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História A Era Mais Escura - Recuperação


Escrita por: MarleyMAlves

Notas do Autor


Sim... eu sei, é uma arte um pouco clichê; mas não consegui pensar em algo melhor, e até que foi legal desenhar um olho gigante, sério, nunca tinha desenhado um antes. Estranho, não?

Sobre a recente mudança no nome da história: Já passamos por 3 títulos desde que comecei a escrever, e até agora acredito que eles apenas melhoraram, e não posso dizer que esse é o final, afinal, quem sabe amanhã não apareça que represente ainda melhor todos estes personagens e lugares (ou lugar).

Capítulo 17 - Recuperação


Fanfic / Fanfiction A Era Mais Escura - Recuperação

Damian estava novamente contra a parede fria daquela velha torre de vigia, em sua garganta podia ver e sentir o fio de sua própria lâmina contra seu pescoço, conseguia também ver a figura sinistra que estava o confinando a àquelas pedras frias do calabouço antigo; sua pele lisa e reluzente era vermelha, mesma cor de seus cabelos. Os olhos, no entanto, eram duas luzes verdes sinistras que pareciam lhe sugar a alma.

            E mais uma vez, se viu indefeso e assustado, como era anos atrás quando viu sua mãe ser violada e morta por uma gangue de sua cidade natal, daquele momento em diante, havia jurado: Não mais. Mesmo assim, ali estava, tão amedrontado que faria qualquer coisa para se livrar daquela situação; até mesmo fazer um pacto com aquela mulher monstruosa diante de dele.

            Aquilo sorriu, ela não precisou dizer nem uma palavra, porque ele já as sabia de cor, então, sentiu seus lábios se mexerem sem os ter comandado para que o fizessem, e mesmo que tentasse com todas as forças, não os conseguiu impedir de dizer:

            - Sim.

            Sua espada sibilou em seu pescoço, e Damian caiu ao chão ajoelhado, observou seus dedos se tornarem vermelhos, e gradativamente, seu corpo por inteiro; inesperadamente se viu de joelhos diante de Albert, que o observava com o pescoço torcido em um ângulo anormal, este falou logo em seguida:

            - Deve estar feliz, sabendo que é tudo sua culpa.

            Não soube ao certo se não queria ou não podia mexer a própria boca para responder ao defunto, não fez muita diferença no final das contas, pois logo uma cabeça decepada caiu direto em suas mãos; e depois de quase cinco anos, viu o rosto de sua mãe de novo.

            O soldado acordou exaltado em uma cama que não era a dele, e logo ouviu alguém ao seu lado dizer:

            - Calma, foi só outro sonho.

            Como resposta, se virou entre os lençóis e bufou com o rosto enterrado nos travesseiros, em sua memória o pesadelo ressoava ainda palpável como a realidade. Grande parte dele era na verdade, real; realmente havia sido incapaz de defender Albert e a si mesmo de Mila Dameron, realmente estava mentindo por ela, mesmo que essa mentira o mantivesse na guarda real.

            - Quer conversar sobre isso? – Perguntou a voz ao seu lado, receptiva.

            Virou seu rosto para o lado, e viu Den sentado a beirada da cama calçando as botas, ele o olhava por cima dos ombros, sorrindo para Damian, aquele sorriso que sempre o acalmava, principalmente na última semana.

            - Não, ainda não.

            Não sabia se um dia teria coragem de falar sobre como fora sua experiência no calabouço escondido na floresta de Ilca, não sabia se iria aguentar a vergonha de, pela segunda vez, ter deixado alguém morrer na sua frente.

            - Hm, tente não ficar se culpando, é bem a sua cara fazer isso. – Lembrou o sobrinho do General, ao terminar de amarrar os cadarços e se inclinar em sua direção.

            Ele bagunçou seu cabelo e depois lhe beijou a cabeça, um carinho que já havia se acostumado a receber, mas mesmo assim não apreciava muito, principalmente quando acontecia em lugares públicos.

            - Preciso ir, meu tio quer falar comigo. – Disse Den ao se levantar da cama e ir até a porta. – Sabe, acho que nunca ter um dormitório inteiro destruído foi tão divertido, te vejo mais tarde.

            Damian se sentou na cama de casal que Den tinha em seu quarto pessoal (regalias de ser sobrinho do chefe), a ferida em sua perna ardeu em reposta, o que o levou a esperar um bom tempo até tomar coragem de levantar.

            Sabia muito bem que esses pesadelos iriam o perseguir por bastante tempo daqui para frente, mas não se sentia mal, pois os merecia, afinal, o que são pesadelos comparados a uma vida, a vida de sua mãe ou mesmo de Albert.

