira de verdade, não poderia desistir assim e entregar o prêmio para outra pessoa por puro cansaço.
Nimuë percebeu que Annie estava de pé a sua frente, com os pés a poucos centímetros da sua cabeça. Quando você está no chão, existem somente dois golpes que você pode articular para se salvar. O Armlock, que imobiliza o braço, e o Corkscrew. Também conhecido como Saca-Rolhas. Justamente esse que a sereia iria utilizar. Tinha o aprendido ainda em Cathlon, com seu professor de defesa pessoal. Basicamente é um golpe avançado de jiu-jitsu, que consiste em segurar o tornozelo do seu adversário, caso ele ainda esteja de pé. E erguer o seu corpo totalmente para trás, dando um giro e imobilizando o joelho do inimigo. A filha de Poseidon já tinha lido e o ensaiado algumas vezes, em Kael principalmente. Elas brincavam de imobilização no chão as vezes, e treinavam arduamente. Mas Nimuë nunca chegou a imaginar que usaria realmente esse golpe. Muito menos na sua cunhada, uma das pessoas do Acampamento que mais lhe eram querida.
Entretanto, naquele momento, Annie não era nada sua. Era sua rival, sua oponente e apenas isso. Não teria dó dela, e seria profissional quanto a isso. Da mesma forma que ela era. Nimuë pegou a filha de Atena de surpresa pelos pés, e lhe puxou para o chão. Enquanto tentava se soltar, Annabeth recebeu um chute fortíssimo no queixo. Amoleceu os músculos, tamanha a força que a sereia colocara no pé. E por fim, para finalizá-la, a filha de Poseidon aplicou o golpe que repassara bem na sua cabeça nos últimos segundos.
Enroscou seu joelho ao redor do pescoço de Annie, e deixou ela agonizar por alguns segundos. A filha de Atena tentou se livrar arranhando a sereia da forma que conseguiu. Nas pernas, nos braços. Annabeth lhe arranhou tanto que Nimuë gritou de raiva, e apertou ainda mais o joelho ao redor da sua jugular. Em poucos segundos, o corpo da filha de Atena teve um espasmo, e relaxou. A sereia não teve nem tempo de comemorar o fato de que sua oponente estava nocauteada e fora de combate, porque logo ouviu duas pessoas se aproximando por trás. Eram Hector, e Reyna. Eles haviam conseguido chegar juntos ao 16° andar da estrutura, e agora estava páreo a páreo consigo. A sereia levantou-se rapidamente do chão e antes que Hector pudesse lhe alcançar, ela segurou no teto da estrutura de madeira, bem na beira, e içou-se numa cambalhota habilidosa para o 17° andar. Percebeu que Hector estava prestes a fazer o mesmo, e não perdeu mais tempo.
Repetiu a cambalhota para o próximo andar, e para o próximo, e então por fim içou-se ao 20° andar. O andar do anel dourado. O anel do vencedor. Olhou ao redor, arrepiando-se ao perceber a altura em que estava. Lá embaixo, há mais de 30 metros de distância, estavam as arquibancadas e o chão. Estavam o resto dos semideuses, que jaziam com as cabeças levantadas lhe encarando. Vibrando, e gritando. Nimuë sorriu, e virou-se para o elmo do guerreiro a sua frente. Poderoso, grandioso, e bem enfeitado por vigas douradas resplandecentes. Respirou fundo antes de retirar o anel do elmo, pois queria sentir na pele a emoção daquele momento. Havia conseguido. Estava ali, sozinha no andar do vencedor, e havia derrotado Annabeth Chase. A maior guerreira do Acampamento, a filha da Deusa da Sabedoria. Nimuë sorriu, colocando a mão no anel dourado. E falou consigo mesma:
— Você tinha razão, Kael di Maggio. Eu sou mesmo uma semideusa poderosa!
