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História A Divina Comédia - Seu guarda eu não sou vagabundo


Escrita por: Kashi_

Notas do Autor


Boa leitura!

Capítulo 25 - Seu guarda eu não sou vagabundo


25 —  Seu guarda eu não sou vagabundo

Draco POV

Eu estava muito ansioso naquela noite, e tinha todas as razões para me sentir dessa maneira.

O combinado com Harry era que iríamos dormir todos os dias juntos, e na maior parte das vezes eu acabava indo para a casa dele de noite, e retornando para a minha durante o dia enquanto ele treinava.

Mas já faziam dois dias que eu estava ali em tempo integral, porque em uma manhã Sirius disse que precisava de ajuda no mercado, e todos estariam ocupados.

James interveio, dizendo que eu lhes devia esse favor já que estava fazendo coisas inadequadas com o filho deles, e como eu não consegui pensar em uma resposta para isso, e apenas fiquei de olhos arregalados sem reação, acabei sendo obrigado a ir carregar compras.

De qualquer forma, foi divertido. Sirius era muito parecido com Harry quando estava no mercado, cedendo para animação e espontaneidade, e pegando qualquer doce que enxergasse pela frente, enquanto tagarelava sem parar ou fazer pausas.

Foi um dia divertido, e eu não vi problemas em ajudar ele com isso durante a tarde também, então passamos um dia agitados juntos, indo comprar todo tipo de coisa que iriam precisar.

No jantar, estávamos falando muito animados sobre o nosso dia, e de alguma forma James pareceu apreciar a ideia de eu lhes devendo favores pelo simples fato de estar com Harry.

Então ontem ele me pediu ajuda para organizar alguns documentos porque tinha dificuldade com planilhas, e precisava fazer uma relação dos pagamentos e contas que teriam pela frente.

Como a organização deles era uma baderna completa, e Harry treinando me deixava entediado, eu fiquei quase a tarde inteira arrumando aquilo para James, me permitindo perder em pensamentos.

Parte de mim lembrou vagamente que ao invés de estar fazendo serviços para os pais dos outros, deveria estar fazendo para o meu, mas empurrei esse pensamento para longe.

Meu pai me conhecia, e se estivesse precisando daquilo com urgência não teria pedido para mim.

E, é claro... Ele teria razões para reclamar hoje se eu estivesse com pendências. Jamais tiraria do meu pai um motivo para resmungar enquanto bebia vinho e me olhava de cara feia.

— Vão sair? — James perguntou assim que eu e Harry atravessamos o corredor, vestidos e prontos.

— Si, papi.

— Voltam para jantar? — Sirius perguntou, jogado no sofá — Pedimos pizzas. Moony disse que duvida que eu consigo comer uma inteira soinho, tamanho família.

— Não, vamos sair para jantar, na realidade — Murmurei distraído e ansioso.

Sirius ergueu o olhar para Harry em questionamento, e eu soube interpretar o motivo. Eles tinham esse costume de sempre que pediam pizza, os dois acordavam no meio da madrugada para comer um pedacinho de pizza fria e acabavam batendo papo por alguns minutos na cozinha.

Era algo deles, e Harry sorriu como se afirmasse que estaria lá.

— Vamos jantar, mas voltamos para dormir.

— Usem preservativo — James disse distraído, encarando a TV, e eu revirei os olhos, enquanto a expressão de Remus se tornava muito profunda e insatisfeita.

— Vamos só jantar — Insisti, vendo Harry bater as mãos nos bolsos, procurando as chaves e provavelmente lembrar que as deixou no quarto.

— Aproveite e pegue um casaco, carinõ. Está frio lá fora — Remus murmurou os dedos apertados ao redor da latinha de cerveja.

— Não estou com frio, papi!

James abriu a boca para reclamar, mas ergui o braço, mostrando a jaqueta dobrada ali, para Harry. Ele nunca queria levar agasalho, mas estava sempre com frio. Era muito mais fácil eu levar algo meu, e passar para ele, do que tentar insistir que fosse precavido.

Ele era birrento, e mesmo que soubesse do tempo gelado, provavelmente iria bater o pé em não levar nada.

— Vamos? — Ele voltou com a chave entre os dedos, e eu assenti.

— Vamos, meu pai já deve estar esperando — Murmurei, e no mesmo instante a TV desligou e eu senti os três ali começarem a nos encarar surpresos.

— Estão indo em algum tipo de festa dos Malfoys? — Sirius perguntou curioso, e eu neguei com a cabeça.

— Não, é só jantar mesmo. Meu pai está na cidade.

— Hernando fez algo que você não gostou, então está tentando punir ele, obrigando a jantar com seu pai? — James tentou adivinhar, e eu cruzei os braços, arqueando a sobrancelha.

— Não, meu pai não é ruim — Rebati, vendo a descrença na expressão de todos eles — Só... ele não conhece Harry. Eu quis aproveitar que os dois estão na cidade, e fazê-los se conhecer — Expliquei com simplicidade, vendo alguma surpresa no olhar de todos eles.

— Você está indo conhecer o pai dele? — Sirius perguntou para Harry, e ele assentiu em um gesto curto, pousando as mãos na minha cintura, me fazendo andar na direção da porta, já prevendo os três tentando conversar e nos atrasar mais.

— Ok, eles vão querer saber tudo quando voltarmos — Harry disse assim que passamos pela porta, e nos apressamos em ir até o carro dele.

— Quando é que não querem saber de tudo? — Rebati ao entrar e colocar o cinto, jogando o casaco no banco de trás, e Harry riu.

— Você tem um ponto. Mas perde ele, porque já te vi fofocando com papi Sirius várias vezes.

— Não tenho culpa de ser um homem informado — Reclamei, e ele revirou os olhos ao ligar o carro.

