História A Destruição do Olimpo - Luta entre Percy e Kael di Maggio.

Uma música começou a soar por todo o Anfiteatro assim que os dez participantes correram para dentro da estrutura de madeira. E então a magia começou. Nimuë não soube descrever de outra forma. Parecia uma cena de filme, com uma trilha sonora fodástica e pessoas enlouquecidas gritando por todos os lados. Os semideuses não se aguentavam sentados, levantavam para berrar, para jogar pipoca para o alto, torcer para seus favoritos. A filha de Poseidon olhava para os lados e tinha a impressão de ver a cena em câmera lenta. Sem acreditar que um ambiente como esse realmente existisse, e que ela jamais tinha participado dele antes. Sentia como se tivesse perdido 17 anos da sua vida vivendo em uma Cidade Afundada, no meio do Oceano Pacífico, com pessoas que não eram sequer da mesma espécie que a sua. Gostava deles, amava na verdade. Mas mesmo assim aquele não era seu lugar. Seu lugar era ali, no Acampamento Meio-Sangue. Ao lado de todos aqueles guerreiros, que gritavam enlouquecidamente, dançavam e apoiavam seus favoritos. Alguns estavam até com instrumentos como bumbos, caixas de percussão, tambores para fazer ainda mais barulho e torcida.

Nimuë observava tudo com o peito apertado de tanta adrenalina, queria gritar de tanta frustração. Como é que há minutos atrás tinha pensado que aquilo era perigoso? Não tinha absolutamente nada de perigoso. Pelo menos não para pessoas que eram filhos de Deuses. Que possuíam a pele mais forte do que a dos humanos, a resistência física mais elevada, rapidez e força sobre-humanas. Aquilo era divertido demais de assistir, era incrível, extremamente excitante. 

No centro do Anfiteatro, enquanto absolutamente todos os outros nove semideuses correrem para dentro da estrutura de madeira, subindo nela da forma que conseguiam, uma pessoa ficou para trás. Um semideus de cabelos pretos e olhos igualmente pretos. Era Kael di Maggio. Nimuë tentou entender o que ele estava fazendo. Qual era sua estratégia. Porque enquanto todos os outros já estavam tentando subir ou até mesmo bem avançados na escalada, ele ainda estava parado no mesmo lugar. Seu rosto expressava muita confiança e tranquilidade. E Nimuë ainda conseguiu perceber que os lábios dele estavam curvados em um meio sorriso. E então ela percebeu. Ele estava dando vantagem para os outros. Deixando-os que fossem na frente. A expressão dele praticamente gritava isso. Era como se ninguém ali fosse páreo para ele, então por vontade própria ele mesmo decidira se desafiar. Decidira ficar para trás, porque só assim poderia competir de igual para igual com os outros. Que desgraçado, Nimuë pensou. Para ele aquilo era uma brincadeira de criança. Quando Nimuë lia, na biblioteca de Cathlon, sobre o fato de uma criança nascida dos Três Grandes Deuses ser poderosa, ela subestimara esse fato. Porque o único exemplo que tinha era a si mesma. E não se sentia poderosa. Sabia lutar porque seu tutor lhe ensinara, também sabia se defender, mas não era nada demais. Mas agora, ali, observando Percy derrubar absolutamente todo mundo que se impunha sobre seu caminho e praticamente voar de tanta força que seus pulos tinham, ela conseguiu perceber o quão eles eram poderosos.

Nimuë viu o filho de Hades finalmente disparar em direção ao centro e arrancar uma das tirolesas que iam do chão até o topo da estrutura de madeira. Ele girou com o fio por toda a estrutura, enrolando-o o máximo que pôde, e então se preparou. Ao se impulsionar, o fio desenrolou e ele foi arremessado ao ar com violência. Enquanto girava e subia, alguns dos semideuses que estavam agarrados ao corpo da estrutura tentaram chutá-lo e agarrá-lo. Porém o filho de Hades desviou de todos e pousou no mesmo ponto que alguns dos filhos do Deus da Guerra estavam. Isso que ele havia lhes dado vantagem, Nimuë pensou. O garoto que atendia pelo nome de Julius tentou golpear Kael mas este desviou, se segurou na estrutura de madeira e deu um giro profissional que culminou com um chute violento no peito do campista. Julius não conseguiu se segurar e despencou de quase 10 metros de altura, sendo assim o primeiro desclassificado do Campeonato. Nimuë procurou Percy e Annie e os encontrou mais acima da estrutura, subindo cada um por um lado. Percy estava mais adiantado, e ainda conseguiu puxar um dos ferros de apoios que Annabeth estava. O pé dela cedeu e ela despencou por quase 2 metros, mas agarrou-se na madeira. Percy riu e continuou subindo. Ele iria ganhar, Nimuë pensou. Era o que estava mais perto do anel dourado.

