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História A Escolha - O Detetive


Escrita por: MrsRidgeway

Notas do Autor


Oi bbs,

Como vão vocês?
Espero que bem ♥

Bom, eu ainda estou bem doente e morta de dor no corpo, mas ainda sim vim correndo postar capítulo, pra não ficar com peso na consciência, nem deixar vocês esperando demais. Espero que vocês gostem e me retribuam com muitos favoritos e comentários hahah

Agora vamos ao que interessa!

Capítulo 24 - O Detetive


Terça, 22 horas.

Rua Lírio do Vale, casa 212.

Leve o dinheiro.

E vá sozinho.

 

Por impulso, assim como eu havia feito nos últimos dias, dei mais uma olhada na mensagem que Mad mandara na noite da festa de aniversário da Ginny.

     Até que enfim chegou o dia...

A terça-feira chegou, mais esperada que nunca. Eu estava ansioso, não podia negar. Ron e eu esperávamos o horário da aula de Minerva, sentados na escada do pavilhão de biologia. Percebi que Ronald me observava de braços cruzados. Sua expressão não era muito boa.

– Tem certeza que você não leu essa mensagem antes de mim? – indaguei uma última vez.

– Tenho – ele respondeu, mal-humorado – Mas, pensando bem, eu deveria ter lido. E apagado – completou.

Deixei o aparelho de lado momentaneamente.

– O que é agora?

– Você não deveria ir sozinho.

– De novo isso, Ron?

– Sim, de novo, Harry. Até você entender.

– Você leu a mensagem. As instruções foram claras...

– Cara, você nem sabe quem é esse Mad direito! – Ron bufou, irritado – Vai que ele é um louco, psicopata?!

– Eu preciso saber se ele conseguiu algo! – repliquei, firme.

– Vale a pena mesmo o risco?!

 – Sim, vale! São os meus pais, Ron, qualquer risco para saber vale a pena!

O ruivo suspirou, esticando as pernas pelo degrau.

– Espero que você saiba o que está fazendo...

Não respondi, apenas voltei a concentrar o meu olhar na tela do smartphone. A professora McGonagall passou por nós alguns minutos depois. Ron e eu nos levantamos e a seguimos, em silêncio. Durante todo o momento da aula, não trocamos nenhuma palavra. Pude perceber que Neville e Angelina nos observavam de soslaio, sem entende o que havia acontecido.

     Melhor assim.

– Angel, será que você pode me ajudar aqui? – Ron perguntou, sem tirar os olhos do microscópio.

– Ah... – ela se sobressaltou, desconcertada – Claro... Mas e o Harry?

 – Creio que o Neville deve estar precisando de ajuda também.

– É, deve...

Angel se adiantou até ele, apressada, e se debruçou pela bancada. Suspirei, achando idiotice a infantilidade do ruivo. Ainda sim, sem responder, me concentrei em ajudar Neville. Não demorou muito até que a aula acabasse. A ansiedade tomou conta de mim novamente. Pensei em falar com Ron outra vez, antes de ir ao meu encontro com o Mad, mas antes que eu desse por mim, ele já havia sumido da sala.

Rolei os olhos, desapontado com o ruivo. Eu não iria voltar atrás. Eu iria me encontrar com o detetive e saber enfim quais informações ele tinha para mim. Saí da universidade apressado e dirigi até o endereço sinalizado na mensagem. Era um bairro distante, quase no limiar da cidade. Todas as casas eram extremamente fechadas. Protegidas como se fossem fortalezas particulares. Dobrei uma última esquina e visualizei a casa do meu interesse.

Estacionei no canto oposto da rua, um pouco mais afastado da residência. Uma sensação estranha me acometeu, como se eu estivesse sendo observado. Olhei para os lados rapidamente antes de apertara campainha do número 212. Uma voz grossa soou, levemente modificada pela acústica do interfone.

– Quem é?

– Sou eu... – falei – Harry Potter.

– Ah, Potter! – Mad exclamou – É, já estou te vendo.

Olhei para cima e reparei que havia uma câmera acoplada ao bocal da lâmpada. O portão foi destravado logo em seguida. Observei com cuidado o vão que me foi revelado, ainda do lado de fora.

– Entre logo, Potter. Não pretendo perder a noite inteira com você.

