Point Of Views Annelise Rose Deutch
O apagão depois que Justin impediu a minha queda no chão, foi instantâneo. Lembro do toque firme das suas mãos segurando a minha perna, lembro do meu corpo esfriando, lembro da sua voz dizendo as palavras mais calmas que já o ouvira falar.
Quando acordei em minha cama, no meio da noite, eu forcei minha mente a lembrar dos acontecimentos e quando as lembranças me atingiu, quase comecei a me derramar em lágrimas. Minha garganta fechou quando me levantei da cama, quando pensei em sair do meu quarto, quando comecei a caminhar para fora, minha mãe apareceu e me colocou de volta na cama.
— O que aconteceu? — Sussurrei enquanto ela me cobria.
— Bieber te achou, te trouxe pra mim e cuidamos de você, querida. — Foi o que minha mãe disse quando me alinhou em seus braços, assim como fazia quando eu era criança, e com uma sensação gostosa de proteção, eu adormeci.
Quando o sol nasceu e seus raios esquentaram a minha bochecha exposta, fui tomada por uma preguiça. A ideia de mais um dia apanhando me bateu com força e eu voltei a me cobrir com o edredom e fiquei quietinha. Minha mãe já não estava mais ali, deveria ter partido assim que eu adormeci. Talvez, se eu tivesse sorte, ninguém perceberia a minha falta, mas breve e doce ilusão.
— Annelise! — Lizz gritou quando entrou no quarto e começou a escancarar a janela, fazendo a fresta anterior se alargar e dar espaço ao sol, clareando por completo o meu quarto.
— Ai, que merda! — Exclamei.
A olhei. Ela sorriu. Eu sorri de volta, mas mandei o dedo do meio como um bom dia merecido.
— Você parece que tava... — A interrompi.
— Dormindo? Pois é, eu estava. — Disse ranzinza, ela revirou os olhos e se aproximou.
— Não seja mesquinha e levante logo dessa cama. — Tirou minha coberta. — Tem grama no seu cabelo. Onde você dormiu? — Revirei os olhos como resposta e ela sorriu quando a encarei. — Deveria ter me chamado para a festinha, sua princesa safada.
— Cala a boca, Lissandra. — Ela arregalou os olhos.
— Não me chame de Lissandra, Roseline. — Rosnou.
— Eu te odeio! — Falei me levantando e indo para o banheiro. — Eu definitivamente te odeio.
Ao longe escutei seu risinho.
Eu me lavei, a água morna escorrendo pelo meu corpo me acalmou. Lavei meus cabelos também para tirar a sujeira de ontem e quando terminei, Lizz estava jogando a roupa que eu usaria em cima da minha cama.
— Uniforme. — A lembrei e ela negou quase desesperada.
— Não seja chata. — Ela resmungou e me jogou uma saia, eu joguei de volta fazendo uma careta.
— Treino. Está esquecendo? — Ela revirou os olhos e pegou a saia de volta.
— Eu esqueço que o seu castigo é ainda pior que o meu. — Eu a olhei, ela fez uma careta engraçada antes de continuar. — Meus pais deram lugar ao castigo emocional, mas aplicaram o físico também. — Ela abriu um sorriso divertido, mas ouvi seu coração pulsando diferente. — Disseram que, nessas palavras, eu repito: pela desonra e vergonha dos Hathaway, você Lissandra, vai se precaver de todas as obrigações alimentícias da nossa família. — Ela dizia com um tom de voz brando, enquanto fazia gestos com as mãos, provavelmente imitando o que os pais fizeram. — Vai servir a mesa, arrumar o seu quarto e — Ela me olhou rapidamente. — acompanhar sua família em eventos, sempre com textos bem feitos e decorados, se comportando como uma dama, sua selvagem sem guisa. — Ela resmungou. — Ah, que vergonha, Lissadra, que vergonha. — Colocou a mão na testa. Um ato exagerado e dramático, que me fez rir. — Essa parte foi ruim, eu admito. E eles me ignoram, não me olham e... me tratam como se eu fosse uma pessoa horrível, como alguém que tenha cometido o pior dos crimes.
— Lissa, — Coloquei a mão em seu ombro. — eu sinto muito! — Ela deu de ombros e eu mudei de assunto, não querendo assumir a culpa pela dor dela. — Mas olha, seus pais definitivamente não sabem a definição de castigo.
— Não seja dura, Rose. — Suspirou. — Eventos, você sabe que eu odeio. Sinceramente, eu não sei como você aguenta. — Eu dei de ombros e quase respirei aliviada por ela fugir do assunto também. — Ah, e Malik se tornou uma sombra, as vezes o antissocial do Somers o acompanha, e os dois ficam no meu pé, me vigiando, como se eu fosse uma criança travessa. — Choramingou. — Pelo menos você ficou com o gato do Bieber. — Eu fiz uma careta.
— Pelo menos você ficou com o Malik. Ele é legal. Quer trocar? — Ela fez uma cara maliciosa e eu rir. — Você é uma safada. — Cantarolei. — Vamos logo, estamos atrasadas.