A música tornou-se mais alta e agora parecia ensurdecedora. Alguns semideuses lutavam entre si na parte giratória da estrutura, e os golpes e socos eram tão precisos que Nimuë ficou encantada. Parecia mesmo um filme. A tal Clarisse, filha de Ares, pulou para alcançar Annabeth e conseguiu agarrar-se na cintura dela. As duas ficaram suspensas há mais de 15 metros de altura, até que Annie fez algo que deixou Nimuë completamente boquiaberta. Ela desamarrou o seu cinto, onde Clarisse estava agarrada, e retirou seu shorts jeans. A semideusa filha do Deus da Guerra despencou agarrada no shorts de Annabeth, e foi desclassificada por queda. A cunhada de Nimuë, felizmente, usava uma legging preta por baixo que impediu sua nudez total. A loira filha de Atena sorriu que sua estratégia deu certo e voltou a subir o mais rápido que pôde, deixando para trás vários dos filhos de Ares que ainda lutavam entre si. Um pouco mais abaixo, Kael di Maggio viu-se encurralado com 5 pessoas. Hector, Adônis, Cadmo, Charles e Reyna. Todos pareciam muito mais dispostos a lhe deter do que à avançar na escalada. Merda, ele pensou.

— Quero ver ele sair dessa — Danna, uma das Caçadoras de Ártemis, comentou ao seu lado. Referindo-se à di Maggio. Nimuë estivera tão concentrada e focada na competição que esquecera momentaneamente da presença dela ao seu lado. Assentiu com a cabeça só para concordar, mas na verdade nem tinha compreendido direito o que ela falara. Os gritos, a música e os tambores estavam muito altos.

Di Maggio arrancou uma das barras de ferro da estrutura para usar como uma arma, e golpeou de forma arrebatadora três dos cinco semideuses que lhe atacavam. Adônis e Reyna despencaram da estrutura após serem violentamente arremessados para fora pelo filho de Hades, e Charles Beckendorf teve sua cabeça puxada de encontro ao joelho de Kael di Maggio. O impacto foi tão forte que ele apagou por alguns segundos, e foi desclassificado por nocaute. Algumas pessoas tinham muito medo e questionavam a violência com que o Filho de Hades executava seus golpes, mas ao mesmo tempo todos sabiam que era exatamente disso que um guerreiro de verdade precisava para ser completo. Precisa ser fatal e não dar espaço para mais ninguém vencê-lo. Hector e Cadmo, os dois únicos filhos de Ares ainda na competição, tentaram segurar di Maggio quando ele se arremessou para fora do andar em que estavam. Hector foi o único que conseguiu, mas ficou agarrado somente ao pé de Kael. O filho do poderoso Deus da Morte usou o fio de tirolesa que usara antes para girar pela parte de fora da estrutura de madeira, porém teve dificuldade porque o peso agora estava duplicado. Hector jazia agarrado ao seu pé. Kael forçou o corpo do filho de Ares em direção a estrutura de madeira e este bateu violentamente mais de 5 vezes contra a parede, até que finalmente cedeu. E despencou por uma altura de quase 20 metros de altura. Nimuë ainda viu o filho de Hades mandar um beijinho debochado para Hector, enquanto ele caía. Nimuë sorriu da cena. Estava impressionada e fascinada demais com tudo o que estava acontecendo, e a música de plano de fundo só lhe fazia se arrepiar cada vez mais.

Mais acima Annabeth e Percy chegaram ao mesmo tempo ao penúltimo andar da estrutura. Porém, ao invés de se enfrentarem, Percy ficou parado. Nimuë lembrou da aposta que eles tinham feito. Consistia basicamente em um dar ao outro 5 segundos de vantagem caso eles fossem os últimos a chegar próximo do anel dourado. Mas, antes que ela pudesse subir ao último andar, Kael di Maggio chocou-se contra o corpo dela após pular do fio em que estivera agarrado. A filha de Atena ainda tentou segurar-se nas roupas dele para não cair, mas não conseguiu. Kael di Maggio tinha usado o fio de tirolesa para subir até o penúltimo andar e ainda conseguira fazer Annabeth, que subira corretamente pela parede de escalada, ser desclassificada por queda. Isso era muito injusto, mas ao mesmo tempo era estratégia e inteligência da parte dele. Nimuë observou, com o coração apertado, sua cunhada cair em queda livre de uma altura assustadora. Porém, obviamente honrando o meio-sangue de deusa que possuía, ela não se machucou. Apenas pareceu extremamente furiosa, e saiu chutando terra.

— Eu apostei três dracmas que a Reyna conseguia se classificar na frente de Annabeth esse mês — Stela gemeu de decepção ao seu lado.