            Mila Dameron poderia não ter pele e cabelos vermelhos, mas era um monstro, um monstro que o deixara vivo, porque?

 

 

 

- Garoto, você tem sorte da lamina não ter atingido nenhuma veia importante. – Disse o velho Gundyr. – Quem sabe, semana que vem o senhor já vai conseguir aposentar essa coisa.

            Pegando sua muleta, Damian se levantou agradecendo ao curandeiro, e se dirigiu a saída enquanto falava:

            - Obrigado senhor, mas sabe... – Segurando no batente da porta, olhou por cima dos ombros ao terminar a frase. – Eu não acredito em sorte.

            - Ah, os jovens de hoje se acham muito, sinto falta das guerras, elas abriam essas suas cabecinhas. – Replicou o idoso.

            Sem falar mais nada, o soldado deixou a sala e saiu mancando pelo corredor. Menos do que a uma semana, mas ainda assim, mancando, quanto mais teria de esperar para voltar a seus deveres?

A ferida, graças a todos os elixires e milagres executados pelo curandeiro, estava a meio caminho da cura. Mesmo assim, sabia muito bem que não voltaria a caminhar da mesma maneira tão cedo.

            Voltava agora ao quarto de Den, onde vinha dormindo a alguns dias, desde quando seu dormitório foi totalmente destruído por um bruxo zankariano recém-chegado a Losran.

            - Ei! – Exclamou uma voz a suas costas, e nem se deu ao trabalho de se virar, pois já sabia quem era.

            Den logo o alcançou e lhe deu um belo tapa nas costas.

            - Como foi com o Gundyr? Sério, aquele velho me dá arrepios.

            Damian ainda se surpreendia com o companheiro, sempre à espreita dele nos últimos dias, por outro lado, não poderia esperar algo diferente daquilo, afinal, sempre se protegeram, principalmente dos outros soldados, principalmente dos que sabiam de sua relação.

            - Não foi nada demais, e você não precisa ficar correndo atrás de mim o tempo todo, nós já estamos dormindo na mesma cama. – Brincou.

            Rindo em resposta, Den coçou seus cabelos castanhos brilhantes, bem semelhantes ao do tio, e alguns instantes depois, cruzou os braços.

            - Então, meu tio me passou os deveres de Albert.

            Sentiu um arrepio involuntário ao ouvir isso por algum motivo, mas na verdade não era uma grande surpresa; apesar do quarto pessoal, não era comum de Logan pegar leve com o sobrinho, muito pelo contrário, ele queria que o familiar aprendesse o quanto era necessária força de vontade para atingir um posto alto na guarda.

            - Eu queria almoçar junto com você, mas a essa hora, Albert estaria atrasado para patrulhar o porto, e estar atrasado é igual a lavar todos os pratos depois do jantar, podia não ser para aquele canalha do Albert, mas sem dúvidas para mim é.

            Foi a vez de Damian rir, e em seguida responder:

            - Então, boa sorte, e até a noite.

            Den se aproximou e lhe beijou de um modo muito natural, como se não fossem tachados de aberrações pelos soldados mais extremistas, como Albert, ou mesmo quando Damian não era acusado de estar se aproveitando do sobrinho do general, o que era muito mais comum de se ouvir.

            - Hoje à noite vamos naquela taverna da periferia que te falei, está na hora de você relaxar um pouco.

            - Ah, eu não sei, não sou fã de tavernas.

            Den já havia começado a se afastar, mas mesmo assim virou-se e reafirmou com animação:

            - Você. Vai!

            Seu amante partiu a frente, seguindo para a saída do palácio, para a patrulha a qual Damian não podia participar. Não demorou muito e o recruta também voltou a mancar pelo corredor, mesmo que em seus pensamentos houvessem apenas as palavras da assassina, a qual havia deixado escapar, ele não parecia conseguir parar de pensar nela, em como foi um completo inútil naquele momento, como se não tivesse merecido seu lugar naquela guarda, ao contrário de Albert, que havia comprado sua entrada.

            Algo o fez parar em uma bifurcação, um pensamento ou uma aflição; era muito mais provável que fosse Mila Dameron que o atormentava uma vez mais.

            Ela o poupara; a Lâmina Sinistra o havia deixado vivo por motivos que não entendia e isso o incomodava incessantemente. Precisava saber por que fora o afortunado em meio a tantos cadáveres colecionados pela mulher, por que alguém que nunca havia deixado testemunhas optaria por deixar que sua fuga triunfal fosse descoberta, portanto, tomou outro rumo nos corredores do palácio real; pois tinha de encontrá-la e saber o porquê de tudo aquilo, ou nunca conseguiria dormir bem de novo, já haviam pesos demais nos seus ombros que jamais conseguiria retirar, mas esse talvez ainda conseguisse aliviar.