 Atravessei o portão com o coração acelerado. O detetive me recepcionou alguns metros depois. Ele me guiou pela residência, em silêncio. Durante o caminho eu pude reparar o quanto aquela casa era vigiada e protegida. Era como se Mad estivesse sempre em estado de alerta, esperando para ser atacado por alguém. Pessoa essa que, provavelmente, não existia.

Entramos em uma sala reservada, mais ao fundo do sobrado. O detetive me indicou uma poltrona próxima à lareira, ao lado da sua. Me sentei, ainda reparando os cantos da sala. Já acomodado, Mad bebeu um gole de conhaque calmamente. Nada me foi oferecido.

– Então, Potter... – ele se manifestou – Achei que você havia desistido.

– Nunca... – respondi, seco.

Mad riu anasalado, pondo o copo, agora somente com o gelo, em cima da mesinha de centro.

– Vamos ao que interessa. O que você quer saber primeiro?

– O que aconteceu com os meus pais.

– Imaginei que fosse esse o primeiro questionamento. Infelizmente, as minhas atuais pesquisas ainda não me levaram a essa resposta.

A frustração total tomou conta de mim. Pelo visto eu estava parado no mesmo lugar de sempre.

– Mas, existem algumas informações que eu acredito que podem ser relevantes pra você.

– Que informações? – indaguei, interessado.

– Um rombo de trinta milhões de dólares na empresa do seu pai, em 1998.

     No mesmo ano que eles desapareceram...

– No mesmo ano que os seus pais despareceram – Mad completou, como se estivesse lendo a minha mente.

Levantei uma sobrancelha. Aquela informação me pegara de surpresa. Mudei de posição no assento da poltrona e encarei o detetive.

– Como isso aconteceu? – inquiri, interessado.

– Um indivíduo que se autodenominou como Tracker é quem está no centro do desvio. Pelo que a policia concluiu na época, ele foi o único responsável. A única informação que se tem sobre essa pessoa é que se trata de um ex-funcionário da companhia de James Potter. Provavelmente do sexo masculino e, pelo que tudo indica, bastante ligado ao meio social dos seus pais.

Uma sensação de inquietação me tomou. Pelo canto do olho eu via Mad me analisar, curioso.

– Você se lembra de alguém assim na sua infância, Potter...? – o detetive questionou.

– Não... – balancei a cabeça – Não me lembro de ninguém.

Mad assentiu, em silencio. Respirei fundo e tentei ligar os pontos soltos. Não obtive sucesso.

– Alguma coisa nessa história tá muito estranha... – deixei escapar, inconformado – Tem certeza que você não tem mais nada a dizer? Algum detalhe...? Algo que não tenha dado importância...?

– Infelizmente não, Potter. Tudo o que eu sabia já foi dito.

– Não pode ser! Eu não acredito!

– Contenha-se.

– É a porra da minha família! – bradei – Minha família! – continuei – Há anos eu tento descobrir alguma coisa. Tem que haver uma resposta!

– Algumas coisas são óbvias demais para precisarem ser explicadas.

Semicerrei os olhos, por baixo dos óculos. A postura atipicamente serena do detetive estava me dando nos nervos.

– O que você quer dizer com isso?

– Tire as suas próprias conclusões.

– Ah, ok! – eu ri, sarcástico, num ato de desespero.

Mad continuou me observando, pleno. Alguma coisa estava errada ali. Muitos minutos se passaram até que eu conseguisse me reestabelecer mentalmente mais uma vez. Nesse meio tempo, o detetive não me pressionou, apenas continuou bebendo o seu conhaque displicentemente. Respirei fundo, novamente, e olhei pela janela do cômodo. A noite havia chegado, de fato. O céu agora estava escuro e sem nenhuma nuvem.

– Você disse que houve esse roubo na empresa e tal, mas como eu nunca soube disso? – questionei, mais calmo – É uma quantia muito grande, levaria a companhia à falência. O que aconteceu?

Parece que eu havia chegado a algum ponto divertido, pois vi algo brilhar no fundo dos olhos do detetive. Mad abriu um sorriso torto, satisfeito com a pergunta.

– Você nunca soube disso, Potter, porque os seus tios nunca deixaram que você soubesse. – ele bateu com o polegar e o dedo médio no copo de vidro, alternadamente – Remo Lupin e Severo Snape. Os dois, juntos, conseguiram de alguma forma recuperar mais metade do valor. Cerca de 60%, para ser especifico.

