O tempo percorreu vagarosamente após aquele dia, essas duas semanas parecem que duraram uma eternidade. A ampulheta foi virada e eu assisti cada grão de areia que caiu, fui apenas uma espectadora já que não podia fazer nada a respeito.
O toque do despertador ecoa e aumenta progressivamente. Ainda com os olhos fechados, tateio a cama procurando por ele. Quando sinto o aparelho, sou obrigada a abrir os olhos para cancelar o alarme. Levanto-me e sigo a rotina: tomo o meu café da manhã, arrumo-me e vou para o trabalho com a Eunjin.
O meu rendimento na faculdade caiu. Eu ia apenas com a finalidade de preencher o meu nome na lista de chamada. Por mais que eu tentasse me concentrar na aula, a minha atenção era esvaída e quando eu percebia já estava com o pensamento focado em algo aleatório.
Pelo o que a Eunjin informou, os rapazes estavam trabalhando mais do que o normal, justificando a completa ausência deles. Entretanto, uma parte minha ficou aliviada com essa circunstância. A evidência do que ela disse estava na própria mansão que não estava tão bagunçada quanto antes.
O clima está mudando devido ao começo de outra estação. É nítido devido ao maior número de pessoas com máscaras nas ruas. A primavera é a estação mais linda, mas o pólen é o grande infortúnio para muitas pessoas. A minha mãe sempre fica doente, por sorte eu não herdei essa alergia.
— Aqui tá tão bonito — Eujin fala enquanto caminhamos.
O condomínio onde trabalhamos já é belíssimo, o florescimento aumenta ainda mais a beleza. Todos os dias comentamos sobre isso, era impossível não notar a simetria de cada flor e o cheiro doce que emanava.
Adentramos a resistência e fomos para o quarto das empregadas trocar de roupa. Enquanto amarro o laço do meu uniforme, a Sra. Myong entra uniformizada no quarto e com um espanador na mão, indicando que ela chegou mais cedo do que nós.
— O chefe pediu para eu avisar que dois dos rapazes estão doentes e não devemos fazer barulho.
Uma preocupação repentina se alastra em mim. Inúmeras perguntas circulam em minha mente, mas a principal é o questionamento sobre a gravidade da doença. Reflito se devo perguntar, porém a Eunjin faz isso por mim:
— Quem são?
— Acho que são… — Myong reflete. — O Yoongi e o Jungkook se não me engano.
— O que eles têm? — ouso em perguntar.
— Alergia ao pólen, temos que fechar tudo e limpar cada canto da casa.
O meu coração trava. Durante vários anos eu cuidei da minha mãe e sei como os sintomas são mais acentuados no começo da primavera, quando o meu expediente acabar irei ligar para ela. As duas saem do quarto para fazerem as suas tarefas, deixando-me imersa na preocupação. Contudo, não há muito o que eu possa fazer, eles devem estar dormindo e também não posso simplesmente ir lá sem ser chamada.
Irei fazer o melhor que eu posso para deixar tudo em ordem, fecho todas as janelas da casa. Posteriormente, vou para a varanda que está coberta por flores, incluído a piscina. Observo o jardineiro e mais outro homem — deve ser um novo funcionário — limpando incansavelmente. Mesmo que não haja nenhuma flor aqui, o vento traria as dos vizinhos.
Pego uma vassoura e limpo toda a extensão do local. Assim que percebo que está limpo, volto para dentro. A Myong irá espanar e passar pano em todos os móveis para tirar qualquer resquício do pólen. A Eunjin irá ao supermercado e eu lavarei as roupas deles com o cuidado redobrado e também limparei a mansão.
Vou imediatamente para a lavanderia, hoje temos muitas tarefas e não posso perder tempo. A minha prioridade são as roupas do Jungkook e do Yoongi, lavo-as cuidadosamente. Em hipótese nenhuma, elas podem ser estendidas lá fora; o secador é o meu maior aliado.
Após terminar de lavar as roupas deles. Ligo a torneira do tanque para deixar alguns panos de molho. Escuto o barulho da campainha, interrompo o que eu estou fazendo. Seco as minhas mãos no uniforme mesmo e saio correndo, porém deparo-me com o Yoongi em frente à porta.
Uma mulher com o cabelo curto adentra, por alguma razão desconhecida ela parece ser familiar. Yoongi curva o corpo para frente e espirra sem parar, dou um passo em sua direção mas sou repreendida por um olhar nada amigável dela. Fecho a porta enquanto os dois se sentam, quando me viro percebo que ela ainda está me encarado.
— Por que você não me disse que tem uma nova funcionária? — ela fixa o olhar nele. — E que ela é nova?! — esbravejou.
— Porque sabia que você ficaria assim. — Yoongi coloca a mão na testa. — Não vamos brigar de novo Hani.
Assim que ele pronuncia o nome dela, lembro-me do porta-retrato. É a mesma mulher, há somente duas diferenças: o seu cabelo está mais curto e o seu sorriso na foto está sendo anulado por sua expressão rígida.
— Devia ter pensado nisso antes, mas vou tentar — a amargura está presente em sua voz. — Traga um copo d'água, vai — dispara.
Uma áurea tensa ocupa o local. Fiquei estática ao ver a briga deles, não sabia como me portar. Saio cabisbaixa assim que escuto o seu pedido, nunca imaginei que lidaria com uma situação dessa. Entro na cozinha e pego rapidamente o copo d'água e coloco-o sobre a bandeja.
Volto para a sala caminhando cautelosamente e segurando com força o objeto para não o derrubar. Posso sentir o seu olhar antipático em mim, paro em sua frente e, em seguida, abaixo-me parcialmente para lhe entregar o copo.