Entendeu que se não poderia procurá-la pelas ruas da capital, a procuraria dentro do próprio palácio, onde sua vida e muito conhecida história certamente estaria documentada; então, seguiu para os esquecidos arquivos do castelo, um lugar tão raro de se aventurar quanto os picos da Mandíbula.

 

 

 

Quando chegou finalmente na entrada dos arquivos, depois de descer uma série infindável de escadas, bateu na porta de madeira simples. Não poderia de deixar de perceber naquele meio tempo no qual aguardava, aquele era um lugar realmente morto, essa na verdade seria a primeira vez em que entraria lá, embora já fizesse algum tempo que servia à guarda.

Demorou um bom tempo até que a porta fosse finalmente escancarada, e Damian realmente esperava encontrar algum velho do outro lado, cuidando do setor. É claro que por ironia do destino, a pessoa que lhe recebera era um jovem magricela de cabelos ruivos, provavelmente alguns anos mais novo que ele.

- Pois não? – Disse, colocando os óculos de lentes redondas no rosto salpicado de sardas.

- Bom dia, gostaria de consultar os arquivos de uma pessoa... se possível, é claro.

Claramente desconcertado, o garoto de cabelos avermelhados escancarou mais a porta, dando passagem ao seu convidado.

- Claro! Por favor, fique à vontade.

O debilitado soldado mancou cômodo adentro percebendo o desconforto, e a indecisão do jovem quanto a se deveria oferecer ou não auxilio a ele. Para o alívio de Damian, este não lhe oferecera ajuda alguma, pois não precisava, e mesmo que precisasse, não sabia se estaria disposto a aceitá-la, afinal, ainda tinha um pouco de autossuficiência sobrando, e estava disposto a usá-la.

- Agradeço. – Falou por fim, enquanto o outro fechava a porta a suas costas.

- Desculpe pela demora, não estou acostumado a receber ninguém aqui em baixo. – Disse o jovem desajeitadamente ajeitando os óculos em seus olhos.

O recruta ficou impressionado ao olhar em volta, mais especificamente com o que estava a sua volta.

Eram tantos pergaminhos, tantas prateleiras, quanta história estaria registrada ali.

Nunca havia sido próximo da leitura, mas tinha conhecidos que enlouqueceriam naquele lugar, pessoas estas que de que algum modo o lembravam o garoto que lhe atendia.

- A propósito, sou Damian, soldado da guarda. – Disse, estendendo a mão.

- Muito prazer, me chamo Edi. – Apresentou-se, respondendo ao aperto de mão; um aperto bem fraco, sem dúvidas, mas o que esperar de alguém que passa seus dias em uma sala repleta de pergaminhos velhos. – Bom, me chamam de Edi, na verdade meu nome é Edigar. Me chame do que achar melhor.

- Edi, quero saber o que tem sobre alguém em especial. – Revelou, já sendo direto.

- Hum. – Grunhiu o jovem, semicerrando os olhos como se questionasse de quem estaria falando. – Já aviso que as aparências enganam, muitos pergaminhos estão perdidos ou velhos demais para ler, é sério, eles viram pó só de tocar! – Exclamou ele, e Damian não soube dizer se foi nervosismo ou excitação em sua voz, Edigar parecia uma daquelas pessoas um pouco agitadas demais. - E nenhuma história é completa, ou correta. A não ser que procure sobre algum rei ou alto-nobre, te garanto que poderei te dizer até a hora em que sentam em seus tronos, não nesse que você está pensando, o outro.

- Não, nem um rei, só uma mulher, Mila Dameron. Tudo o que poça me mostrar, qualquer coisa.

Edi arregalou os olhos visivelmente, e parou por um segundo antes de voltar a si, e finalmente guiar o soldado em direção a uma prateleira um particular. A prateleira que possuía a palavra ‘Banidos’ em uma pequena placa prateada.

 

 

 

Sentado à pequena mesa de madeira. Os dois pergaminhos que lhe foram trazidos estavam em condições aceitáveis; um destes, o mais novo, era datado de três anos atrás, o outro de cinco. Damian decidiu começar pelo mais recente, mesmo que já tivesse uma ideia de o que encontraria ali.

“Julgamentos do juiz Adelar Maasteru Benilui, documentados pela escriba Jaena Tâmalia”, abaixo do título seguia: “Escritos em ordem cronológica”.

- Ótimo, não vai demorar. – Disse o soldado pensando alto, pois sabia que o juiz em questão não era conhecido por pegar muitos casos, e melhor, morrera dois anos atrás, o que facilitava muito as coisas.

Não demorou muito para que estivesse na semana do julgamento da criminosa.