Eu não deixei de notar como ele parecia ansioso enquanto dirigia, e notei como havia trocado de roupa duas vezes antes de se sentir satisfeito. Eu disse a ele para vestir qualquer coisa, sem se importar muito com aparência e opiniões de meu pai, porque sabia que poderia deixar ele ansioso.

Não precisava ter conhecido meu pai antes para esperar que ele estivesse em roupas caras e sociais.

Mas eu mesmo não estava preocupado com isso. Iríamos em um restaurante simples, que eu gostava bastante. Era antigo na cidade, e fugia um pouco da classe que meu pai estava acostumado, mas ele nunca reclamava quando eu pedia para irmos jantar lá.

Ainda assim Harry pareceu se esforçar excepcionalmente para estar bonito e apresentável, com os cabelos arrumados ao redor do rosto, calça escura e camisa branca. Apesar da simplicidade das roupas, ele usava suspensórios com alguns detalhes dourados, e isso lhe conferia o charme a mais de sempre, combinando com as botas.

Era difícil para mim parar de olhar o quanto ele estava gostoso, e não houve muita conversa no carro até chegarmos o lugar, seguindo as coordenadas que passei para ele eventualmente.

Assim que chegamos, Harry caminhou ao meu lado até a recepção, automaticamente enroscando os dedos aos meus enquanto andávamos e eu erguia o pescoço para tentar achar a mesa de meu pai. Não foi surpresa ele estar na de sempre, e eu comecei a andar naquela direção, puxando o moreno comigo.

Meu pai me notou depressa, e eu vi ele arquear a sobrancelha enquanto me via acompanhado, porque obviamente eu não o avisei que pretendia trazer Harry.

Assim que nos aproximamos da mesa, ele se levantou, e eu soltei a mão de Harry por um momento.

— Oi. Eu trouxe o Harry — Falei com meu melhor sorriso, vendo ele parecer uma mescla de diversão e repreensão.

— É claro que trouxe — Concordou, os olhos afiados indo para Harry — Potter.

— É bom finalmente conhecê-lo, senhor Malfoy — Harry disse polido ao estender a mão para um aperto, e meu pai cedeu com educação.

— Sentem-se — Indicou a mesa, e nós o fizemos depressa, vendo quando um garçom se aproximou com uma garrafa de vinho, provavelmente já pedida por meu pai.

Ele sorriu para nós, prometendo trazer o cardápio em breve e serviu as taças diante de nós.

— Deixe a garrafa — Meu pai disse, e foi o único indício de sua insatisfação, enquanto o homem assentia e pousava a garrafa na mesa.

Eu bebi um gole longo, tentando me preparar para qualquer coisa que pudesse vir, enquanto meu pai examinava Harry atenciosamente, ainda mais depois dele ter recusado o vinho.

— Estou de motorista hoje — Harry disse com um olhar desavergonhado na minha direção, e isso fez a expressão de meu pai se tornar quase divertida.

— Você não está velho demais para fazer as pessoas te levarem para toda parte?

— Não — Respondi simplesmente, balançando os ombros — Harry gosta de dirigir. Eu não gosto de dirigir. Funciona perfeitamente bem.

— Agora funciona. Só soube que ele não gosta de dirigir recentemente — Harry sentiu vontade de dizer, e eu o encarei de cenho arqueado.

— Me surpreende ter conseguido esconder por muito tempo — Meu pai disse, mas então moldou um sorriso maldoso na beira da taça — Embora, nem tanto, se parar para pensar. Já te vi fazer idiotices muito maiores por homens, com muito menos a oferecer.

— Eu também senti sua falta — Resmunguei para ele, que virou o restante do vinho em um gole rápido.

Um silencio estranho se formou na mesa, e meu pai continuava olhando para Harry como se procurasse um criminoso, até isso o fazer suspirar.

— Draco achou que seria melhor não avisar que eu estava vindo — Disse, um tanto sério — Eu não tenho nada contra você, especialmente. Estou aqui parte porque Draco pediu, e parte porque a ideia de te desagradar pareceu divertida. Veja bem, sou Black-Potter-Lupin. Irritar um Malfoy está praticamente no meu código genético — Contou com um ar divertido e eu apenas o encarava, tentando imaginar onde estava tentando chegar — Mas não tenho intenção de tornar isso desagradável ou estragar um momento entre vocês. Então eu posso simplesmente ir embora, e...

— Harry, não — Interrompi, ergueu os olhos para meu pai em pedido de trégua, e isso o fez suspirar antes de revirar os olhos.

— Não há qualquer razão que nos impeça de ter um jantar agradável, Potter. Não se incomode em partir.

Sorri para ele em agradecimento, movendo a mão para alcançar a de Harry por baixo da mesa, vendo ele erguer os olhos verdes para mim por um instante, até sorrir e a tensão se desmanchar.

— Fica? — Pedi, e ele assentiu em um gesto curto.

O garçom apareceu no momento certo para quebrar a estranheza que aquilo deixou, e eu me inclinei na direção de Harry com o cardápio, dando algumas indicações que gostava bastante, e fizemos o pedido tranquilamente.

Meu pai já estava na segunda taça de vinho, e parecia pensar em algo para dizer, até finalmente pigarrear suavemente para ter atenção, visto que meus olhos continuavam em Harry.

— Conseguiu terminar os contratos, Draco?

— Ah... não — Murmurei, balançando os ombros — Tem muito o que ser feito, você sabe que gosto de ser minucioso.

— Deve andar mesmo muito ocupado — Ele observou, arqueando o cenho para Harry, que riu sem qualquer tipo de vergonha.

— Não, não venha colocar a culpa em mim! — Disse de maneira corajosa — Draco não terminou essas porcarias porque ele não quis.

— Ei!