A filha de Poseidon puxou, com força, o anel dourado de dentro do Elmo do Guerreiro e automaticamente fogos de artifício subiram e explodiram no céu acima de si. Junto com uma enxurrada de papeis picados coloridos, e fumaça, que tornaram a sair do topo da Estrutura de Madeira. Os gritos lá embaixo foram tão intensos que chegaram até mesmo onde Nimuë estava. Ela sorriu, segurando o anel dourado acima da sua cabeça, exibindo-se para todos. A voz do Deus do Vinho, Sr. Dionísio, soou alta e clara pelos alto-falantes do Anfiteatro.
— Senhoras e senhores, eu lhes apresento a Campeã da 8ª Edição do nosso Campeonato: a filha de Poseidon, Nimuë Lee! — ele berrou a plenos pulmões, sendo encoberto pela música e pela gritaria.
A sereia não conseguia parar de sorrir e olhar lá para baixo, quando um semideus se içou para o 20° andar. Lhe assustando. Era Hector, o filho do Deus da Guerra. Ele estava sangrando no supercílio, de forma que Nimuë imaginou que ele e Reyna haviam lutado. Talvez fosse por isso que nenhum dos dois lhe alcançara na subida final. Porém, mesmo machucado e aparentemente cansado, Hector trazia um sorriso enorme no rosto. Ele veio na sua direção e lhe deu um abraço de urso que a sereia quase sufocou. Depois, ele abaixou-se na sua frente, colocou seu corpo no meio das suas pernas e lhe pegou no colo. Colocando-a sentada em seus ombros. Nimuë sentiu uma vertigem enorme, uma tontura inexplicável, e um frio na espinha. Hector era extremamente alto, e eles já estavam no 20° andar. Mais um pouco ela ia conseguir tocar o céu praticamente.
— Se você me derrubar eu te mato! — ela bradou para o filho de Ares abaixo de si, segurando-se bem a cabeça dele. Morta de medo. Hector riu, e lhe falou para aproveitar os holofotes. A sereia sorriu, e ergueu mais uma vez o anel dourado para cima, recebendo muitos gritos e urros em retorno.
Puta que pariu, ela pensou. Aquilo era demais. Era demais mesmo. Talvez fosse o dia mais feliz e realizado da sua vida.
Porém, como todo bom momento de felicidade, de tranquilidade, de paz e realização, existe algo ou alguém para estragá-lo. Para arruiná-lo. E, no caso da sereia, para destruí-lo. Em poucas horas sua vida mudaria tanto, que ela desejaria poder retornar no tempo e congelar a imagem bem naquele momento. Em que estava nos ombros de Hector, sendo ovacionada pelos semideuses do Acampamento por ter se tornado a primeira Campeã em tantos meses. Ou congelar a imagem na hora que ela desceu da Estrutura de Madeira e correu para o colo do seu namorado, Kael di Maggio. Na hora em que ele lhe recebeu, lhe abraçou, lhe beijou e disse o quanto estava orgulhoso de si. Queria congelar a imagem em qualquer um desses momentos. Porque absolutamente qualquer coisa era melhor do que o que iria passar.
Qualquer momento era melhor do que o pesadelo que estava prestes a viver.
-#-
Poucas horas depois, a filha de Poseidon estava correndo pela Floresta do Norte, localizada nos limites da barreira de Thalia, porém ainda dentro do Acampamento Meio-Sangue, quando a garota lhe dissera que era ali.
— Ela está aqui dentro. — Hunter apontou para dentro de uma espécie de barraca improvisada. Eram lonas com panos de chão na cor marrom, estendidos sobre uma espécie de cabana feita de madeira. Era alta, porém estreita. Nimuë nunca tinha visto aquele local dentro do Acampamento Meio-Sangue. Deveria ser novo. Mas porque é que uma criança de 12 anos, sangrando e chamando pelo seu nome estaria escondida ali? Hunter havia lhe tirado da festa de comemoração e entrega da sua coroa de louros pelo Campeonato às pressas, dizendo que havia encontrado uma semideusa nova. Que ela estava ferida, que era criança e estava se recusando a ir a Enfermaria a não ser que falasse com Nimuë. Ela disse que só vai a enfermaria se for com você, Hunter tinha lhe dito. Frisando que a menina iria morrer de perda de sangue se não fosse acudida logo. A sereia, compadecida da situação e prestativa como era, deixou o local da festa no centro do Acampamento e seguiu com a Caçadora de Ártemis ao encontro da tal semideusa.