Imediatamente, quando seus olhos encontraram o nome da mulher escrito em nanquim, seu dedo começou a se arrastar pelas letras enquanto lia aquelas palavras:

 

“Mila Dameron:

Data do julgamento: 105º dia de verão, 1145º ano após o elo.

Acusações: Alta traição; tortura; múltiplos assassinatos; entre outros crimes hediondos.

Testemunhas: General Logan Orioth; Duque Ernasos Bezius, de Thâmys; Duque Fergus Maslany, de Ariete; Duquesa Vanessa Amália Vasher, de Ethier; Duque Lothur Orioth de Vila Nascente Escura; e Divina Brie do Vale Iluminado.

Testemunhas oculares: Logan Orioth, Duque Lothur Orioth.

Responsável pela apreensão: General Logan Orioth.

Sentença: Exilio e confinamento perpétuo. ”

 

Por mais importantes que fossem as informações anteriores, nada ali chamou tanto a atenção de Damian como o que vinha a seguir:

 

“Relatório do dia da prisão:

No 100º dia de verão, do 1145º ano após o elo, foi reunido o círculo da coroa baixa, onde deveriam ser discutidos assuntos diversos entre os regentes ducais.

Mila Dameron teria se infiltrado em Forte Primaveril, residência da Duquesa Vasher, que humildemente oferecera sua morada como sede do encontro. Lá, foi interceptada por guardas reais, cedidos por vossa alteza Barlowe VI, como defesas adicionais a aquela reunião.

No entanto, quem a impediu foi o renomado General Logan Orioth, que comandava as forças reais na ocasião, ao mesmo tempo que defendia seu pai, Duque Lothur Orioth, um dos prováveis alvos da mercenária. ”

 

- Eu me lembro disso, foi só o que falaram por quase um mês. – Concluiu Damian, quase sussurrando. – Foi muita sorte a guarda real ter sido cedida.

Com isso o soldado fechou o pergaminho, e colocando-o de lado, e assim se voltando para o outro, de cinco anos atrás. este bem menor que os casos do juiz Benilui. Para sua sorte.

Ao desenrolar o cordão que mantinha o rolo fechado, foi surpreendido com um retrato de alguém que lembrava Mila Dameron; entretanto, neste desenho seu cabelo estava comprido, e nem sua beleza nem seus olhos chegavam perto da realidade.

Descobriu logo depois que se tratava do primeiro retrato falado da mercenária. Feito por um contrabandista de escravos, este que teve mais da metade do corpo queimado durante um incêndio que a assassina causara em um armazém, lugar onde estavam sendo mantidas suas “mercadorias”.

“O incêndio matou tanto os envolvidos no contrabando, quanto os mais de cem inocentes que eram mantidos em cativeiro”. – Dizia o documento.

Tudo e todos, reduzidos a cinzas.

Damian conhecia o lugar, sabia que a partir da ocasião, o local passou a ser conhecido como “O cemitério febril”. Lembrava-se de ouvir sobre o incêndio, mas não sabia nem de sua história, nem do envolvimento direto da fugitiva; mas também sabia dos acontecimentos sombrios, sobre pessoas que chegaram perto demais de lá depois do fogo, e nunca mais foram vistas.

“Espíritos injustiçados são uma das piores coisas nesse mundo...” Sua mãe lhe contou uma vez, quando era criança. “Só não são piores que os vivos. ”

As almas perturbadas não encontrariam conforto tão cedo.

Nada ali o ajudaria a achá-la, mas clareou sua mente quanto a maldade que habitava o corpo daquela mulher. Quanto sofrimento havia causado, quanta dor; agora tinha mais certeza do que nunca. Mila Dameron era um monstro, e precisava ser jogada de volta naquele buraco imundo de onde havia saído, e dessa vez talvez fosse melhor explodir o buraco com ela dentro.

Mesmo assim, ainda havia algo errado no meio daquilo tudo, pois ainda estava lá, vivo e poupado pela mesma pessoa que cometera todas aquelas atrocidades, e não apenas ele sabia disso, como também o general; afinal, percebeu o modo como ele o fitou no dia em que conversaram, o homem procurava algo em especial no recruta, algo que o tornasse especial para a assassina. Mas não existiam razões para não ter sido morto naquela madrugada.

E era por isso que precisava procurar pela Lâmina Sinistra. Essa foi razão que não o permitiu deixar os arquivos durante todo aquele dia, por que ainda não estava pronto para desistir de procurar respostas naquelas palavras esquecidas pelo resto do povo de Losran.


Notas Finais


Adoro quando adiciono um relacionamento novo na história, eles dão uma sensação de "estar andando em frente". O que nem sempre é verdade. ( ͡° ͜ʖ ͡°)


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