Eu terminei de me arrumar e sair do quarto com ela em meu encalço. No corredor estavam os quatros guardiões que já conhecíamos, acompanhando-os tinha um outro moreno que eu nunca tinha visto por aqui, quando Lissa e eu aparecemos em seus campos de visões, todos se calaram, senti o olhar penetrante de Bieber em mim, e quase não o olhei, mas foi instinto, foi uma energia me puxando e quando, o olhei de volta não conseguir desviar de sua imensidão caramelada. Eu não sei explicar o que diabos aconteceu, principalmente quando lembrei de ontem e da voz dele soando com tanto apresso em meu ouvido. Droga!
— Que intenso! — Lissa sussurrou no meu ouvido, tirando-me do transe.
— Não seja tola. — Me recompus e não olhei mais o guardião. — Hoje, depois do jantar no nosso lugar. — Ela assentiu e saiu andando com Malik e Somers. — Avisa o Dylan.
— Ele está prometendo te matar, você sabe, né? Está fugindo dele a semana toda. — Ela gritou sumindo do meu campo de visão e eu apenas dei um sorriso de lado.
— Atrasada! — Bieber disse e eu revirei os olhos, o ignorando.
— Christian Beadles. — O homem que eu não conhecia se apresentou.
— Ah. — Eu exclamei, me sentindo burra por não imaginar. — Eu deveria saber. Me diga, Beadles, — Eu me aproximei do moreno. — Você é chato e irritante como seu amigo Bieber ou você consegue ser mais suportável como seu amigo Malik?
Ele riu, eu sorrir. Beadles se aproximou e colocou uma mexa do meu cabelo atrás da orelha, senti meu rosto esquentar com o ato íntimo. Que desnecessário, Annelise.
— Eu sou muito mais legal que o Malik. — Sussurrou e eu o olhei.
— Christin você... — A voz de Bieber soou dura,meio indignada, mas Butler, arregalando os olhos, o interrompeu.
— Vaza, Chris. — O amigo, com um sorrisinho muito divertido pairando nos lábios, obedeceu.
— Eu gostei dele. — Apontei com o dedão para Beadles, que sumia do meu campo de visão. — Será que dá para trocar você por ele? — Eu disse, finalmente, olhando Bieber.
O garoto riu, tão psicótico que eu engoli em seco. Não estremeça, Annelise! Gritei para mim. O olhar que o louro me lançou não foi nada comparado a sentir uma sensação boa, e quando meus pelos se arrepiaram e meu coração acelerou, eu quase chamei pela minha mãe para me tirar dessa situação. Eu disse quase, hein.
— Vai na frente, Ryan. — Quando a voz do louro soou grave, eu olhei em súplica para o outro.
— Justin, eu... — Ele se calou com o olhar que o amigo lançou. Até eu me calaria. — Só, cara, só toma cuidado com suas palavras. — E saiu.
Covarde! Eu quase gritei para ele, mas tão quanto ele, era eu. Somos dois covardes, Butler.
— Eu vou com você, Ryan. — Eu disse o chamando, percebi o corpo do outro enrijecendo, mas ele continuou andando para longe de mim.
Eu passaria por Justin Bieber e acompanharia Ryan Butler a onde quer que ele fosse, essa foi a intenção, precisava sair da sensação que aquele olhar me causava, mas as mãos do louro me seguraram, impedindo a minha passagem. Não o encarei, não mesmo.
Justin ficou quieto por um tempo, apenas segurando o meu braço com uma de suas mãos, me encarando friamente, mas esse silêncio e essa quietude passou quando ele me empurrou com tudo para um pequeno beco estreito e se colocou em minha frente em uma velocidade surpreendente. Não tinha espaços entre os nossos corpos e a minha respiração ficou pesada quando o senti tão perto. Me remexi inquieta.
Justin soltou o meu braço e me olhou, seus lábios prensados em uma linha fina me fez encolher, ele respirava pesado e meus olhos se encontraram com os dele, alternando gradativamente entre seus lábios e olhos. Não soube definir qual me atraía mais.
— Você está bravo? — Sussurrei.
Eu não sei o que aconteceu, mas Justin relaxou, me olhou novamente, mas agora os olhos brilhavam, brilhavam tão intensamente que eu quase suspirei sentindo a intensidade deles. O olhar que ele me lançou foi penetrante e ardente, eu queria fugir, só fugir, mas como era impossível, apenas engoli em seco, inquieta demais.
— Estou. — Ele respondeu depois de um tempo me encarando. — Estou bravo porque você não consegue ficar calada. — Chegou mais perto. Eu prendi a respiração, apenas sentindo a dele batendo, agora, serena em meu rosto. — Sempre, Anne, sempre estraga tudo. — Eu o olhei, quando sua confissão saiu dolorosa.
— O que eu fiz? — Perguntei em um sussurro curioso.
Justin aproximou nossas testas e apertou minha mão. Íntimo demais! Eu pensei, mas não me importei e não ousei mandá-lo se afastar, não quando uma sensação estranha surgiu em meu coração.