Parecia brincadeira. Fechei os meus olhos ao mesmo tempo em que esfregava as minhas têmporas com a mão direita. Eu não queria acreditar naquela informação

– Como é que é...?

– Isso mesmo que você ouviu.

– Em quanto tempo eles recuperaram essa quantia?

– Em bem menos tempo do que o seu cérebro avoado consiga imaginar.

– E o que eles fizeram com o dinheiro?

– Aplicaram novamente na empresa. E o multiplicaram de uma maneira bastante eficiente. O seu alto padrão de vida é a prova disto. Você nunca se deu conta de nada.

– Você não pode estar falando a verdade.

– Isso é tudo, Potter.

– Eu me recuso a acreditar que o Lupin sabia disso!

– Então está na hora de você ir embora.

Não discordei, nem argumentei. Ele estava certo. Estava mesmo na hora d’eu ir embora. Apenas assenti e me levantei da poltrona. Mad fez a mesma coisa. Ele me guiou para uma saída lateral e abriu um portão pequeno. Assim que eu saí da proteção dos muros da residência, bati o olho numa motocicleta estacionada entre as árvores. Naquele momento torci para que o detetive não tivesse enxergado o mesmo que eu.

     Não, você não fez isso, Ron...!

– Eu te disse para vir sozinho... – Mad comentou, irritado – Você quebrou o acordo.

– Mas eu vim sozinho! – me defendi.

– O que não te impediu de ser seguido por aqueles dois.

O detetive empurrou a bengala para frente, indicando uma direção entre as árvores, atrás de mim. No momento que eu pensei em me virar para ver, ele me repreendeu.

– Não se vire. Deixe-os lá. – ele ordenou – Vocês que se resolvam depois. Bem longe daqui, de preferência.

     Eu vou matar esses dois!

– Ok, certo... – concordei – Depois eu resolvo isso.

Abri a lateral da minha jaqueta e peguei o envelope com o valor combinado pelo serviço. O estendi para o detetive, porém este não o aceitou.

– Fique com o seu dinheiro.

– Por quê?

Eu não estava entendendo mais porra nenhuma.

– Olha, Harry... – era a primeira vez que Mad me chamava pelo nome – Eu não sei o que aconteceu com os seus pais. Acredite que eu gostaria de ter as respostas. Sou um detetive. Saber é o meu papel – ele me fitou – Mas, se você me permite dizer, minha profissão me ensinou que algumas coisas não precisam ser decifradas. Creio que está na hora de você começar a pensar nessa possibilidade.

Não valia a pena discutir e, ainda que eu quisesse fazer isso, a postura do detetive deixou bem claro que o assunto estava mesmo encerrado por ali. Estendi a mão para ele, acatando a sua posição. Mad aceitou o aperto e nós nos despedimos.

Segui para o carro com a mente a mil. Alguma coisa precisava ser feita, porém o quê? Dei partida no automóvel a acelerei. Alguns metros mais a diante, vi a silhueta do Ron e da Hermione. Eu sabia que eles iriam me seguir, então me adiantei. Atravessei algumas ruas e assim que cheguei perto da rodovia principal, parei o veiculo no acostamento.

Não precisei esperar muito. Alguns minutos depois Ron me alcançou. Fiz sinal para que ele parasse e o ruivo estacionou a alguns metros do meu carro. Me adiantei até os dois. Hermione sorriu nervosa assim que viu o meu semblante.

– Eu posso saber que palhaçada foi essa?!

Fui direto, apontando o dedo na direção do peito de Ron. Ele não se moveu.

– Ronald, eu te disse que eu viria sozinho!

– E você achou mesmo que ia te obedecer? Olha o lugar onde esse cara fez você se enfiar, quase no fim da cidade!

– Não importa! Você sabia do combinado! E ainda por cima trouxe a Hermione! Você enlouqueceu?!

– A culpa não foi dele, eu vim sozinha!

Hermione pousou uma mão no braço do ruivo, acalmando-o. A encarei, sem acreditar.

– Eu abri uma mensagem do Mad no seu celular e li. Anotei o endereço e vim. Ron não sabia de nada. Ele me encontrou aqui, hoje.

– Então foi você que mexeu no meu celular?! Isso não é possível! Não é!