— O que? Ao menos seja sincero, não deixe ele pensar que te ocupo o dia todo e te impeço de trabalhar. Eu não teria problema nenhum em fazer isso, no entanto — Disse para meu pai, movendo os ombros — Se ele passasse mais tempo trabalhando, ou sendo distraído por mim... ao invés disso, fica o tempo todo no meio dos Weasleys...

— Isso é sobre Ginny? — Rebati, arqueando o cenho para Harry, porque dois dias atrás eu sai com ela para ver filmes no cinema. Foi uma tarde divertida, e Harry não pode ir por estar trabalhando em seu número.

Ele ainda resmungava sobre isso ocasionalmente, mas eu não pude deixar de perceber que ele já não agia ciumento sobre ela.

— ... E ele sinceramente passa mais tempo com meus pais do que comigo, se você quer saber... — Continuou, como se eu não houvesse dito nada.

— Cala a boca, Harry — Reclamei, erguendo o olhar para meu pai, que parecia curioso.

— Não é qualquer novidade para mim saber que você deliberadamente ignora nossos combinados — Me disse, e Harry interrompeu ele com um riso.

— O que? — Perguntamos ao mesmo tempo pela gargalhada fora de hora.

— Quem diabos usa a palavra ‘deliberadamente’ em uma conversa casual com o filho? — Debochou, com aqueles olhos verdes selvagens e eu empurrei o ombro contra ele em protesto.

— Seu pai, ontem, disse que se fossemos ‘fazer o tchaca tchaca’, que fizéssemos em silêncio — Resmunguei, porque ainda não tinha esquecido James usando aquelas palavras, com aquele tom sugestivo.

— Ele estava com dor de cabeça e queria dormir cedo. Qual o problema?

O som de um pigarrear suave foi ouvido outra vez, e eu ergui os olhos para meu pai, muito sem jeito com o quão rápido perdíamos o controle de tudo e nos deixávamos levar por provocações idiotas.

— Se você não quer fazer os contratos, basta me dizer, Draco. Já falamos sobre isso.

— Eu gosto! Eu gosto de mexer com essas coisas. Gosto de estar no controle, analisar documentos, e... fazer o que faço. É divertido. Eu só... — Suspirei, sem saber como colocar em palavras — Só não consigo me concentrar o tempo inteiro.

— Não é minha culpa — Harry reforçou antes que meu pai respondesse, e isso me fez rir.

— Não se dê tanta importância, Potter — Ele disse finalmente, tornando a encher a taça de vinho — Draco usa homens para fugir dos deveres dele muito antes de se quer te conhecer. Isso não é nada novo para mim.

Harry arqueou o cenho para mim sugestivamente, e eu revirei os olhos.

— Não é verdade — Reclamei, encarando meu pai enquanto tentava entender qual era o jogo dele ali.

Aparentemente queria só me criticar e apontar erros, e não fazia sentido ele estar dedicado a isso só por Harry estar conosco.

— Você quase reprovou duas matérias no ensino médio quando começou a namorar o capitão do time de futebol — Ele disse, quase distraído demais — Não vou falar sobre o fiasco que foi seu final de estágio nas empresas, quando contratei aquele assistente de patente que constantemente estava na academia.

— Você não perde uma única chance de jogar isso na minha cara, não é? — Reclamei, porque era impossível cometer qualquer erro sem que meu pai lembrasse o quão frágil era minha concentração quanto se tratava de homens bonitos.

— Minha secretária flagrou vocês em cima da copiadora, Draco. Não é o tipo de coisa que eu posso perder a chance de dizer, e guardar para mim mesmo — Me lembrou, e eu torci o nariz.

Ele sempre falava como se fosse muito pior do que havia sido. Estávamos vestidos, e apenas nos beijando intensamente demais quando rolou um clima e ficamos sozinhos na sala das impressoras.

O fato de estar com o cabelo bagunçado e as roupas amassadas fazia meu pai agir como se eu estivesse fazendo um show de sexo para toda a empresa ver!

Harry soltou um risinho de deboche ao meu lado, e eu nem me atrevi a lhe encarar.

— E depois eu que sou cafajeste...

Dei uma cotovelada nele, agora encarando meu pai mais seriamente, tentando entender se ele estava mesmo tentando me fazer discutir com Harry ou sair dali magoado.

— ... Mas soube que você também não é nenhum rapaz recatado — Ele disse finalmente, pousando os olhos em Harry, que se ajeitou no banco.

— Bem, eu nunca transei com nenhum assistente dos meus pais — Ele disse debochado, e eu revirei os olhos.

— Eu não transei com ele — Murmurei, sendo prontamente ignorado pelos dois, e meu pai se ajeitou na cadeira, porque obviamente conseguiu a brecha que queria.

— Não ouvi boas coisas sobre você. Mesmo antes de cair nas garras de Narcisa por se atrever com o prodígio dela... não ouvia boas coisas sobre você, sobre o que faz e pensa.

— As coisas ruins são muito mais fáceis de espalhar — Harry disse simplesmente, balançando os ombros.

— Eu vou terminar amanhã o que falta, e te envio por email, tudo bem? — Interrompi a conversa de ir para uma linha perigosa demais, e meu pai tornou a me olhar e assentiu.

— Pode trazer pessoalmente — Contou, os olhos fixos em mim por um momento.

— Você vai ficar? Na cidade? Quanto tempo? — Perguntei curioso, e ele suspirou ao passear os olhos pelas janelas.

— Indeterminado. Apenas... estarei perto.

Meu pai nunca ficava mais do que poucos dias na cidade, e sempre que vinha costumávamos jantar juntos porque era frequente ele passar apenas um dia e partir logo na manhã seguinte.

Franzi o cenho, completamente surpreso com isso. Meu pai nunca se estabelecia em nenhuma cidade, e esse sentimento foi estranho e confortável ao mesmo tempo.

— Teremos uma convenção, na próxima semana. Se você quiser ir, alguns dos sócios da empresa estarão por lá.

