POV REGINA
Na manhã seguinte fiz questão de acordar bem cedo só para ver Swan chegar e levar o Trovão para o redondel. Ela ficava graciosa enquanto manejava o animal sob os primeiros raios de sol. Meu instinto curioso fixou o olhar para uma região específica do seu corpo. Sim, aquela história de intersex ficou na minha mente. E não tinha como negar ou esconder o volume entre as suas coxas. Quando o dia já tinha amanhecido por completo, coloquei uma roupa mais jeitosa e saí direto sem nem passar pelos demais na cozinha.
- Bom dia, Emma!!! Ela estava de costas e se assustou com a minha chegada repentina.
- O-Oi, Regina, bom dia! Nem te vi chegar.
- Eu notei que está concentrada demais.
- Pois é, hoje o Trovão está bastante estressado e não está respondendo bem aos meus comandos.
- Mas ele estava tão bem ontem.
- Isso acontece às vezes quando ele é muito exigido, mas eu tive uma ideia que pode funcionar. Vou levá-lo para cavalgar um pouco.
- Vai montá-lo com ele deste jeito? É perigoso.
- Mantê-lo aqui vai ser pior.
- Então eu vou com você. Falei.
- Me perdoe, mas não irei deixar você correr o risco dele reagir mal.
- E você vai me impedir como? Posso saber?
- Estou falando sério, Regina.
- E eu estou rindo por acaso? Nós vamos juntas e isso é assunto encerrado. Até porque você não conhece a fazenda e pode se perder por aí.
- Bom dia, senhorita Swan. Minha mãe disse num tom de educação irreconhecível.
- Bom dia, senhora Mills.
- Pode me chamar de dona Cora, minha querida. Olhei pra ela sem entender. Aquela era mesmo a minha mãe? - Algum problema com o nosso animal?
- Ele está arredio hoje. Preciso levá-lo para espairecer. Pensei, agora ela volta ao normal.
- Faça o que julgar necessário. Regina, acompanhe a senhorita Swan num tour pelo rancho. E, Emma, mais tarde venha até a casa principal tomar um café. Ela saiu e eu fiquei atônica com tudo aquilo.
- Por que essa cara de espanto? Emma perguntou.
- Fizeram uma lobotomia nela ou ela está usando drogas. A loira riu. - Está rindo?!?! A minha mãe não trata as pessoas assim, especialmente, as recém chegadas. O cavalo relinchou e deu uns dois coices no ar.
- Vamos lá, amigão, vou te tirar daqui. Com um jeitinho todo calmo, ela conseguiu colocar a sela e preparar o cavalo. Subiu e estendeu a mão para me puxar e assim me acomodar atrás dela. Quando deu o comando, Trovão deu um pequeno solavanco e tive que abraçar firme a sua cintura e ficamos praticamente coladas. Logo veio seu perfume invadir meu nariz e era tão bom. - É só me dizer pra onde ir.
- Tem uma clareira há uns quinhentos metros daqui. É um lugar calmo e acho que fará bem pra ele. É só seguir em frente, na direção dos eucaliptos. Depois daquele primeiro momento, o cavalo andou sem pressa e parecia aproveitar o momento. Assim como eu, que sempre que aparecia a oportunidade, me agarrava mais a Emma. Cerca de vinte minutos depois chegamos ao lugar. Ela desceu primeiro e segurou na minha cintura para me ajudar a descer. E que descida foi aquela. Nossos corpos ficaram praticamente colados e eu pude sentir sua respiração acelerar discretamente.
- E-Eu vou prendê-lo na árvore e já volto. Disse num tom deliciosamente baixo. Da clareira dava pra ver o vale onde o rancho ficava. - É um lugar lindo. Disse ao sentar do meu lado.
- Faz meses que eu não venho aqui. Infelizmente porque nunca me sobrava tempo. Até você chegar.
- Até seu cavalo se machucar, você quer dizer. Brincou. - Eu sei que não é da minha conta, mas por que você deixa sua mãe te controlar assim?
- Eu não sei dizer. Acho que me acostumei com a rotina e ela se aproveitou disso. É por isso que ela não te tolera. Além de não obedecê-la igual todo mundo faz, você ainda trouxe uma rotina diferente pra mim. Nem nos meus melhores sonhos eu poderia imaginar que voltaria aqui a essa altura do campeonato.
- Mas você não sai? Vai a festas ou coisas assim?
- A última festa que fui você me salvou de um ex namorado lunático. Além de tudo ainda tenho que conviver com isso.
- Vocês terminaram há pouco tempo?
- Há alguns meses.
- É por isso que ele ainda quer se impor como tal.
- Daniel já foi tudo pra mim um dia, Emma. O homem dos meus sonhos, mas descobri que ele era o sonho de muitas outras mulheres também e ele costumava realizar os sonhos delas.
- O amor é um treco complicado.
- Sem querer ser intrometida também, mas Ava me contou sobre seu casamento que não aconteceu.
- Eu também sonhei alto com a Roberta, mas ela escolheu um caminho melhor do que aquele que eu tinha para oferecer.
- Não entendo como alguém deixa as coisas chegarem a este ponto. Por que ela não conversou com você antes?
- Eu me pergunto isso até hoje, mas vou morrer sem resposta. Toquei seu braço com carinho.
- Talvez você mereça coisa melhor do que esperar essa resposta. Ficamos num breve silêncio.
- Além de cavalos, do que mais você gosta, Regina? Que tipo de música escuta? Comida favorita? Cor preferida? Swan disparou uma sequência de perguntas.