— Você? — Esta pergunta com certeza era retórica. — Ah, Rose, seria mais fácil perguntar o que não fez. — Disse em um tom arrastado.
— Não... não consigo te entender. — Sussurrei.
— Realmente! — Ele sussurrou de volta.
Sussurros atrás de sussurros se estendeu por parte dele e eu ainda não entendia a finalidade dessa conversa. Então, de repente, silêncio se apossou, apenas nossas respirações eram ouvidas naquele beco estreito e quando ele se movimentou e respirou fundo, soube que ele cortaria aquele silêncio.
— Rose, o que você se lembra da noite passada? — Algo divertido brilhou em meus olhos.
— Ah, entendi. — Ele afastou as nossas testas em um sinal de interrogação. — Você está se doendo, porque eu não agradeci pelo seu resgate heroico de ontem. — Eu acabei com tudo, soube porquê enquanto escutava o seu coração descompensado, pude sentir o meu revoltado com minha atitude.
Arrogância e burrice. Sim, princesa Annelise, por que diabos não fica com a boca fechada? Eu jurei me bater mais tarde.
Sabe a escuridão? É, aquela que os olhos dele tem, aquela que o toma quando está com raiva, quando eu faço algo que o incomoda, pois é, ela voltou. E sim, eu poderia amenizar a situação dizendo a ele um muito obrigada por não me deixar morrer, mas, eu não queria, não quando magoá-lo parecia bem mais divertido para mim.
— Você é uma... — Ele se calou.
— Eu sou uma? — Sussurrei. — Bieber, você não fez mais que sua maldita obrigação. Foi burro o suficiente ao me deixar sozinha e agora quer agradecimento. — Sorrir levantando minha mão com dificuldade, por causa do espaço que não existia. — Quer rendição! Ah, Bieber, — Alisei o seu rosto. — não vou te agradecer. — Fiquei na ponta do pé, para olhá-lo melhor. — Aliás, deve aproveitar essa fase, porque, com certeza, vai ser a mais gloriosa da sua vida.
Justin me olhou, raiva e mais sentimentos que eu não soube identificar tomaram conta do seu olhar. O guardião tirou minha mão com brutalidade do seu rosto e saiu do beco que estávamos, me deixando sozinha, talvez o olhar de vitória estava presente, mas uma sensação estranha me corroía por dentro. Tentei não ligar para a minha falta de compaixão, enquanto caminhava para a sala de treinamento.
Ele mereceu, mereceu porque nunca fizera nada de bom para mim, nunca me elogiou ou sequer tentou me tratar com respeito, nunca, até ontem. Foi o que eu disse a mim mesma quando encontrei-o com Ryan em um discussão acirrada. Pude perceber o pedaço do pescoço exposto de Justin vermelho e suas mãos, que se fecharam em punho ao me encarar, demonstravam a raiva presente naquele corpo. Era pra mim.
Forcei um sorriso. Ele rosnou. Ryan se apressou e começou a me guiar para um aquecimento. Pude jurar que ele fez uma prece baixinho.
O dia passou como um burrão, por algum motivo eu me sentia mais exausta do que o normal. No treinamento, Justin não me dirigiu a palavra, gritava comigo, de fato, mas não olhava para mim e suas poucas palavras/gritos eram tudo, menos gentis. Ordens e mais ordens, grosseria atrás de grosseria, eu podia chorar ali mesmo pedindo para ele ser mais dócil, mas não ousei me humilhar, não quando a culpa por ele estar mais ranzinza era inteiramente minha.
Eu estava tão cansada que não me aguentava em pé. Hoje foi o dia inteiro sendo espancada -sendo completamente sincera- não houve aulas sentada em uma cadeira escutando um professor falar sobre a vida, sobre a natureza, sobre os seres que regia nosso mundo, sobre nossos poderes e blá blá blá.
Sou uma hibrida cansada, que decepção, Annelise! Justin e Ryan perceberam minha feição cansada quando pedi, horas depois do almoço, um descanso digno -não aconteceu-, e nenhum dos dois perguntou o porquê da minha pele estar mais pálida que o normal, seria estranho demais, então, horas depois, um aceno, de Ryan, como despedida levaram os dois guardiões para longe de mim.
Quando o sol se pôs e eu estava prestes a sair da sala de treinamento, minhas pernas fraquejaram e tudo começou a girar, eu tive que me segurar na parede para não cair. Minha respiração ficou ofegante e minha cabeça doeu. O meu corpo estava fervendo e no instante que pensei em chamar ajuda, no instante que pensei em dar um grito pedindo por socorro, no momento que pensei em meus pais para me socorrerem, toda a minha visão se foi, eu fiquei cega e, inconsequentemente, eu o chamei:
— Justin! — O sussurro foi um clamor.
Mas eu não pensei nele, eu pensei em meus pais, eu formulei o nome de minha mãe em minha mente, formulei e me ouvi chamando-a. Eu abrir a minha boca para falar o nome dela, para chamá-la, mas foi o nome dele que saiu dos meus lábios.
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