— Convenção? Você vai?

— Claro que não. Vou mandar algum representante. Caso não queira ir, vou mandar outra pessoa.

— Você não pode me usar para ir nos eventos que odeia para sempre, sabia?

— Você gosta desses eventos, Draco. Não seja sonso.

— Só quando são festas, e posso usar a roupa que quiser. Nessa convenção vai ter álcool e vou poder usar meu terno vinho?

A pergunta desavergonhada fez Harry, quieto ao meu lado, reagir instintivamente, virando a cabeça muito depressa na minha direção, igual meu pai. O olhar de insatisfação no rosto de ambos era tão parecido, que me custou não rir.

Meu terno jamais seria esquecido, e isso me confortava muito.

— Jogue aquela merda fora — Harry rugiu ao mesmo tempo em que meu pai dizia ‘Se livre daquilo’.

Puxei minha taça para beber um gole de vinho, feliz ao ver que consegui encontrar algo em comum entre os dois, que pareciam genuinamente indignados comigo.

Meu pai jamais iria gostar daquela roupa, eu sabia perfeitamente.

Harry, eu tinha planos para mudar a opinião dele. Havia encomendado outras versões da mesma roupa, apenas com cores diferentes e pretendia usá-los para Harry, ciente de que isso iria mudar a visão dele sobre meu corpo em ternos apertados.

— Ainda assim, talvez te fizesse algum bem ir até a reunião. Você ainda não decidiu o que pretende pra o próximo ano. Apenas vá, veja se gosta — Sugeriu, e eu abaixei os olhos pra a mesa, sem qualquer vontade de concordar.

— Não... vai voltar para a faculdade? — Harry perguntou, e eu suspirei ao olhar para ele, vendo a confusão nos olhos verdes.

— Não... sinto que é o que quero fazer. Meu pai achaque eu deveria tirar um ano para me encontrar, ao invés de me obrigar a fazer o curso de qualquer forma — Falei, vendo ele piscar surpreso.

— O que acha disso, Potter? — Meu pai questionou, e Harry deslizou a mão para a minha por baixo da mesa.

— Se você não tem certeza, talvez seja uma boa ideia tirar um tempo. É horrível estudar algo por obrigação, e isso vai te fazer odiar a área, ao invés de querer ir para ela.

— Eu acho que sim — Concordei, sentindo ele apertar os dedos entre os meus com suavidade.

— Você nunca pensou em fazer ensino superior, Potter?

Nós nos viramos para meu pai, e eu já tinha entendido que as perguntas dele não eram ao puro acaso. Parecia perfeitamente estar nos guiando pela conversa, tirando tudo o que queria saber.

— Sim, algumas vezes — Harry admitiu, movendo os ombros — Talvez faça, quando descobrir algo que me interessa. Meus pais dizem que nunca vão me deixar assumir o circo se não colocar um diploma nas mãos deles.

Meu pai arqueou o cenho, surpreso, e Harry sorriu minimamente com isso.

— Todos eles são formados. Remus é historiador e antropólogo, Sirius tem algumas formações em tecnologia, e James em artes cênicas. Eles dizem que posso fazer o que quiser, mas querem que eu estude algo — Disse, e isso me surpreendeu. Era algo que ele nunca comentou.

— Eu não sabia — Murmurei, e ele sorriu minimamente.

— Ser circense não impede ninguém de estudar ou se graduar. Só exige dedicação e esforço, mas... bem, isso é necessário de qualquer maneira, certo?

— O que me diz sobre a convenção? Posso arranjar um convite para você — Meu pai trouxe a atenção novamente, e eu suspirei.

— Parece um evento chato — Me deixei ser sincero, puxando o vinho para outro gole — Quem vai estar lá?

— Os mesmos acionistas de sempre. Alguns novos parceiros. Os Parkinson estarão lá, talvez possa ir com Pansy. Sei que os Zabini também tem presença confirmada... Os Carters, definitivamente.

Os dedos de Harry se contraíram entre os meus, e eu ergui o rosto para ele, vendo seus lábios em uma linha rígida, embora não tenha dito nada ao encarar a janela como se estivesse distraído.

— Parece um evento chato — Insisti, olhando pra meu pai — Pansy pode me contar o que aconteceu depois. A próxima semana vai ser agitada, de qualquer jeito. Vamos terminar de montar o circo domingo, e os espetáculos vão começar e isso vai nos deixar tão ocupados, quero dizer...

— Mas você não trabalha no circo — Meu pai me interrompeu quase casual demais, e eu abri a boca, sem conseguir verbalizar qualquer coisa coerente.

Não, eu não trabalhava no circo.

Mas de algum jeito estranho, percebi que havia preenchido minha rotina na próxima semana completamente com isso. Ajudar James com algumas papeladas da prefeitura, levar Sirius em lojas com jaquetas de couro bonitas, ajudar Rose a encapar os bambolês e tirar fotos bonitas de Ginny para o instagram.

Tudo isso, unindo ao tempo que gastaria com Harry, as noites entre seus braços, e...

Harry soltou minha mão, e eu senti um fundo de desespero se espalhar por meu corpo, ao perceber que eu estava mesmo agindo como se fizesse parte daquilo. Isso me deu medo de que ele fosse ficar estranho ao ver meu pai dizer isso, mas o alivio veio com o jeito que ele se moveu, para pousar o braço sobre meu ombro.

Foi um gesto suave, como se ele não precisasse pensar para fazê-lo, e um tanto protetor ao sentir a minha tensão.

Ergui o rosto para ele, que encarava meu pai com um sorriso.

— Estamos nos aproveitando da mão de obra barata.

Meu pai fez aquela tentativa de sorrir, soltando o ar pelo nariz ao revirar os olhos.