— Tá louca? Eu disse chá e não água! — Ela afasta a bandeja brutalmente, por pouco o copo não cai.
Os meus olhos ardem e sinto um nó em minha garganta. Penso em falar algo, mas as palavras não surgem. A vontade de correr é muito tentadora, mas também sinto a vontade de rebater já que tenho certeza de que ela pediu água.
— Posso ajudar? — A Sra. Myong aparece, atraindo a nossa atenção.
— Finalmente, essa aqui tem muito o que aprender ainda — Hani diz debochada.
— Eu não aguento mais esse teu ciúme! Toda vez é isso. — Yoongi se levanta, pela primeira vez o vejo irritado.
— A culpa é sua! — ela rebate.
E tudo aconteceu muito rápido. Hani pegou a sua bolsa furiosa, abriu a porta enquanto falou algumas palavras que soaram indecifráveis para mim por causa do nervosismo. Yoongi tentou alcançá-la, mas parou no meio do caminho devido aos espirros incessáveis.
— O que está acontecendo? — Olho na direção da sua voz inconfundível. Jungkook está em cima da escada com os braços trêmulos apoiados no corrimão.
— Cuida dele que eu ajudo o Yoongi — Myong diz.
Sem pensar, subo os degraus rapidamente temendo que ele se desequilibre. Conforme eu me aproximo do Jungkook, reparo no seu rosto pálido com olheiras profundas e no nariz vermelho. Seguro em seu dorso, pego a sua mão direita e coloco em cima do meu ombro para ele se apoiar.
Caminhamos vagarosamente até o seu quarto, felizmente a sua porta está aberta, facilitando para nós. Quando chegamos perto da sua cama, desfaço o nosso entrelaço. Ajudo-o a se deitar, ajeito o seu travesseiro e o embrulho. Em seguida, coloco a minha mão sobre a sua testa: Jungkook está queimando de febre.
— Yura, eu… — ele balbucia, sôfrego.
— Está tudo bem, quando você estiver melhor conversamos. — Afasto cuidadosamente o seu cabelo do rosto.
Preciso controlar a sua temperatura, é extremamente perigoso ficar febril por muito tempo. Olho ao redor procurando por uma solução, vejo um papel e alguns remédios em cima da escrivaninha. Aproximo-me e quando leio percebo que é uma receita médica. Observo o horário e a quantidade de pílulas, logo concluo que o Jungkook ainda não tomou o seu remédio.
— Eu já volto.
Desço as escadas com o pensamento nele, vou até a cozinha e pego um copo d'água. Não vi o Yoongi e nem a Myong, mas creio que ela está cuidando dele. Assim que entro no quarto, pouso o meu olhar no Jungkook que está na mesma posição com os olhos semicerrados. Pego o seu remédio e me sento ao seu lado.
— Kookie. — Acaricio o seu cabelo na tentativa de acordá-lo.
Ele move lentamente os seus cílios e logo me deparo com as suas orbes escuras. Ajudo-o a se recostar na cama, quando o Jungkook está mais desperto lhe dou o remédio e levo o copo d'água até a sua boca. Após ser medicamentado, deito-o delicadamente sobre a cama. Arrumo o seu lençol e observo a sua feição cansada, antes de eu me levantar a sua mão segura a minha.
Fico sentada ao seu lado com o tecer das nossas mãos. Confiro a cada minuto se a sua febre diminuiu. Acaricio o seu cabelo enquanto o vejo dormir serenamente. À medida que o tempo passa, a sua respiração torna-se regular e a sua temperatura corporal volta ao normal. Não sei quanto tempo fiquei aqui com ele, mas percebo que demorei quando noto que o sol está mais fraco.
Afasto as minhas mãos lentamente para não o despertar. Pego a sua receita e assinalo com uma seta positiva ao lado do remédio e horário que ele tomou para não existir a possibilidade de repetição. Por fim, escrevo no final da folha: “Cuide-se, por favor”.
Antes de fechar a porta do quarto o encaro pela última vez, conferindo se ele realmente está bem: Jungkook continua no mundo dos sonhos. Encaminho-me para a sala de estar, encontro com a Myong limpando os móveis. Chego perto dela para sanar a dúvida que está me corroendo:
— Como o Yoongi está?
— Ele tava com febre, mas já tá melhor.
Suspiro aliviada ao ouvir a sua resposta. Saber que os dois estão melhor, diminui consideravelmente a minha preocupação. No entanto, tem algo que também está me deixando angustiada.
— Por favor, não conte para a Eunjin sobre a confusão — falo baixo. — Ela pode querer brigar, mas esse emprego é muito importante para ela.
Não posso negar que estou magoada por causa do modo como a Hani me tratou. Quando trabalhei na cafetaria, também lidei com alguns clientes inconvenientes. Se eu não tivesse tido essas experiências, provavelmente deixaria o lado meu profissional para trás naquele instante.
Não me importo em ser demitida, mas a Eunjin trabalha aqui há anos e por causa da sua idade será difícil arrumar outro bom emprego. Sem contar que o seu problema na coluna também é um grande empecilho.
— Dessa vez eu vou deixar passar, mas se essa moça fizer mais um “A” vai ser eu que vou fazer um barraco — Myong diz e ganha um sorriso meu.
O nosso expediente está perto de acabar e, por isso, volto para as tarefas que ainda não terminei. Entretanto, me flagrei várias vezes pensando se ambos estão bem e como ficarão já que não trabalhamos no final de semana. Apesar da distância, estarei torcendo para que a recuperação seja rápida.
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