Deixei a raiva me tomar. Eu sabia que Hermione era curiosa, mas o que ela havia feito era uma extrema invasão de privacidade. Percebi que ela e o ruivo se olharam.

– Harry... – o tom de voz de Hermione era baixo – Nós somos seus amigos. Só estamos preocupados...

– Você não precisa fazer isso sozinho, cara.

– Eu tô bem, como vocês podem ver. E agradeço de verdade pela preocupação. Mas vocês não tem que se envolver nessa questão.

– Claro que temos...

Mione se aproximou e segurou as minhas mãos.

– Você tem um problema e ninguém aqui vai te deixar de lado – o apoio era claro em seus olhos.

– Mesmo que você não queira a gente por perto... – Ron completou.

Foi impossível não sorrir em resposta. Abrandei a minha postura. De uma forma ou de outra, eu me sentia confortável com os dois.

– É, pelo visto vocês dois não vão desistir mesmo...

Ambos negaram com a cabeça, sorrindo.  Assenti. Já era tarde da noite, mas talvez eles pudessem me ajudar com alguns pensamentos que surgiram na minha cabeça.

– Bom, sendo assim temos que ir.

– Ir pra onde? – Hermione indagou, confusa.

– Pra minha casa... – respondi, me afastando.

Ela não discutiu. Ron e Hermione voltaram para a motocicleta. Arrastei o carro e eles passaram a me seguir. Um dado momento o ruivo buzinou, sinalizando que não estava entendendo o caminho. Apenas continuei. Demoramos quase uma hora para chegar à parte mais elevada da cidade. Parei o carro na entrada da mansão. O porteiro me recepcionou, animado.

– Sr. Potter! Quanto tempo!

– Tudo bom, Carl?

– Tudo sim, senhor.

– Snape está em casa?

– Não, senhor.

– Sei...

Eu possuía dúvidas em relação à veracidade dessa informação.

– Ótimo! – ainda assim sorri – Adoro surpresas...

Carl riu e abriu o grande portão de ferro. Agradeci com o toque de buzina e acelerei. Ron seguiu atrás de mim. Estacionamos na lateral da residência. Ron, que até então nunca tinha estado ali, admirava os arredores, fascinado. Ele e Hermione conversavam alguma coisa quando eu me aproximei. Juntos, andamos rumo a porta.

– Minha casa cabe umas seis vezes aí dentro! – o ruivo comentou, sorridente.

– Imagina como deveria ser morar nesse espaço todo com Snape apenas? – Hermione parecia estar achando graça da admiração do namorado.

– Quem liga pra Snape com uma mansão dessas?! Dá pra ficar dois anos aí dentro sem nem perceber que ele tá em casa.

– Pior que nem dá – comentei, rindo, enquanto atravessávamos a sala de estar – O máximo que eu consegui foram três semanas. E isso porque ele passou metade desse tempo viajando.

Quando chegamos à ponta da escada, eu chamei os dois para o canto. Se nós estávamos ali, eu tinha mais que a obrigação de contar o que havia acontecido. Olhei para os lados, realmente me certificando se não havia mais ninguém naquele ambiente.

– Mad me passou algumas informações, mas eu acho que elas não são o suficiente. É como se tudo estivesse incompleto. Eu... eu acho que sei onde achar mais coisas sobre os meus pais...

– O que necessariamente você deseja encontrar, Harry? – Mione questionou.

Senti um pouco de nervosismo na sua voz.

– Desculpe, mas eu achei que os seus pais estavam mortos...

Engoli a seco, sem saber o que responder.

– Eu... – pigarreei – Eles...

Para a minha sorte, Ron foi mais rápido.

– Isso não vem ao caso agora, Mione... – o ruivo se virou na minha direção – O que você quer fazer, Harry?

– Entrar no escritório de Snape. Eu tenho quase certeza que deve ter alguma coisa lá dentro que me ajude de alguma forma.

– O que, por exemplo?

– Não sei...

Hermione, como sempre, atentou a um detalhe importante.

– Como a gente vai entrar lá?

– Também não sei.

– Deixem isso comigo – Ron falou rapidamente, despreocupado – Eu só quero saber qual a garantia de Snape não aparecer enquanto nós estivermos lá dentro.

– Nenhuma... – neguei com a cabeça, sincero – Pra falar a verdade eu nem pensei muito nessa parte.