- Por Deus, Emma, uma pergunta de cada vez. Gargalhei. - Nem lembro mais o que você perguntou primeiro. Ela riu também.
- Desculpa, eu fico nervosa às vezes.
- Está nervosa por quê?
- Já faz muito tempo que eu não converso com uma mulher por mais de dez minutos.
- Bem, então te prepara, pois, pra responder tudo isso, vou gastar quase uma hora. Ela sorriu de canto e aquele jeito meigo estava acabando com meu juízo. - Eu adoro música, especialmente aquelas que a gente pode dançar junto e, sim, eu adoro dançar.
- Eu também gosto muito.
- Não tenho uma cor favorita, mas gosto de preto, roxo, cinza… depende da ocasião.
- Sua comida favorita. Eu gargalhei.
- Essa é fácil. A que estiver no prato. Sou muito boa de garfo.
- Eu pensava exatamente o contrário.
- Ora, por que?
- Para manter um corpo assim, achei que você vivia comendo salada.
- Engano seu, meu bem. Eu faço corrida para manter a forma, caso contrário, coitada da coluna no Atlas.
- E você, como faz para manter esses braços fortes assim?
- Feno e sacos de ração. Cerca de cinquenta quilos cada um e uns trinta para descarregar todos os dias.
- Cruzes! Fiquei até com dó de você agora. Rimos. - Mas me fala de você também. Que músicas gosta de ouvir?
- Promete que não vai rir? Beijei os dedos cruzados em juramento. - Eu sou muito fã da Beyoncé. Acho que já decorei todas as músicas dela.
- É sério? Você não tem cara de alguém que curte Beyoncé. Achei que escutava sertanejo raiz.
- Só por que me visto como cowgirl e uso chapéu de montaria? Não senhora, isso é só fachada mesmo.
- E qual é a sua música favorita?
- Essa, sim, é uma pergunta complexa, mas vamos lá. Run the World. Ela fechou um dos olhos e disse com vergonha.
- Isso é o que se pode chamar de vangloriar o empoderamento feminino. Essa música deveria ser um hino para as mulheres.
- As mulheres são uma obra prima e deveriam ser melhor cuidadas, mas infelizmente o mundo ainda é machista demais. Acredita que meu pai foi chamado de louco quando disse aos amigos que colocaria nosso patrimônio nas mãos da filha mais nova e não do filho mais velho.
- Você tem um irmão? Perguntei só por perguntar, pois já sabia a resposta.
- Ele mora no Canadá. É advogado e detesta tudo o que se refere ao campo. Foi estudar fora e só volta pra fazer visitas curtas porque tem alergia a picada de insetos. Parece um doido passando repelente o tempo todo.
- Eu tenho uma prima que também fugiu dessa vida pacata, segundo ela. Seu nome é Zelena. Você vai conhecê-la no final do mês. Ela vem me visitar também. Meu celular começou a tocar e no visor o nome da minha mãe. - Acho que temos que voltar antes que ela mesma venha nos buscar. Emma se levantou e estendeu a mão para me ajudar a levantar. - A propósito, eu não tenho seu número de telefone. Falei sem pensar.
- Não seja por isso, anota aí. Mais do que depressa fiz o desbloqueio da tela do telefone e registrei os números. Ela subiu no cavalo, mas se colocou um pouco mais para trás. - É sua vez de guiá-lo. Me ajudou a subir e sentar na sua frente.
- Tem certeza disso?
- Confie nos seus instintos e ele vai confiar em você. Suas mãos ficaram sobre as minhas no início para segurar as rédeas, mas, logo depois, foram parar sutilmente na minha cintura. E assim retornamos em segurança até o estábulo. - Viu só? Disse quando desceu. - Ele sente o seu medo, então, só fique tranquila.
- Fiquei tranquila porque você estava bem atrás de mim. Suas mãos seguraram minha cintura para me ajudar a descer e novamente aquela proximidade aconteceu, mas foi desagradavelmente interrompida.
- Posso saber o que está acontecendo aqui? Daniel disse com raiva. - E por onde você andou o dia todo? Emma logo se afastou e levou consigo o cavalo.
- Onde você se perdeu no fato de que não lhe devo satisfações, Daniel? E abaixe seu tom de voz comigo porque você não está falando com qualquer uma. Ele se aproximou demais.
- Aquela estranha lá é a mesma mulher que me ameaçou naquele dia, não é? A famosa Emma Swan. Falou baixo. - Será que ela está armada agora? Quis partir para onde Emma estava, mas o impedi.
- Você trate de caçar o seu rumo e sumir da minha frente ou terei que contar ao meu pai sobre os seus últimos excessos com a filha dele. Mesmo bufando ele se foi.
- Você vai virar santa se continuar cultivando tanta paciência com as pessoas. Emma disse e eu virei na sua direção.
- Até o dia em que eu explodir e soltar faíscas em todo mundo. Agora vamos entrar, minha mãe está te esperando e ela não costuma fazer isso com ninguém. Peguei sua mão e fomos assim até a entrada da casa.
- Regina… Senti ela me puxar de leve. - Eu adorei passar a tarde com você e te conhecer um pouco melhor. Dei um passo na sua direção como se meu corpo agisse por conta própria.
- E eu espero que possamos repetir isso muitas vezes. Ficamos nos olhando, uma segurando a mão da outra e ambas sem saber o que fazer na sequência até que a porta foi aberta e o clima foi quebrado.
- Até que enfim voltaram. O café está na mesa, pode entrar, senhorita Swan. Pra variar, minha mãe apareceu estragando o momento.
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