— Devo te alertar que a mão de obra barata se torna inútil quando ele conhece algum cara que considere atraente. Fique esperto com isso, Draco tem a concentração de um mosquito.

Toda a expressão descontraída de Harry se desfez, enquanto ele reforçava o braço ao meu redor com possessividade, encarando meu pai em desagrado.

— Pai, pare de ser encrenqueiro — Pedi por fim, temendo que ele fosse para algum lado ofensivo, e ele ergueu as mãos em rendição.

— Desculpe — Disse, sem qualquer sinal de arrependimento, bebendo mais um pouco de vinho.

Senti grande alívio quando nosso jantar chegou, e isso tirou um pouco da tensão do ar para comentários casuais sobre a comida e os temperos, e eu me permiti contar um pouco sobre como era legal as noites de Cuba com os Potters, e a quantidade de comida diferente que comia indo jantar com eles. Cada um gostava de algo específico, então me tirou totalmente do costume.

— Perdoe-me, Potter, se deixo o clima pesado — É claro que ele começou a falar de novo, e eu quis suspirar ao ver que nada fazia ele perder o foco nas perguntas tendenciosas.

— Está tudo bem, meus pais alertaram que seria algo entre um filme de terror ruim e uma comédia dos anos oitenta — Mentiu descaradamente, porque não havia se quer avisado antes aos pais que iria jantar com o meu.

De qualquer forma, já tinha visto Sirius chamar meu pai de coisas absurdas, então não quis rebater ou me sentir ofendido por qualquer um dos dois.

— É a primeira vez que Draco tem a decência de me apresentar alguém — Meu pai continuou, como se não houvesse escutado nada — Geralmente descubro as perversões dele por meio dos outros.

— Um jeito sutil de dizer que é um fofoqueiro — Reclamei, levando um pedaço generoso de frango para a boca.

— ... Mesmo quando estava em outros relacionamentos sérios, nunca houve um jantar de apresentação — Ele continuou, e Harry sorriu de um jeito pequeno, os olhos verdes se virando para mim por um instante.

— Acho que ele nunca tinha encontrado alguém que fosse te matar de raiva de ver com ele. Posso me considerar sortudo, acredito — Disse casualmente e isso me fez sorrir livremente, para minha surpresa, ao ver meu pai assentir com um sorriso simples.

Harry parecia se esforçar para quebrar a tensão, e isso foi suficiente para me conquistar a ponto de querer fazer o mesmo.

Eu não sabia exatamente o que meu pai estava querendo ali, mas desse momento em diante até ele trouxe um clima mais leve, fazendo perguntas pontuais sobre os planos para a próxima semana.

Eu me vi contando tudo o que precisávamos fazer, com Harry me ajudando com alguns detalhes enquanto eu explicava para ele a rotina conturbada que havia me metido.

Era loucura tentar me encontrar, quando havia me doado quase por inteiro para o circo, e gostava disso.

Não pude deixar de perceber que meu pai tinha uma pilha de documentos para eu resolver, que eu enrolava há muito tempo, mas ontem passei horas a fio fazendo serviços semelhantes para o Marauders, sem qualquer tédio.

Havia algo diferente sobre estar no quarto de Harry, ouvindo o ronco da moto de Sirius, a gargalhadas de Ginny, James dando ordens em espanhol e uma porção de pessoas gritando ‘Hernando, pare de ser idoita!’.

Todo esse caos me faz trabalhar tão bem, tão feliz e concentrado... Que eu se quer conseguia entender a razão para isso.

— ... Ah sim, você não tem ideia de como é engraçado ver ele gritando em cima de um monociclo — Harry disse rindo contagiado com a memória, e eu cutuquei seu ombro em repreensão.

— Eu tenho o vídeo da primeira vez que ele andou de bicicleta. Posso imaginar — Meu pai disse, e eu torci o nariz ao ouvir os dois rirem juntos, e percebi que não estava mais no controle da situação.

A partir desse momento, a conversa se tornou uma bagunça ridícula de meu pai sentindo que tinha direito de relembrar as piores vergonhas que eu já passei, em ordem cronológica.

Parte de mim queria ficar furioso com isso, mas a outra estava simplesmente feliz de ver eles conseguindo achar um tópico para conversar.

Harry pareça querer ouvir todas as histórias vergonhosas, e ria de um jeito tão bonito que eu me vi vencido por isso ao deitar a cabeça em seu ombro em algum ponto da conversa, apenas para ver ele assentir e esperar pelas barbaridades que meu pai estava resmungando.

Eu tentei revidar, dizendo as coisas mais engraçadas que meu pai tinha feito e reagido ao que eu fiz, o jeito que ele sempre estava com medo que eu aprontasse alguma barbaridade e estampasse a capa dos jornais.

Em algum ponto eu e meu pai estávamos quase discutindo sobre nossas personalidades, resmungando um sobre o outro.

— ... agindo como uma criança mimada!

— Eu não sou uma criança mimada. Você não pode tirar Jerry de mim e achar que eu vou ficar bem com isso!

— Draco, você tem seu próprio estilista. Isso é coisa de criança mimada — Harry me lembrou, e eu bufei.

— Você não tem um estilista particular, só porque o Circo já tem vários — Rebati para Harry, vendo ele erguer as mãos em rendimento — E Jerry é praticamente família!

— Você é um absurdo — Meu pai reclamou, e Harry riu.

— Jerry parece família, Draco me apresentou a ele — Disse, e meu pai se virou para mim, com a expressão em branco.

— Você apresentou Jerry para ele antes de apresentar seu próprio pai?

— Foi por chamada de vídeo, quando eu estava fazendo uma encomenda! — Me defendi, beliscando o braço de Harry, que agora se divertia muito com as pequenas discussões formadas.

— Vou deixar vocês terminarem de brigar e vou ao banheiro — Ele disse, se soltando dos meus braços para se levantar, e eu esperei até ele sair de nossa vista antes de me virar ansioso para meu pai.