— Ela ficou com o 6° lugar mais uma vez. Pelo menos tá melhor que Clarisse, que o mais perto que chegou do pódio foi cheirar a bunda de Annabeth — Danna riu largamente. Nimuë lhe acompanhou na risada, relembrando da filha do Deus da Guerra agarrada ao shorts de sua cunhada, e depois despencando com ele.

Poucos segundos depois a filha de Poseidon foi completamente dominada pela tensão. Virou seus olhos verdes para o penúltimo andar da estrutura de madeira. Lá estavam seu irmão e Kael di Maggio, cara a cara. Nimuë quase pôde sentir seus pulmões se contraíram, e sua respiração ficando menos regular.

— Ops, era sua namoradinha? Foi mal, cara! — o filho de Hades debochou, referindo-se ao fato de ter acabado de empurrar Annabeth para uma queda livre. Kael encarou os olhos verdes e raivosos de Percy Jackson à sua frente, e riu sua risada mais sarcástica.  

Percy não se deixou levar pela provocação. Se quisesse ganhar de Kael dessa vez, precisaria se concentrar e explorar seus pontos fracos. Ainda tinha uma vantagem porque estava com um cabo de aço na mão e Kael  estava desarmado, mas mesmo assim não seria fácil. Depois de alguns segundos analisando bem seu rival, o filho de Poseidon partiu para cima dele com força total. Kael ficou somente na defensiva nos primeiros momentos, porque não tinha uma arma para atacar.

Foi golpeado nas costas e nos joelhos em um movimento rápido e preciso, e não conseguiu evitar de ir ao chão. Porém aproveitou para enroscar seus pés aos pés de Percy e puxá-lo para o chão também. Os dois semideuses mais poderosos do Acampamento Meio-Sangue lutaram por mais de 5 minutos no chão numa luta cansativa que parecia interminável.

Até que Percy puxou o taco de aço e golpeou Kael di Maggio bem no rosto com uma força extremamente violenta. O Filho de Hades virou o rosto completamente para a direita, quase caiu de novo, e cuspiu um rio de sangue. Nimuë pensou que, depois desse golpe, provavelmente todos os outros campistas que já tinham apanhado para Kael, sentiram-se vingados. Aparentemente Percy era o único semideus que conseguia fazer Kael di Maggio sentir sua própria violência na mesma moeda.

Porém o filho de Hades, como já era esperado, não ficou nada contente com isso. Ninguém sabia sentir raiva como ele sentia. Era, com certeza, uma herança de seu pai, o Deus mais perigoso e rancoroso da história da Mitologia Grega. O olhar homicida e de puro ódio que atravessou o rosto de Kael fez Nimuë se arrepiar de medo por seu irmão. Di Maggio segurou o bastão de aço que Percy desceu em direção ao seu rosto novamente, e virou-lhe por cima da cabeça. Prendendo-o atrás das costas de Percy. Enquanto não conseguia se desvencilhar, o filho de Poseidon teve seu rosto arremessado contra a madeira umas três vezes. Até tontear. Quando conseguiu se livrar, deu um soco na boca do estômago de Kael, mas em resposta recebeu um chute violento no rosto. Infelizmente Nimuë viu seu irmão perder o equilíbrio e dar mais passos para trás do que deveria.

Quando estava na beirada da estrutura, di Maggio aproveitou para fazer tudo num golpe só. Correu, chutou Percy na barriga, segurou-se no teto da estrutura e enquanto o filho de Poseidon despencava ele içou-se para o último andar numa cambalhota habilidosa. O andar em que o anel-dourado se encontrava. O andar do vencedor.

Nimuë viu o irmão cair e espatifar-se contra o chão do Anfiteatro. Pensou em correr até lá para ajuda-lo, mas Annabeth estava mais perto e foi mais rápida. Ele tinha um pouco de sangue no nariz, mas fora isso não parecia ter ferimentos mais graves. Graças a Deus, pensou. Ao mesmo tempo que voltava a olhar para cima. No último andar, encontrava-se o atual pentacampeão da Competição. Di Maggio arrancou o anel-dourado do Elmo do Guerreiro, e o exibiu para todos como um troféu estimado. Em resposta, uma fumaça grossa escapuliu dos canhões ao redor do Anfiteatro, assim como diversos papéis picados coloridos. Anunciando o fim do Campeonato. Anunciando o vencedor. A música tornou-se mais alta, assim como os gritos e os tambores.

Kael di Maggio sagrava-se, mais uma vez, o Semideus mais poderoso do Acampamento Meio-Sangue.

E Nimuë estava encantada. Queria muito aprender a fazer o mesmo. Queria saber lutar dessa forma, queria ser poderosa tal qual. E seria. Nem que precisasse pedir para o próprio lhe ensinar.