— Porque ela está aqui dentro? — Nimuë perguntou a Hunter, antes de entrar. Sua amiga deu de ombros, indicando que não sabia. A expressão dela parecia apavorada, parecia realmente preocupada com a menina. Então a sereia não pensou duas vezes, e entrou na cabana. Lá dentro estava muito escuro, e com um cheiro horrível. Fétido, até mesmo. Pelo fedor, parecia que a tal menina, se ainda estivesse ali, estava morta e seu corpo em um estágio de decomposição avançado. Somente isso para explicar o cheiro tão ruim e enjoado. Mais ao fundo, Nimuë conseguiu perceber algo de diferente. Tinha uma lona preta imensa, cobrindo algo que parecia ser um corpo. Só que agigantado. Aquele corpo, ou seja lá o que aquilo fosse, parecia ter quase 4 metros de altura. Os braços, forrados por uma fuligem preta que lhe dava um aspecto sujo, estavam semi cobertos pela lona preta. E a cabeça, ou uma espécie de cabeça, batia no teto da cabana de madeira. O rosto daquela coisa estava como uma expressão tão aterrorizante, e tão monstruosa que Nimuë poderia muito bem ter deixado sua urina esvair-se pelas pernas. De tanto medo e pavor que sentira. Deu um passo para trás, automaticamente. Sabia que deveria ter corrido, mas ficou paralisada assim que o monstro abriu os olhos. Ou melhor, o olho. Sim, o olho! O monstro só tinha um olho, no meio da cabeça. Gigante e bizarramente esquisito. Era um ciclope. Tinha a merda de um ciclope no Acampamento Meio-Sangue, bem ali na sua frente.
— Você não é uma menina de 12 anos ferida... — Nimuë balbuciou de forma baixa e amedrontada, recuando uns passos para trás de forma cautelosa. Estava em choque. Sabia que estava em choque, porque se tivesse raciocinado de forma correta, já estaria muito longe dali.
— Não, filha de Poseidon. Não sou. — a voz do monstro foi tão estrondosa e alta que provavelmente todo o Acampamento Meio-Sangue escutara. Com um soco só, o ciclope se levantou e destruiu a estrutura de madeira da cabana ao redor de si.
O urro que ele deu na sua cara fora tão alto e aterrorizante, que os ouvidos da sereia automaticamente começaram a sangrar. Com certeza havia perfurado seus tímpanos, ela pensou. E antes que o monstro pudesse levar a mão ao seu encontro, Nimuë finalmente reagiu. Desviou dele, e correu a toda velocidade para fora da Floresta do Norte. Não conseguia raciocinar direito, não conseguia entender o que estava acontecendo. Ou melhor, como? O Acampamento Meio-Sangue não era o único lugar seguro para os semideuses?
— Isso vai ser divertido! — o monstro rugiu, lá atrás.
Assim que o ciclope deu um passo em frente, o chão inteiro tremeu. Tamanho era seu peso, tamanha era sua altura. O ciclope deveria ter a altura de três carros empilhados, e a força de 10 homens. Ou mais. Nimuë não conseguia fazer comparações nenhuma agora, só conseguia correr. Para bem longe daquele monstro horrendo. Correr, e correr. O ciclope rasgou uma árvore no meio, arrancando-a do chão pela raiz e urrou tão alto que, se os outros semideuses do Acampamento ainda não tinham entendido o que estava acontecendo, agora haviam acabado de perceber.
A sereia tropeçou, e foi ao chão. Bem a tempo de perceber que o ciclope havia jogado metade do tronco da árvore ao seu encontro.
Nimuë fechou os olhos.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.