Ele riu quase suave demais com meu olhar, negando com a cabeça.

— Ele não é tão ruim quanto eu pensei.

— Eu vou considerar isso um elogio — Ofertei, vendo ele revirar os olhos — Desculpe não avisar que ia trazer ele.

— Eu já esperava, de qualquer forma — Admitiu, e eu sabia ser verdade. O jeito que ele me olhou quando cheguei já deixava claro que não esperava me ver sozinho, mesmo que estivesse surpreso com minha ousadia.

— Eu... só queria que você o conhecesse. Eu... estou feliz. Assim, mesmo que seja estranho e provavelmente vá acabar mal.

— Não sou sua mãe. Você não tem que se explicar. E nem sentir que deve trazê-lo escondido por ser a única forma de eu aceitar isso.

— Você não gosta dele — Murmurei, e ele gesticulou de forma vaga com a mão.

— Quando foi que gostei de qualquer um que esteve com você, Draco?

Sorri, abaixando os olhos para minha taça ao beber um gole pequeno, apenas para acabar o vinho ali deixado.

— Esse Potter me parece bem resolvido. O jeito que falou quando chegou... Ele parece saber perfeitamente o que quer, onde vai e o que espera de tudo.

— Ele é bem resolvido — Concordei, balançando os ombros — Ele não é todo indeciso como eu.

— Ele também não parece ser alguém que deixa coisas subentendidas, ou que as planta no ar.

— Não. Harry gosta de tudo esclarecido. É sincero, e isso às vezes é cruel — Murmurei, me lembrando da quantidade de vezes que ele quebrou todas as minhas expectativas sendo sincero.

— Tenho a sensação de que se eu dissese algo que o incomodasse ou não fosse real, ele me corrigiria sem medo da minha opinião.

— Esse é o Harry — Murmurei apenas, sem flexionar muito a resposta porque meu moreno voltou do banheiro, deslizando para se sentar ao meu lado.

Nesse ponto, já estávamos nas sobremesas, e depois de comer mais um pedaço de bolo, estávamos prontos para ir embora.

Meu pai pagou a conta após beber o último resto do vinho na garrafa, e nós nos levantamos para ir embora, seguindo até a entrada do restaurante, contornando para o estacionamento.

— Se mudar de ideia sobre a conferência, me deixe saber.

— Pode colocar outra pessoa no lugar — Garanti, e ele assentiu cuidadosamente, parecendo não se opor quando me movi para um abraço.

Cada um deles era como uma vitória para mim, porque significava estar perto do meu pai. Significava que eu estava tomando atitudes para ter o que queria, e assumindo o controle da minha vida lentamente.

Ele retribuiu afetuosamente, dando um leve tapinha no meu ombro.

— Venha me ver. Estarei na cidade.

— Tudo bem — Concordei, e ele estendeu a mão para um aperto com Harry.

— Foi bom finalmente conhecê-lo, Harry — Disse, e o uso do primeiro nome me fez querer sorrir. Primeiros nomes significavam aprovações.

Não sabia o que ele tentou ver hoje, mas aparentemente meu pai estava satisfeito.

E isso, para alguém que há pouco tempo atrás o chamava de ‘lixo do circo’, era algo muito significativo.

— Foi bom conhecê-lo também — Harry concordou, e parecia absolutamente sincero ao sorrir — E não se preocupe, sobre Draco. Eu... não tenho qualquer intenção de fazer mal a ele.

Sorri ao revirar os olhos, vendo eles romperem o aperto, e meu aguardar paciente enquanto o motorista dele manobrava o carro.

— É bom ver que entende isso. O fato de ser o primeiro namorado que esse garoto tem a decência de me apresentar, fez com que sobrasse para você todo o mau julgamento e olhares desconfiados que eu deveria ter gasto há algum tempo — Disse casualmente, e eu me encolhi para sua fala.

Era ridículo, porque ele sabia perfeitamente que não era um namoro.

Eu tinha dito em detalhes para ele e minha mãe, que a minha dor ali era Harry ter sido claro sobre não namorar. Sobre não ter relacionamentos sérios, ou coisa do tipo.

— Não se preocupe, acaba sendo jogo justo. Ao menos você é um só. Draco está sempre tendo que lidar com meus três velhos ao mesmo tempo — Harry disse naturalmente, balançando os ombros em sinal de desdém.

Eu não consegui rir do que ele disse, porque meu olhar estava no rosto do meu pai.

Não havia se alterado em nenhum detalhe, mas eu o conhecia o suficiente para saber o que ele estava pensando, o que estava me mostrando.

“Tenho a sensação de que se eu dissese algo que o incomodasse ou não fosse real, ele me corrigiria sem medo da minha opinião”

Eu havia concordado com isso que ele disse minutos antes. Eu conhecia Harry, sabia que ele não tinha receio de ser sincero, mas que invariavelmente deixava claro para as pessoas o que queria e pensava.

Como quando perguntou diante de minha mãe se eu estava solteiro, ou como me disse que eu não deveria ter sentimentos, e todas as coisas que vieram em consequência.

Meu pai tinha dito antes que mesmo em outros relacionamentos sérios, eu nunca apresentei ninguém a ele oficialmente, e eu tinha deixado passar porque o fato de termos decidido exclusividade parecia sério o suficiente.

Mas Harry não se opôs ao ouvir ‘namorado’, e apenas continuou sorridente enquanto meu pai acenava com a cabeça suavemente ao ver seu carro parando diante de nós, com o motorista esperando.

— Ligarei em breve — Disse apenas antes de entrar e eu assenti, sentindo Harry mover os dedos para entrelaçar nossas mãos.

— Bem, isso poderia ter sido muito pior — Disse otimista, e eu ergui os olhos para ele, sem saber como nomear o que estava sentindo agora.