– O carro dele não tá lá fora.

Talvez Snape não estivesse mesmo em casa. O ruivo apoiou uma mão no aparador.

– Acho que a gente ganha algum tempo com isso.

Hermione nos apressou e nós subimos as escadas. Guiei os dois pelo corredor até a porta do escritório de Snape. Ron cutucou Hermione e pediu o estojo de caneta dela. Ele tirou dois clipes de papel e devolveu a nécessaire a namorada.

Observei, sem entender, o que Ron estava tentando fazer. Ele apenas sorriu e desfez o formato do clip, desdobrando o metal. Habilmente, o ruivo inseriu a primeira ponta na parte de baixo da fechadura. Ele girou e fez pressão. O processo se repetiu mais algumas vezes até que ouvimos uma serie de cliques.

Ron girou a maçaneta e a porta se abriu tranquilamente. Ele fez a mesma cara que o Teddy faz depois de aprontar alguma coisa e me deu espaço para passar. Atravessei o batente e Hermione fez o mesmo depois de mim. Eles conversaram alguma coisa, entretidos. Eu não ouvi. Deixei os dois e me adiantei a caminho da escrivaninha.

Comecei a revirar as coisas. Poucos segundos depois o casal se juntou a mim. Hermione revirou algumas gavetas enquanto eu e Ron mexíamos nos armários. Os minutos se passavam e nada de interessante era encontrado. Impaciente, bradei irritado.  

– Calma, Harry... – Mione tentou me tranquilizar, sem sucesso – Talvez a gente só precise procurar um pouco mais...

– Procurar mais aonde, Mione?!

– Não sei. Tem muita coisa nesse escritório. A gente não vasculhou nem a metade dos móveis.

Passei a mão pelo rosto e baguncei ainda mais os meus cabelos, nervoso. Vi que o ruivo deu a volta na escrivaninha, inquieto. Ron andava de um lado para o outro.

– Pode não tá aqui... – ele disse – Pode ter mais coisa escondida no quarto do Snape...

Ron e eu nos encaramos, assertivos. Eu me animei automaticamente. No entanto, antes que eu argumentasse qualquer coisa, o ruivo me cortou, inabalável.

– Não, vocês ficam. Eu vou sozinho – Ron comunicou, apontando para a nossa direção – Terminem de procurar por aqui. Eu me viro por lá.

Aceitei de contragosto. Descrevi bem rapidamente onde ficava o quarto de Snape e o ruivo partiu para lá, acelerado.

Hermione e eu resolvemos continuar então a nossa busca. Estávamos prestes a avançar para a estante próxima a janela, quando a porta do escritório foi aberta bruscamente. Snape nos encarava. No seu olhar, identifiquei o desprezo e a raiva que eu estava acostumado a ver desde a minha infância.

– Eu posso saber o que isso significa?!

Eu e Hermione trocamos olhares nervosos. Snape insistiu, se aproximando ameaçadoramente.

– Não me obriguem a perguntar mais uma vez...

– Eles estão aqui a meu pedido, Severo...

Antes que eu ou ela respondêssemos, alguem se manifestou. Olhei por cima do ombro de Snape e vi Lupin parado ao batente da porta de madeira.

     Que porra é essa...?

– Desculpe por não ter avisado. – Remo falou sorridente e entrou no escritório.

Hermione me fitou de soslaio. Pude ver que ela estava surpresa. Até mais que eu. Snape se virou na direção de Lupin.

– Com que direito você autorizou que eles entrassem aqui? – ele bradou, inconformado.

– Caso você não se lembre, eu tenho tenta permissão de acesso a essa casa quanto você. James e Lily fizeram questão de garantir isso. Os meninos estão me ajudando com um trabalho, por isso eu deixei que eles entrassem. Tem muitos documentos meus que também estão presentes nesse escritório.

Snape não parecia acreditar na história. Remo, contudo, estava calmo como sempre.

– Trabalho? À uma da manhã?

– Desde o colégio eu sempre fui uma criatura noturna, Severo. Meu processo de criação acontece durante as madrugadas, você sabe disso.

Captei uma troca de informações implícita ali.

– O Harry e a Srta. Granger me acompanharam quando as aulas acabaram, mais cedo – Remo continuou – Se eles aceitaram o horário, eu não vejo motivos para você se importar com isso.