Apenas vê-lo sorrir depois de ter aguentado meu pai, depois de não ter negado a seriedade do que tínhamos, e não discordar sobre a palavra namorado.

— Ei, podemos ir a um lugar antes de ir embora?

— Qual lugar? — Perguntei curioso, e ele apenas esticou aquele sorriso sem vergonha que eu adorava, começando a andar em direção ao carro.

Ele gostava de soar misterioso e espontâneo às vezes, e eu simplesmente adorava vê-lo feliz, então não fiz mais perguntas enquanto entrava no carro, e Harry conduzia para fora da cidade, virando por uma rua precária de terra, muito próximo as árvores na rodovia.

A cada instante adentrávamos mais e mais naquela parte escura e mal iluminada, e embora desconfiado, apenas observei o caminho por onde ele seguia, até perceber que havíamos contornado o morro que levava até a cidade.

Não havia mais asfalto naquela região, só muitas árvores e pedras, quando ele desligou o carro, me dizendo para descer, puxando minha mão para seguirmos entre um espaço minúsculo protegido por duas pedras gigantescas e velhas, e eu pisquei surpreso ao ver onde estávamos.

Era a encosta de uma colina, e provavelmente antigamente deveria ter algo ali. Uma lanchonete, ou qualquer coisa do tipo, antes daquelas rochas estarem onde estavam.

O chão era de madeira, e havia um gazebo semi-destruído, bem na beirada. Não tinha teto nele, mas ainda dava para ver as estruturas que subiam para o céu, danificadas pelo abandono e tempo.

A beirada de grama era toda protegida por grades de ferro descascadas, demonstrando que ali era um lugar que ninguém frequentava há muito tempo.

Harry me puxou para perto da grade de proteção, e eu fiquei estonteado com a vista do céu ali.

Era muito mais alto do que cidade, então conseguíamos ver a lua brilhando ao longe, as montanhas enormes no horizonte, com a cidade muito pequena lá em baixo, totalmente insignificante.

Parte do rio também dava para ver, refletindo um brilho enorme, com a lua e as estrelas em conjunto naquele incrível espetáculo da natureza.

Era lindo de ver.

Me sentia tão pequeno e distante, enquanto notava Harry deitar a cabeça no meu ombro, e isso me fez sorrir, sem parar de olhar o céu ao me mover um passo para trás e o cercar com os braços, pousando o queixo em seu ombro.

— Isso é incrível, Harry — Murmurei encantado, sorrindo quando ele pousou as mãos sobre as minhas, cruzadas ao redor de seu corpo.

— É o lugar secreto do meu papito — Ele revelou por fim — Sirius se sentia muito perdido quando era novo, e morava na cidade. Ele... era diferente dos outros. Ainda não havia descoberto ao certo não ser hetero, mas... ele desconfiava, sabe? Ao mesmo tempo, não podia ser nem tentar descobrir. Os pais dele eram muito preconceituosos. Então... ele descobriu esse lugar quando ainda era garoto. Vinha sempre ficar sozinho.

— E ele te contou?

— Sim. Quando... quando voltei a morar com meus pais, depois de algum tempo com sua mãe, eles se preocupavam demais. Tinham medo de estar errando em alguma coisa, ficavam assombrados com a possibilidade de eu estar infeliz. O que sua mãe fez nos deixou um pouco assustados por alguns meses. Nós... não contamos para sua ela, mas voltamos uma vez para a cidade depois daquilo. Ficamos uma semana. Meus pais inventaram que sempre tiraríamos férias entre as temporadas, porque queriam me dar uma vida normal de tempos em tempos.

Assenti, absorto no que ele dizia baixinho, abafado pelo vento que fazia ali.

— Eu me sentia chateado o tempo inteiro, porque não gostava de tirar férias. Queria viajar. Queria me apresentar. Isso me fez ficar revoltado. Então... um dia papi me trouxe aqui para ver as estrelas. Nós ficamos por horas quietos só olhando o céu, e... eu entendi porque estava sempre tão zangado. É porque ninguém me ouvia.

— Por isso ele te trouxe aqui —  Deduzi, vendo ele sorrir.

— Sim. Era o lugar que fazia ele se sentir ele mesmo quando precisava de um tempo. E... ele me trouxe aqui, e me perguntou o que eu queria que eles fizessem. O que era melhor para mim. Tudo voltou a ser como era antes depois daquele dia, e nós nunca olhamos para trás.

— Vocês ainda vem aqui?

— Só eu, às vezes. Papito tinha parado de vir aqui depois que se casou. Ele sempre ficava nesse lugar, porque sentia que era o único em que podia ser ele mesmo. Mas... depois que se casou com meus pais, não há um dia que ele sinta que não pode ser quem é. Então... ele não precisa mais daqui. Ficou para mim — Disse sorrindo, se virando dentro do meu abraço, me encarando com os olhos verdes repletos de confidências e carinho.

— É um lugar incrível.

— Não conte a ninguém sobre — Pediu, se esticando para juntar nossos lábios suavemente, e eu assenti — Ninguém além de nós conhece.

— Obrigado. Por me contar sobre seu lugar especial — Falei, sentindo meu coração cheio de alegria por ele estar sendo tão doce e sincero e Harry expandiu o sorriso.

— Você é especial também — Ele disse baixinho, passando os braços ao redor dos meus ombros, e isso me deixou momentaneamente sem palavras, vendo ele rir um pouco sem jeito — Eu... achei que ia gostar. Do lugar.

— Eu adorei o lugar — Concordei, estreitando os braços ao redor dele, que riu e se afastou em seguida, para voltar a olhar o céu e vermos a noite estrelada.

— Espera aqui — Pediu, e eu assenti, vendo ele entrar no gazebo de novo, abaixando no chão, e sorri quando luzes foram ligadas, como aquelas de natal, iluminando ao redor de forma suave, enroladas pela estrutura velha.