Hermione e eu concordamos categoricamente. Snape passou por nós e sentou na sua cadeira, cruzando os braços. Ele nos encarou.

–Sobre o que é esse trabalho?

     Fodeu.

Ninguém respondeu. Snape sorriu, vangloriado.

– E se é um trabalho, como vocês dizem, porque os meus papéis estão espalhados pelo chão?

     Fodeu de novo.

– Até onde eu saiba o armário com as suas coisas é aquele ali...  – ele indicou com o queixo exatamente a estante que estávamos indo mexer – Será que os seus alunos são estúpidos o suficiente para não conseguir cumprir uma ordem sua com eficiência, ou será que, na verdade, vocês estão tentando me fazer de idiota?

     Não mais do que você já é, acredite.

– O que me parece é que o que eles estavam procurando aqui era algo bem diferente do que você diz ser...

– Nosso trabalho não é da sua conta... – cerrei os punhos – Não te devemos nenhuma satisfação.

– Ah, deve sim, Potter. A partir do momento que vocês invadem o meu gabinete, qualquer coisa que aconteça aqui dentro é sim da minha conta.

– Essa casa é minha. Eu posso fazer o que eu bem entender aqui dentro...

Eu estava ficando cada vez mais nervoso. Lupin interviu, alarmado.

– Harry...

Ouvi sua voz me chamar, mas não recuei. Remo parou ao lado de Hermione.

– Foda-se o que estávamos fazendo! – continuei, em cólera – Ele tem que parar de se meter na minha vida, isso sim! – me virei na direção de Snape – Se essa explicação não é suficiente pra você, não é problema nosso.

– Então me responda você, Potter – Snape insistiu, no mesmo tom – Que trabalho é esse?!

Mione foi mais rápida que eu. Ela se introduziu na discussão, firme.

– Estamos reunindo alguns documentos sobre a ética no meio acadêmico – explicou – Eu observei que o senhor tem vários contratos com a universidade, dos seus projetos de pesquisa. E que, assim como os do Lupin, eles seguem uma norma de comprometimento. Então eu disse ao Harry que seria interessante a gente dar uma olhada pra ter algum tipo de referência em uma área diferente. Caso o senhor autorizasse, nós iriamos pedir pra utiliza-los na atividade.

Hermione respirava rapidamente. Era perceptível o seu nervosismo. Ainda sim, sua postura altiva foi mantida, mesmo quando Snape se levantou da poltrona e andou até parte dos papeis que estavam caídos no chão. Vi que ele conferiu alguns, com os olhos precisos. Eu me arrependi lentamente do momento que eu surtei e joguei aquilo tudo para cima. Teríamos um problema a menos se não fosse pelo meu descontrole emocional.

Snape se levantou sem dizer nada. Aproveitei para reforçar a mentira de Hermione. De contragosto, vi o meu ex-tutor ter que engolir a história. Ele estendeu uns papeis na nossa direção. Hermione pegou as folhas sem contestar, trêmula.

– Pode levar, Granger. Eles vão ficar sob sua responsabilidade, e, caso uma linha desses contratos volte danificada, pode se considerar perdida na minha matéria.

–Questão resolvida então... – Lupin sorriu – Se me permitem, agora eu vou pra casa. Vem comigo, Harry?

Não era uma pergunta. Era uma ordem, embora não parecesse. Assenti, mudo. Remo se desculpou pelos possíveis transtornos e se despedindo de Snape. Ele fez um gesto impaciente com a mão e Hermione me puxou pelo braço. Saímos do escritório. Já na escada, questionei para Lupin.

– O que você veio fazer aqui?

– Eu vim realmente buscar alguns documentos de trabalho. Eu estava indo embora quando vi vocês chegando. Resolvi voltar pra saber o que vocês iam fazer e pelo visto eu fiz a coisa certa.

Não fiz uma cara muito boa, pelo visto, pois ele parou de andar e se encostou a parede.

– O ponto é que eu que deveria te fazer essa pergunta, não acha? – rebateu – Harry, você tem noção da confusão que iria se meter agora?

– Eu não tenho medo de Snape...

–Nem é pra ter. Mas se você quer saber o que aconteceu com os seus pais, você tem que ser discreto. E isso não inclui o que aconteceu agora.

– Então por que você nunca me contou que tinha acesso livre à sala dele?! – levantei um pouco a voz – Remo, você sempre soube o quanto eu queria entrar naquele escritório, e, ainda sim, não fez nada! Você podia ter me colocado lá dentro há muito tempo!

Era mais do que um fato que eu estava magoado. Não somente pela cena que acontecera a pouco, mas também por tudo o que Mad me dissera.

– As coisas não funcionam da forma que você imagina, Harry – Lupin se defendeu, cansado –Lá em casa a gente vai conversar melhor sobre isso.

Eu não queria ir a casa dele. Pensei em deixar o meu posicionamento bem claro, mas fui interrompido. O tom de voz de Remo era firme e irretratável.

– Lá em casa a gente conversa, Harry... – ele repetiu, enquanto descíamos o primeiro lance de escadas – Isso serve pra você também, Hermione.

– Mione não tem culpa de nada. Eu que a trouxe. Ela nem sabe o que veio fazer aqui.

– Mais um motivo pra vir junto. Essa é uma ótima oportunidade pra você contar a verdade. Até porque ela acabou de te salvar do que poderia ser uma complicação enorme lá dentro.

Por um momento percebi que eu de fato não estava sozinho. Hermione intercedera por mim, mesmo sem saber de toda a verdade. Me senti eternamente grato pela sua lealdade.

– Obrigado – apertei sua mão, sincero.

– De nada – ela sorriu em resposta – Eu só fiz o que achei melhor.

Dei um beijo em sua testa.

– Você foi perfeita.

Mione sorriu mais uma vez. Saímos do casarão em silencio, rumo aos jardins. Já perto do carro ela cutucou o meu braço, agitada.

– Ron... – sussurrou.

Diminui os passos, preocupado. Eu havia me esquecido completamente desse detalhe. Ron poderia ainda estar lá em cima. Lupin pôs uma mão no meu ombro, tranquilo.

– Fiquem tranquilos, o Sr. Weasley já deu um jeito de ir pra casa. O Ron é mais ágil do que se parece, apesar do tamanho.

Hermione sorriu de canto.

– Eu estacionei nos fundos, vou demorar um pouco mais pra sair – Remo comunicou – Podem ir na frente.

Ele seguiu entre os arbustos a medida que eu e Mione entravamos no carro. Vi que Hermione olhava algo no celular enquanto eu dava ré, para sair da mansão.  Já do lado de fora da residência, resolvi quebrar o silêncio. Pelo sorriso que Mione exibia ao admirar o smartphone, era com o namorado que ela estava falando. Perguntei se o ruivo estava bem e Hermione me confirmou. Seu tom de voz estava mais leve.

– Onde ele está? – inquiri.

– Em casa. Ele não conseguiu entrar no quarto de Snape.

– Não tem problema – dei algumas batidinhas impacientes no volante – Acho que depois de hoje, Remo não vai querer que eu pise os pés na mansão tão cedo.

– E desde quando você obedece alguém?

A indagação foi feita precedida de um sorriso maroto. Retribui da mesma forma.

– Pra que merda você foi futucar o meu celular, Mione? Como você descobriu a senha?

– Pelo amor de Deus, é a data do aniversário do seu primeiro beijo com a Ginny. Sua criatividade me decepciona.

     Ah, jura?

Levantei uma sobrancelha, descrente com a resposta. Hermione apenas riu e deu de ombros, tendo noção do tamanho da sua inconveniência.

– Eu não queria ter metido você nessa confusão – eu disse, verdadeiro.

– Eu que me coloquei nela – Mione afagou o meu ombro – E pra falar a verdade eu tô achando tudo isso bem divertido.

Soltei uma gargalhada. Se ela soubesse da metade da história, talvez não tivesse a mesma opinião. 


Notas Finais


Então, meus amores. O que vocês acharam do capítulo?
Deixem aqui embaixo os lindos comentários de vocês. Pode até não parecer, mas eu preciso muito do review de vocês.

Pra quem quiser acompanhar o outro lado da história, esse capítulo faz ligação com outro lá na Troca, então:
==> Se vocês desejam saber o que o Ron e a Hermione estavam fazendo antes do Harry se encontrar com os dois, é só dar uma lida no capítulo 24 - "A Busca"

~~ https://spiritfanfics.com/historia/a-troca-6361436 ~~

Beijos!


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