— Você vem muito aqui, hã? — Murmurei quando ele tornou a se aproximar, e Harry assentiu.

— Gosto de fugir, às vezes — Contou, puxando minha mão para que eu me aproximasse.

— É tão lindo — Murmurei, olhando as estrelas, sentindo uma completa paz, pois não havia qualquer som que indicasse pessoas ali perto. Era apenas o vento, as árvores, eu e ele.

— É uma das coisas que mais amo sobre viajar tanto. Ver as paisagens, olhar as estrelas de diferentes lugares do país. Se papi estivesse aqui, estaria dizendo qual é qual. Ele conhece as constelações.

— Remus?

— Remus — Disse sorrindo e eu me virei para vê-lo falar — Ele foi sabe todo o tipo de coisa. E... bem, papito Sirius tem o nome de uma estrela. Então todos nós temos obrigação de saber qual é a estrela do nome dele.

— E você sabe qual é? — Perguntei divertido, e ele riu ao negar.

— Não. Mas ele também não sabe, então qualquer uma que você apontar e dizer que é, ele vai achar que está certo — Garantiu rindo, me levando junto na gargalhada.

Era muito Sirius, e eu gostei de saber isso.

— Eu sinto que é um privilégio estar aqui — Murmurei, sorrindo para ele, e estranhei quando ele fez uma expressão engraçada, se afastando um passo — O que?

Harry apenas sorriu, muito expansivo.

— Olha, eu vou lhe mostrar — Ele disse, em tom de canção, olhando para o céu, e isso me fez sorrir — Como é belo este mundo... Já que nunca deixaram o seu coração mandar — Fez uma pequena pausa — Eu lhe ensino a ver todo encanto e beleza, que há na natureza num tapete a voar.

 — Um mundo ideal...! É um privilégio ver daqui — Entoei junto a ele, vendo os olhos verdes se arregalarem em emoção e alegria ao ver que eu conhecia a canção, e nós dois rimos ao cantar juntos — Ninguém pra nos dizer o que fazer... Até parece um sonho. Um mundo ideal! Um mundo que eu nunca vi! E agora eu posso ver e lhe dizer... Que estou num mundo novo com você.

Ele finalizou o trecho com a voz bonita ecoando na noite, e nós dois sorriamos como bobos nos olhando, as mãos se entrelaçando de forma muito espontânea.

— Um mundo ideal — Ele cantou, enquanto eu fazia a voz secundária, nossos olhos um dentro do outro — Nunca senti tanta emoção. Mas como é bom voar, viver no ar. Eu nunca mais vou desejar voltar. Com tão lindas surpresas...! Com novos rumos pra seguir...

Eu me sentia inteiro quente. Como se houvesse uma onda de profundo amor se espalhando em cada mínimo pedaço da minha existência, enquanto o via sorrindo e cantando comigo.

E naquele momento pequeno diante da imensidão do céu, foi como se tudo fizesse sentido.

Eu, Harry. Nossas vidas tão diferentes e tão parecidas. Cada mínimo traço que nos afastava e nos unia, cada minuto ao lado dele e cada instante em que eu iria querê-lo comigo.

— Com você não saio mais daqui — Disse, baixinho, os lábios próximos aos meus, nossos braços se fechando um ao redor do outro.

— Um mundo ideal — Devolvi o final da música, meu coração batendo tão depressa e acelerado, que jamais pensei que poderia sentir aquela onda de afeição tão grande e amorosa por alguém.

— Que alguém nos deu...

— Feito pra nós...

— Somente nós...

— Só seu e meu — Cantamos juntos, baixinho um contra os lábios dos outros, a emoção mesclada com o vento abafando nossa cantoria, totalmente envolvidos.

Os lábios dele estavam gelados, mas o que estava tirando todo meu juízo era aquele sorriso que ele parecia não conseguir segurar conforme nos beijávamos, parecendo entregue e eu me inclinei para que ele não precisasse se esticar, segurando seu rosto entre as mãos, enquanto me perguntava se ele podia sentir.

Sentir o que eu transmitia, sentir o que o meu olhar dizia.

Sentir que eu estava totalmente apaixonado por ele em todos seus mínimos detalhes, e queria tê-lo nos braços para sempre.

E foi naquele instante, com Harry entre meus braços, que eu percebi que nunca em toda minha vida havia sentido uma felicidade tão genuína, sincera e fácil.

Qualquer lembrança mínima de felicidade parecia insignificante diante do que eu estava sentindo naquele instante, e eu quis poder congelar o tempo, parar o mundo...

Só para que durasse um minuto mais.

 


Notas Finais


Lucius sendo a pessoa sensata na família do Draco, aiai
Draco e Harry mto namoradinhos, mesmo que nenhum dos dois tenha coragem de admitir em voz alta!
Esse capítulo foi para Lucius jogar na cara dos dois que estão juntos sim. E que Draco se envolveu demais com o circo!
E também, mostra um pouquinho do quanto esses dois se completam, mesmo que sejam diferentes demais. Anterior, as diferenças entre eles estavam sendo colidindo, mas eles finalmente acharam um ritmo saudável onde se adaptam um ao outro, e vão aprendendo a ficar juntos.
As diferenças entre os dois pareciam enormes lá no começo. As famílias que nunca aceitariam, Matteo, a personalidade deles, Draco dizendo que nunca foi feliz mais que iria para a faculdade pq era o certo, Harry dizendo que não se apegava e nem namorava...
Já notaram quantos obstáculos desses deixaram de existir?
rs
Espero que estejam gostando!
Eu postei uma Drarry nova, que tem Blon e eles são muitos lindos. Não se esqueçam de ir ler Antagonismo, meu mais novo xodó!
Até!


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